quinta-feira, setembro 30, 2004

UMA GANGRENA SOCIAL ALARMANTE !

Em carta ao director do “PÚBLICO” de hoje, um professor do 1º Ciclo do Quadro de Zona de Bragança, de nome José Alegre Mesquita, narra o seguinte : pela primeira vez em 24 anos de ensino, e apesar da sua 89ª posição na lista ordenada, este ano não foi colocado em nenhuma escola, tendo-lhe passado à frente mais de 400 ( ! ) outros professores, invocando motivos de saude e juntando atestados médicos obviamente passados com apressada ligeireza, quando não mesmo com leviandade. Mais de 60% dos professores deste quadro apresentaram atestados desses, num caso sem precedentes no nosso país.
O Ministério da Educação determinou uma averiguação a esta situação, é verdade, mas o certo é que este professor não tem colocação e não virá a ser ressarcido das angústias e incómodos que esta gente sem escrúpulos lhe provocou.
O mesmo professor conta que todos os amigos lhe diziam para fazer o mesmo, ao que ele se opôs, na convicção de que a vigarice e o oportunismo não teriam êxito.
Enganou-se. Passaram-lhe todos à frente, fraudulentamnte, com a complacência de Governo e Sindicatos.
E ainda se este fosse caso único ! Mas não, os exemplos de comportamentos enviezados e pouco éticos têm crescido como cogumelos nos ultimos tempos em Portugal : foge-se aos impostos, incluindo um numero crescente de “deficientes”, como foi recentemente noticiado ; passam-se atestados médicos nitidamente “exagerados”; organizam-se golpes e calúnias contra pessoas ou partidos ; conseguem-se pensões de reforma dignas das Mil e Uma Noites ; chega-se a Primeiro Ministro sem votação prévia ou transforma-se uma região autónoma num domínio feudal ...
Nestes casos, como em muitos outros, os portugueses estão a interiorizar a noção de que compensa ignorar a lei e torpedear as normas. A sensação reinante é a de que usar expedientes ilegítimos para obter vantagens pessoais já não é vigarice, é apenas legítimo direito de defesa, é ser esperto numa terra onde vale tudo.
Esta noção deturpada e cínica alastra como uma gangrena pelo tecido social português, acelerada pela quase certeza da impunidade. As situações são bem conhecidas publicamente, há anos, sem vestígio de censura ou penalização.
Em Portugal começa a não haver espaço para a honestidade e seriedade.
Em Portugal os homens e mulheres de bem começam a sentir-se num gueto.
Em Portugal, a vigarice está na moda, a falta de escrúpulos é que está a dar, de cima a baixo, da direita à esquerda.
Enquanto isto se passa, todos nós continuamos calmamente a almoçar e a jantar, a dormir o sono dos justos e a passar umas fériazinhas regaladas no ripanço de uma qualquer praia.
Incluindo o sr. Presidente da República, os membros do Governo, os senhores deputados da Assembleia da República, os senhores procuradores da Procuradoria-Geral da República, os senhores bastonários das Ordens dos Médicos e dos Advogados, os senhores dos partidos políticos, os senhores dos sindicatos ... e todos nós afinal !
Quando iremos nós fazer qualquer coisa para interromper esta gangrena galopante ??
Senhores que detêm o poder político e ou a responsabilidade : ajam, por favor. Ajam. Sem perda de tempo.
Mostrem que o crime não compensa.
Se não o fizerem já, cada dia que passa aumenta a impunidade e faz alastrar o mal a toda a nação.
Ajam. Já não têm ( temos ) muito tempo.

