sexta-feira, fevereiro 29, 2008

LIDERES POLÍTICOS A SÉRIO, PRECISAM-SE ...

Este PS é um espanto.
Não me entendam mal, o PSD é hoje um Partido suicida, mas o PS ... é o máximo.
Para quem conheceu o PS de Soares, Salgado Zenha ou Alegre, mesmo o PS de Ferro Rodrigues, este partido neo-liberal, acobertado na antiga sigla, é bem o sinal dos tempos que vivemos. Vou começar a chamar-lhe PS*, é forçoso que sejamos rigorosos. Uma coisa é ( era ) o PS, outra bem diferente é o PS*.
Hoje, bem cedo, veio o inefável e simpático porta-voz do partido afirmar em público, por causa de sondagem recente, que o PS* continua com “níveis altíssimos” de popularidade, enquanto o PSD desceu 3 pontos percentuais... e o senhor estava felicíssimo, ao fazer esta afirmação. Conclui logo que isso se devia ao apoio dos portugueses ás medidas do Governo.
Tristeza ... é isto a política, hoje ? A arte de fingir que não se percebe a realidade ?
Claro que o PS* não tem culpa de NÃO EXISTIR ALTERNATIVA CREDÍVEL á sua política. Claro que o PSD não precisou para nada do PS* para se auto-mutilar, com lideres que nunca o deveriam ter sido. O PS* não é responsável, é verdade, mas os portugueses ainda o são menos, diga-se em aparte.
Estranho, estranho e mesmo preocupante é que o PS leia os resultados da sondagem como se os numeros significassem um apoio e concordância á sua política. As pessoas atingidas pelas medidas do PS* reagem, um pouco em todos os sectores, um pouco por todo o país. Do Governo temos visto discordar professores, médicos, juízes, utentes do SNS, militares, EMPRESÁRIOS ( localização do novo aeroporto, por exº, Belmiro de Azevedo, outro exemplo, quanto ao fisco ) , fiscalistas, reformados actuais e futuros ... mas toda esta gente é irrelevante para o Governo. Para eles, só o mundo virtual onde vivem é que conta e todas estas pessoas um bando de privilegiados. Estão a prejudicar gravemente todos estes sectores sociais, estão a despertar em toda a sociedade uma agressividade que não augura nada de bom ... mas estão muito felizes, acham que estão a governar lindamente.
Ainda não perceberam : NUNCA MAIS vão ter outra vez a maioria absoluta que o desvario do governo de Santana Lopes provocou. NUNCA MAIS se vão poder armar em ditadores eleitos, arrogantes e provocadores, insultando tantos grupos sociais, provocando tantas feridas e tão graves no nosso tecido social.
Mais : no dia em que o PSD se deixar de brincadeiras e arranjar um lider credível que saiba transmitir esperança ao país, este PS* vai á vida.
É essa realidade que este PS* se recusa a ver.
E daí, talvez não. Talvez até o percebam.

PS – Obviamente que não é apenas o PSD que precisa inventar um líder credível, com um PROJECTO POLÍTICO para o país.
O PS* também.

VIVER EM PORTUGAL HOJE DESMORALIZA-ME

Ninguém é obrigado a gostar do seu país, mas eu gosto. Por muitos motivos.
Gosto tanto que abracei, muito novo, uma carreira que me exigia uma disponibilidade total, incluindo a da minha própria vida, na defesa desse mesmo país.
Nunca me arrependi dessa decisão, continuo a amar o meu país, embora seja dificil hoje descortinar esse país no meio da floresta de horrores que alguém nele plantou.
É verdade, mudou muito, este meu país.
Era um país infeliz, atrasado e amordaçado.
Hoje é um país amedrontado, paralizado, desorientado e profundamente desigual.
Cheira a incerteza, a desânimo, a falta de esperança.
Portugal é de novo um país infeliz.
Cansa muito, é extenuante, viver agora no meu país.
Dói, cada minuto que passa. Custa a respirar.
Luto, todos os dias, para não cair no ódio.
Quero voltar a amar o meu país, não adianta odiar quem não o respeita.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

