terça-feira, dezembro 30, 2003

CASA PIA, PACIÊNCIA MIA !
O processo da Casa Pia vai entrar na fase de instrução, o que significa que, depois do Ministério Público ( MP ) ter investigado e redigido a acusação aos arguidos, estes podem juntar aos autos todos os dados que considerem relevantes para provar a sua inocência. Esta fase é facultativa, os arguidos devem requerê-la, se quiserem.
Depois, com estes dados de defesa do arguido numa mão e com a acusação do MP na outra, um juiz do Tribunal de Instrução Criminal decide se envia ou não o processo para julgamento no Tribunal “normal”.
Por outras palavras : só agora, ao saber preto no branco de que são acusados, os arguidos podem começar a defender-se. Por exemplo, se o Herman José é acusado de ter cometido um crime no dia tantos do tal em tal parte, e se nesse dia estava no Brasil, é agora a primeira oportunidade de juntar a prova dessa circunstância aos autos. Se isso for assim e se mais nenhuma acusação lhe tiver sido feita, o Juiz de Instrução nem sequer o enviará a julgamento...
Agora notem : passaram dez ou onze meses desde o início do processo até que o Ministério Público tivesse deduzido a acusação. Entretanto, alguns dos arguidos estiveram privados de liberdade com uma capacidade de defesa quase nula, dado não saberem bem de que eram acusados. Pensem um pouco e digam-me : isto é admíssivel ??
Porém, ontem, ao ver uma conferência de imprensa com o sr. Procurador-Geral da República ( chefe do MP ), nunca aquele senhor se referiu a estas delongas, explicando as mesmas. Preferiu tecer elogios em casa própria, afirmando ter sido levado a cabo um trabalho de grande qualidade. A avaliar pela história da estadia do Herman José no Brasil, a qualidade do trabalho é excelente, sim ... para os advogados de defesa !

segunda-feira, dezembro 29, 2003

A VELOCIDADE EXCESSIVA COMO MAIOR CAUSA DE ACIDENTES OU A HISTÓRIA DA RÃ SURDA
Não há disparate maior que atribuir à velocidade excessiva a explicação para a maior parte dos acidentes verificados nas nossas estradas. O pior de tudo é que explicando a tragédia com uma causa errada, as medidas de profilaxia serão também forçosamente erradas.
Claro que a velocidade excessiva tem um papel nesta carnificina, ninguém o pode contestar. Se os automóveis estivessem todos parados ou andassem todos a 40 km/hora o numero de acidentes graves diminuiria, não é ? Contudo, o que eu sustento é que o excesso de velocidade não pode ser responsabilizado como é habitual, trata-se de um erro infantil. A velocidade é apenas um potenciador, um catalizador, não é uma causa. As causas terão sempre de ser encontradas em manobras erradas, desrespeito pelas normas básicas ( sinais de stop, lei da prioridade, riscos contínuos, curvas sem visibilidade, etc .. ) e atitudes dos condutores enquanto andam na estrada ( falta de contenção psicológica, agressividade, leviandade, falta de informação, incapacidade de percepção de situações de perigo, etc ... ). Uma fatia grande de responsabilidade, também, para os traçados das vias, que por vezes parecem mais da autoria do Zé da Esquina do que de um engenheiro qualificado. Idem quanto á sinalização vertical e horizontal, simplesmente aberrantes, como se sabe. Sómente DEPOIS de tudo isto se situa a velocidade excessiva, ela própria motivada por alguns destes factores de índole pessoal que atrás referi.
Logo, insisto, afirmar repetidamente que a má da fita é a velocidade excessiva ou é simplificação excessiva, ou é ignorância ou ... pura e simplesmente a vontade de nada fazer quanto às verdadeiras causas. Eu nem diria verdadeiras causas, diria antes quanto às causas, UMA VEZ QUE A VELOCIDADE EXCESSIVA É UMA CONSEQUÊNCIA DOS MESMOS FACTORES QUE EXPLICAM OS ACIDENTES, não é uma causa.
Faço-me entender ? Quando um condutor segue a 150 kms/hora numa estrada, ultrapassando traços contínuos e seguindo fora de mão em curvas sem visibilidade, como se vê em imagens colhidas pela BT, se se verificar um acidente a CAUSA é o excesso de velocidade ? Digam lá ?
É que, ao insistirem nesta tecla e ao tentarem resolver o problema do numero excessivo de acidentes nas nossas estradas apenas pelo controlo da velocidade, as autoridades fazem-me lembrar aquele cientista que, para estudar o comportamento da rã perante ordens verbais, ia mandando a rã saltar, depois de lhe curtar uma, duas, três e as quatro patas. Quando mandou saltar a rã depois de lhe ter cortado as quatro patas, e perante a quietude do bicho, escreveu no seu bloco : “ Quando se cortam as quatro patas a uma rã, ela fica surda “
Pequenas incorrecções de análise, grandes erros nas conclusões.
ESTE ANO DE 2003 FOI HORROROSO
Sejamos claros e frontais : este ano de 2003, prestes a terminar, foi um ano horroroso, no nosso país. Bom, pelo menos foi-o para a minha sensibilidade. Prisioneiro de uma lógica de direita saudosista, incompetente e hipócrita, um governo em que os portugueses não votaram – não estava nas opções de voto o PSD aliar-se à extrema direita, ou estava ? – encetou um furiosíssimo e raivosíssimo ataque a tudo a que neste país cheira a solidário ou mais justo.
Relembremos algumas das iniciativas deste Governo.
Não acabou com o rendimento mínimo garantido porque não conseguiu, ainda assim reduziu o seu âmbito escandalosamente.
Modificou a legislação do trabalho, com o objectivo visível de facilitar a vida ás empresas.
Introduziu o negócio na gestão dos hospitais.
Está a fazer do notariado uma das maiores e mais despudoradas negociatas dos ultimos anos : transfere directamente lucros do Estado avaliados em largas dezenas de milhões de contos para os bolsos de meia dúzia de senhores.
Baixa o IRC às empresas.
Finge ( mal ) que combate a fraude fiscal, embora na verdade a fraude alcance hoje valores inimagináveis há 10 anos atrás.
Em lugar de uma estratégia de minimização da crise mundial, elege como estandarte os 3% para limite máximo do défice público. Nem esse objectivo consegue atingir, de resto, a não ser através de vergonhosas ( para mim ) operações de venda de bens.
Inicia um combate sem tréguas aos funcionários públicos, identificados como os grandes malandros e vigaristas deste país : não os aumenta, dificulta-lhe as reformas e as promoções, ameaça-os com o quadro de adidos e as avaliações.
Afirma que mais funções do Estado deverão ser privatizadas ( leia-se transformadas em negócio ), porque o Estado não tem vocação para elas.
Deixa que a grande corrupção alastre pela sociedade, transformando-se num cancro gigantesco, enquanto a malta se vai distraindo com a Casa Pia e a Moderna.
Tenta criar um clima de contenção e de moralização do aperto do cinto para quem trabalha por conta de outrém, enquanto ao mesmo tempo largos sectores da sociedade , incluindo do sector público, se fazem pagar a níveis superiores aos da Europa, com uma ostentação e diferenciação chocantes, nunca antes vistas neste país.
Permite que o desemprego atinja níveis há muito não vistos entre nós, sem que sequer se vislumbre um esboço de política de emprego.
Em síntese : um Governo tipicamente de direita, mal coordenado, sem objectivos claros e mobilizadores, unido apenas na raiva da destruição e no afã da “negociarização” máxima possível de sectores públicos.
Reconheço que a oposição a estes senhores é hoje fraca e um pouco desnorteada. Não sei nem como nem quando se irá recompor dos golpes que sofreu.
A verdade, porém, é que com este Governo não vamos a lado nenhum. Já não é uma questão de ideologia política, é uma questão de saúde pública.
Tragam-me outros governantes, estes estão estragados, vão acabar por fazer apodrecer o país ...

domingo, dezembro 28, 2003

PAÍS DOENTE
Este Domingo o noticiário da RTP1, á hora de jantar, apresentou duas pequenas reportagens que me impressionaram. Numa delas, uma mulher da Marinha Grande, despedida de uma fábrica onde trabalhou dos 14 aos 45 anos, dizia que o despedimento era como se lhe tivesse morrido alguém da família. Isto no campo afectivo, porque em termos práticos, agora até para comprar pão tem de pedir dinheiro à filha ...
Na segunda reportagem, dava-se conta das dificuldades que sentem muitos imigrantes, no dia a dia, por causa da não regulamentação da lei da imigração. Gente que nem sequer pode ir com um filho a um hospital. Gente que é roubada nos seus direitos ( poucos, ainda ) e explorada no pagamento do seu trabalho. Casos muito pouco edificantes sobre os valores morais de muitos portugueses, como o daquela mulher da Bielorússia que trabalhou durante meses num restaurante, propriedade da mulher de um sub-chefe da PSP. Quando pediu o pagamento do subsídio de férias e do Natal foi posta a andar .... e, mais tarde, como fez queixa ao sindicato, foi alvo de chantagem do sub-chefe. Ou se calava e retirava a queixa ou a multavam, porque tinha o carro sem a inspecção feita.
Que grande sub-chefe da PSP !! Em termos disciplinares, não sei que lhe aconteceu dentro da PSP, mas sei muito bem o que ele merecia. O restaurante, pelo menos, foi obrigado a pagar mil e não sei quantos euros de indemnização á mulher. Valeu o sindicato e o Tribunal.
Um caso e outro demonstram até que ponto a nossa sociedade é muito mais rude e impiedosa do que aquilo em que gostamos de acreditar. Os nossos valores morais parecem andar também em crise. O alheamento do Governo em relação a estas questões incomoda, por outro lado. Acho que dentro dos BMW e Mercedes, bem insonorizados, estas coisas não se ouvem.
E assim vamos nós, felizes, uns a pensar que temos um país de brandos e suaves costumes. Outros, cinicamente, a tentarem mostrar-nos que se preocupam muito com estas coisas e as vão resolver.
Este Portugal está estragado, dêem-me outro.

sexta-feira, dezembro 26, 2003

BYE,BYE CHRISTMAS !
O Natal já passou.
Os pobrezinhos já podem estar esfomeados outra vez sem que ninguém os vá chatear com ceias de Natal e entrevistas para a TVI.
Os presos já tiveram a sua oportunidade de indulto presidencial.
Os travestis de Pais-Natal já arrumaram as fatiotas e os barretes vermelhos debruados a branco.
As senhoras do jet set, muito condoídas com os sem-abrigo, já podem voltar ao normal.
A guerra pode continuar, terminadas as tréguas.
Os automobilistas podem acelerar de novo, as patrulhas da BT já não estão todas no asfalto.
As pessoas das aldeias, de Trás-os-Montes ao Algarve, já podem respirar de alívio, os forasteiros natalícios já rumaram de novo a Lisboa, nos seus carros.
Os cafés já reabriram, quase todos.
Os tipos que não gramam o Natal ( como eu ) podem finalmente suspirar de alívio.

quinta-feira, dezembro 25, 2003


O MENINO JESUS E O CAFÉ
O dia de Natal ( tal como o 1º de Maio ) é uma espécie de sentença de prisão no domicílio, em conjunto com a família. E quem não tiver família, fica na “solitária”. É que não vale a pena tentar andar por aí à procura de um café ou pastelaria aberto, para uma simples bica. Nada, tudo fechado. Desesperante, dá a sensação de uma cidade de mortos-vivos. Nas ruas vêem-se pessoas, poucas, todas com um ar translúcido, irreal, movendo-se como fantasmas.
Mas estas pessoas não me preocupam, a falta de café sim. Que coisa mais estranha, um país fechado. Para descanso do pessoal, têm direito ao Natal com a família, não é ?
Acho que sim. Sugiro até que esta razão seja aplicada às transportadoras aéreas, ao pessoal dos combóios e das portagens nas autoestradas, à PSP, GNR, Forças Armadas, bombeiros, pessoal da saúde em todos os hospitais, etc ... Já agora, decretava-se a paragem total do país. Os portugueses pelam-se por legislar, aproveitem e façam lá a leizinha já não do Natal branco mas do Natal negro, às escuras, fechado !! Andem lá, perdido por cem, perdido por mil.
Já sabem que fico um tanto impaciente e agressivo se não beber um café de manhã bem cedo. E tem que ser fora de casa, ao balcão, com aqueles cheiros todos de uma pastelaria nas primeiras horas da manhã. Pois bem, hoje fiquei tão chateado que até culpei o Menino Jesus, tadinho dele, ainda tão pequenino.
Se Ele veio ao Mundo para nos salvar, não devia ter-se esquecido do nosso café pela manhã, não acham ?
Bom, pensando bem, temos que O desculpar, Ele ainda não tinha idade para beber café, nem sabia o que isso era, os Reis Magos só Lhe ofereceram incenso, mirra e essas parvoíces.
Deviam era ter-Lhe levado uma máquina de café Expresso e um pacote do mesmo, pronto.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