terça-feira, setembro 28, 2004

VELHAS FOTOGRAFIAS NUMA CASA VAZIA

Fui hoje à velha casa de família, em pleno Ribatejo. A casa está desabitada, embora todas as semanas lá vá uma mulher dos arredores abrir as janelas e regar as plantas que ainda resistem. Era a casa dos meus sogros ( já ambos desaparecidos ) mas a ela me ligam circunstâncias muito fortes. Para começar, foi um dos meus primeiros projectos, em engenharia civil : uma moradia de dois pisos, quartos amplos, uma casa de banho do tamanho da do Júlio César, uma cozinha com espaço para dar uma festa de casamento. Depois, ali vivi momentos inesquecíveis, junto de pessoas que gostavam de mim e a quem eu também amava. Ali se criou a minha filha, com os avós, enquanto andei por guerras de África, e mesmo depois disso. Não se admirem, pois, que aquela casa me fale e eu lhe responda, agora que está vazia e triste de tanta saudade.
Curiosamente, nunca sinto o vazio, dentro desta casa. Devia sentir, penso eu, mas não sinto. É como se todas as coisas me falassem e saudassem, felizes de me verem por ali. Sinto-me lá bem.
Hoje, a minha filha decidiu abrir uma velha gaveta, num móvel que alberga um velho e bonito relógio de pêndulo. A gaveta estava cheia de fotografias. Antigas. Algumas do principio do século passado, de 1900 e poucos. Os pais da minha mulher, os avós, o casamento de primas e primos, senhores com ar digno e bigode farfalhudo que eu não soube dizer à minha filha quem eram. A minha mulher em criança e em jovem. Ela própria, a minha filha, em fases diferentes da sua meninice. Algumas minhas, também, com um ar esfomeado e magricelas. Traços de vidas cumpridas e terminadas, umas, etapas já percorridas de vidas ainda em aberto, noutras.
Não me apercebi logo, mas fui-o sentindo à medida que as fotos me iam escorregando pelos dedos : a angústia do irremediavelmente passado ia-se infiltrando em mim, insidiosamente, mansamente...
Desisti de ver as fotos primeiro que a minha filha. Trouxe duas ou três da minha mulher, muito jovem, de uma beleza e juventude que ainda me faz sofrer pela sua perda.
E foi isto, apenas.
Viemos embora, pouco depois, uma refeição simples e apressada na zona de serviço de Torres Novas e pouco depois, Lisboa de novo.
Os vazios da minha vida ficaram lá, a cento e tal quilómetros.
Fotos envelhecidas mal arrumadas numa gaveta de um relógio de pêndulo que há muito esgotou a corda.

sábado, setembro 25, 2004

A ESTRANHA RELAÇÃO ENTRE BAGÃO FÉLIX E OS LAVAGANTES

- E aquelas ali, todas pretas, o que são, pai ?
- Aquelas são lavagantes, filho ....
Estava hoje a olhar para um daqueles aquários-tipo que existem nas cervejarias, enquanto almoçava, quando estas palavras me vieram à memória, muitos anos depois do meu pai me ter ensinado o nome daqueles bichos que estavam no meio das lagostas mas pareciam mais guerreiros japoneses com armaduras negras.
Alguns deles passeavam-se lentamente pelo fundo do aquário, com as tenazes atadas, provavelmente louvando ministros como a Drª Manuela Ferreira Leite e o Dr. Bagão Félix : graças a esses distintos gestores da coisa pública, poucas famílias, nesta zona, se atreverão a perturbar o seu sossego ...
Enquanto esperava umas sardinhas assadas ( obviamente menos beneficiadas pelo regime fiscal em vigor ), fui-me enternecendo a pensar no meu pai ( há muitos anos falecido ) e nas muitas coisas que aprendi com ele.
Coisas como andar de bicicleta, fazer uma fisga para atirar aos pardais ( ainda não tinham direitos, os pardais, naquele tempo ! ), fazer brinquedos de madeira, com o auxílio de algumas ferramentas e sobretudo ...pescar. Passei muitas tardes com ele, à sombra de um salgueiro, na margem do Tejo ou então nas rochas da praia dos Salgados, perto de S. Martinho do Porto, sua terra natal.
Falava pouco, mas junto dele sentia-me sempre bem, em paz, como se tudo na vida fosse simples e tranquilo. Nunca conheci ninguém mais despojado das coisas materiais da vida que o meu pai. Era feliz ( penso eu ) com muito pouco e a sua filosofia de vida consistia em tentar viver tranquilo e sem chatices.
Acho que, mesmo sem dar por isso, parte dessa sua essência passou para mim. Sempre fugi das coisas chatas e incómodas da vida, nunca me atrairam honras ou popularidade ou riqueza. Fiquei em pânico, uma ou duas vezes na vida, só porque um desmiolado qualquer queria à viva força fazer de mim ministro, naqueles conturbados anos de 74/75 .... ainda hoje tremo só de pensar nisso.
Pois é. O meu pai. Tenho saudades dele... Da minha mãe também, com quem sempre tive uma relação agitada, de amor e desentendimento. Um dia hei-de falar disso, talvez. Mas sinto mais a falta de uma pessoa como o meu pai. Gostava de mim e eu sabia-o mesmo sem ele dizer uma palavra que fosse. Bastava ir com ele, de bicicleta, a pedalar por carreiros fora direitos ao Tejo, com as canas de pesca atadas ao longo das bicicletas.

