sexta-feira, outubro 31, 2008

UMA QUESTÃO DE CONTENTORES ... OU DESPREZO PELA OPINIÃO DOS OUTROS ?

Hoje vamos falar de contentores. Ou melhor, vamos falar ( uma vez mais ) de falta de vergonha e de desprezo pelos outros.
Ora bem, é óbvio que aumentar quilómetro e meio àquele cais de Alcântara cheio de contentores é uma ideia que não iria agradar a muita gente. Ainda por cima, sabendo como estas obras se eternizam em Portugal e como costumam respeitar os espaços públicos, certamente que MUITA gente iria discordar.
Pois bem, não há dramas : faz-se um decreto-lei pela calada, sem alarde, e está o problema resolvido.
Ah, mas havia um problemazito : a concessão actual ia terminar já em 2015 … como rentabilizar o investimento da expansão ? Simples, uma vez mais : prorroga-se a actual concessão por mais … trinta e tal anos, até 2042 e pronto.
Discutir o assunto com a Câmara de Lisboa ? Levar a questão à Assembleia da República ? Suscitar a discussão pública da iniciativa ? Integrar a obra num plano geral para a zona ribeirinha ? Tssss, tsss, tsss … tudo isso dá trabalho, consome muito tempo e energias. Assim é muito mais fácil.
Confesso : não faço a mais pequena ideia se Lisboa ( e o País ) lucram alguma coisa ou não em ter uma área gigantesca para carga e descarga de contentores. A única coisa que detesto é que tomem decisões nas minhas costas em relação a coisas que são também minhas. Lisboa não pertence à empresa concessionária do cais de contentores, Lisboa não pertence a este Governo, nem a nenhum Governo passado ou futuro. Lisboa não pertence ao sr. Jorge Coelho nem ao sr. Sócrates. Lisboa não é mercadoria negociável.

Quero saber :

(a) aumentar a capacidade do cais de contentores é boa política para Lisboa e para o País ou só para a firma concessionária ?

(b) em caso de ser boa ideia a expansão do actual cais, não existem localizações mais adequadas ? Tem que ser logo ali, em zona privilegiada de lazer e de fruição do rio ?

Antes me responderem a estas questões, fiz questão de ajudar a parar a “negociata” meio encoberta, assinando a petição subscrita por Sousa Tavares.

Cabe-lhe a si fazer o mesmo. Ou não, como quiser. Em qualquer caso, clique aqui para ler a petição : http://www.gopetition.com/online/22835.html

Tenha um bom resto de dia.

quarta-feira, outubro 29, 2008

SÃO COISAS ABERRANTES A MAIS, GAITA !

A verdade é que não sei para onde me virar. A realidade excede a ficção, nestes tempos. A minha capacidade de indignação é todos os dias posta à prova, a maior parte das vezes vejo-me obrigado a zangar-me em “multitasking”.
Foi o truque palerma de introduzir na proposta do OE2009 aquela aberturazita para as ofertas aos partidos em “el contado”, descoberta em primeiro lugar pelo Diário Económico (DE). Foi a história do telefonema imediato do nosso primeiro-ministro para o director do DE, explicando não sei o quê ou refilando com a “má vontade” do jornal. É o miserabilismo dos nossos empresários recusando o salário mínimo de 450 euros. São os ventos persistentes de estagnação ou mesmo retracção do crescimento económico. São as coincidências do ex-ministro Jorge Coelho ao aceitar o lugar de Presidente do CA da Mota-Engil e vai daí, meses depois, é só concessões do Governo à empresa, sejam no Douro ou no porto de Lisboa. É uma actuação destrambelhada, incompetente, ruinosa e autista do Governo no ensino secundário, na gestão dos hospitais e na rede de cuidados de saúde, no desprezo manifesto por aqueles de quem depende a segurança e a defesa. É a suprema ironia de toda a gente considerar como uma medida eleitoralista os míseros 2.9% “generosamente” oferecidos aos funcionários públicos, fartos de perder poder de compra nos anos passados, da ordem dos dois dígitos percentuais.

São todas estas coisas e mais o raio deste vento frio.

São coisas a mais, acho eu.

A continuar assim, ainda me dá um AVC, ou saio do País antes disso.
A alternativa seria inventarmos o nosso Obama, e, já agora, trocarmos também as nossas pseudo-elites por suecos, alemães ou mesmo … chineses. Lamento, mas é verdade.

sexta-feira, outubro 17, 2008

UMA QUESTÃO DE OUTROS VALORES ...

É minha convicção que a maior crise actual, pelo menos em Portugal, não é de natureza financeira. A nossa maior crise é de valores. Portugal está profundamente doente, sim, mas não é por causa do crédito mal-parado ou da falta de liquidez dos bancos : está doente Portugal porque lhe falta a vergonha, o bom senso e a simples decência de comportamentos.
Acham que exagero ? Então recapitulem comigo.

Afirmam os especialistas que a corrupção existe a um nível imenso na nossa sociedade, e que as pessoas até desculpam e perdoam a pequena corrupção. Boa, continuemos.