DIA 24 DE DEZEMBRO, OITO DA NOITE
Hoje é a véspera do dia de Natal. É o dia da vinda do Pai Natal, lá pela meia-noite ... pelo menos era assim, quando eu tinha 6 anos. Lembro-me de pensar como é que ele conseguia estar na casa de todos os meninos ao mesmo tempo ! Quer dizer, acreditava no Pai Natal, mas parecia-me que havia ali qualquer coisa ...
A minha grande mania nesta época, nessas idades, era arranjar o presépio. As árvores de Natal ainda não se tinham popularizado, ninguém passava sem um presépio, por mais simples que fosse. O meu era um presépio todo “biológico”, como se diria hoje. Passava horas à procura de musgo, nos recantos das oliveiras e dos valados. O presépio tinha que ter lagos, com água “a sério”, com uma cascata. A cascata era indispensável. Um ano, fiz as figuras todas do presépio, em barro, incluindo ovelhas que dariam para vários rebanhos. Os Reis Magos colocaram-me um problema sério, não encontrei tinta para pintar de preto um deles. Acho que as figuras não agradariam nada à Rosa Ramalho ou ao sr. Franco daquele presépio animado que há entre a Malveira e a Ericeira .... mas eu fiquei com uma felicidade tremenda, de artista criador.
Que teria acontecido a essas figuras ?
Ah, e luzes, muitas luzes. As luzes eram feitas de pequeninas torcidas a flutuarem em azeite, dentro de caricas. À noite, o presépio com estas luzinhas indecisas ficava com um ar romântico, quase religioso. Depois de tudo pronto, eu ficava horas, sentado, a olhar para todos os pormenores, a alegrar-me com a minha obra.
Hoje, aqui em Lisboa, nem sequer sei onde poderia ir procurar musgo ...
Vejam bem : são quase 20:00 horas do dia 24 de Dezembro de 2003 e eu estou aqui a escrever estas linhas, com recordações dos meus 6 e 7 anos ...acho que vou acabar isto e comer um sonho. Dos outros.
Tenham um bom Natal, amigos.

segunda-feira, dezembro 22, 2003

AH, ESTE ESTRANHO MUNDO DOS AMERICANOS !

Num desses misteriosos e esquisitos periódicos regionais que são distribuidos à borla ( este chama-se a Dica da Semana ) li uma notícia giríssima. A notícia é sobre o Smoke Free Air Act, lei em vigor em Nova-Iorque que proibe pura e simplesmente o acto de fumar, em toda a parte. Mesmo a posse de cinzeiros, em estabelecimentos abertos ao público, é punível com pesadas coimas. Por enquanto ainda não mandam ninguém para a cadeira eléctrica, mas ...
Notem bem : é proibida a posse de cinzeiros ! Eh Eh Eh .... estes americanos são totalmente paranóicos ! E depois dizem que os árabes é que são fundamentalistas !

domingo, dezembro 21, 2003

FICO NEURA COM O NATAL !!!
Vou deixar-me de mentirinhas socialmente bem aceites. Vou dizer-vos a verdade, nua e crua : não gosto do Natal ! Esta mitologia toda da família reunida, com a lareira acesa enquanto a neve cai, lá fora, é uma treta, para mim.
Não tenho lareira, os aquecimentos a óleo não ficam bem neste quadro pitoresco, lá fora não há neve nenhuma e, o pior de tudo, a minha família quase não existe. Sou viuvo e tenho uma filha, é tudo. E, como eu, há milhões de pessoas em todo o Mundo. Logo, nesta altura, fico sempre deprimido, o paradigma da família pesa-me e entristece-me. É como se, ainda por cima, tivesse alguma culpa de não ter uma família. Os amigos perguntam-me : então onde passas o Natal ? E olham-me com um ar embaraçado e uma nota de tristeza compungida, quando lhes digo. Pior ... alguns sugerem : porque não vens passar connosco ?
Grrrrr ...
Bem, não quero insistir numa de desgraçadinho ou infeliz. Até porque não sou nem uma coisa nem outra, apesar das perdas irreparáveis. Mas acreditem, o Natal é uma seca para mim e faz-me sempre ficar neura. Não fora o facto de se celebrar, no Natal, o nascimento de um Homem que amou os seus semelhantes e tentou mostrar-lhes caminhos de solidariedade e de esperança, e eu diria, mal humorado e ressentido : vão-se lixar mais o Natal ! Vejam lá se arranjam uma celebração onde eu me possa sentir feliz em vez de entristecer !

sexta-feira, dezembro 19, 2003


VAMOS FAZER OUTRO PAÍS QUE ESTE ESTÁ ESTRAGADO !
A Europa não se entendeu.
A Europa quer fazer uma espécie de constituição, onde se fixa quem e como vai governar a Europa, qual é o poder de voto de cada país, como é que se compatibilizam as diferentes sensibilidades dos 25 países.
Tentando chegar a um acordo, sob a presidência da Itália, um magnata da comunicação social, em confronto directo com a justiça do seu país, homem de perfil ético e moral algo controverso. Estranha ironia : um homem destes é que ia ajudar a encontrar uma solução, ele que é a fonte permanente de problemas, no seu país e no resto da Europa ?
A Europa não se entendeu. Então, todos os políticos foram unânimes em dizer que assim não vale a pena fazer referendo para a Constituição da Europa.
Ou seja : só se faz referendo para que a malta diga que sim àquilo que os senhores decidirem para a Europa... como ainda não decidiram nada, então não vale a pena.

O folhetim do caso Casa Pia continua. Tribunal manda em liberdade, o juiz Rui Teixeira apressa-se a meter dentro outra vez. É uma espécie de jogo, onde cada um parece fazer o que quer. Menos os arguidos, claro.
Ouvi hoje a opinião que o grande problema não está a nível da legislação prever isto ou aquilo, mas antes ao espírito de quem tem o poder de aplicar a lei. E esse espírito, no entender do comentador, está em muitos casos completamente ao arrepio dos valores constitucionais. Prende-se para depois investigar, mastigam-se as investigações enquanto os arguidos aguentam a prisão, ouvem-se os arguidos sem lhes dizer exactamente os factos sobre os quais estão a ser investigados, enfim ...
Este tema é aborrecido, eu sei. Mas ponham-se no lugar de um arguido acusado não sabe de quê nem por quem, e mesmo assim metido na choça e logo vão perceber a insensatez de tudo isto, a leviandade com que são tratadas as pessoas, a impunidade e sobranceria com que alguns juizes actuam, como se não tivessem que prestar contas a ninguém ... No fundo, a extrema insensibilidade desses senhores que se julgam provavelmente legitimidos por via divina ...

Cada vez mais acho que Portugal já deixou de ser um País adiado. Passou a ser um país estragado, inviabilizado, ridiculo, de gente pequenina, invejosa, convencida, frustrada, corrupta e incompetente. Não vamos a lado nenhum. Aos novos com algum valor – que são poucos, muito poucos – diria eu : nem esperem pelo Natal, desapareçam daqui, vão para qualquer outro sítio, mesmo que seja o Iraque !
Este País está mesmo definitivamente estragado.

quinta-feira, dezembro 18, 2003


VEM AÍ O NATAL !
Passei parte da tarde de hoje a escrever mails para os meus amigos e amigas. Já há alguns anos que deixei de escrever cartões em papel, com envelopes, selos, etc ... agora vai tudo por via electrónica que é um despacho ...
Ter-se-á perdido algo, na mudança ? Perde-se sempre, aqui acho que o acto se massificou e despersonalizou. Envia-se um mail com vinte e quatro destinatários e diz-se o mesmo a todos, não é ? Fácil, rápido, barato. Também fiz isso, mas há algo que não me soa bem neste processo... :)
Fiquem os meus amigos a saber que ao enviar estes mails com vários destinatários, pensei sempre em cada um deles, separada e individualmente. Recordei aqueles que não vejo há mais tempo, as suas caras, coisas que nos aconteceram, a sua forma de rir, as suas manias ... Lembrei-me também daqueles que vejo mais frequentemente, com uma nitidez total. Por causa desses pensamentos, até acabei por pensar em amigos já idos para outras paragens, onde o correio electrónico ainda não chega ...
A todos, mas mesmo a todos, um desejo único : façam o favor de ser felizes, como dizia um texto do Raul Solnado. E não esperem pelo Natal ou por 2004 para isso : comecem já !
Um abraço para todos.

terça-feira, dezembro 16, 2003

AINDA SADDAM
Sejamos claros : nunca morri de amores por Saddam, ao contrário dos americanos que, em épocas passadas, viam nele um defensor da liberdade contra o fundamentalismo islâmico. Em particular, nunca lhe perdoaria o assassinato de milhares de curdos nem a forma desumana como tratou todo e qualquer iraquiano que ousava discordar de si.
Porém, fiquei envergonhado com aquelas imagens colhidas pelos americanos, mostrando um médico ( imagina-se ... ) a vasculhar a boca do estuporado Saddam com uma pilha. Talvez ainda à procura de armas ? Seja como for, são imagens degradantes, aviltantes para quem as colheu e difundiu. São indignas. São sintomáticas de uma forma de pensar arrogante, de quem despreza a natureza humana. É que não é Saddam que está em causa, naquele momento ; é a dignidade de qualquer ser humano. E não se argumente – como já vi fazer – com as imagens dos prisioneiros feitos pelos iraquianos, no início desta guerra e na guerra do Golfo, onde os prisioneiros ostentavam nítidos sinais de agressões físicas. É que aquilo que Saddam fazia não legitima que nós façamos igual, pois não ? Ou, de facto, a única superioridade moral das nossas democracias é não obrigarmos as mulheres a usar véu ?
Vi as imagens e, acreditem ou não, senti vir ao de cima uma onda de inquietação, relativamente a esta gente que faz este uso da sua força militar e económica. Pensei, também : quando será que a Europa, com os seus valores de solidariedade e tolerância, ganha força suficiente para ser um contra-poder a estes cowboys, tão frequentemente arrogantes, desmiolados e prepotentes ?

segunda-feira, dezembro 15, 2003

ROSAS E LARANJAS
Hoje estive na província ... Basta sairmos 120 Kms de Lisboa e o ar é mais leve, sente-se o cheiro da terra e a vida acontece mais lentamente.
Fui apanhar laranjas e podar roseiras. É verdade : já alguma vez se empoleiraram numa escada e apanharam laranjas, atirando-as para alguém cá em baixo ? Tem algo de redentor, é como se libertássemos a árvore de umas boas dezenas de quilos que a apoquentam e impedem os ramos de dançar com o vento.
Podar roseiras, por outro lado, é chato ! Para além das inevitáveis picadelas e arranhadelas, nunca se sabe quando estamos a cortar demais as pobres plantas, impedindo-as de largar rebentos e depois os botões coloridos.
Almoço na Golegã, vila onde ainda se respira um ribatejo simples, rude e honesto. Breve mirada no belo portal manuelino da Igreja e lá voltámos para Lisboa, o porta-bagagens cheio de laranjas e limões.
Se amanhã virem um tipo aí numa esquina, com uma banquinha cheia de laranjas à frente, já sabem : sou eu a fazer pela vida. Quem não sabe negociar na Bolsa, vende laranjas.

domingo, dezembro 14, 2003

SADDAM, AS BARBAS E AS ARMAS DE DESTRUIÇÃO EM MASSA
Saddam foi apanhado.
Afinal, não tinha saído do Iraque, estava numa casa em Tikrit, cidade onde nasceu. Barba crescida, olhar vazio, um homem derrotado. Assim acabam os ditadores, reduzidos à condição original de homens insignificantes.
Do ponto de vista psicológico, é um acontecimento importante. Restitui esperança e moral aos militares no terreno, enquanto a retira, em paralelo, aos saudosistas do regime e aos focos de guerrilha a ele ligados.
Do ponto de vista político é um trunfo inequívoco para Bush. Afinal, os EUA foram capazes de localizar Saddam, não aconteceu outro caso Bin Laden.
Agora, lá vão julgar o velho ditador. Não se sabe quem vai julgar, nem onde, nem com base em que código criminal, mas isso são pormenores, acabará por ser julgado e condenado. Vão longe os tempos em que os EUA apoiavam Saddam, como baluarte contra a luta anti-fundamentalista naquela região.
Subsiste, porém, aquele pequeno detalhe que tanta celeuma provocou na altura : Saddam não tinha as armas de destruição em massa escondidas na mesa de cabeceira ! Onde estão, afinal, essas mortíferas armas que justificaram a invasão ?
Será que também deixaram crescer as barbas e ninguém as reconhece ?

