sexta-feira, outubro 29, 2010

FUNDAÇÃO CIDADE DE GUIMARÃES

Guimarães é uma cidade linda e muito bem preservada. A praça que se vê na foto foi objecto de um trabalho notável de recuperação. Para quem não souber, Guimarães não é uma grande cidade ( ainda bem para quem lá vive, não é ? ), tem pouco mais de 50 mil habitantes. É sede de um concelho que foi e ainda é, apesar da crise, fortemente industrializado, com têxteis, cutelaria, calçado, etc ... Terra de gente trabalhadora, portanto.
Pois bem, soube-se hoje : a Câmara Municipal da cidade promoveu a constituição de uma fundação, cujo objectivo não conheço bem mas não será difícil adivinhar : a FUNDAÇÃO CIDADE DE GUIMARÃES. O leitor vê algum mal nesta fundação ? Bom, o problema é que esta Fundação, como qualquer fundação que se preze, tem um Conselho de Administração. Com pessoas a ocupar os respectivos cargos, claro. Há um Presidente do Conselho de Administração e acho que dois ou três vogais. Tudo bem, por enquanto, não é ?
O pior é que foi tornado público, agora, que o sr Presidente aufere um salário mensal de 14.500 euros e cada vogal 12.000 euros. Leram bem, 14.500 e 12.000 euros. Por mês. Todos os meses. Pagos ... por nós, obviamente.
Leitor, é isto que tenho tentado demonstrar : neste desgraçado país, PERDEU-SE A VERGONHA. Começou-se a "sacar" dinheiro ao Estado como se fosse a coisa mais natural do Mundo. Todos os pretextos são bons. Empresas Municipais, Institutos Públicos, Observatórios, Fundações. Vale tudo. Ninguém os trava, ninguém os perturba, metem ao bolso, descaradamente, 14.500 euros por mês para ser presidente de uma fundação chamada Cidade de Guimarães !!! É uma orgia completa, pessoal.
Este senhor é um caso único ? É um caso de falta de vergonha único no panorama nacional ? É apenas um caso de polícia ?
NÃO ! MIL VEZES NÃO !!
Como este senhor, e o senhor presidente da Câmara que autorizou este roubo institucional, há MILHARES neste nosso país. De Norte a Sul. Nas Câmaras, no Governo, nos Institutos, proliferam por todo o País ! Piores que cogumelos.
E claro, depois batem-me à porta, e à sua também, leitor, de mão estendida, a dizerem-me que é preciso dar mais dinheiro ao País. Claro que é preciso mais dinheiro, malta, vá lá, este senhor da Fundação Cidade de Guimarães não pode ficar sem o seu modesto salário.
Não acha, leitor ?

PS - garanto ao leitor que nem sequer sei se é o PS ou o PSD a presidir à CM de Guimarães, nem quem foi o Presidente que "inventou" esta Fundação. Não costumo pautar as minhas apreciações pelas cores partidárias, portanto é-me indiferente. Muito menos conheço o senhor presidente da dita Fundação. E é bem melhor que nunca o venha a conhecer, nunca apreciei dar-me com gente que enfia as mãos nas minhas algibeiras.