Voltemos ao protector dos lavagantes. Ao dr. Bagão Félix. ( raio de nome ... ). Este circunspecto senhor tem mesmo um ar digno, sério, lavado, educado, não tem ? E diz coisas a favor dos pobrezinhos, contra os ricos ! Pessoa minha amiga disse dele que lhe achava um ar de padre, querem maior elogio ?
Gosto mesmo muito deste senhor tão sério. Portugal precisa de homens destes. Contudo, ando a ficar um pouco baralhado : primeiro, quando ele disse que eu pertencia ao grupo de 30% das pessoas mais ricas deste país. É que eu faço todos os anos um PPR . Bem, aí ainda acreditei ... Mas agora é que fiquei mesmo baralhado : se o senhor é assim tão asceta, sério, anti-corrupção e anti-PPR, porque diabo é que arranjou aquele tacho na CGD à ex-ministra Cardona ? Então o Estado não pode beneficiar-me em 250 euros por ano como incentivo no meu PPR mas pode pagar pr’aí uns 15.000 euros POR MÊS àquela senhora que NADA sabe daquilo ??
Decididamente, a vida está é para os lavagantes ...

sexta-feira, setembro 24, 2004

DESCULPAS

Peço desculpas a dois dos meus leitores que fizeram comentários ao meu ultimo post. Eu li-os, mas não consegui que eles ficassem disponíveis no blog, por motivos técnicos que não consegui decifrar.
Será que estamos - os meus leitores e eu próprio - a sofrer represálias pelas críticas ao processo da colocação dos professores ??
O vírus COMPTA/ME estará a atacar ?
Veremos se este problema se resolve no futuro ...