sexta-feira, dezembro 12, 2003


VAMOS FAZER COMO O GATO ?
Para não ser sempre o tipo que passa a vida a chatear-se ( e, o que é pior, a chatear o leitor ) com as desditas da política, ofereço-vos hoje uma cena do quotidiano em minha casa. O Cenoura, que já vos apresentei ao longo destas páginas, é um gato de um ano e meio, amarelo e com um temperamento temível de caçador. Quando não há mais nada caça-me a mim ou à minha filha, em emboscadas matreiras e silenciosas ....
Ah, mas de vez em quando acontece um milagre : os canários ! Os pobres dos canários foram pendurados na marquise anexa à cozinha, para apanharem um pouco de sol. Aí, o Cenoura descobriu que, se subisse para cima do micro-ondas e se se apoiasse na porta da marquise podia chegar aos bichos ... e lá está ele, sorrateiro, convencido que não vai ser topado pelos canários , ehehehehe ...
O que é curioso é que o gato já sabe que quase de certeza não consegue chegar aos pássaros, porque eles estão protegidos pela gaiola. Mas não desiste, mesmo assim, e tem um gozo tremendo a tentar, sempre a tentar, sem desistir nunca !
Confesso que não sei se me hei-de rir da tontice do gato ou admirar a sua persistência na luta por aquilo em que acredita.
Não haverá aqui, nesta atitude do Cenoura, algo que deveríamos aprender e cultivar, para fazer deste país algo de jeito ? Humm ? Ousar, tentar, não desistir ? Talvez um dia, finalmente, apanhemos a gaiola aberta e possamos chegar onde queremos !
E vocês a pensar que hoje eu não ia falar de política ...

quinta-feira, dezembro 11, 2003

VAMOS ACABAR COM O ESTADO - OS NEGÓCIOS AO PODER !
A furia liberalizadora deste Governo é espantosa, até mesmo para quem já deles esperava uma atitude deste tipo. Não se trata apenas de empurrar o Estado para fora de todos os sectores da economia que podem vir a constituir área de negócios privados. Esta verdadeira “negociarização” da economia é feita com uma pressa mal disfarçada e uma raiva genuina. Nota-se a frustação acumulada de todas as transformações que o país sofreu nos ultimos anos, o desejo incontido de as inverter o mais depressa possível, o afã de reconfigurar as antigas relações de poder.
A questão é velha, mas não deixa de ser um espectáculo quase degradante, assistir a esta actuação despudorada, apressada, cínica e violenta.
Claro que quem ouvir os argumentos ( e esquecer as verdeiras motivações ) destes senhores, fica comovido com o interesse que demonstram pelo bem-estar dos portugueses e pelo respeito dos seus direitos. Tudo é feito no superior interesse das populações, é esta a forma de tornar o país mais eficiente, mais moderno, mais justo, mesmo.
Claro que sim. É que os interesses privados que espreitam a retirada do Estado para iniciar os seus negócios tem vocação de samaritanos, não sabiam ? A sua vocação é servir as populações, não lhes interessa o lucro para nada, pois não ? Eles vão gerir os hospitais, as escolas, as universidades, qualquer dia as polícias e as forças armadas por simples altruismo e vontade de servir o país. E ainda vamos fazer poupanças, caramba ! Vai ficar tudo muito mais barato, vão ver !
A célebre ministra das vendas de património ao desbarato descobriu agora um facto incrível : afirma ela que de todos os funcionários públicos apenas cerca de metade trabalha directamente para servir o público. E, assim sendo, ainda há muitas funções no Estado que podem ser entregues ao sector privado. Fantástico, fiquei impressionadíssimo com o rigor destes números. Impressionadíssimo, sim, com a leviandade e ligeireza com que estas afirmações são feitas. E mais : com o populismo que lhe está subjacente.
É óbvio, não ? Se metade apenas dos funcionários é que serve o público, vamos ver-nos livres dos outros e poupamos milhões ! Bora !
Pois é ... será que a função da srª Ministra, como funcionária pública que tb é, foi contabilizada também como servindo directamente o público ? Não me parece que a ministra das finanças exerça a sua função atrás de um guichet ... ou é ?
Hummm ... e daí .... olhem, por sinal, neste caso concreto, até me atrevo a afirmar que nada se perderia em privatizar a função e atribuir o lugar da ministra a um qualquer gestor financeiro. Não seria dificil a qualquer um fazer melhor que ela ... e até talvez ficasse mais barato !
Mas é bom que comecemos a pensar que é urgente corrermos – democraticamente é claro – com esta gente dos centros de poder do nosso país.
Ou não acham ?

quarta-feira, dezembro 10, 2003

COMPRAR BENS ... E DEPOIS ?
Hoje vou propor-vos um tema conotado com o Natal, mas numa perspectiva diferente. Vão ver que é algo que nos afecta a todos. Trata-se da importância relativa que a aquisição de bens e a sua manutenção assumem, nas sociedades modernas.
A noção de partida é que é conferida muito maior importância ao acto da aquisição do que ao da posterior manutenção do bem adquirido.
A aquisição de bens e produtos, nos ultimos anos, tem vindo a tornar-se cada vez mais fácil, cómoda e atraente. Gastam-se milhões em publicidade, em todos os orgãos de comunicação e no porta a porta, constroem-se edifícios especializados na oferta de variadíssimos tipos de bens, os bancos desenvolveram curiosas engenharias de crédito ao consumo, inventam-se dias disto e daquilo, adulteram-se outros, como o Natal, é um vale-tudo desenfreado. Os próprios objectos adquiridos perderam significado intrínseco, compram-se coisas pelo que podem representar, muitas vezes, não pelo seu valor próprio ou utilidade.
Mas não me interessa agora fazer juízos sobre os valores que esta sociedade está a trazer à superfície. Se é que valores ainda são.
Interessa-me antes realçar que esta lógica, a da compra, utiliza, deita fora, compra de novo, é a unica lógica possível nas sociedades que construímos, nem mais nem menos. Só estão sãs, estas sociedades, quando crescem continuamente. Já viram esta ideia aterradora ? Porque motivo as nossas sociedades estão condenadas a crescer, sempre ? Ou, quando o não fazem – e isso acontece inevitavelmente – surge a crise ?
Bem, não nos percamos. Estávamos a ver que tudo foi facilitado ao máximo para que adquiramos novos bens. Novos, ainda que sejam apenas substitutos de outros que tínhamos. Se examinarmos o esforço que nestas sociedades é dedicado à manutenção destes bens que adquirimos, vamos ficar surpreendidos. Enquanto nos Centros Comerciais compramos facilmente de vestuário a electrodomésticos, não se vêem neles, por norma, lojas dedicadas à manutenção. A manutenção dos bens que adquirimos não é nunca tarefa fácil. Podemos comprar quase tudo ao pé de casa ou no mesmo centro comercial, mas para mandarmos reparar um simples electrodoméstico somos obrigados a ir à periferia da cidade, a uma antiga Quinta qualquer na Estrada não sei de quê que ninguém sabe onde fica.
Enquanto a função venda prolifera, está distribuida por milhões de locais, ainda resiste no pequeno comércio ao pé da porta, a função manutenção quase desapareceu a nível das pequenas lojas de bairro, estando agora nas mãos dos ultimos “jeitosos” que ainda trabalham em regime “liberal”, sem recibo, claro, ou então em algumas empresas “especializadas” na manutenção de tudo ( segundo a sua própria publicidade ), trabalhando 24 horas por dia, e que lhe levam 200 Euros ( sim, 40 contos ! ) por arranjar a campaínha da porta ou a máquina de lavar roupa.
Se pensar bem, é como se o “sistema” lhe recomendasse, quase sempre : não vale a pena reparar nada, torna a comprar novo !
Não acredito que nunca tenha passado por esta experiência.
É claro que vender é sempre muito mais simples que reparar ou fazer manutenção preventiva. Não exige investimentos elevados, nem mão de obra qualificada nem grandes áreas para as instalações. Todos sabemos isso.
Mas não será tempo de, quando compramos, nos começarmos a preocupar com este fenómeno, escolhendo ( pelo menos ! ) as marcas em função da estrutura de pós-venda que oferecerem ? Não será mesmo caso para a Comunidade Europeia começar a tentar disciplinar esta questão, em vez de apenas obrigar á garantia de 2 anos ?
Ou será que, lutando por melhores sistemas de assistência técnica dos produtos que adquirimos, estamos a cavar a ruína da nossa própria sociedade ?

terça-feira, dezembro 09, 2003

ISTO NEM DÁ VONTADE DE ESCREVER ...
Tenho andado um tanto cansado deste blogue. É verdade. Confesso que gostava que mais pessoas o lessem e discutissem os assuntos que tenho abordado. Vaidade, presunção ? Sim, é evidente que não ando longe dessas coisas. Só tenho uma desculpa : vivemos uma época em que todo o bicho careta escreve e publica livros, não é ?
Mas confesso que é algo frustrante escrever para uma meia dúzia de pessoas. Ainda que sejam leitores de qualidade. É pouco.
E não vejo maneira de quebrar as barreiras e alcançar novos leitores, sem recorrer à publicidade. Já percebi que a maior parte dos leitores de blogues saltam de uns para os outros, pelo que é essencial ter o título do blogue referenciado em alguns outros blogues com audiência. Ora acontece que esse circuito é fechado sobre si mesmo, não admitindo outsiders. Acontece também que grande parte dos autores de blogues muito lidos são populares por motivos anteriores e estranhos ao respectivo blogue : ou são conhecidos da TV, ou da rádio, ou do humor ... Ou então têm quantidades astronómicas de amigos ! Não estou a afirmar, claro, que a qualidade desses blogues não justifica a sua popularidade ; só afirmo que esta nasceu por outras vias que não a sua qualidade intrinseca.
Para culminar, as poucas tentativas que eu conheço de sistematização e identificação dos blogues nacionais falharam e estão encerradas, desistindo os seus autores de acrescentar novos títulos.
Ou seja : esta tão propalada nova forma de comunicação, rápida, fácil, democrática, barata ... é afinal como todas as outras. Não basta ter-se algo para dizer, é preciso conquistar um palco antes de mais. O que não é fácil. Eu, pelo menos, não sei como se faz. É claro que, depois deste desabafo, eu também sei que sou um chato a escrever, muitas vezes. Logo, não me vou queixar muito.
Queixo-me só este bocadinho.
Acho que vou continuar a escrever umas linhas, mais como terapia do que outra coisa.
Apesar do vazio que se sente, aqui onde escrevo.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

AS MISÉRIAS DO MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA
Diariamente sou surpreendido com factos anormais na vida publica deste nosso país. A tal ponto que começo a perceber aquelas pessoas que se recusam a ler ou ouvir notícias. De facto, só por masoquismo continuo a procurar saber o que se vai passando.
Hoje, destaco duas, ambas do Ministério da Administração Interna.

A demissão do Comdte da Brigada de Trânsito da GNR
O Major-General Assunção foi convidado a comandar a BT da GNR pelo seu perfil de homem sério e disciplinador, com a missão específica de “endireitar” a BT. Isto no seguimento do conhecimento publico das centenas de acusações de corrupção a agentes daquela Brigada, lembram-se ?
Pois, ao que parece, o novo Comandante entendeu retirar da BT centena e meia de agentes, recolocando-os em outros locais da GNR. Certamente, com o apoio do Comandante-Geral da GNR e o conhecimento do sr. Ministro.
Este é um procedimento normal numa organização militar. Não implica suspeição de nada, apenas resulta de um eventual juizo de valor sobre uma permanência excessiva na BT, por exemplo. É uma prerrogativa administrativa de qualquer Comando.
Alguns dos guardas recolocados não gostaram e interpuseram recurso no Tribunal Central Administrativo, o que é um direito seu.
O prosseguimento normal de um caso destes seria a GNR ( ou o Ministério ) ser ouvido em Tribunal, em defesa das recolocações. Tal não foi o entendimento do sr. Ministro, não se sabe porquê. Mesmo antes do caso ser decidido, no Tribunal, o Ministro manda informar o Tribunal que desiste das recolocações, desautorizando totalmente o Comandante da Brigada de Trânsito e o próprio Comandante-Geral da GNR. Muito pior : se a decisão tivesse sido do Tribunal, ainda vá que não vá, o Comando da BT podia aceitar, tratando-se de uma decisão judicial. Mas não foi isso : tratou-se de uma decisão do Ministro da tutela, BORRIFANDO-SE COMPLETAMENTE para a decisão anterior do Maj-Gen Assunção.
Ainda pior, se possível : o Ministro vem a publico declarar que se tinha limitado a cumprir uma decisão judicial.
Em síntese : o sr. Ministro não diz a verdade, o sr. Ministro aparentemente não sabe trabalhar com homens de coluna vertebral vertical, o sr. Ministro aparentemente está-se nas tintas para quem com ele trabalha.
É dificil fazer pior que isto.
Claro : o Maj-Gen Assunção demite-se da função, o segundo comandante pede para sair do serviço activo ... mas que importância política tem isso para um político como o sr. Ministro ?