O GAMANÇO EM BANDA LARGA

No Portugal de hoje, a unica coisa genuina é o gamanço. Nunca vi tantos a sacar como agora. Em toda a parte. Empresas publicas e privadas, a unica diferença é onde se saca, se no bolso do povo em geral se no do accionista. O saque é contínuo e atingiu o nível do despudor, ou seja, em Portugal , sacar deixou de ser mal visto em sociedade. Perdeu-se a vergonha. Não se hesita em subir escandalosamente os vencimentos, nos conselhos de administração, para quantias que fariam corar de vergonha qualquer pessoa, há bem pouco tempo. Oferecem-se milhões de euros para que os cirurgiões operem, para que os médicos das unidades de familia trabalhem, enquanto em contrapartida se mantêm os outros funcionários sem aumentos nem promoções há anos. Um ministro despacha uns problemas da Iberdrola e logo após o fim do seu mandato vai para administrador da mesma Iberdrola.Temos um responável do nosso banco central a ganhar muito mais que o seu congénere nos EUA. Há cidadãos impedidos de se reformarem, porque ainda não têm não sei quantos anos ou não sei quantos anos de serviço, enquanto outros acumulam várias pensões, bem boas por sinal, arranjadas em meia duzia de anos de serviço aqui e acolá.
No Governo, gastam-se anualmente uns bons milhões de euros a pagar estudos, projectos, assessorias a empresas privadas, enquanto os serviços do Estado que poderiam desnvolver esses trabalhos são desprezados.
Pedem-se sacrifícios ao povo, enquanto esse mesmo povo lê, atónito, que o senhor fulano tal levou 10 ou 20 milhões de euros de indemnização, quando saiu do banco. MILHÕES, amigos, MILHÕES.
Fica-se banzado, não é ?
Quem são estes gajos, estes supra-sumos, estas inteligências avassaladoras ? Quem é toda esta gente apressada, venal, sem vergonha, criaturas cinzentas, de olhar esconso, mãos velozes e dissimuladas, ávidos, a salivarem, empurrando-se uns aos outros por mais um tachozito ?
Quem são, afinal, estes senhores ?
A resposta é simples : são, apenas e tão sómente, vulgares saqueadores.
Ou rapineiros, se preferirem.
E nós, os outros, somos os saqueados, os rapinados.
Ou parvos, se preferirem.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

SÓCRATES E O ZORRO

Sócrates é uma espécie de Zorro ao contrário, um Zorro em negativo.
Em vez do poderoso cavalo negro, monta apenas umas sapatilhas Nike, em despropositadas cenas de jogging nos locais mais inverosímeis.
Em vez de tirar aos ricos, deixa-os enriquecer ainda mais, enquanto vai esmifrando os desgraçados dos funcionários e da classe média para tapar o buraco das contas públicas.
A espada que celebrizou o Zorro, em Sócrates é apenas um telefone, mais virado para as redacções dos jornais e das televisões que para os vilões deste País.
A célebre mascarilha do Zorro é diferente em Sócrates : Zorro usava-a para não cair nas mãos do poder, Sócrates usa-a para que o poder lhe caia nas mãos.
Num, a mascarilha era de tecido negro e colocava-a nos olhos, durante a acção; no outro, a mascarilha é invisível e usa-a nas palavras, para camuflar a acção.
Zorro tinha como inimigos o Governo e os grandes senhores da terra ; para Sócrates, os inimigos são os professores, os utentes que ainda restam do Serviço Nacional de Saúde, os privilegiados do passe social, os chatos dos desempregados, a classe média em geral.
No final, Zorro transformou-se num mito romântico de homem de bem, herói querido pelo povo.
Sócrates, se Deus e os homens não adormecerem, há-de voltar a ser aquilo que nunca deveria ter deixado de ser : um homem anónimo como tantos outros, sem grandeza nem generosidade, sem qualquer visão de futuro para o seu País, a quem ninguém nunca amou.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

A NOVA TRAVESSIA FERROVIÁRIA DO TEJO PARA O NOVO AEROPORTO DE LISBOA

Hoje vou dar a conhecer o trabalho de um grande amigo meu. O engº de aeródromos José Lopes, distinto oficial da Força Aérea Portuguesa, é um amigo de longos anos, companheiro de andanças várias e senhor de uma sólida formação técnica. Para além de tudo isso, é pessoa voluntariosa e ainda suficientemente bem intencionada para gostar da sua Pátria e lhe querer dar o seu esforço e contributo.
Deste modo - assim mesmo, sem desejo de honras nem proventos - resolveu dedicar tempo e massa cinzenta ao problema que está em cima da mesa, depois da decisão governamental de construir o Novo Aeroporto de Lisboa ( NAL ) nos terrenos do Campo de Tiro de Alcochete.
É preciso agora pensar nas ligações ao NAL, tanto ferroviárias como rodoviárias, e na(s) consequente(s) travessias do Tejo. Acresce que essas ligações devem ser pensadas em conjunto, obviamente, com o traçado das ligações do TGV para Norte, Sul e Madrid. E ainda, com a actual rede ferroviária da REFER.

