segunda-feira, abril 30, 2012

VIVEMOS NUMA DEMOCRACIA ESFRANGALHADA

Vivemos em democracia. Mas que raio é isso da democracia, a representativa, como a nossa ? É uma espécie de cartão dourado que dá direito a quem tem mais votos de fazer o que quiser ? Nos tempos que correm, é isso mesmo que parece, sabem ? É que, durante a campanha eleitoral, fazem-se promessas que depois das eleições são completamente esquecidas. Outras vezes, tomam-se decisões totalmente ausentes do programa eleitoral, com o maior dos à vontades, como se a delegação de poderes que lhes demos valesse para tudo.
A sério, pessoal, estou disposto a admitir uma certa margem entre o que se promete e o que se faz. Mas isto excede tudo o que é razoável, isto é a negação da democracia tal como a vejo, tal como está escrita. E se assim é, isto é abuso de poder, isto é tirania, isto é a negação da democracia.
Nesta história dos subsídios, garanto-vos que aquilo que me rói por dentro não é saquearem-me a minha pensão. Não é o dinheiro, é aquela sensação de injustiça, de impotência perante a iniquidade do despotismo.
Repisemos : então neste nosso simulacro de democracia, vale tudo entre eleições ? É assim uma coisa tipo "votem votem, deixem-me lá apanhar no poder que logo vos digo ?"
É para garantir este joguinho vicioso e aldrabão que existem orgãos ( caros, diga-se de passagem ) cuja missão é garantir que a democracia funciona e que as leis são respeitadas ? A Presidência da República e o Tribunal Constitucional estão lá para quê ? Não esqueçamos que não é Deus ou a República quem lhes paga as contas, não é ?
Da ultima vez que o Tribunal Constitucional se pronunciou sobre esta matéria justificou a sua concordância com o facto de se tratar de uma medida de emergência e temporária, bem delimitada no tempo. E então, ainda sustenta a mesma decisão ??
Com todos os diabos, pessoal, o desrespeito começou com Sócrates, bem sei e isso não retira um milímetro de força à minha razão. Também nunca gostei de Sócrates, não sou do PS ( nem de nenhum outro partido, diga-se ) e mantenho as minhas telhas todas de cerâmica de barro, não de vidro. Por isso, digo-vos : para mim, chega. Não me interessa para nada da crise nem do défice ( não tenho responsabilidades em nada disso ) nem quero saber se o Governo precisa de ir aos bolsos dos cidadãos ou não.
Para mim, ao tomarem-se decisões destas sem sequer as discutir na Assembleia, estão a exceder as competências do Governo, estão a fazer da democracia uma caricatura, estão a elevar a mentira e o livre arbítrio ao poder.
Repito : estar-me-ia nas tintas para os subsídios, se o meu país deles necessitasse e se essa decisão tivesse sido tomada em legitimidade completa em termos representativos, ou seja, depois de ter sido divulgada antes das eleições. Assim, afirmando hoje que era só por 2 anos ( para suavizar o impacto e o Tribunal Constitucional ver ? ) e amanhã dizendo que só em 2018, assim não.
Pessoalmente, não aceito esta decisão como legítima. Espero para ver o que acontece, mas até lá afirmo que, para mim, este Governo está a governar pela força, fora da legitimidade da representação política democrática e fora da legitimidade constitucional.
Ou seja, para mim não estamos mais a viver em democracia plena, vivemos uma democracia limitada e mentirosa. E quem estiver interessado neste tema que comece a pensar que novos caminhos a democracia representativa deve tomar, para minorar ou evitar estes abusos continuados do poder.



domingo, abril 15, 2012

MISTER SCROOGE

Lembram-se do sr. Scrooge, aquele velho avarento dos contos de Natal ingleses, inventado por Charles Dickens ? Um destes dias lembrei-me dele, vá-se lá saber porquê.
Isto aqui em Portugal parece de facto um conto. Não um conto simpático de Natal, com muitas luzinhas e música à maneira, mas um conto de terror, com lobisomens e encruzilhadas à meia noite. Claro que a acção também mete um mr. Scrooge, agarrado ao dinheiro que conta e reconta, sem o utilizar em nada de útil. Quanto ao restante enredo, é confuso, ninguém conhece bem o guião. Até suspeito que não existe guião nenhum e que cada personagem faz o que quer, numa vertigem quase pornográfica. E digo pornográfica, desculpe-me o leitor a linguagem, porque quem se **** acabamos sempre por ser nós, os pagantes.
Já notaram, caros leitores, que em boa verdade não se pode chamar a isto governar ? Governar pressupõe um caminho, ou pelo menos uma vaga ideia de onde se quer chegar. Em Portugal, nestas ultimas semanas, tornou-se bem claro que não há bem um caminho, o que há é uma tentativa mais ou menos descabelada de sacrificar tudo e todos ao sucesso de alguns, bem poucos. Assim como no Titanic, onde os passageiros da 3ª classe e os tripulantes menos qualificados foram cruelmente sacrificados.
Inventam-se taxas, aumentam-se outras, descartam-se pessoas, corta-se nos financiamentos, mente-se, aldraba-se, atiram-se explicações e justificações desajeitadas e cretinas, proibem-se coisas absurdas ( fumar dentro dos carros, com crianças ?? ), eu já não sei que mais.
Um destes dias ouvi na RTP1, salvo erro, um dos personagens principais deste conto. Palavroso, advogadoso, literalmente vazio e atrapalhado quando a entrevistadora lhe falou nas PPP e coisas do género. Que está tudo em estudo, que brevemente iremos saber, tretas desse género. Paleio nitidamente para preencher o enredo do conto.
Não, amigos, NUNCA viremos a ter uma renegociação das PPP que não seja apenas para fingir. Nunca. O que viremos a ter é a continuação da mesma política do mr. Sócrates em privilegiar as grandes empresas que participam nessas tais PPP. O leitor ainda não leu ou ouviu uma das especulações sobre o fecho da Maternidade Alfredo da Costa ? É que esse fecho irá dar muito jeito à PPP que gere o Hospital de Loures ... é preciso arranjar clientes, c'os diabos !
Não, isto é mau de mais para ser a realidade, isto tem que ser um conto de terror ... Quanto ao sr. Scrooge, guarde lá o seu ( nosso ) dinheirinho bem guardado, ainda acabaremos um dia por ter as contas todas certinhas, é mais que certo.
Pena é que nessa altura Portugal esteja reduzido a metade, sob protectorado da Alemanha.