Informatização da PSP
Ontem o mesmo sr Ministro declarou que, dentro de 2 anos, as esquadras da PSP estarão dotadas de equipamento informático, permitindo substituir uma quantidade enorme de papelada e ficando, finalmente, ao nível do séc XXI.
Notem : DENTRO DE 2 ANOS !!!!!
Isto é totalmente inacreditável. Seja a responsabilidade deste Ministro apenas ou de vários outros que o antecederam. Este trabalho devia estar feito há mais de 5 ou 10 anos !!!
Não se trata de nenhuma fortuna, apenas exigiria gente dedicada e competente a tratar deste assunto, em vez de uma série de putos recém-saidos das faculdades e que normalmente são desta ou daquela Juventude partidária ou filhos deste ou daquele homem do partido.
Volto a dizer : é INACREDITÁVEL este anúncio. É que, se eu fosse o sr. Ministro, trataria de FAZER o que é preciso ser feito sem alardes, sem qualquer comunicação publica. Por vergonha pura de revelar o tremendo atraso.
Em segunda síntese : este sr. Ministro, para além do que atrás se disse, também não tem qualquer pejo profissional em revelar atrasos e incompetências deste calibre !!!

quinta-feira, dezembro 04, 2003

PROBLEMAS DE CIDADANIA PRÁTICA
Há ainda hoje coisas bem dificeis de solucionar no dia a dia da vida em sociedade. Questões teoricamente simples, nada de muito rebuscado.
Querem ver uma ? Em Bragança, os esforços oficiais para obrigar certas crianças à frequência da escolaridade mínima obrigatória ( andam a trabalhar, os pais não querem, etc ... ) , acabaram na formação de uma turma de jovens “fugitivos ao ensino”, com idades entre os 15 e os 18 anos. Os miudos têm um nível de escolaridade muito reduzido para a idade, ficando a par de crianças com 11 ou 12 anos. Acresce que são, na sua maioria, de etnia cigana. Claro. E digo claro porque são os hábitos culturais dos ciganos ( em grande numero em Trás-os-Montes ) a provocar aquela situação de fuga à escola. Neste caso.
A Direcção Regional de Educação do Norte, tentado cumprir a sua missão, decidiu juntar a turma de “fugitivos” na mesma Escola onde andam os tais miudos de 11 e 12 anos ... Tchiiiiiiiiiiii, o que foram fazer ! Reunem-se os pais dos miudos pequenitos e decidem rejeitar a entrada dos mais velhos para a Escola, com o argumento de que irão estragar irremediavelmente o ambiente e trazer sabe-se lá que outros perigos para os mais jovens.
Bom, claro que qualquer sociólogo de bancada gritará logo : ”RACISMO ! É POR SEREM CIGANOS ! ”
E até é capaz de ser mesmo racismo. Na base cultural do racismo ( não estou a falar dos interesses económicos ) sempre existiram elementos de medo à diferença e de ignorância.
Por outro lado, aquelas populações conhecem muito bem os hábitos e comportamentos dos ciganos. E esses comportamentos não estão isentos de ameaças e perigos para putos de 11 anos, pois não ?
Então ? Vamos por um raciocínio simplista, tipo : é racismo, o racismo é mau, logo aqueles pais não têm razão nenhuma ? Ou tentamos ir mais longe e perceber os receios daquelas pessoas, embora sem desistir de dar uma formação mínima aqueles putos mais velhos, a quem nunca ninguém deu muitas chances ?
Como é ? Que tipo de solução ? Sabem , o que é curioso é que estes problemas são MESMO complicados. Por vezes, quando pensamos neles, equacionamos dentro de nós, instintivamente, soluções tipo apharteid, tipo guetos ... para depressa as rejeitarmos, bem depressa, porque todos nós sabemos onde isso nos conduz. Por mais dificil que seja a integração. Mas que dizem vocês ?
Creio que será possível uma integração destes miudos mais desvaforecidos pela sorte em certas Escolas, em conjunto com os outros. Mas também creio que estas iniciativas devem ser conduzidas por gente com muita competência e ainda assim usando de muito cuidado e atenção permanente. Conheço, embora superficialmente, uma iniciativa dessas, com bastante êxito, em Leiria, onde está implicada uma amiga minha. Penso ser matéria onde não existe grande margem para errar. Tudo deverá ser bem preparado, a começar pelo contacto com os pais das crianças mais novas.
Se nenhum destes cuidados existir, se se tentar a integração numa Escola qualquer, com professores sem formação prévia nestas questões e num ambiente que já de si não seja completamente saudável em termos disciplinares ...então, receio bem que seja o fracasso total.
No caso em apreciação, e se bem conheço os portugueses, a Direcção Regional de Educação do Norte ( DREN ) prepara-se ( preparava-se ? ) para “atirar” a turma problemática para a Escola em causa, sem qualquer cuidado nem preocupação...
Então, se assim for, quem deverá ser merecedor de nota negativa ? Os papás, por “racismo” ? A DREN, por falta de cuidado na preparação ? Ambos ?
Aceitam-se palpites, vá !! Digam lá como é que se resolvem problemas destes.

terça-feira, dezembro 02, 2003

PERIPÉCIAS NO COLOMBO
Não há, na actualidade nacional ou internacional, nada que me apeteça comentar. Não é que as coisas não vão “mexendo” ... eu é que não tenho coragem de falar sobre isso. O Iraque é cada vez mais a confusão total ; Israel constrói muros para deter os kamikazes palestinianos; a Europa põe-se em bicos dos pés, com a história de uma força de defesa autónoma, distinta da NATO, que contudo não quer pagar; o presidente Bush dá uma de motivar os seus rapazes, indo de noite, à sucapa, ao Iraque ... enfim, nada disto tem graça nenhuma, é triste, não tem ponta por onde se lhe pegue.
Pelo reino do absurdo ( Portugal, claro ) as coisas estão na mesma. A drª M.F.Leite insiste que a única coisa a fazer é respeitar os limites do déficit, enquanto ao mesmo tempo vota a não penalização da França e Alemanha que fizeram o oposto ; o ministro Paulo Portas concorda com uma força autónoma de defesa para a Europa, desde que não seja uma duplicação de meios ( ?? ) da NATO ; o Parlamento entretêm-se a re-averiguar o caso da cunha para a filha do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros ... isto é, ou não é, o reino do absurdo ?
Nestes ultimos dias acho que desliguei os circuitos políticos todos. Limito-me a andar por aí e a viver.
Hoje, por exemplo, fui ao Colombo, a uma estação de Correios que há lá, simplesmente para enviar uma carta registada com aviso de recepção. Pois bem, estive perto de 40 minutos para fazer isso mesmo. Um espanto. Com senha de vez no atendimento e tudo. Chegado ao balcão, a menina deu-me 2 impressos e diz-me “Preencha aí enquanto eu atendo outra pessoa”. Ainda esbocei um “Isto tudo ??” mas ela olhou-me com ar severo e diz que sim, é preciso aquilo tudo. No séc XXI, nos Correios em Portugal, é preciso preencher à mão dois impressos para enviar uma carta registada com aviso de recepção.... sabiam ? Depois descobri : é que o aviso de recepção que eu hei-de receber, quando a carta for entregue, é preenchido logo por mim !!!!
Entretanto, enquanto esperava, vi esta cena intrigante : uma mamã muito jovem, com o seu filhote num carrinho. O puto devia ter menos de 1 ano, não sei bem calcular, mas ainda não falava nada que se percebesse. Acontece que o miudo, talvez chateado com a eficiência dos nossos Correios, chorava desalmadamente. Chorar é mais fácil que falar, não é ?
A mãe, para o calar, deu-lhe o telemóvel. Nessa altura, comecei a olhar para o miudo com atenção, eu estava muito perto. Agora imaginem o que aconteceu : o miudo, põe-se a calcar nas teclas com os deditos, faz um gesto para levar o telemóvel á orelha ( de facto encostou-o à testa mas o que conta é a intenção, não ? ) e desata aos berros : “Tá ?? pá ? rebababa ...brrrrr ....gnhhhh ..... timmmm ...” imitando perfeitamente uma pessoa a telefonar, embora com os “grunhidos” próprios da idade.
Fantástico, esta nunca tinha visto : os putos desta geração mexem nos telemóveis e falam neles mesmo ANTES de aprenderem a falar !!!
Co’os diabos, já viram uma cena destas ?
Mas hoje não era mesmo o meu dia. Entrei a seguir na FNAC, e fui direito á cafetaria para beber um café. À minha frente, na caixa, um casal, ambos muito bem aperaltados e com ar de intelectuais á portuguesa. Eu depois explico esta. Enquanto eles decidiam o que queriam, e eu esperava, foram chegando pessoas conhecidas deles, amigos, familiares, etc , sem eu perceber porquê, sequer. A verdade é que, todos se lhes juntavam junto da caixa e ele perguntava: “O que vão beber ? “ e ia pedindo .... E foi assim que, em vez de duas pessoas à minha frente, me vi ultrapassado por algumas 10 ou 15 pessoas todas com um ar muito bem, ninguém se preocupando aqui com o rapaz ... ehehehe ...
Se já me conhecem um pouquinho, sabem que isto não ficava assim, não é ?
Pois foi, chateie-me e bati no ombro do tal tipo que tinha tantos amigos e disse-lhe : “Olhe, já agora eu também bebo um café ...OK ? “ Ehehehehehehe ....
O digno senhor ficou assarapantado de todo, depois percebeu, riu-se e até me queria pagar o dito café ...
Bolas, estava a ver que não saia de lá hoje !
Afinal, vi depois, o tal tipo é autor de um livro qualquer cuja apresentação decorria hoje naquele espaço da FNAC. Aquelas pessoas eram todas fãs ou amigos que o vinham apoiar ... Não sei de que livro se trata, as probabilidades são de que seja uma parvoíce qualquer sem valor de maior. Muito me admiraria se assim não fosse.
É que hoje em dia até o Fernando Tordo é romancista, ele que eu julgava ser músico e cantor !!!
Ainda hei-de ver o Lobo Antunes a cantar ...

segunda-feira, dezembro 01, 2003

A SAGA DOS PINGOS NA COZINHA - III
Chove de novo e o homem da impermeabilização nem deu notícia. Claro, era de prever.
Entretanto, mais alguns pingos fizeram o seu caminho cá para baixo, para a minha cozinha, teimosamente. Acho que vi um sorriso sarcástico em cada pingo e um sonzito baixinho “ihihihi “ ....
Ai, ai ...
Telefonei ao administrador do condomínio. -- Ah, pois é, o pedreiro telefonou-me, é capaz de ir aí esta tarde, depois de almoço ... bem vê, estava a chover !
Como se eu não tivesse reparado que estava a chover. E notem bem : é capaz de ...
Estas expressões tão portuguesas encantam-me. A arte do não-compromisso. Nunca se afirma nada taxativamente. Há sempre umas fórmulas mágicas, sou capaz de passar aí, se calhar eu vou, vamos a ver se consigo ....
Convenhamos : ser português é uma arte complicada. O esforço e imaginação que dedicamos a parecer ser gente responsável e dedicada. A parecer ....
Mas que raio : não seria mais fácil ser mesmo gente responsável e dedicada ??

domingo, novembro 30, 2003

OUTRO DOMINGO SEM HISTÓRIA
Voltou a chover, embora sem grande convicção. Ainda bem para mim, como saberá o leitor que acompanhou as minhas aventuras de ontem. ( ainda está a tempo, estão descritas aí em baixo, já a seguir ! ) Hoje não pingou. Por enquanto.
Andei por aqui a dar umas voltas a pé, até à Igreja de Benfica e depois até ao Centro Comercial Fonte Nova. O ar está saturado de humidade, a rua cheia de poças, os carros a reluzir com gotas de chuva nos capots. Das varandas vão caindo pingos de água que invariavelmente me acertam na cabeça. Ou numa orelha, como aconteceu hoje.
Um desporto interessante nestes dias é o “salpica ou não ?” Trata-se de tentar evitar os salpicos provocados pelos autocarros ao passarem, pesadões e apressados, na Estrada de Benfica. É um jogo exigente, é preciso calcular exactamente a trajectória do autocarro e a nossa própria, em relação à localização das poças de água. Por vezes, o jogo complica-se por causa daquelas senhoras que insistem em nos enfiar as varetas do chapéu de chuva pelos olhos dentro. É dificil estar atento ao autocarro com uma vareta ameaçadora à nossa frente, isso vos posso eu assegurar !
Enfim, acabei por comprar dúzia e meia de sonhos para trazer para casa e saborear com um chá bem quente.
Estes são de abóbora, disse-me a senhora que mos vendeu, mas confesso que quanto a sonhos gosto de todos, mesmo dos impossíveis.
Passem bem este resto de domingo !