Se dedicarem 5 minutos a este tema ( sei que não é dos tópicos mais agradáveis para uma boa digestão ... ) depressa chegarão á conclusão que há aqui muitas variáveis e portanto muitas soluções diferentes : a empresa responsável pela futura rede de alta velocidade ( a RAVE ) tem uma solução, implicando a travessia do Tejo de Chelas ao Barreiro, mas o meu amigo José Lopes descobriu uma solução mais simples e elegante : a travessia Olaias-Montijo, começando no alto das Olaias e terminando quase junto da margem sul da Vasco da Gama, perto daquela zona de serviço que lá existe, lembram-se ?

Pessoalmente, acho que a solução J. Lopes tem vantagens e olha para o problema de uma forma integrada, isto é, tenta encontrar um equilíbrio entre todas as componentes do problema.



Podem fazer uma ideia da solução, ao examinar a figura junto. Cliquem na figura e vê-la-ão ampliada em todo o écran, regressem depois a esta página, OK ?

Há alguns pontos a destacar nesta solução que agora vos apresento :



1) Liga todos os pontos importantes : Portela, novo aeroporto, TGV, rede clássica da REFER, etc ...




2) A ponte Olaias-Montijo evita qualquer problema ( como rebaixamento em tunel, sobre-elevação, etc ... ) de cotas sobre o Tejo, para salvaguarda dos canais de navegação, uma vez que parte, nas Oaias, da cota +50 ( 50 m acima do nível do mar ) e chega á margem sul á mesma cota da Vasco da Gama ( mais ou menos ), com um pequeno acerto na trajectória para não "incomodar" as operações aéreas da Base da Força Aérea no Montijo.


3) O trajecto Olaias-Montijo é mais curto que na solução da REFER ( que podem ver no gráfico seguinte ) ; o trajecto total até ao Novo Aeroporto é também bastante mais curto.


4) As ligações para Norte do TGV são redesenhadas, passando a correr, até Santarém, pela margem esquerda do Tejo, com melhores condições de orografia e espaço disponível.


5) A nova Estação Central de Lisboa, nas Olaias, onde confluem a rede clássica da REFER, na linha de cintura de Lisboa, o TGV, o shuttle para o novo aeroporto e a rede de Metro passa a constituir o nó central de todas estas redes.



Enfim... é só vantagens, creio eu. Mas como não quero que "engulam" isto sem conhecimento de causa, vejam neste segundo gráfico o traçado proposto pela RAVE, incluindo a travessia Chelas-Barreiro.


Espero não vos ter aborrecido muito com este tema. Achei que era meu dever ajudar a divulgar as ideias do meu amigo, dado que se trata de um especialista nestas coisas mas que, apesar de tudo, não tem facilidade na sua divulgação.
Devo ainda acrescentar que esta proposta foi defendida pelo Engº Lopes no recente seminário que sobre este tema decorreu no LNEC, com a presença de todas as entidades intervenientes.

Se gostarem, divulguem o endereço do blogue pelos vossos amigos, OK ?
Um até breve e ... o meu obrigado !