quarta-feira, setembro 22, 2004

TACHOCRACIA INTER-PARTIDÁRIA DE FACHADA DEMOCRÁTICA

Já o disse muitas vezes, mas repito agora : não sou extremista, em termos políticos. Com isto quero dizer que não acredito na eficácia de preconizar medidas políticas extremas no que respeita à evolução das sociedades. Pertenço, acho eu, a uma esquerda um pouco romântica, acredito em valores humanos e sociais básicos ( como justiça social, solidariedade, honestidade... ), penso que as transformações sociais se fazem gradualmente, com luta sim, mas sem balas nem mortes.
Sou isto tudo ... mas não sou parvo.
E como não me considero parvo, apetece-me hoje falar-vos de um fenómeno das nossas sociedades que de tão rotineiro e persistente se arrisca a ser considerado “normal”. Trata-se do fenómeno da distribuição inter-partidária dos bons tachos. A tacharia inter-partidária.
Vejamos como funciona : os senhores e senhoras das camadas superiores dos partidos de governo constituem-se numa espécie de clube de elites do país. Possuem formações académicas superiores, vestem bem, frequentam os mesmos círculos sociais e todos ostentam idênticos sinais exteriores de bem-estar social. São educados, simpáticos, bem falantes, não deixam que a ideologia dos partidos a que pertencem provoquem entre eles divisões ou atritos. São amigos dos membros do Governo e dos dirigentes partidários. Estão sempre presentes em todas as cerimónias de tomadas de posse, de director-geral para cima. Telefonam-se, convidam-se, fazem-se notar.
Depois ... é fácil : são sempre eles, e só eles, os elegíveis para todos os cargos públicos ou semi-públicos onde se ganha bem. É como se possuissem um alvará que mais ninguém tem. Rodam de empresa em empresa, de conselho de administração em conselho de administração. Sempre eles. Só eles. Mais ninguém tem acesso a este clube altamente restrito e ferozmente defendido da vil populaça.
Neste clube não interessa ser-se do PSD ou do PS ou do CDS. Quanto muito, ser-se do partido que está no poder apenas confere prioridade para os melhores lugares. Mas os outros podem sempre contar com lugares igualmente bem remunerados ...
E digo-vos mais : o mesmo fenómeno se nota, embora em grau muito inferior ( como convêm ... ) nas autarquias onde o PCP manda !
Ah, não pensem que os membros deste clube têm andado distraidos ... durante estes anos arranjaram maneira de se aumentarem, de aprovarem benesses várias, honrarias e distinções... por algum motivo os vencimentos dos gestores portugueses estão dentro dos maiores praticados na Europa !! Sim, ouviram bem !! Em valor absoluto, euro por euro. E, espertos como são, ainda passam a vida a afirmar que ganham pouco ...
Quanto a benesses, é melhor que ponham os olhos na pensão que o pobre do engº Mira Amaral vai usufruir por ter estado um ano e pouco no conselho de administração da CGD : mais de 3.000 contos por mês, coitado ! Leram bem, três mil contos mensais, uma bagatela, nada de especial. Nós, os tesos, é que não temos noção do que custa vestir bem e ter de ir almoçar a bons restaurantes, levar a família de férias para as praias das Caraíbas e ter de comprar e manter o Audi A-8 e a vivenda na Quinta da Marinha, para não falar da outra, naquela urbanização fechada da costa nordeste do Brasil. Experimentem, e vejam lá se não precisam mesmo dos 3.000 contos mensais... está tudo pelas horas da morte !
Bom, o que podemos fazer contra isto ? Confesso que não sei. Suponho que a primeira coisa que podemos e devemos fazer é tomar conhecimento.
Depois, podemos expressar a nossa indignação e o nosso cansaço deste vício tremendo.
Cada um de nós pode dizer : basta !
É que isto assim não é democracia, não é nada. Parodiando os outros, diria mesmo que a ser alguma coisa é tachocracia de fachada democrática ...

terça-feira, setembro 21, 2004

UMA IMENSA TRISTEZA ...