sábado, novembro 29, 2003

OBRAS NO CONDOMÍNIO
Hoje, sábado, foi dia de obras no prédio. Era preciso levantar cedo, porque o homem que vinha mudar os intercomunicadores chegava às 8:30. Claro que só chegou ás 9 e picos, mas eu, feito burro, lá estava pronto às 8 e meia e até já tinha ido ao café da esquina ( “A Carripana” ) beber a minha bica.
Às 9 estava prevista a chegada do pedreiro ( ou algo semelhante ) que vinha tentar a impermeabilização de um terraço que existe por cima do meu andar. Esse terraço não me grama e Inverno sim Inverno não despeja-me uma torrente de água na cozinha, o que me irrita á brava.
Já estão a ver, não ? Às 10, lá chegava o homem, acompanhado de um filho, miudo ainda em idade de secundário, já a ajudar o pai nestes biscates.
Juntámo-nos todos, lá por cima, o administrador do condomínio, o pedreiro, o filho e eu, a olharmos com ares entendidos para o terraço. O administrador, homem grande e pesadão, saltava em cima da tijoleira para avaliar se estavam bem colados ao pavimento ou não. O pedreiro acendeu um cigarro e ia tirando umas fumaças enquanto olhava com os olhos semi-cerrados para a tijoleira. O puto espreitava as núvens e avisava : “é capaz de chover”. Eu perguntava :”Então, que é que vamos fazer ?”. O cão da porteira ladrava.
Quase se ouvia o ranger daqueles cérebros todos na análise da terrível situação. Finalmente, arrisquei ( sempre sou engº civil, co’s diabos ) “não é melhor arrancarmos isto tudo, ver o que está por debaixo, depois ...etc...etc...? “.
Era, sim. Claro, corroborou o pedreiro. Então, se tem que ser, lamentou-se o administrador, a ver umas lecas a irem-se à vida ...
E lá se começou o trabalho. Ou melhor, começou o filho do pedreiro a dar uma marteladas tímidas numa chave de parafusos, a tentar descolar a tijoleira ... Homem, assim nunca mais ! Pois é, lamentou-se o pai, se me tivessem dito que era preciso levantar a tijoleira eu tinha trazido o martelo eléctrico, mas assim .... Ou seja, o cliente tem que avisar o artista quanto às ferramentas que ele deve trazer, tá visto.
Resignado, isto afinal é Portugal, desci a casa e trouxe um martelo e um escopro que tinha por lá. Sempre o puto podia partir melhor a tijoleira ...
Bem, e assim continuou, ao ritmo alucinante de dois metros quadrados por hora. Razão afinal tem a Drª Manuela Ferreira Leite : temos claramente um problema de produtividade em Portugal.
Entretanto, fui almoçar e fazer umas compras, com a minha filha, rotina habitual aos sábados. Quando voltei, o pedreiro estava a estender um rolo de tela no espaço entretanto preparado, olhando para as núvens com ar céptico. Lá acendeu o maçarico e começou a colar a tela ... não demorou muito tempo para se perceber que a tela também não chegava para a área toda ... Eh pá, um gajo não tem culpa, não lhe tinham dito quantos metros quadrados eram ...( por acaso eu tinha feito as medições mas palpita-me que o esperto do administrador, num golpe de génio, omitiu esse dado ao pedreiro, quando combinou a vinda dele ).
Enfim, segunda feira vai continuar a aventura. Espero que entretanto não chova muito, vai ser o pandemónio se chover.
Que não, diz o homem, ele já pincelou o pavimento todo com aquele produto maravilha que trazia numa lata e que indicava no rótulo : tapa-poros para paredes de alvenaria ...
De maneira que o leitor está mesmo a ver o que vai acontecer se chover enquanto o homem não cola o resto da tela ...
Ai, ai, este nosso Portugal, é tão girooooooooo !

sexta-feira, novembro 28, 2003

A CULPA FOI DA LIGAÇÃO À INTERNET
Durante quase 24 horas estive sem ligação à Internet. É assustadora, a sensação de perda e impotência que isso provoca. Como é possível, ao fim de tão pouco tempo, ficar-se tão dependente de um meio de comunicação ?
A verdade é que me estou a desculpar, também, de não ter actualizado este meu blog. Pois. Foi a falta da internet e ... a falta de vontade. Há dias assim, sentia-me ( e sinto ainda ) demasiado “vazio” para escrever fosse o que fosse com o mínimo de jeito. Enfim, admitindo que nos outros dias esse mínimo está naquilo que escrevo.
Seja como for, aproveitei uma aberta, hoje de manhã, e fui ao meu barbeiro. Após a encomenda do serviço “o costume, sr. Mário”, lá iniciou ele a habitual prelecção sobre futebol. “Foi ontem a Alvalade ? “, perguntou-me, a abrir. É estranho, já lhe disse mil vezes que não sou Sportinguista, nem costumo sequer ver futebol nos estádios, mas o homem insiste, pergunta-me sempre se fui à Luz ou a Alvalade.
Aproveitei, enquanto o mestre ia aparando os cantos, dei uma passagem pelo jornal. Sim, que o meu vício da ligação à internet ainda não substituiu o meu fascínio de sempre pelo papel do jornal. O cheiro, o toque, o virar das páginas, o dobrar das folhas para as ajeitar ao meu gosto ... não, não vou nunca preferir os jornais on-line. E o que se aprendia hoje ? O sr. ministro Bagão Félix voltou a atacar, desta vez com a história das baixas por doença. E com uma ideia originalíssima, para desincentivar as baixas fraudulentas : se estiveres doente apenas uma semanita, recebes metade do que ganhas ; se estiveres doente três meses, então recebes quase tudo o que ganhas normalmente. Ehehehehe, esta é de morte : como a maior parte das baixas é de curta duração, o ministro descobriu a forma de economizar umas massas largas, estão a topar ? Ganda espertalhão ...
Outra : Durão Barroso resolveu fazer um brilharete e decidiu que as empresas devem ser obrigadas a uma quota de 2% de empregados deficientes. Brilhante, também : como a maior parte das nossas empresas tem menos de 20 empregados, a quota vai obrigar cada empresa a admitir quatro décimos de empregado ! A este ritmo, vamos ser o país no Mundo que mais empregados deficientes temos no tecido produtivo.
A internet foi-se de novo abaixo, enquanto eu alinhava estas palavras. Como tudo em Portugal, nada é fiável, nada funciona em boas condições, nem sequer há uma explicação ao Zé pagante ...
A insustentável miséria de sermos medíocres.
Voltou, a internet. Deixa-me aproveitar agora.

quarta-feira, novembro 26, 2003

OS GOLPES URBANÍSTICOS E A TAÇA AMÉRICA
Afinal, a America Cup vai ser feita com base em Valência, Espanha e não em Lisboa/Cascais. E logo agora que convinha tanto a este Governo, arranjar assim uns balões de oxigénio virtuais.
É que, como toda a gente sabe, nós portugueses só progredimos quando temos grandes desafios pela frente : dêem-nos estádios para fazer, exposições para montar ou competições de vela para alojar e vão ver do que somos capazes ! Revolvemos tudo, desalojamos o que for preciso, projectamos, construimos, gastamos o dobro do orçamentado, arranjamos procedimentos sem nenhuma burocracia ( nem cautelas anti-corrupção, diga-se também ) mas fazemos mesmo, a tempo e horas. Agora sem a America Cup é uma tristeza, pá ... como é que vamos justificar os investimentos todos que já estavam na calha ? Como é que vamos convencer o Zé Povinho a gastar umas boas massas em mais um fabuloso empreendimento urbanístico, á beira do Tejo ( como o outro ), onde muito poucos dos pagantes poderão alguma vez sonhar em adquirir um lugarzinho ao sol ?
Ahhh, mas estou outra vez a ser velho do Restelo – expressão aqui muito pertinente, dado que tudo isto se vai passar perto da zona. A isto chama-se progresso, trata-se de restituir dignidade a uma zona do Tejo que está degradada e de pouco serve ...
Pois é. É sempre assim. Pouco ou muito, é sempre dinheiro público que é usado na urbanização de base destes espaços. Dinheiro público ... e espaço público, convirá não esquecer. E depois de tudo alindado e de tudo construido, quem pode comprar ali uma habitação, quem é ??
Ou seja, não é ao aproveitamento urbanístico dos espaços que me oponho, não haja qualquer confusão. Aquilo que me perturba é o mesmo velho fenómeno : a restituição desses espaços, depois de arranjados, a uma minoria muito minoria que pode pagar aqueles preços altíssimos. E não me venham dizer que o empreendimento se basta a si próprio e tem capitais privados lá metidos e que quem tiver dinheiro pode vir a comprar. É que o espaço é nosso !
Por outras palavras ainda mais simples : no fundo, apropriam-se de uma magnífica zona pública, urbanizam-a, embelezam-a e depois “entregam-a” a meia dúzia de abençoados pelo dinheiro.
Os outros ... podem ir até lá e passear um bocadinho. Desde que não sujem e não façam ondas. E viva o progresso !

terça-feira, novembro 25, 2003

NOTÍCIAS QUE ME FAZEM DIZER PALAVRÕES
Hoje destaco três notícias. Uma delas provoca-me calafrios, podem crer. É esta, destacada de um dossier TSF sobre o aumento da violência doméstica : “Na Europa, 1 em cada 5 mulheres, pelo menos uma vez na vida, é vítima de agressões dentro de casa. Em Portugal, mais de 10.000 mulheres por ano queixam-se à polícia ou aos centros de apoio e todos os meses, pelo menos 5 são vítimas fatais.”
Vítimas fatais ?? Mas que selvajaria é esta ? Que raça de atrasados mentais, cobardolas e rufiões andamos nós a criar neste país ? Isto é de uma gravidade extrema, não só pelo acto em si, a que só posso chamar de repugnante, como pela indicação que nos dá quanto à baixíssima qualidade de seres humanos ) que a nossa sociedade anda a produzir. Neste caso, homens. Ou melhor, deviam ser homens.
E agora ? Depois de se saber isto vai tudo continuar na mesma ? O sr. ministro de qualquer coisa e o sr. director-geral não sei de quê farão um ou outro comentário, com um ar compungido e vão continuar a almoçar regaladamente no Vela Latina ou no Tavares das 2 ás 4, não é ?
E querem saber mais ? Depois destas coisas querem continuar a convencer-me que os crimes importantes neste país são os de pedofilia ? Ah, meu Deus, digo isto desde o primeiro dia : vamos todos andar aos papéis por causa de meia dúzia de gajos que gostam de ir ao rabo a meninos ranhosos ?? Hoje não consigo, tenho mesmo que ser desabrido : porra, levem a julgamento quem deve ser levado e dediquem-se a estes e outros crimes que de facto são a vergonha de um país.
Quem discorda ?

A segunda notícia não é surpresa para mim. Foram as declarações-denúncia de Leal Martins sobre as pressões políticas, ameaças de morte e desconfianças quanto a movimentações de dinheiros enquanto era responsável pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil. Escrevi aqui neste blogue, já há quase dois meses, aquilo que penso sobre esta indústria de “produção e extinção” de fogos ... o que estranho, sabem o que é ? É que o sr. engº Leal Martins só agora tenha revelado isso e não tenha dado dois berros enquanto podia. Também estranho a estranheza do sr. Ministro quanto a estas declarações. Então o sr. Ministro nunca se deu conta daquilo que todo o país já percebeu ??
Enfim, vamos de mal a pior ....