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

UM INFELIZ CONVICTO

Não consigo ser feliz.
Nunca consegui, acho eu.
Oiço os outros falar da sua felicidade, das coisas que lhes dão prazer e só consigo pensar que não os entendo.
Se tenho tido ao longo da minha vida momentos de alguma alegria e esquecimento, tenho sempre a sensação que foram breves e um pouco por acaso.
Não gosto de muitas coisas que parecem agradar a quase todos os outros, o que é receita certa para não conseguir ligar-me bem a ninguém.
Não gosto de viajar, pelo menos da maneira que a maior parte gosta.
Não gosto de concertos de música séria, e fujo a sete pés dos outros, tipo Tina Turner em Alvalade.
Não gosto de teatro, óh blasfémia.
Não sinto prazer em ballet, clássico ou moderno.
Coisas como o flamengo fazem-me sono.
Nos ultimos tempos, dei por mim a aborrecer a praia, a achar estupido secar ao sol.
( Continuo a gostar do mar, mas isso não é popular ! )
Não me seduz o jogo, seja ele roleta ou slot-machines. Nem acho ponta de piada em ir jantar ao Casino e ver umas boazudas a rebolarem-se no palco.
Não gosto de conversas amáveis, desprovidas de emoção ou de polémica.
Não gosto de pessoas tolas, mesquinhas, egoistas ou que têm pavor da morte.
Odeio filmes tipo Harry não sei quantos, o jovem feiticeiro.
Sempre senti aversão pelo fado de Lisboa, nunca fui a uma casa de fados.
Odeio pessoas que dizem “está provado que” a anteceder uma qualquer afirmação patusca.
Odiei a Expo, percebi perfeitamente para que iria aquilo servir e a quem iria favorecer, nunca lá pus os pés.
Odeio a trafulhice, a mentira, a hipocrisia, o carreirismo, o partidarismo, o oportunismo, a mediocridade de valores.
Odeio os novos-ricos e também alguns dos velhos.
Odeio a maior parte dos padres e aquilo que esqueceram de Jesus Cristo, um dos meus heróis de puto.
Odeio muito daquilo em que Portugal se está a transformar.
Detesto festas com muita gente, todos muito determinados em se “divertirem”.
Sou indiferente a parques temáticos tipo Walt Disney.
As ultimas vezes que vi futebol só consegui pensar em árbitros venais e dirigentes corruptos. E jogadores pançudos de tanto dinheiro e tão pouco interessados em jogar futebol.
Conservo ainda valores dentro de mim, acho eu, mas já nem me lembro exactamente de quais.
Há ainda muita coisa de que gosto, claro, mas com todas estas coisas que odeio ou ás quais sou indiferente, como vou conseguir ligar-me aos que me rodeiam e ser “feliz” ?
Acham que alguém como eu, com tantos pontos negros, tantos “não gosto” e “odeio” poderia alguma vez ser feliz em Portugal ?

Acho que me vou resignar a ser infeliz.
Como sempre.

PS – Não tentem experimentar estas habilidades em casa, são coisas perigosas que só devem fazer na presença de profissionais qualificados em cinismo e em pessimismo e com todas as medidas de segurança activadas. Fiquem-se pelo gostar de todas estas coisas, é muito mais seguro.

sábado, fevereiro 09, 2008

DIREITO Á INDIGNAÇÃO OU INCAPACIDADE DE INDIGNAÇÃO ?

A divulgação na imprensa de actos pessoais de figuras públicas, ilícitos ou anti-éticos, é um imperativo de qualquer regime democrático. É um mecanismo de controlo, por excelência, sem o qual esses actos ficarão sempre ocultos e, consequentemente, sem sanção jurídica ou política.
Concordamos todos que é assim ?
Beeeeeeeeemmm, nem sempre, diria eu.

Quando essas denúncias acontecem em Portugal, no tempo presente, nada se passa.
Pelo menos, nada de visível.
É como se nada nos pudesse já indignar ou fazer admirar. Como se já tivéssemos visto tudo, sem qualquer consequência. Descremos da equidade e oportunidade da justiça, não acreditamos também nas consequências eleitorais futuras desses actos. O que sabemos, isso sim, é que Isaltino Morais e Fátima Felgueiras andam para aí há ANOS para ser julgados ... e nunca mais se vê nada. Entretanto, são reeleitos.

Em Portugal, quando alguém como o actual bastonário da Ordem dos Advogados diz publicamente algo QUE TODOS NÓS SABEMOS, cai-lhe em cima o Carmo e a Trindade, clamam que o homem é populista e demagogo, um desmiolado, um perigo para a sociedade ...
Pois, é mesmo : um perigo ! Só que não é para a sociedade, é um perigo para este reino da paz podre e do faz de conta, um perigo para o saque desavergonhado em que a nossa vida publica se está a transformar.

Como entidade colectiva, a parte urbana da sociedade portuguesa apodreceu. Cheira mal, tal como a boca do Dantas, nas palavras de Almada Negreiros, embora ele próprio não cheirasse a rosas, acho eu.
Portugal urbano perdeu o pudor, perdeu a capacidade de se indignar. Há demasiada gente entretida a sacar o que pode, enquanto outros andam distraidos a olhar para o futebol. Há demasida gente pronta a culpar os jornais, em vez de censurar os autores dos actos investigados pelos jornais. Há sempre alguém que resiste, dizia o Adriano Correia de Oliveira, mas isso era dantes : agora há sempre alguém que encolhe os ombros e diz : “O gajo fez isso ? Então e depois ? Onde está a gravidade ? Todos eles são assim, uma cambada, que se lixe !”

Mário Soares falava do direito á indignação, certo ? Pois agora do que se trata é da incapacidade de indignação, já não há quem queira exercer esse direito.

Não é verdade, ainda há Pessoas. Mas são poucas, muito poucas.