quinta-feira, outubro 28, 2010

A ARTE DA ILUSÃO

Quase todo o Portugal pensante tem andado preso à novela do acordo-não acordo-talvez afinal acordo do PS com o PSD.
Aí está. Ilustra bem aquilo que penso e me tenho esforçado por escrever. Não me interessa para nada esse acordo. O PSD está condenado a deixar passar o orçamento e é o que vai fazer. Nesse caso, porquê toda esta excitação com o raio do acordo ? Se existir um acordo vai mudar significativamente a situação ou tornar bom um orçamento de desastre ? Claro que não. Então ?
Repito : este é o problema de sempre, este é o mal que sempre vi acompanhar os nossos políticos, mesmo os das outras gerações : a incapacidade de pensar e liderar o país em direcção a um porto seguro.
Então, não seria melhor andarmos já a discutir mas é o que vamos fazer a seguir, durante 2011 e 2012 e anos seguintes ? Como vamos conseguir uma boa execução orçamental em 2011, com este Governo, se já este ano não conseguiram uma redução da despesa muito menor ? Que garantias dá este Governo de fazer algo por este País ?
Mais : que raio vamos fazer em 2012, para descer o défice de 4 ou mais provavelmente 5 % para 3% ? Outro corte salarial, mais sangue ?
Quando vamos repensar a estrutura e organização do nosso Estado e fazer emagrecer essas incontáveis empresas municipais e institutos e afins ? Quando vamos obrigar o nosso Governo (outro porque este já não vale a pena o esforço ) a executar essas mudanças ? Quando vamos discutir o que podemos fazer para ajudar o tecido produtivo do país a reformular-se, a reconstruir-se, a crescer ? Quando vamos apostar nesta ou naquela direcção de crescimento e jogar tudo nessa estratégia ?
Quando vamos discutir o que queremos e podemos ser no conjunto dos países da Europa?
E depois de discutir e decidir, quando vamos adoptar políticas de incentivos, financeiras e fiscais, para fazer o País guinar para esse lado ?
Será pedir muito ?
Será impossível escolher e votar em pessoas preocupadas com essas coisas e não com fatinhos caros e carros topo de gama ?
Leitores, amigos : façam-se ouvir, digam a esta gente que estão fartos e querem vê-los a merecer o dinheiro que lhes pagamos ! Falem, gritem, chamem-lhes nomes ou sejam educados, mas mostrem que estão fartos desta forma de desgoverno, deste fingimento, desta incompetência !
Se não fizerem nada disso, aviso : preparem-se para mais sangue no 2º trimestre de 2011.
Vão ser tempos difíceis e duros, arranjemos gente competente para pilotar o barco em águas revoltas, não deixemos o leme nestas mãos amadoras e incompetentes.

segunda-feira, outubro 25, 2010

SOMOS MESMO NABOS, CARAÇAS !

Não é nada difícil acreditar nesta notícia. Já muitas vezes escrevi que, em Portugal, ninguém parece saber o que fazer para que a economia cresça. Também não é nada difícil perceber porquê, muita gente tem vindo a alertar para isto de há muitos anos para cá. Não produzimos muitas coisas e, das que produzimos, raras têm elevado valor acrescentado. Como se sabe - mas muitas vezes se finge ignorar, porque dá jeito - a produtividade varia linearmente com o valor de mercado daquilo que se produz. Se eu conseguisse vender pêra Rocha com a mesma margem de Mercedes ou BMWs teria o problema do País resolvido. Mas nós não produzimos automóveis, nem software, nem vendemos petróleo. Não temos um sector decente de pescas nem agrícola, os que tínhamos trocámo-los por um prato de lentilhas da Comunidade Europeia. O nosso sector têxtil, tradicionalmente mal equipado e sobrevivendo á custa de baixos salários há muito que foi destruído pelos chineses e afins. Alguns sub-sectores de componentes electrónicos para automóveis e computadores têm vindo a sair do País, atraídos pelos baixos custos da mão-de-obra oriental ou da Europa de leste. O que nos resta ? O turismo ? O sector de moldes para plásticos ? Curto, muito curto.
O que temos feito para virar esta realidade do avesso ?
A verdade é que muito pouco ou nada. Dir-se-á que o Governo pouco pode fazer, num país com um tecido empresarial tão pobre e desqualificado como o nosso e uma banca tão desgraçadamente virada para coisas como o crédito à habitação ou o crédito a casamentos de luxo e tão pouco dedicada ao financiamento da actividade empresarial.
Até estaria disposto a concordar um pouco com essa ideia, não fosse um raciocínio simples : se este ou aquele governante não é capaz, se se sente impotente para ajudar a mudar os destinos do país ... porque não se demite ? Porque hão-de insistir em nada fazer ? Apenas para ocupar um lugar de prestígio, de onde pode ajudar a malta amiga e a clientela do seu partido ?
Se não são capazes - e não são, como se vê - porque razão não se demitem ?
... é que, graças a essa falta de seriedade e honestidade, andamos a brincar aos países há muitos anos !
Sou levado a concluir, embora de uma forma atrozmente mordaz, que Guterres e Durão Barroso foram os únicos a fazer o que deve ser feito : sair, quando nada se consegue resolver.
Antes isso que isto, embora ultimamente o seguinte seja sempre pior que o anterior !!

sábado, outubro 23, 2010

ATÉ QUANDO VAMOS ATURAR ISTO ?