O PSD está a considerar a hipótese, ao que se sabe já aprovada por Manuela Ferreira Leite, de voltar a apresentar Santana Lopes para a Câmara de Lisboa... Sim, o mesmo Santana Lopes. Excelente, adiante.

Sócrates e mais 344 ministros, secretários de estado ( os ministros não são de estado ? ), directores-gerais e outros senhores importantes andaram por aí a distribuir uma espécie de computador de algibeira, destinada a putos de 5 e 6 anos, que afirmaram ser portuguesissimo e a quem chamaram ... Magalhães. Recomenda-se ao autor do nome uma releitura urgente da história da época. Para além disso, magnifico, agora é que os putos vão todos aprender a ler, escrever e a fazer contas.

Isaltino, o impoluto de Oeiras, proclamou já que vai candidatar-se de novo á Câmara. Ignora-se se ainda tem o primo na Suiça, mas a avaliar pelas ultimas dos bancos lá do sítio, o primo já não deve lá estar.

A inefável e competente ministra da educação continua na sua sanha contra o que resta de qualidade no ensino publico, parece que os professores ainda têm umas horitas semanais livres das infindáveis reuniões de avaliação de desempenho, avaliação intercalar, avaliação disciplinar, avaliação curricular, elaboração de testes para recuperação de alunos com excesso de faltas, etc, etc ... Consta mesmo que, de vez em quando, até há um ou outro professor que consegue escapar-se das reuniões e ... dá uma aulita !! A ultima invenção da senhora foi agarrar nos professores do QZP ( de nomeação definitiva numa certa área geográfica do país ) e dizer-lhes : “Meus amigos foi boato. Vocês não foram nada providos no vosso lugar, vão todos ter de concorrer para milhões de Kms das vossas casas. Se não quiserem, processo disciplinar e despedimento“.
Excepcional, continuemos a mostrar até que ponto se desceu na escala da decência e na consideração pela dignidade dos outros.

O senhor primeiro-ministro. Bem, esse confesso que ando intrigado com o homem. Estou farto de o ver e ouvir em toda a parte e declaro que nunca vi o senhor dedicar a mínima consideração a quem o interpela e dele discorda. A sua atitude automática e imediata, sem qualquer nuance de respeito, é a de violência verbal, a arrogância e a pose de mestre. A razão da minha profunda intriga é a seguinte : onde teria Sócrates ido buscar a razão para esta atitude ? Que características lhe dão minimamente suporte para esta maneira de ser ?
Mistério ... aquilo que se conhece da sua vida justificaria, isso sim, uma atitude de modéstia e de respeito pela opinião dos outros, não seria ? Afinal, entre os seus interlocutores existem pessoas muito inteligentes, cultas, academicamente bem formadas, com experiência em vários sectores profissionais ...

Chega para convencer o leitor quanto á crise de valores ?
E agora, há por aí algum Banco Central que possa dar um aval a Portugal para valores, decência e vergonha ?
Ou então, como diz um amigo meu, isto não é um problema de valores nem de política e muito menos de economia ou finanças : Portugal não passa de um imenso prostíbulo, onde pessoas se vendem e outros vão só para ver. Ah, sim, e com uma ala dedicada a doentes mentais.

domingo, outubro 12, 2008

VOLTA Dª BRANCA, ESTÁS PERDOADA ...

A sensação claramente dominante neste momento é a impotência.
Um pouco por todo o Mundo as pessoas interrogam-se e receiam o futuro próximo.
É nítido que ninguém sabe exactamente o que fazer.
É nestas alturas que mais me interrogo sobre a verdadeira dimensão do homem actual e da sua fé um tanto infantil em instituições e organismos ditos idóneos.
Pessoalmente, como qualquer pessoa pode verificar se ler as minhas notas dos ultimos anos, a realidade actual não me surpreendeu nada. Há muito que em mim morreram as ilusões e a candura, há muito que deixei de acreditar no Pai Natal. As entidades ditas responsáveis sempre conviveram alegremente com todas as trafulhices que o submundo financeiro inventou, nestes ultimos anos. Alguém conhecedor destas realidades pode afirmar que foi apanhado de surpresa ? Então porque é que ninguém mexeu uma palha ? Sabem explicar ?
Eu sei : cumplicidades, conivências, interesses próprios ou de amigos ou de grupo.
Há muito tempo que eu explicava a economia financeira dos tempos correntes aos meus amigos como sendo uma versão gigantesca da Dª Branca. Alguns não me acreditavam, pensavam que eu exagerava, então aquelas venerandas instituições e aqueles competentes senhores alguma vez iriam deixar isto acontecer ?
Pois. Então onde estão agora todos esses ilustres garantes da idoneidade das operações financeiras ?

E agora, perguntamo-nos todos, os “especialistas” e os outros, que fazer ?
Agora há que restaurar a confiança, dizem-me.
Mas confiança em quê e em quem ?
Não percebem que essa é a grande questão ?

PS - Já pensaram quem seria que andava a especular com o petróleo, imediatamente antes de estoirar esta crise ? E porque o andariam a fazer ? É que eu acho muito interessante que ninguém fale agora da correlação entre as duas coisas ...