Nada disto vem a propósito de Sócrates e das suas assinaturas em projectos de moradias lá para as faldas da serra ... Não, desta vez não é Sócrates que me entristece. Ou não é apenas Sócrates.
É o País.
Este País que eu sempre amei, este País que eu jurei defender, mesmo com o risco da própria vida, este País está a ficar um esgoto putrefacto e nauseabundo.
Este desgraçado País está cheio de merda !

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

A MÁ CONSCIÊNCIA NA POLÍTICA

Sempre fiquei muito irritado quando alguém presume que que sou ignorante ou imbecil. O grau dessa irritação sobe de tom quando me parece que a coisa é feita com acinte e sem grande cuidado, isto é, que se parte do pressuposto que somos todos uma cambada de parvos que engolimos tudo.
Sobretudo quando se trata de pessoas a quem elegemos ( neste caso, é apenas um eufemismo, o tempo verbal ) e pagamos para gerir a coisa pública.

Ouvi hoje um senhor qualquer na TV, a perorar sobre o sistema de avalição dos professores, defendendo a bondade e virtude do sistema. Percebi depois que era um secretário de estado. Argumentos estafados, pobres, tipo “é assim que se faz no estrangeiro” ou “então querem que todos sejam iguais ?”.

Clama o senhor ( mais a ministra, mais o primeiro-ministro ) que nenhuma das reformas em curso na área da educação têm por motivação a questão da redução dos custos com o pessoal. Afirmam-no indignada e categoricamente. Como ousamos pensar isso ?
A separação dos professores em titulares e não-titulares não foi nada arbitrária, a avaliação e a consequente imposição de quotas máximas para as boas classificações também não. Tudo se rege pelo objectivo de melhorar o ensino, afirmam.

Bom.
Estão a querer fazer de mim estúpido, parvo ou as duas coisas ?

Então o que sucede a um professor que não é titular ? Deixa de dar aulas e de ter os seus alunos a quem vai transmitir conhecimentos e atitudes ?
O que sucede a um professor cuja avaliação for apenas razoável ou, sendo muito boa, não couber na quota estabelecida ? Deixa de dar aulas ? Deixa de ter alunos ?

Se a estas duas questões afirmarmos que não, não deixam de dar aulas, vão continuar a ter os seus alunos como até aí, porventura mais desmotivados e reactivos, como será de esperar, então a que conclusões podemos chegar ?
Se esses professores vão continuar a dar aulas, com os mesmos alunos, apesar de não serem titulares e não terem excelente ou muito bom na avaliação, COMO RAIO É QUE O ENSINO VAI MELHORAR ???

Qual é a unica coisa que muda então, digam-me lá ?
Como vimos, a qualidade do ensino não é, uma vez que esses professores continuam onde estavam, a dar as suas aulas.
Então que é, adivinhem, vá ...

Isso mesmo : a unica mudança é que o dito professor não vai progredir na carreira e vai, portanto, custar menos dinheiro ao patrão Estado.
Ou não é ?
Gostava de ver negado este raciocínio por quem quer que fosse.

Bom, e gastar menos dinheiro com os professores é assim tão imoral ?
Não, não é.
Tem todo o direito de fazer isso.
Do que não têm direito é de negar este objectivo, e andar para aí a dizer que estas medidas visam a qualidade do ensino.

Mas há mais : um dos parâmetros de avaliação dos professores vai ser o resultado que os seus alunos obtiverem. Pede-se aos professores que fixem um objectivo-meta quantificado, tipo “os meus alunos da turma x vão melhorar o aproveitamento em 10%, relativamente ao ano anterior” e já está. No fim vai medir-se o cumprimento desse objectivo.
Ora bem : então a meta é fixada pelo professor e é ele que vai dar as notas que vão dizer se esse objectivo foi ou não alcançado. Certo ?
Oh meu Deus, uma vez mais estão a fazer-me passar por parvo.
Mas então, nestas circunstâncias, haverá algum professor masoquista que vá chumbar quem o merece se isso for comprometer o seu objectivo ? Haaaaaã ? Digam lá ?
As notas não vão melhorar, todas elas, a olhos vistos, com alegria incontida da senhora ministra ?
Vamos apostar ?

Uma vez mais : todas as medidas visam a melhoria do sistema de ensino, não é ?
Como se vê.

Assim, não. Assim, estão a tentar deitar-nos areia para os olhos.
Com todas as letras : estão a esconder de nós os verdadeiros objectivos da sua reforma.
Por mim, é algo que me irrita, repito : não gosto que me tomem por tolo.