Quem ouve falar os responsáveis políticos do PS e do PSD, chega muito depressa a duas conclusões :

-> eles não têm nada a ver com a presente situação, tudo isto é apenas devido à crise internacional e aos tipos que especulam a emprestar dinheiro ;
-> eles não fazem a menor ideia de como iremos sair deste buraco, a única coisa que os preocupa para já é a redução do défice.

Estas duas ideias são aterradoras. Roubam qualquer réstea de esperança que ainda existisse. Desanimam qualquer português que ainda saiba pensar e não alicerce as suas ideias nas ilustres cabeças dos senhores Sócrates e Passos Coelho.
Por um lado, fica evidente a total ausência de verdade e mesmo de responsabilidade na relação entre governados e governantes. Mentem, ocultam, escondem, sacodem a água dos capotes. Pior do que tudo o resto, porventura, são incompetentes, tomam decisões obviamente erradas, não hesitam em privilegiar certos grupos sociais em detrimento de outros, perpetuam práticas totalmente repugnantes de compadrio e protecção indevida e ilegal a familiares, amigos, gente do partido.
Em segundo lugar, aqui para nós que ninguém nos ouve, nenhum destes senhores faz a menor ideia do que será preciso fazer para sair deste atoleiro. Não faz ideia ... e nem sequer se preocupa em fingir que tem qualquer coisa parecida com uma ideia. Ou então dizem coisas espantosas como aquela de que as energias alternativas é que vão ser o futuro da economia. Nada, das cabeças de toda aquela gente não sai energia nenhuma positiva. A pouca que existe é usada apenas para conservar o poder e afirmar que está tudo bem.
Sabem, leitores, são estas duas questões que me andam a tirar o sono. Estas pessoas que supostamente deveriam ser os nossos lideres, não lideram coisa nenhuma afinal. Vão apenas fazendo navegação à vista, conforme as ordens que os donos da Europa lhes gritam. Donos da Europa que, em meu entender, são lideres tão maus e tão míopes como os nossos a nível interno.
Enfim, uma completa tristeza e falta de esperança.
Aposto que, se as coisas continuarem assim, daqui a um ano ( ou menos ) vamos gramar com outra redução dos salários, igual ou pior do que esta.
Quem aposta contra mim ?

quarta-feira, outubro 20, 2010

O CUSTO DA INCOMPETÊNCIA

O que mais me custa, neste verdadeiro terramoto que nos está a cair em cima, é ninguém responsável nos vir dizer o que aconteceu e porquê, e muito menos dar um vislumbre de esperança no futuro, explicando qual é a “táctica” para sairmos do “buraco”.
Tudo está a suceder como se fosse uma inevitabilidade, como se tivesse mesmo sido um terramoto, do qual ninguém tem culpas.
É extraordinária esta desfaçatez, esta falta de sentido das responsabilidades, este assobiar para o lado.
É a crise a culpada, dizem.
A crise ??
Mas então não foi uma crise das instituições financeiras, dos bancos ? Não foi a ganância desses loucos ávidos de dinheiro que precipitou o Mundo nesta crise ?
E se foi, como parece que foi, porque carga de água somos nós a pagar ?? Como é que os causadores da crise continuam impávidos e serenos, com lucros de muitos milhões, a pagar 5 ou 6% de impostos, enquanto a mim me tiram cada vez mais ??
É ou não verdade que o Governo meteu no BPN qualquer coisa como 4.000 milhões de euros, verba suficiente para reduzir o défice este ano ? E se é verdade, quem lhes deu autorização para fazer isso ?
E agora, que história é esta de andarmos a dar ao doente paninhos quentes, para ver se acalmamos os mercados ?
Os mercados ??
Mas que raio de entidade mítica é essa que nos está a governar, na realidade ? Então dantes era a mão invisível e agora são os mercados ??
E esses senhores dos tais mercados, que se aproveitam das debilidades dos povos e das imbecilidades dos seus governantes, não podem ser regulamentados, disciplinados ?
Então se há o risco de um país ir à ruina e não honrar o pagamento da sua dívida soberana, com mais 3 ou 4% nas taxas de juro esse risco já não é grave ?? Ou tudo isto do custo do risco é uma grande treta e trata-se apenas de especulação, com todas as letras ? E, se assim for, não será mesmo melhor a intervenção do FMI, já que as taxas desses pelo menos não são especulativas ?
E que faz a Europa, com o seu conjunto de políticos medíocres e incompetentes ? Traça uma estratégia de futuro ? Preocupa-se com o desenvolvimento de amanhã ?
Não, apenas vê o défice, apenas está preocupada com o défice, as pessoas que se lixem.