Por ultimo, o gozo total. Os ministros das Finanças da Europa decidiram “perdoar” à França e Alemanha a ultrapassagem ( com grande á vontade ! ) da fasquia dos 3% nos seus déficits orçamentais. Acho que entenderam muito bem como seria complicado tal não suceder. O ministro das Finanças francês argumentou mesmo que, se não violassem o Pacto de Estabilidade, lhes aconteceria o mesmo que em Portugal : a depressão !
Ehehehe ....
Sabem o que estou a pensar ? A drª Manuela Ferreira Leite, que fez do cumprimento do Pacto a SUA POLÍTICA ( alguém lhe conhece outra ?? ), como se sentirá agora ? Aposto que não muito bem, aposto que lhe estará a apetecer gritar : “Merdaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa !”
A mim está, pelo menos.

segunda-feira, novembro 24, 2003

O MITO DA NÃO-MORTE
Alguns quilitos a mais, a idade e as insistências da minha filha, fazem-me recorrer, de vez em quando, a uma alimentação mais cuidada, do tipo “isto é tão intragável que até deixas mesmo de comer, meu !”. Aqueles croquetes de soja e empadas de lentilhas, completamente indescritíveis, conhecem ? Enfim, a amargura de ter de mastigar estas iguarias fez-me reflectir nesta característica tão vincada do nosso tempo, nas sociedades de abundância : a negação permanente da morte, a sua quase recusa. E mais : o dever de estar em perfeitas condições físicas, sempre, em qualquer idade. Suponho que mesmo na morte.
Esta valorização ( excessiva ? ) da vida é um facto novo, creio eu, e nada tem a ver com a concepção cristã da morte, por exemplo. Quase todas as religiões pretendem desdramatizar a morte, até mesmo fornecer, a nível psicológico, algumas compensações, a perspectiva de uma outra vida ...
Este fenómeno é o oposto, mitifica esta vida terrena, busca a eterna juventude física, prega a rejeição da própria ideia de morte. A maior longevidade das pessoas de hoje favorece esta atitude, sim. Mas não é apenas isso : a nossa sociedade tornou-se hedonista, ninguém está disposto a sacrifícios, ninguém quer aceitar o risco de morte inerente a certas acções, cada vez menos jovens se deixam arrastar para as responsabilidades, riscos e trabalho de criarem filhos. Mesmo os grandes ideiais colectivos são postos de lado, não vá aparecer a necessidade de os defender com a vida ...
O mito moderno é o da vida eterna. Sem rugas. Sem barriga. Sem celulite. Aqueles desfiles de manequins importados de Auschwitz continuam a impor os seus padrões. As boas clínicas médicas organizam programas especiais de check-up, mesmo a prestações, se for preciso. Os regimes alimentares são obrigatórios e numerosíssimos. As plásticas, um must absoluto. Os ginásios prosperam com o arfar de cinquentões que nunca tinham corrido nem sequer para o autocarro. Quarentonas procuram desesperadamente o formato ideal para o “redondo” ( leia-se rabo ), suando em bica, acima e abaixo, em banquetas ridículas de eficácia duvidosa. Dezenas de pais de família desafiam a gravidade e a paciência dos peões em arriscadas corridas de bicicleta, por essa cidade fora. A euforia do prazer e a esperança da vida eterna sente-se no ar.
Pois é.
Por mim, não tenho pressa de morrer, que fique bem claro. Mas não alinho nesta euforia maluca. Só me resigno a comer os tais croquetes de soja se, de vez em quando, puder ver á minha frente um bom cozido à portuguesa. E faço o que for preciso e vou onde for preciso, sem pensar duas vezes na morte, se achar que tal é importante para mim, os meus amigos ou o meu país.
E, quando morrer, quero ver a cara desta gente, lá onde todos nos vamos encontrar, quando descobrirem que as plásticas, o step, as máquinas do ginásio e até os croquetes de soja estão muito fora de moda naqueles verdes sem fim !!!
Ora toma !

domingo, novembro 23, 2003

A SEGUNDA DERIVADA E OS CENTROS COMERCIAIS AOS DOMINGOS
Aos domingos, os centros comerciais da grande cidade enchem-se de pessoas de todas as idades e feitios. Talvez mais pessoas de idade. Muitas mulheres com roupas escuras, aos pares, viúvas de maridos e de esperança. Casais de meia idade, com os sogros, mulheres á frente, homens atrás, um ar enfastiado e submisso. Para muita desta gente é o único momento de liberdade durante a semana, a única palavra que não rima com cansaço e monotonia.Talvez vão mais tarde a algum sítio beber um chá ou um café, alguns queques e pastéis de nata, cerveja para os homens. Talvez nem isso, só os olhares para as montras e para os outros que circulam nos corredores apinhados.
Os centros comerciais são horrorosos aos domingos, dizemos nós, mas para estas pessoas são aquilo que existe de mais parecido com a diversão, com a alegria de viver.
Já alguma vez, num esforço sério, tentaram vestir a pele destas mulheres ? Sim, porque a vida delas é sempre cem vezes pior que a deles : o seu reino ainda é apenas a casa, a cozinha, a roupa, uma ocasional conversa com a vizinha do lado.E quando trabalham fora de casa ainda é pior, aí parecem gestores públicos ou professores universitários, a acumular “tachos” e a correr de um lado para o outro. Parecem-se com eles mas não nos vencimentos, claro.
É por essa e outras que as vejo mirar as montras com um ar mortiço, sem chama de interesse no olhar.Até isso já perderam. Gostava de saber o que se passa dentro da cabeça de uma mulher dessas quando vê numa montra uns sapatos de mulher por 250 euros ! Ou uma saia por 350. Também gostava de saber porque motivo ninguém escreve sobre estas pessoas. A verdade é que todos nós já as vimos, a passar nos corredores, com aquele ar de quem é transparente e pede desculpa ao Mundo por isso.
Ah, já me esquecia : o sr. ministro Bagão Félix explicou que a taxa de crescimento do desemprego baixou um pouco. A segunda derivada, diz ele. Isto é, para vocês perceberem, cambada de iletrados e iletradas da econometria básica : o desemprego continua a crescer, mas começou a crescer um pouquinho mais devagar...!
Suponho que estas pessoas que eu vejo aos domingos estão bestialmente satisfeitas com a tal segunda derivada.
Também não admira, caramba. Os sinais de esperança sempre vieram das segundas derivadas ... e das segundas circulares !

quinta-feira, novembro 20, 2003

OS NOVOS VENDILHÕES DOS TEMPLOS / ESTÁDIOS
O futebol profissional há muito que deixou de ser um desporto. Ou mesmo uma simples indústria de espectáculo. Passou a integrar as estratégias nacionais da competição económica internacional. Projecta a imagem de marca nacional. É elemento indissociável de qualquer política de desenvolvimento de turismo. Interessa a milhões de espectadores e, portanto, também a todo o sector da publicidade e orgãos da comunicação social. Interessa, embora de uma forma mais descontínua, às empresas de construção civil e de fornecimento de acessórios e serviços diversos, desde os relvados até às cadeiras dos estádios. Movimenta ainda centenas e centenas de pequenos negócios marginais, como o dos adereços clubísticos ( cachecóis, camisolas, bandeirinhas, bonés ... ), e o dos comes-e-bebes à volta dos estádios. Estes são apenas os interesses mais óbvios, claro. E a hotelaria ? E o comércio de souvenirs ? E a restauração em geral ? E o maior de todos os negócios actuais do sector, a compra e venda de jogadores ?

São estes os interesses que fazem mexer os países quando se trata de organizar um campeonato mundial, europeu ou local. São estes impactos na economia que provocam comportamentos estranhos, como a recente preocupação dos nossos responsáveis com o apuramento da Espanha para o Europeu 2004. Se não tivessem sido apurados, já pensaram quantos espanhóis deixariam de vir a Portugal ? Quantas dormidas, quantas refeições, quantas entradas em cervejarias ? Até um sr. Ministro rejubilava, ontem, com o apuramento da Espanha !

E o que sucedeu há poucos dias em França, no apuramento da selecção portuguesa de sub-21 para o europeu da categoria, frente á selecção francesa ? As autoridades sanitárias francesas resolveram pedir à selecção portuguesa que se sujeitasse a um controlo anti-doping, à revelia da legislação da UEFA, que não previa essa obrigatoriedade.Análises que, evidentemente, seriam feitas por eles, em França, ehehehe ...
Matreiro, o responsável nacional recusou, e disse que só faria o controlo se o delegado da UEFA levasse as amostras com ele para a sede, na Suiça. ( Esperto, o homem, hem ? ).
Por sua vez, os putos portugueses, com as suas tradicionais boas maneiras e apurada elegância, vá de escaqueirar o balneário todo. Não faço ideia se para comemorar a vitória se para se desforrarem do tratamento francês.
Agora, o governo francês ( o governo, notem !!! ) pediu à promotoria pública francesa ( acho eu ) a realização de um inquérito à recusa portuguesa em se submeter ao controlo ...
Tchhhh .... onde chegámos ! Tudo em nome do desporto e da verdade desportiva, claro !
Pois...lembram-se também do caso do Sporting na Suécia, recentemente ?

É como vêem. No futebol já não há ingenuidades, está tudo resumido a uma lógica de economia de mercado, com todos os ingredientes normais : jogo de influências, acção concertada dos governos, golpes jurídicos se for preciso. Afinal, este é que é o verdadeiro futebol TOTAL : o que interessa não é vencer, é ... VENDER !

quarta-feira, novembro 19, 2003

O CHARME DOS AVÔZINHOS
Não sou pessoa de fazer conhecimentos facilmente. Nunca tive muito jeito para quebrar aquela barreira de silêncio e reserva individual, dizendo uma balela qualquer para aquela mulher interessante que está a ler na mesa ao lado. Nem mesmo para comentar o futebol com o vizinho do 3º esquerdo. Aqueles silêncios nos elevadores oprimem-me, mas nunca descubro as palavras certas. Ou melhor, descubro-as só quando já vou a quilómetros do elevador ...
Bem sei, bem sei, é só deixarmos andar, as coisas são mais simples do que parecem. Eu tenho visto outras pessoas, como é fácil para elas entrarem em contacto com estranhos, daí a minutos já todos se riem e se tratam como se se conhecessem há séculos !
Que raiva, para mim não é, nunca foi assim. Com os anos tenho melhorado um pouco, mas há sempre uma espécie de écran invisível, campo de forças ou sei lá o quê, entre mim e os outros. Se me falam, tudo bem, respondo calorosamente e a conversa flui. Mas se os outros são como eu, fica tudo calado e constrangido. Chego a ensaiar abordagens, formas de dar início à conversa, mas tudo me parece terrivelmente foleiro e sem interesse e fico calado, a sentir-me mal.
( é estranho, porque não sou demasiado tímido, tenho alguma auto-confiança e sou capaz de uma conversa normal, sem bloqueios nem gaguejos ... O arranque a frio, porém, é o meu problema ! )
E depois, existem normas obscuras, não escritas, sobre o que se pode e não pode dizer, sobre onde se deve e não deve falar, isto não é fácil. Quando entro num consultório médico, por exemplo : se estão dez pessoas, só uma ou duas responde ao meu receoso bom dia ou boa tarde ... nos consultórios não se deve falar ??
E se nos sentamos ao pé de uma daquelas senhoras terrivelmente bem ? É escusado dizer seja o que for : ela olha-me de alto a baixo, repara nas calças de bombazine a precisar de ferro e naqueles sapatos com uma ou outra mancha de lama seca e remete-se a um silêncio ofendido, enquanto finge ler.
Ultimamente, porém, reparei em algo inesperado e sensacional : as pessoas tratam-me com mais deferência e à-vontade, nas lojas, nos locais públicos, refiro-me sobretudo às senhoras, mesmo novas, dantes esquivas e a fazerem caras de quem não quer conversa . Agora retribuem-me as palavras, normalmente com um sorriso simpático, até me mandam bocas, como um destes dias quando acompanhei a minha filha a uma loja de modas. E a menina era bem gira !
É pá, finalmente consegui, pensei eu, ultrapassei as minhas inibições, agora é que vai ser bom !!!! Senti-me bem, achei-me um homem insinuante, charmoso ... até que finalmente percebi o que se passava !!! Tinha passado a beneficiar da indulgência para com a 3ª idade ! As senhoras e as meninas estavam era a sorrir ao senhor de cabelos brancos e ar de avôzinho .... Passei a não representar perigo nenhum, sou apenas um senhor de idade com um ar distinto, mesmo usando as mesmas calças de bombazine.
Já viram isto, hem ? Bem, resta-me usufruir do estatuto, não é ? Pode ser que andem para aí umas senhoras que gostem de avôzinhos ...

terça-feira, novembro 18, 2003

QUEM DISSE QUE SE PODIAM SOMAR PARTIDOS ?