Inacreditável.
Confrangedor, mesmo.
O que me perturba não é o fracasso reiterado e quase suicidário das listas de colocação de professores. O que me faz calafrios é a ignorância, incompetência e incapacidade de decisão de tanta gente que anda lá pelo ministério á volta desta questão.
Como é possível esta gente toda estar colocada no ME ? Então é a gente desta que estamos “entregues” ? E nos outros ministérios, há alguns motivos para pensar que a situação seja diferente ?
Leitores : tenho mais de quinze anos a trabalhar em informática, como gestor num departamento público responsável pelo desenvolvimento de sistemas de informação ( vulgo programas ) de grau de complexidade elevada.
Sei muito bem como se processa este tipo de trabalho, aprendi, antes de mais, que todo o cuidado é pouco nas fases iniciais dos projectos, a de definição dos requisitos operacionais ( o que se pretende que o programa faça, de facto ) e a da análise dos fluxos e processamentos de dados, a que também poderíamos chamar a da definição das regras do jogo.
Estas fases exigem um trabalho permanente e íntimo entre dois grupos de pessoas : as donas do projecto, que devem conhecer exactamente os objectivos a atingir e todas as regras do jogo e aquelas outras pessoas que sabem analisar estas regras e convertê-las numa lógica de programação simples. Estes dois tipos de pessoas devem ser competentes nas áreas respectivas e devem também saber trabalhar em equipa, todos eles liderados por um chefe de projecto prestigiado, idóneo e experiente.
Esta interacção é tão íntima, tão estreita e imprescindível, que muitas vezes deve começar mesmo ANTES da definição das regras do jogo, ANTES da sua tradução em lei.
E aqui começam os factos aberrantes neste caso concreto : as regras do jogo de colocação de professores ( o DL 35/2003 e demais legislação posterior ) são obtusas, mal redigidas, pouco claras e muitas vezes quase incompreensíveis, numa perspectiva da sua conversão para linguagem binária. Em algumas das regras parece mesmo ter havido a preocupação de complicar as coisas, de forma a que não funcionem. E eu sei porquê : a concepção do modelo do concurso foi feita essencialmente por técnicos de gestão do pessoal docente e por juristas, uns e outros sem quaisquer preocupações de viabilidade do tratamento informático posterior.
Querem um exemplo ? Leiam as regras para afectação dos professores dos QZP a horários surgidos nesses QZP. Os horários são divididos em grupos, consoante o numero de horas, os professores declaram as suas preferências por escolas mas a estas acaba por se sobrepor o maior número de horas dos horários ... um pesadelo, concretizar estas regras baralhadas num programa informático. A hesitação do legislador, as suas duvidas e incertezas acabam por se tornar numa armadilha mortal para algum incauto que vá definir uma lógica de decisão para o sistema informático.
Depois ... estão mesmo a ver a dinâmica de uma equipa de projecto conjunta com técnicos do ME e de uma firma privada exterior, não estão ? Uns sem ideia nenhuma do que é a lógica binária, os outros sem qualquer contacto ou experiência do que é o mundo da colocação de professores !
Juntem a isto uma orientação política incapaz, desde o nível de director-geral até ao próprio ministro, e terão a fotografia completa do desastre.
Mais : em alturas de contingência, há que saber escolher alternativas, sem hesitações. Não é o que tenho visto suceder. Em diversas ocasiões, lembro-me de pensar que a decisão óbvia e sensata não fora tomada.
Por exemplo, quando se notaram milhares de erros na primeira lista de ordenações, decidiu o ME continuar o processo, avaliando as dezenas de milhares de reclamações entradas.
O mais elementar bom-senso aconselharia outro caminho : reconhecer que grande parte dos erros foram devidos aos impressos de recolha abstruzos que inventaram e á recolha dos dados pela leitura óptica desses impressos, com reconhecimento óptico de caracteres.
Qualquer pessoa com experiência destas coisas teria seguido outro caminho : redesenho do impresso de recolha e repetição dessa fase com maior garantia de dados sãos.
Outro exemplo : algumas das lógicas de validação dos dados recolhidos, nessa fase das listagens provisórias e definitivas, estavam totalmente erradas, numa perspectiva funcional, denunciando uma ligação imperfeita entre o ME e a firma de informática.
Aparentemente, ninguém se preocupou com isso.
Qualquer pessoa com experiência neste domínio teria ficado com os cabelos em pé e teria feito uma autêntica revolução na equipa de projecto, exigindo que os informáticos fossem totalmente esclarecidos quanto às regras das colocações ou optando por mudar a empresa responsável ... ou ambas as medidas.
Tal não foi feito, muitos erros forma considerados “erros informáticos” sem mais consequências.... Mas como é possível, já nesta fase final, afectar um professor de um determinado QZP a uma escola de outro QZP ? Pensam que isto é um erro informático ? O tanas é que é : isto é pura e simplesmente um erro de coordenação dentro da equipa e um erro na incapacidade de detecção de erros na fase de testes.
Enfim ... uma infinita tristeza, é o que tudo isto me provoca.
Como já disse, bem gostaria de pensar que a gestão da coisa pública estivesse entregue em mãos mais experientes ... mas a verdade é que está entregue a amadores. E maus.