Meus caros amigos, talvez agora vejam os meus motivos. Talvez agora desculpem a minha obsessão anti-Sócrates e anti-mediocridade geral dos políticos. Agora ficou visível ( e palpável ) o custo extremo que todos vamos pagar por esta incompetência generalizada.
Pessoalmente, não me agrada nada ter razão e termos ido bater no fundo como eu receava há anos. Nada disto me agrada, como é natural, mas nada disto me surpreende. Vantagens da idade e de alguma experiência por esses meandros da vida.
O que me espanta, isso sim, apesar de tudo, é a desfaçatez, a tranquilidade, o “não tenho culpa nenhuma nisto” destes senhores.
Isso, sim, espanta-me e indigna-me.

domingo, outubro 17, 2010

OS ANOS DA RAIVA E DA VERGONHA

Toda esta situação é vergonhosa. Ou devia ser, para quem é responsável por termos chegado aqui.
Vergonha de andar anos a fio a receber, do dinheiro dos contribuintes, quantias absolutamente exageradas, sem a menor preocupação, sem limite, sem recato.
Vergonha de ver crescer a pobreza, o desemprego e mesmo assim, continuar a sacar o mais possível do dinheiro de todos.
Vergonha de tudo fazer para aumentar os gastos, os desperdícios, a insanidade total da fúria despesista.
Vergonha por todos os pseudo-institutos e empresas municipais e grupos de missão e tudo o que sirva para garantir mais uns largos milhares de euros mensais para os bolsos dos senhores e senhoras.
Vergonha de todos os estudos, trabalhos e simples conselhos comprados a peso de oiro fora dos orgãos públicos, só para agradar a amigos.
Vergonha de tantas e tantas parcerias público privadas, verdadeiros sorvedouros de milhões de euros sem controlo nenhum e muito pouca utilidade pública.
Vergonha de tantos pseudo banqueiros que desviam milhões e nem sequer a face perdem. Vergonha de tantas e tantas decisões parvas, erradas, completamente estranhas ao interesse nacional.
Vergonha de tantas autoestradas sem finalidade nem trânsito.
Vergonha de TGVs quando ao mesmo tempo deixaram destruir o Caminho de Ferro como transporte de mercadorias em todo o país.
Vergonha de tratarem o país com a mesma displicência e falta de brio com que tratam das suas vidas privadas.
Por fim, vergonha de virem agora, depois de tudo o que fizeram de errado, depois de tudo o que gastaram doidamente, virem agora, à força, sob ameaças, com chantagens, extorquirem-nos ainda mais.
Vergonha de fazerem tudo isto, primeiro gastar mal e demais e depois de nos virem pedir para pagar a factura, com um sorriso nos lábios e resquícios de sobranceria e altivez.
Se esta gente a não tem, eu tenho.
Tenho vergonha de não ser capaz de fazer nada para impedir o meu país de ser alvo do saque desta gente.
Tenho vergonha da minha impotência perante estes abutres. Tenho vergonha de não ter coragem, em alternativa, de voltar costas a tudo isto e de ir viver para um qualquer Lanzarote.
Tenho vergonha também de compartilhar o meu país com pessoas que nada ouvem, nada vêem e que dizem que a culpa de tudo isto é da crise, que se há-de fazer.
Tempos de vergonha, de luto, de raiva, de impotência.