sexta-feira, abril 13, 2012

A GRANDE DÚVIDA

Pois é, amigos, a minha grande dúvida , quanto ao futuro do nosso país e quanto à bondade deste nosso governo é se estamos no bom caminho ( ou mesmo se estamos em algum caminho ) ou se, pura e simplesmente, andamos à deriva, à mercê da evolução das economias dos outros e das suas ideias ( ou da falta delas ).
O poder financeiro tomou conta do Mundo e anda a fazer dele o que bem quer. Não há sentido económico nem político em nada do que sucede no dia a dia do Mundo : as bolsas são dirigidas por algoritmos electrónicos que poucos entendem mas que eu não tenho qualquer hesitação em afirmar que estão feitos para optimizar a especulação. Os investidores internacionais, encarcerados e orientados por uma autêntica manada de especuladores ávidos, influenciam governos, compram comentadores, vão pouco a pouco tomando conta do mundo.
Na Europa, a desorientação da senhora Merkel e dos outros responsáveis europeus é aterradora, é como se a Europa estivesse a ser liderada por um bando de putos inconscientes, ignorantes e despreocupados. Passos Coelho, no meio deste desastre completo, é apenas uma pequena peça de significado menor, já que ainda não percebeu que o caminho que trilha vai dar ao desastre, não à recuperação e ao êxito. Nem sequer sei se isso o preocuparia, caso estivesse consciente do risco, já que o seu comportamento revela um grande desprezo pelas pessoas. É como se não tivesse nada a ver com os dramas que vai provocando. Estranho, muito estranho. Sobem as tensões, irritam-se os ânimos, há gente com fome como nunca e eles, os nossos representantes, nada sentem, nada dizem, nada os afecta, a não ser o "memorando" e os seus cortes.
Vivem-se tempos estranhos e perigosos, teimo eu em afirmar. Tempos que precedem as grandes borrascas, os grandes dilúvios. Tempos que eu nunca esperei vir a viver, neste Outono-Inverno do meu calendário pessoal.
Lamento muito, mas é óbvio que ninguém sabe muito bem onde isto vai dar. Nem ninguém parece consciente dos perigos que se avizinham.
O Mundo anda à deriva, à espera de uma grande catarse que o transfigure.

domingo, abril 08, 2012

BRINCAR AOS COMBÓIOS ...

Há momentos então em que me convenço que escolhemos um administrador do condomínio que não passa de um menino que gosta de brincar aos combóios. Não daqueles que andam a alta velocidade, como o outro menino, mas daqueles muito compridos, com muitos vagões, e que vão de Sines para Espanha. Só é pena que fiquem na fronteira, porque de lá em diante não há linha para eles. Mas também, malta, não se pode pensar em tudo, né ?
Mas não é só aos combóios que o menino gosta de brincar, não. Também gosta de brincar com os portugueses, sobretudo com aqueles a quem tirou os subsídios de Natal e de férias. Gosta de enganar esses meninos, dizendo que lhes vai devolver os subsídios em 2014, mas não, é só em 2015, afinal, e aos bochechos.
É um brincalhão, este menino. Tão depressa diz uma coisa como o seu contrário.
E quando se põe a inventar onde é que há-de ir buscar mais dinheiro ? Ele é o IMI, ele é o IRS, ele é o IVA ... nada o contenta, nada o pára...
O pior é que já lá vai um ano e a brincadeira parece estar a dar péssimos resultados. A economia não cresce e os desempregados são cada vez mais... Não, malta, a brincadeira já vai longe de mais, sobretudo porque é com as nossas vidas e o nosso dinheiro que o menino anda a brincar.
Porque é que o menino nunca mais vai brincar com as PPPs nem com as rendas que andamos a pagar à EDP e outros ? Porque é que só brinca connosco e nunca com esses ?
Por mim, já estou francamente farto da brincadeira. Apetece-me dizer a este tal menino que vá brincar para a sua rua e nos deixe em paz. Pode ser que arranjemos algum outro menino que brinque melhor do que ele e que, pelo menos, faça combóios onde já existam linhas, não é ?