sábado, setembro 18, 2004

MAIS UMA IDEIA ORIGINAL EM SEDE DE IRS !
( os cidadãos que não fogem ao fisco devem pagar a crise ! )


A ideia é SEMPRE a mesma, inapelavelmente, infatigavelmente, desavergonhadamente : extorquir MAIS dinheiro àqueles que já pagam IRS.
Sim, todos nós sabemos que é mais fácil fazer isso do que ir incomodar e aborrecer os nossos ( deles ... ) amigalhaços que não se dignam pagar o seu IRSzito ... ainda se iam ofender connosco, sei lá ...
Apenas um aparte : sabem que os rendimentos médios declarados por engenheiros, advogados, médicos, etc ... em 2003 andavam à roda dos 800 euros mensais ? Taditos, ganham mesmo mal para quem tem tantos estudos e tanto trabalho ! Só os dentistas declararam um pouco mais, cerca de 1250 euros, imaginem !
Pois bem : em vez de fazer pagar essa malta toda, em vez de obrigar os bancos a pagar mais que uns míseros 13 a 14% de IRC, vá de acabar com os benefícios fiscais de quem faz contas poupança, tanto de reforma como de habitação ! Ora toma ! Vai-se buscar aos mais ricos, diz o Ministro ...
Aos mais ricos ???
Vai-se é buscar sempre aos mesmos, sempre aos mesmos, digo eu.
Até que esses mesmos acordem, de uma vez por todas, e resolvam dar um belo pontapé no rabo a quem assim os trata, deixando de lado, intocáveis e descansadinhos, todos os figurões acima referidos !
Hem ? Que acham da ideia ? Vamos a isso ?

sexta-feira, setembro 10, 2004

UMA VISÃO DE FUTURO PARA OS PROFS, PRECISA-SE !