Sarsfield Cabral, na sua crónica de hoje no DN, e a propósito do medo de governar contra interesses estabelecidos, afirma “Este Governo foi escolhido pelos eleitores para mudar Portugal, não para se acomodar.”
Esta afirmação fez-me reflectir. Discordo dela frontalmente. Duplamente.
Primeiro, porque este Governo está mesmo a mudar Portugal, como escrevi há dias neste blogue. Destruir também é mudar. E este Governo está a destruir muita coisa.
Segundo, e mais importante : ESTE Governo não foi escolhido pelos eleitores.
Bem sei que constitucionalmente é um Governo legítimo. Os acordos entre partidos, com incidência na formação do Governo, DEPOIS das eleições, são legais. Mas a verdade é que nenhum eleitor votou num Governo PPD+CDS. Ou votou ?
Todos os eleitores, do PPD, CDS e à esquerda destes partidos, todos eles votariam da mesma maneira se soubessem que Durão Barroso iria entregar ao CDS aquelas pastas todas ? Não haveria eleitores do PPD a votar PS por não gostarem da aliança à direita ? O mesmo acontecendo com eleitores do PCP ou do BE, com o voto útil no PS ? Quem garante ?
A verdade é que ANTES das eleições nem o PPD nem nenhum outro partido colocou ao eleitorado essa possibilidade, nunca tal foi discutido ou apresentado como medida a tomar.
E, se assim é, NÃO se pode dizer que ESTE governo foi escolhido pelos eleitores, em meu entender.
É um Governo legítimo e legal, sim, mas não foi escolhido pelos eleitores, tal como está constituido. Trata-se de uma decisão à posteriori, tendo o partido com maior expressão eleitoral usado desse seu privilégio de fazer um acordo com qualquer outro partido.
Se o PPD tivesse escolhido aliar-se com o PS ou com o PCP, por absurdo, também seria constitucionalmente admissível. Nesse caso, seria igualmente o Governo escolhido pelos eleitores ? Quer dizer então que há diferentes Governos escolhidos pelos eleitores resultantes da mesma eleição e sem que esses mesmos eleitores o saibam ??
Não devia ser possível ... a verdade é que as alianças com incidência governamental ( que se traduzam na entrada de outros partidos para o Governo ) apenas deviam ser admitidas pela Constituição se realizadas ANTES do acto eleitoral, ou, pelo menos, se tivessem sido indicadas pelos partidos como INTENÇÃO CLARAMENTE ASSUMIDA durante a campanha eleitoral.
Só assim se poderia afirmar, sem qualquer ambiguidade, que um Governo saído de uma aliança dessas seria o Governo escolhido pelos eleitores.

segunda-feira, novembro 17, 2003

O IRAQUE E BUSH NÃO SE ENTENDEM : E AGORA ?
Alguém sabe bem o que se está a passar hoje no Iraque ? Eu confesso a minha ignorância, apenas posso traçar hipóteses, com a experiência histórica de outras situações.Vários cenários são possíveis, para aquelas acções a que temos vindo a assistir. Grupos pequenos e organizados de homens de Saddam Hussein ? Células da organização de Bin Laden ? Grupos de habitantes hostis aos americanos sem ligação a Hussein ou Bin Laden ? Uma mistura de algumas das hipóteses anteriores ?
O que parece óbvio é que são acções de intimidação e desgaste dirigidas não só contra as tropas da coligação, mas também contra as organizações humanitárias entretanto instaladas no Iraque e até contra sectores políticos iraquianos colaborantes com as tropas da coligação. Por isso, aposto não tanto em Bin Laden mas mais em Saddam Hussein, cujas capacidades de sobrevivência e de reorganização terão sido perigosamente subestimadas.
A actuação dessas eventuais células “resistentes” é muito facilitada pela ausência de segurança e de condições básicas de vida das populações iraquianas. De facto, olhando a esta distância, não faço a mínima ideia das razões que têm impedido os americanos de regularizar o abastecimento de água e luz a Bagdad. Nem compreendo o seu aparente desinteresse ( ou incapacidade ) em policiar a vida da cidade, como se isso não fosse da sua responsabilidade. ( ao contrário, os ingleses parecem ter conseguido alguns êxitos na zona sob a sua jurisdição, para onde foram os nossos homens da GNR. )
Se eu vivesse em Bagdad, ainda que nunca tivesse gostado de Saddam, provavelmente já estaria a esta hora zangado com os americanos e começaria a desejar que se fossem embora.
A verdade é que, a pouco e pouco, o Iraque começa a parecer-se não com o Vietnam, como alguns sugerem, mas com um país militarmente ocupado onde o invasor enfrenta forças de resistência muito activas. A libertação planeada ( ?? mal, pelos vistos ) pelos americanos está muito longe de ter acontecido no Iraque e arriscamos, a médio prazo, uma retirada precipitada e perigosa.
Este resultado viria sem dúvida a agradar a muitos dos que discordaram da arrogante e insensata aventura de Bush. Não é o meu caso, embora tenha sido contrário à invasão. Seria algo de resultados imprevisíveis, em termos políticos globais, e totalmente catastrófico, em termos humanos locais, uma saída precipitada do Iraque que deixasse o terreno livre ao regresso de Saddam Hussein.
Convirá não esquecer que os americanos já fizeram coisas parecidas antes, por mais de uma vez. É que as administrações americanas só são defensoras dos direitos humanos ( para uns ) ou imperialistas ( para outros ) enquanto a opinião pública está do seu lado ou as eleições vêm longe ...
Uma coisa tenho por certa : o futuro próximo do Iraque vai influenciar decididamente o futuro da comunidade internacional. Razão acrescida para estarmos atentos e não deixarmos o Iraque apenas nas mãos do sr. Bush.
Já vimos que não se entendem muito bem.

domingo, novembro 16, 2003

A BELA E O ACTOR
Ontem fui ao cinema. O filme chama-se “Culpa Humana”. Anthony Hopkins, sobretudo, e Nicole Kidman são garantias de profissionalismo e de prazer, quanto à arte de representar. Não vos vou falar da história, vão ver o filme, se quiserem, eheh .Apenas vos digo que não há efeitos especiais, nem cenas de grande impacto mediático, tudo é muito sóbrio e tranquilo, apenas um velho professor universitário, um escritor jovem e uma mulher de trinta e poucos anos, em cenários de grande beleza natural com a neve em pano de fundo. Para quem gosta de coisas cheias de acção, barafunda e milagres em série, tecnológicos ou de magia, tipo Mattrix, o Senhor dos Anéis ou o inefável Harry Potter, este não é um filme recomendável. É um filme para quem conhece os seres humanos e se emociona com as suas histórias. É um filme para quem não ignora ( ou quer aprender ) a ternura imensa e a solidão desesperada que existe dentro de cada um de nós. Também para quem goste da boa velha técnica de fotografia em cinema, com grandes planos intimistas, a mostrar bem a cara e a alma das pessoas e o turbilhão dos seus sentimentos.
Por mim, no fim do filme, apeteceu-me aplaudir Anthony Hopkins ( o homem é um Actor e está tudo dito ) e trazer comigo a Nicole Kidman, um dos rostos mais belos de sempre no cinema.Embora sem conseguir apear do pedestal a minha preferida, Susan Sharandon.
Apeteceu-me ir beber um copo depois do filme, ainda era muito cedo, mas ... não calhou, vim para casa. Ando muito doméstico.

sexta-feira, novembro 14, 2003

JÁ NEM SEQUER ME CONSIGO ESPANTAR ...

Apontamento #1

Numa página do Diário de Notícias de hoje, um crítico de gastronomia fala de um restaurante na capital, em Carnide. Comida tradicional portuguesa, alentejana, muito boa.
Os preços até são moderados, não mais que 25 euros por cabeça. Diz ele.
MODERADOS ? Eu, por vezes, sinto-me estrangeiro no meu país. Mas que raio de crítico é este, quanto ganha, que noção tem do país onde está, para quem escreve ?
Então pagar 5 milenas antigas por cabeça por um jantar é moderado ? Nesse caso, se é verdade, devo ser eu a andar completamente desfasado do país .... Ou o DN agora só é lido pela chusma de “gestores” públicos, directores-gerais e outros que tais a quem todos nós pagamos demais e que podem entregar-se a almoços e jantares via cartãozinho de crédito ?
Vá, chamem-me agora populista, também. Parece que está na moda o termo...

Apontamento #2

As Finanças descobriram ( agora !! ) que, dos portugueses que em 1999 declararam para IRS rendimentos superiores a 12.500 Euros, mais de 100.000 deixaram de o fazer, nos anos seguintes ....
Tchhhh.... já viram onde chegámos ?
Então demoraram 4 anos para descobrir algo que seria possível em 10 minutos ???
Ah, leitor, leitor, andamos nós a pagar impostos, todos os anos, e as nossas Finanças ainda estão na pré-história, no que respeita a sistemas de informação.E não pensem que é por falta de investimento, não ! Nos ultimos dez anos, que me lembre, o sector das Finanças investiu largas dezenas de milhões de contos em equipamentos informáticos, programas, assessoria técnica e mais não sei quê. Existe um Instituto Informático do Ministério das Finanças, com centenas de funcionários, existem serviços próprios para o IVA, outros para o IRS/IRC, com mais umas centenas de técnicos e uns milhões em equipamentos. Idem para a Informática Aduaneira. E não sei se me esqueço de algum ...
E depois, nem sequer é possível, em cada ano, saber quem deixou de apresentar declaração do IRS em relação ao ano anterior ?
Não esqueça o leitor, nesta matéria de impostos, aquele famoso processo a Inspectores da área de Lisboa e chefes de Repartição ( processo que deve estar mais parado que o ataque do Sporting ) ou ainda ao recente roubo ( roubo, não, entrada com chave e tudo ! ) de computadores de instalações das Finanças em Lisboa.
Quando iremos perceber que andamos para aqui a apertar o cinto e a pagar cada vez mais impostos enquanto outros não pagam nada e alguns ainda recebem por conta ??
Quando nos iremos chatear de vez e limpar a casa, do tecto ao sobrado ? Quando iremos arranjar administradores para o nosso condomínio à beira-mar plantado que não alinhem com esta despudorada incúria e criminosa cedência a grandes interesses ?
Lembrei-me agora ... o crítico gastronómico acima referido, que acha uma quantia módica pagar 25 Euros por cabeça para jantar, quanto pagará de IRS ????
Ehehehehe ...

quinta-feira, novembro 13, 2003

QUE RESPOSTA BRILHANTE !
Hoje não escrevo. Por um lado, não me apetece, e isto de escrever deve ser feito apenas se e quando der prazer. Para mim, claro, que não vivo da escrita.
Em vez disso, e possivelmente com algum ganho para o leitor, tenho um pequeno apontamento humorístico para vos mostrar. Foi-me enviado por uma amiga. Trata-se da resposta de um aluno a uma questão que lhe é colocada num teste escrito. É brasileiro, acho eu, mas poderia perfeitamente ser português. O brilhantismo do rapaz, o improviso e a elegância do raciocínio são ... indescritíveis. Portanto, leia :


quarta-feira, novembro 12, 2003

HOMENS E MULHERES DA GNR PARTIRAM PARA O IRAQUE
Partiram hoje para o Iraque os militares da GNR que o Governo quis envolver naquele conflito. Não vou discutir ( hoje ) a oportunidade e legitimidade política da decisão do Governo. Vou apenas desejar boa sorte aos homens e mulheres que partiram e esperar que vão bem preparados e equipados para as dificuldades que vão ter pela frente.
Não resisto, no fundo de mim, a pensar em tantas outras partidas, de outros homens e mulheres, para outros locais do Mundo, em outras épocas. Também em resposta a uma ordem do poder político. Com ou sem legitimidade e razão histórica, pouco interessa, há sempre algo de obsceno nestas decisões : quem parte, fá-lo sempre de coração apertado e nó na garganta, quem fica nunca compreende bem o que é partir e arriscar a vida.
Não poucas vezes, acaba na morte de quem partiu e na culpa de quem ficou, por não ter feito tudo ao seu alcance na protecção de quem foi. É que, se é verdade que as grandes causas justificam os grandes sacrifícios, não menos verdade é que causas menores ou mal preparadas podem resultar em sacrifícios inglórios.
Desejo, muito sinceramente, que este não venha a ser um desses casos, e que tudo corra bem para os homens e mulheres da GNR. Eles partiram para longe e não levam culpa nem pecado.

terça-feira, novembro 11, 2003

FERRO RODRIGUES
Vi hoje Ferro Rodrigues, na RTP1, numa entrevista conduzida por Judite de Sousa. Não conhecendo pessoalmente Ferro Rodrigues, tenho que basear-me apenas naquilo que é conhecido da sua vida e na minha impressão das suas palavras e atitudes, enquanto homem e político. E digo-vos : se eu sei avaliar homens – e gastei nisso a minha vida – este é um homem honesto sem sombra de dúvida. Gostei da sua atitude.
E, assim sendo, deixem-me sugerir-vos este racíocinio :

1)Ferro Rodrigues é um homem sério, honesto e eu acredito que NUNCA na vida dele esteve envolvido em qualquer acto pedófilo.
2)O seu nome aparece mencionado no testemunho de alguns ( 3 ? ) putos alegadamente vítimas de ataques sexuais. Ao que dizem.
3)Não parece crível que esses putos tivessem “inventado” essa participação de Ferro Rodrigues por sua espontânea vontade. Alguém lhes sugeriu essa ideia.
4)Então, quem e porquê está interessado em “abater” Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso e o PS com eles ?
5)As estações de TV que participaram há dias, naquela história da divulgação das conversas telefónicas e agora o “Correio da Manhã” tê-lo-ão feito apenas por critérios de ganhos jornalísticos ou tratar-se-à de acções com a mesma orientação de quem convenceu os putos a envolver estes nomes na pedofilia ?
6)O Magistério Público não está interessado nesta linha de investigação ? Quero dizer, acredita-se piamente nos putos e mais nada ?
7)Seria assim tão dificil averiguar a verdade por detrás daqueles testemunhos dos putos, que eu acredito terem sido "fabricados" ?

