domingo, agosto 15, 2004

O HORROR NACIONAL À CONCRETIZAÇÃO

Em Portugal, tanto na Educação como na Justiça, continua imparável o mito de que basta mudar legislação para que estes sistemas funcionem.
Esta é, de resto, talvez a maior fragilidade dos portugueses : perante algo que não funciona, fingem que a culpa é das leis que regulam esse funcionamento e não das estruturas e das pessoas envolvidas.
Assim, a Educação é o caos que é por causa dos currículos e da lei de bases do ensino. Modiquem-se estes e ver-se-á logo tudo a mexer, impecavelmente.
A Justiça está pura e simplesmente paralizada ? Não há que ver, a culpa é dos Códigos Penal e do Processo Penal. Alterem-se estes e pronto.
Matamo-nos todos na estrada, lenta e inexoravelmente ? Altere-se o Código da Estrada.
Ninguém ( ou poucos e sempre os mesmos ) paga impostos ? Modifique-se a lei.
O mercado funciona mal, em muitos sectores ? Legisla-se e inventam-se umas regras diferentes.
Por aí fora.
Percebe-se porquê.
Num país de líricos e especialistas do paleio, onde poucos possuem uma cultura “do fazer”, é quase impossível perceber que todo um sistema tem que ser mexido, quando não funciona. Estruturas, pessoas, procedimentos e, claro, depois de tudo também as regras do jogo, a legislação.
É muito mais fácil nomear uma comissão que prepare uma simples modificação apenas da lei, fingindo desconhecer que, depois, ninguém irá cumprir essa lei.
É toda uma mentalidade perante as coisas da vida real que importa mudar, não este ou aquele código ou lei. Exige-se um olhar integral sobre os sistemas, sem medo de mexer neles, em vez de considerações cosméticas sobre os mesmos.
A mentalidade reinante em Portugal há muitos anos é consistente com esta táctica de avestruz legislativa. A formação das elites portuguesas é maioritariamente orientada para actividades “de paleio” e muito menos para questões técnicas e operacionais. Todos são doutores ( juristas, economistas, consultores que sei eu ), muito poucos sabem de facto FAZER. Seja o que for. De um simples buraco na parede, em casa, com um berbequim, a uma nova organização bem montada, a funcionar sobre esferas.
Sabem, contudo, perorar sobre códigos, incluindo os romanos, e sobre as pseudo-leis da oferta e da procura e do efeito macro-económico da subida das taxas de juro.
Quem os ouvir e não conhecer Portugal há-de pensar que somos um país de génios, de gente de qualidade, com sistemas nacionais bem pensados e a funcionar suavemente ...
O que é curioso é que, de facto, estas duas perspectivas entram por vezes em choque, como no caso recente da TAP, entre um homem com experiência de gestão no sector ( Fernando Pinto ) e um outro, de há muito só habituado a mandar bocas e a ocupar cargos de favor.
Bom, sendo assim as coisas, que há de esperar deste país ?
A minha resposta é esta : infelizmente, nada há a esperar, nos tempos mais próximos. Os sectores públicos que precisavam urgentemente de ser renovados e colocados em funcionamento irão permanecer estagnados e à deriva. Enquanto ouvirem falar apenas em modificar a legislação , podem ter a certeza que tudo vai permanecer tal como está.
E, no fundo, não é isto que todos merecemos ? Os portugueses qualificados para fazer ( bem ) coisas não vão todos para o estrangeiro ou para o sector privado, à procura do vil metal ? Então o que seria de esperar ?
Lamento o pessimismo, mas acho que é assim que as coisas se passam.

Por mim, sempre tentei fazer com que as coisas funcionem, antes de mais, seja qual for a legislação em pano de fundo. Esta logo se modifica, mais tarde.
Quando me ouvem falar assim, não pensem que sou igual a eles, “só paleio”. Tenho horror a isso. Embora goste e respeite, por formação, o estudo e o projecto, para mim ambos só se justificam se depois forem levados à prática.
Sou daqueles que acredita que é melhor uma obra sem projecto ( embora minimamente pensada ) , que um projecto bonitinho ... que nunca se transforma em obra feita.
Sou sincero : detesto o espírito português de inventar sempre formas complicadas ... de não fazer nada que funcione.
Tolero mal advogados e economistas e outros que tais, enquanto actores da mudança, enquanto agentes do fazer.
Com eles, no século XV, apenas descobriríamos o caminho marítimo para Belém ou para S. Bento.
Tal como no Séc. XXI, afinal.

sexta-feira, agosto 13, 2004

É TEMPO.