Nos ultimos dias, por pressão dos atribulados concursos de professores para o próximo ano lectivo, surgiu uma grande polémica centrada na gestão do pessoal docente de nomeação definitiva dos quadros de escola ( QE ) e dos quadros de zona pedagógica ( QZP ). A discussão tem sido feita mais em termos emotivos e egoistas do que outra coisa, passando ao lado das verdadeiras ( e incómodas ) questões de ordem estratégica e conceptual.
Sim, a verdade é que tem faltado uma noção do que são os QZP e de qual virá a ser o modelo futuro da relação contratual com o Estado de TODOS os professores.
Os QZP surgiram há poucos anos, como uma resposta à dificuldade do ME – e à sua pouca vontade política – em determinar as necessidades reais das diversas escolas em pessoal docente profissionalizado. Estas necessidades, no microcosmo de cada escola, têm vindo a variar muitissimo, nos ultimos anos, face a um cenário de diminuição da população estudantil nacional, a oscilações regionais e também a reestruturações da rede escolar.
O modelo exclusivo até há uns anos, de vínculos definitivos a cada escola ( os profs dos QE ) é extremamente pouco flexível, de facto, dada a dificuldade de introduzir ajustes na afectação dos professores às necessidades das escolas, em mudança permanente.
... De onde que a ideia da criação de “bolsas” regionais de professores é lógica e responde a essa mutabilidade das necessidades : assim, anualmente ou mesmo no meio de um ano escolar, os profs são redistribuidos pelas escolas em função da realidade existente.
Assim foi feito.
No actual panorama, co-existindo estes dois modelos de gestão do pessoal docente com vínculo definitivo, é totalmente compreensível ( diria mesmo que é indispensável para o funcionamento do sistema ) que seja dada prioridade aos professores de cada QZP na ocupação das vagas docentes inventariadas em cada ano para ESSE QZP( para além das que são asseguradas pelo pessoal QE das escolas desse QZP ).
Fazer o oposto seria negar a própria lógica da criação destas bolsas regionais de pessoal. Dito de outra forma, o vínculo destes profs dos QZP aos lugares surgidos no seu QZP é exactamente do mesmo tipo que o vínculo dos profs dos QE aos seus lugares das escolas : eles pertencem-lhes, ponto final, parágrafo.
Até aqui, creio que é insustentável outra visão, a menos que seja o interesse pessoal, legítimo ou ilegitimo, a falar e não a razão das coisas.
Dito isto, há algo contudo que parece faltar em toda esta amálgama de situações ... falta um quadro de intelegibilidade ultima, falta uma estratégia de transição que indique o caminho para uma situação final que seja transparente e funcional e que corrija eventuais injustiças !
Em meu entender, essa estratégia de transição poderia ser a de se caminhar, gradualmente, para uma situação onde os QE desaparecessem, sendo substituidos pelos QZP, na totalidade do pessoal docente. De resto, como em qualquer grande empresa com unidades geograficamente dispersas, ou mesmo como nas organizações militares. O pessoal pertence a um quadro único, ou a poucos quadros regionais e depois movimenta-se pelos diferentes locais de trabalho de acordo com regras específicas e, eventualmente, incentivos adequados.
Se assim fosse, se este conceito existisse bem claro pelas bandas do Governo ( depois de discutido com os sindicatos, claro ) então seria exigível definir uma forma de caminhar da realidade actual para a futura : não me parece complicado, por exemplo, criar um acréscimo de vagas anuais, em cada QZP, destinadas ao pessoal QE que a elas se candidatasse. Sempre que um professor QE entrasse num QZP a “sua” vaga QE na escola seria extinta, claro, embora pudesse continuar a ser um horário existente.Caso exista a necessidade de renovar os quadros, seria destinada a esses casos uma quota específica de vagas nos QZP, para os novos efectivos.
Esta solução iria encontrar oposição de muitos profs dos QE, claro, é natural. Mas também a transição seria longa e, no fim, a quase totalidade dos profs mais velhos, com maiores graduações profissionais, acabaria ou por nunca passar pelos QZP ou, mesmo que o fizessem, acabariam por ir parar às mesmas escolas da sua preferência.
Bom, se o ME pensasse assim, então daria uma perspectiva de futuro a todos esses professores dos QE que agora se angustiam por não terem o “seu” destacamento ... é que lhes seria dada oportunidade de ficarem, eles também, nas condições dos QZP, a quem eles agoram acusam de privilegiados ...
Depois se veria, mas eu acredito que muitos seriam tentados a concorrer aos QZP, uma vez que , dentro desses quadros, a sua posição relativa na lista ordenada seria boa, dadas as suas graduações profissionais.
O que sucedeu este ano, sem lhes dar uma “ideia” do futuro nem a possibilidade de concorrer aos QZP, onde não existiam vagas, foi mesmo muito MAU, em termos políticos e de gestão de pessoal, tendo pressionado tanta gente a ficar “doente”, como se viu !
Claro que esperar estas ideias e esta noção de futuro deste ME ( ou do anterior, para ser mais justo ), embora sendo o “abc” de qualquer gestor de recursos humanos, seria esperar MUITO de uma equipa que primou pela mais inacreditável incompetência, ainda por cima a par de uma arrogância tremenda.
Mas este Governo, esta nova senhora Ministra, tem agora ocasião de fazer melhor, de inovar e de corrigir esses erros. Aqui fica a sugestão de um possível caminho.
Ah, e já agora : substituam aquela senhora directora-geral dos recursos humanos, ela já demonstrou que não faz a mínima ideia do que deve ser um director-geral nesse sector complicado do Ensino. E vejam, já agora também, se dentro dos inúmeros boys que passam a vida a admitir, arranjam alguém que tenha experiência ou ideias ou inteligência ...
Já agora.