Por favor, senhores do Magistério Público : façam favor de nos mostrar que o vosso compromisso é com a verdade e a justiça. Por enquanto, só vi pressa de acusar a torto e a direito, e mesmo assim sem grande qualidade.
Uma nota final : pode parecer, pode. Podem pensar que. Mas não, não sou filiado nem simpatizante do PS. Nem sequer votei neles. O que não sou é parvo nem gosto que me façam passar por tal.

segunda-feira, novembro 10, 2003

LÁ VEM ELE OUTRA VEZ COM A POLÍTICA ...

Ao contrário de muita gente, acho que este Governo tem uma estratégia clara, bem definida e que está a ser executada de forma segura. O objectivo é a destruição completa dos ultimos resquícios do Estado social. Com requintes, até mesmo com laivos de vingança recalcada há muito. Em vez de uma nação solidária, num país com desigualdades tão gritantes, pretendem a construção de uma sociedade hiper-liberal, onde tudo pode ser objecto da iniciativa privada e todos os serviços devem ser pagos por quem a eles recorrer.
Os valores dessa hipotética sociedade serão a produtividade do trabalho, a competitividade das empresas e a rentabilidade do capital financeiro. O ser humano só interessa enquanto factor e instrumento de produção e, por conseguinte, deve também ser competitivo ... ou desaparecer.
Toda a vida em sociedade, incluindo a política, se deve subordinar aos critérios da economia de mercado. Não existem valores superiores, nem em nome do Homem nem em nome de Deus ... excepto, claro, os valores da propriedade. E, se possível, da fuga aos impostos.
Posso parecer restrictivo, quase fundamentalista. O quadro é tão negativo que o Governo nunca admitirá serem estas as consequências finais da sua actuação. Irá sempre insistir que reduzir impostos às empresas e reduzir salários aos trabalhadores aumenta a competitividade e é, portanto, a melhor forma de tornar todos felizes ...
A evidência, porém, é muito forte e corrobora as afirmações que faço. Muita gente já o percebeu. Mesmo entre aqueles que votaram nestes partidos do Governo. Até a Igreja Católica se inquieta, nos ultimos tempos, com esta liberalização selvagem em nome exclusivo da eficácia e do dinheiro, sem qualquer preocupação com a dignidade do ser humano.
Aqui chegados, tenho que lhes dizer que tenho fé. Este Governo não vai conseguir o que pretende. Continuo a ter o sonho de um Portugal solidário e próspero, tudo ao mesmo tempo. Em liberdade. Com dignidade.
Tenho fé nas próximas eleições.
O Sol irá aparecer novamente.

domingo, novembro 09, 2003

E VIVAM OS PASTÉIS DE BELÉM !
Como somos diferentes uns dos outros ! Provavelmente, esse é um dos segredos da evolução da espécie humana, tipo garantia de êxito qualquer que seja a ameaça.
Recebi um comentário ao meu texto de hoje ("Os Domingos são tão chatos"- ver abaixo ) que não quero deixar de destacar aqui, com uma vénia à autora. Demolidor ... e inspirador.
Somos diferentes, de facto, mas a vontade de viver e o entusiasmo que estão patentes no comentário levam-me a reproduzi-lo aqui. Pode ser que dê animo a quem ler estas notas.
E obrigado à autora, uma velha amiga.
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Como assim?! então e tudo aquilo q n se faz nos outros dias e q se tem p fazer???? Arrumar gavetas, dobrar roupas, fazer sopa, comprar o jornal c calma e acordar e estar vivo??? é bom sinal qdo nos aborrecemos: ainda cá estamos e pode-se deixar de estar chateado. a seguir, no outro instante!! E há tanto p fazer...dou já 1 ex.: aos domingos de manhã, entre as 11 e as 12 há concertos de jovens musicos, nos Jerónimos. N é mto tempo, anima a alma, e antes ou depois pode-se spre dar 1 voltinha pelo claustro e andar de cabeça no ar a ver tanto q lá há p ver, isto p n falar em ver quem são os outros q estão acordados àquela hora, naquele dia, naquele sítio! podemos ficar de cabeça no ar por outras razões...Fica a sugestão!
Até ao proximo domingo, e de boca doce, q 1 pastel de nata a seguir é+1sugestão! Aí, tenho a certeza, n será 1 domingo chato! As tarefas q há q fazer, fazem-se c outro ânimo e ficam...menos chatas!

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OS DOMINGOS SÃO TÃO CHATOS ...
Sempre achei os Domingos dias particularmente tristes e depressivos. O fim do fim de semana. O pré-início de nova semana de esforço e desenraizamento. O ter de regressar. Tornar a enfrentar os desafios e as dificuldades.
Acordava – refiro-me a uma época passada da minha vida - muito mal disposto e nada me alegrava, durante todo o dia. Embirrava com toda a gente. Ficava particularmente chateado à tarde, quando me metia num combóio para regressar a Lisboa, cidade onde estudava mas à qual não me ligavam laços de especial amizade. Ainda hoje sinto aquela infelicidade tremenda com que olhava pela janela e via desfilar, ao fim da tarde, a lezíria ribatejana, troços cinzento claro do Tejo, pequenos apeadeiros e também a minha própria vida.
Escolhia sempre o lado esquerdo da carruagem, sentia-me menos infeliz com a paisagem desse lado, mais perto do Tejo.
Muito tempo depois, ainda conservo resquícios desse mal-estar em relação aos Domingos. Já não tenho de regressar a lado nenhum, mas continuo a sentir-me triste. Parecem-me soturnas as pessoas que vejo na rua. Sinto mais aos Domingos a falta de muita coisa, de muita gente. É também aos Domingos que o balanço da minha vida me parece mais em déficit, mesmo com os esforços da Drª Manuela Ferreira Leite.
Enfim... continuo a não gostar dos Domingos.

sábado, novembro 08, 2003

CRÍTICA DE UMA CERTA CRÍTICA DE CINEMA

Embora o leitor se esteja nas tintas, sempre gostaria que soubesse, por amor à verdade, que a minha formação académica se situa na banda das ciências ditas exactas, com alguns salpicos qb de ciências sociais e de comportamento humano. Antes que digam aahhhhh, logo vi, apresso-me a acrescentar que nunca rejeitei, antes pelo contrário, o encanto e a sensibilidade próprios do mundo artístico. Gosto muito de cinema, música, pintura, escultura e arquitectura, por exemplo. Do que não gosto nada - e é disso que vos queria falar - é daquela escrita barroca, mastigada e intrincada que alguns portugueses cultivam, no domínio do artístico, porventura na convicção de que assim lhes será reconhecida a sua imensa cultura e elevação espiritual. Verdade seja que a tendência se encontra não tanto na produção intelectual, nos autores, mas sobretudo naqueles que vivem da crítica aos mesmos. Crítica de literatura, teatro, cinema. Lê-se ... e fica-se espantadíssimo, umas vezes com a profundidade do pensamento do crítico, outras vezes sem perceber grande coisa do que o crítico escreveu.
Claro que isto não é aplicável a toda a crítica, valham-nos todos os santos dedicados às coisas da arte. Mas este senhor ... bem, falo do sr. João Lopes, crítico de cinema do Diário de Notícias.
A ele a palavra : “Não admira que Matrix Revolutions desemboque num simbolismo religioso ......O desenlace da odisseia de Neo explicita a dimensão crística da sua figura e, mais do que isso, a possibilidade de formulação de uma nova «ideologia» ( ou será uma nova crença ?) capaz de integrar a falibilidade emocional dos seres humanos e a certeza informativa dos circuitos das máquinas.”
Confesso que perdi uns largos segundos até descobrir que raio seria a dimensão crística ...sou um saloio, está visto. Depois exultei com a chegada da tal nova crença ou ideologia, não se sabe ainda, com a simbiose homem/máquina ...
Ou ainda, desta vez referindo-se ao filme Kill Bill, de Quentin Tarantino, com a sempre bela Uma Thurman ( na foto ) : “Essa é mesmo uma proeza formal que pode resumir o arrojo do seu projecto( de Tarantino ). A saber : a criação de um espaço de representação hiper-realista em que a paixão pelo detalhe humano vai a par de uma contagiante vertigem abstracta.”
Ora toma, nem mais, que se poderá objectar a isto ?
Bem, dirá o leitor que estou a ser mauzinho e que o crítico em questão está apenas a usar o seu critério pessoal. Claro, eu sei. Nada de pessoal me move contra o sr. João Lopes, nem sequer o conheço e não me custa a admitir que seja uma excelente pessoa. Estou a falar é do crítico, que escreve coisas para o público, ainda por cima para o esclarecer e influenciar, que é o papel da crítica.
É que este crítico em concreto, na avaliação que faz no DN de hoje, atribui a 8 filmes em exibição um valor médio de 4 estrelas ( muito bom ), sendo que considera 3 deles dignos de 5 estrelas ( excepcionais ) ... Excepcionais, caramba ! Por este andar, não precisamos de crítica de cinema para nada. Os filmes são todos excepcionais ou muito bons e tá a andar ....
Mesmo assim, subsiste ainda a questão da linguagem ... não seria possível um espaço de crítica em que a paixão pelo gongórico fosse a par de uma contagiante vertigem pelo concreto, pelo perceptível ? Humm ??

sexta-feira, novembro 07, 2003

FOTOS DE VERÃO

Como hoje não me apetece muito escrever, lembrei-me de partilhar momentos do Verão passado. Tirei esta foto em Lagos, a 06 Agosto deste ano, às 6.48 da manhã, a partir da janela do meu quarto.
O Sol nasceu há muito pouco tempo e tinge a baía ainda de vermelho. Pode ser um pouco bilhete-postal, mas a verdade é que a natureza é bela e se os bilhetes postais a captarem nada tenho a objectar :)))
Ah, para os leitores eventualmente mais incrédulos : sei o dia e a hora exactos porque nestas fotos digitais esses elementos ficam registados. Dá jeito.

quinta-feira, novembro 06, 2003

A ULTIMA QUINTA DE BENFICA - II


Hoje resolvi fotografar a quinta em Benfica sobre a qual escrevi um texto há alguns dias. Deu-me um trabalhão, tive que fazer três ou quatro fotografias e depois montá-las no computador. Mas dá uma ideia, não dá ? À esquerda os prédios para os lados do Fonte Nova, do lado direito espreitam os da Av. do Uruguai. No alto, ao centro da foto, adivinham-se os edifícios da quinta. Acho que estão habitados, vejo carros lá, de vez em quando. Um espaço magnífico, em pleno território do betão. Algo que transmite paz e tranquilidade.
Quanto tempo mais resistirá ao poder dos construtores civis, ao fascínio do dinheiro ?
PS - Não desesperem, eu ainda só vou na ULTIMA QUINTA DE BENFICA II .... aqueles da MATRIX já vão no III ou IV !!!

quarta-feira, novembro 05, 2003

OS NOVOS VELHOS DO RESTELO
Muito bem : para evitar preconceitos e mal-entendidos, esqueçamos, por momentos, as ideologias e os partidos políticos das nossas simpatias. E também das nossas antipatias. Procuremos ser frios, imparciais, isentos. Sejamos tão puros e descomprometidos como uma criancinha de colo. Atrevo-me mesmo a sugerir que olhemos para o nosso Primeiro-Ministro como uma espécie de Robin dos Bosques e para a senhora Ministra das Finanças como a Madre Teresa de Calcutá das Finanças nacionais.
Isso. Vá lá, façam um esforço. Aí está, pronto !
Então agora expliquem-me lá se o povo que soube partir daqui, de Belém, e chegar ao outro lado do Mundo, enfrentando desafios e perigos de toda a ordem, é o mesmo povo que prepara um orçamento de Estado tão tristemente cobarde e medroso. Naquela época, fomos capazes de navegar para onde mais ninguém o tinha feito. Hoje só conseguimos orçamentar o naufrágio inevitável ? Alguma coisa mudou e eu acho que sei o que foi : os navegadores de hoje são os velhos do Restelo de ontem. Esta é a afirmação mais simpática que consigo fazer, depois de ver aquela proposta orçamental. Que me desculpem a Madre Teresa de Calcutá e o Robin dos Bosques.