É tempo.
Definitivamente.
É tempo de falar verdade.
Cruamente.
Mal educadamente.
É assim, então ( como agora se diz ):
estou farto de figurões que, em cargos de destaque,
usam a sua posição para favorecer o seu grupo,
o seu partido,
a sua classe,
ou os gajos da sua rua.
Despudoradamente.
Cínicamente.
Impunemente.
( vai ficar impune, mesmo ? )
Desavergonhadamente.
Digam-me, leitores :
Não começam também a ficar muito fartos ?
Vem agora o outro, armado em bonzinho,
propor um pacto de regime perante os problemas da Justiça ...
Ah ah ... essa é boa :
primeiro colocam-se pessoas na PJ para fazerem as tarefas sujas,
depois fala-se em pacto de regime.
Ingenuamente.
Não seria melhor chamar-lhe o regime do pacto ?
Do pacto entre amigos ?
Ah, já me esquecia :
Esse figurão, de tão fino recorte ético e humano,
pasme-se : é juiz desembargador.
É um homem desses que julga outros homens e mulheres ...
Meu Deus, se ainda por aí andares,
regressa !
Regressa, pois bem preciso és.
Há vendilhões, vigaristas e outros homens sem escrúpulos por toda a cidade !!
COISAS QUE ACONTECEM NESTE NOSSO MUNDO TÃO CERTINHO ...

Hoje vou-vos falar de petróleo, para começar, e de professores, para finalizar.

Petróleo : o preço do barril de petróleo não para da subir. Vai nos 45 dólares. Bom, será que o preço sobe assim porque a procura superou a oferta ?
Há escassez de petróleo, no Mundo ?
Não, as reservas actuais darão para mais 40 anos de consumo, ao ritmo actual. A produção diária actual cobre as necessidades, também.
Então qual é o drama ? Porque sobe o petróleo ?
Por medo. Quem compra o petróleo receia que venha a haver escassez da oferta, num futuro próximo. A instabilidade no Médio Oriente : o caos do Iraque, as eleições do fim do ano na Arábia Saudita. A instabilidade na Rússia : a maior produtora em situação financeira periclitante, por alegadas fugas ao fisco. As eleições na Venezuela.
Enfim : uma vez mais, as expectativas comandam a economia. Há medo. Há instabilidade.
Há descrença na acção dos Estados Unidos.
Agradeçam em especial ao Sr. Bush, quando os preços de vários artigos começarem a subir. Porque vão subir.
Lembrem-se dele quando também começarem a pagar taxas de juro mais altas pelos empréstimos.
Esperemos que a situação no Iraque não piore ainda mais. Esperemos sobretudo que as próximas eleições nos EUA rectifiquem o erro perigoso de colocar um tolo a dirigir um País daqueles.

Professores : não sei se têm acompanhado o folhetim que foi, este ano, o concurso de colocação de professores do ensinário secundário. Um autêntico festival de incompetência técnica, autismo, sobranceria e provincianismo primário. Repito : nunca na minha vida vi tanta estupidez e incompetência juntas, neste sector que tão bem conheço há dezenas de ano, por envolvimento de familiares meus.
Erros tremendos ( e elementares ) na concepção do concurso, no desenho dos impressos de recolha de dados, na fase de passagem dos dados do papel para suporte digital, na programação da validação dos dados recolhidos, na programação da listagem dos candidatos .... enfim, não houve fase nenhuma em que não tivessem pura e simplesmente metido os pés pelas mãos. Totalmente. Com completa impunidade dos responsáveis políticos. E técnicos, também.
Pois bem, agora, com outro ministro, quando se esperava que algum bom senso tivesse finalmente chegado àquelas bandas, eis a ultima : depois das listas definitivas publicadas ( se o conseguirem, digo eu, com uma percentagem aceitável de erros ) espera-se que os professores concorram às escolas pretendidas ( os profs dos QZP e os dos destacamentos ) UNICAMENTE por via da internet.
Óptimo. Excelente. Para não perderem mais tempo a digitar dados, é lógico.
Quer dizer : seria excelente, se alguém se tivesse lembrado de verificar se equipamentos e canais de acesso vão aguentar o acesso concentrado de milhares de professores em todo o país, todos ao mesmo tempo !! Palpita-me que acharam que não valia a pena preocuparem-se com este pequeno pormenor. Como é hábito.
Querem apostar comigo que vai ser a loucura e a angústia de muita gente ? Vai haver muito menino e menina a tentar aceder ao sistema às 4 da matina, vão ver ...
Ah, mas é de esperar que um minitro ( ou ministra ) se preocupem com detalhes insignificantes ?