sábado, dezembro 25, 2004

NATAL 2004

O dia de Natal deste 2004 está a chegar ao fim. Como sempre, deixa um sabor a desilusão atrás de si.
O Natal é isto ? - perguntava-me eu nos meus dez ou onze anos.
Pergunto-me ainda hoje.
É, é apenas isto.
Uma ocasião passageira, uma convenção bonita, uma espécie de sedativo anual das nossas consciências culpadas. Uma vez por ano fingimos que somos bonzinhos, que amamos não só a nossa família como o resto do Mundo, fingimos que homenageamos o Menino que havia de ser Homem ...
E contudo, apesar de tudo, há sempre uma magia especial que não sei de onde vem. Talvez das memórias de mil presépios de barro inventados, em miudo. Talvez do cheiro do musgo quando o arrancava da terra ou das árvores. Talvez dos olhos extasiados de esperança de milhões de putos em todo o Mundo. Sei lá.
Este Natal foi a três. A minha filha, o Pipoca e eu. Divertimo-nos, partilhamos com ele o perú estaladiço e saboroso e, por fim, até o deixei saciar a sede no meu copo de água ...
Porque não ? Afinal, é Natal, não é ?
E você, leitor ? Como passou este dia ?


terça-feira, dezembro 21, 2004

O MEU AMIGO FRANCISCO FREIRE DA SILVA

As nuvens voam baixo, hoje.
O Sol retirou-se cedo.
Levantou-se um vento súbito, gélido, que trespassa tudo e arrefece os velhos ossos.
O cérebro recusa aceitar a notícia, lembra tempos de alegria, camaradagem e luta, em terras banhadas por oceanos diversos, sob céus de outras estrelas.
Rejeito a notícia, não me interessa a verdade, não quero saber, não quero que me digam onde, nem a que horas nem para onde vai ... o meu velho amigo vai continuar por aí, por Lisboa, a enfrentar a doença com estoicismo e fé, a ter esperança no futuro e a lutar pela justiça social em que acreditava.
Não quero saber se este ou aquele me vem dizer, com ar compungido, que ele coitado ... Não é, não pode ser, nunca será verdade : da ultima vez que jantámos juntos ele contou-me que andava a tirar a carta de mota, deve ser isso, anda é por aí a acelerar, feito puto reguila como era há mais de quarenta anos atrás, quando nos conhecemos.
Não vou, nunca vou acreditar, não é verdade.
E contudo, o vento tornou-se muito mais frio e já não vejo nenhuma estrela no céu.
Mesmo assim, não aceito, digo apenas : adeus, Xico, amigo, até um destes dias ou meses ou anos ou quando fôr, não penses que te livras assim das minhas secas !

segunda-feira, dezembro 20, 2004

DIVAGAÇÕES EM TEMPO DE FRIO

Hoje à tarde começou a ficar um frio do caraças. Bom, muito frio, pelo menos. Aqui em Lisboa nunca está um frio do caraças, isso é lá para as Penhas da Saúde, Trás-os-Montes, e sítios assim. Aqui nunca me lembro de nevar, nem de gelar a água nos canos. O mais dramático que me lembro era de haver gelo nas poças de água, quando ia para o Liceu, de manhã. Ainda assim a malta ria-se muito e andava toda feliz de poça em poça, a partir o gelo com as botas.
Agora acho que já nem poças existem. Ehehehehehe. Ou, se existem, os putos nem sequer reparam nelas. As playstations destronaram essas coisas todas.
As poças actuais, em Lisboa, são os buracos do metro, no Terreiro do Paço, o buraco do túnel do Santana Lopes e o outro buraco do Terreiro do Paço, aquele do Bagão. E essas poças, que me conste, não fazem gelo nem fazem as delícias de ninguém. Isto digo eu, que sou ingénuo, mas se calhar até fazem as delícias de alguém. Há sempre alguém a ganhar dinheiro com os buracos dos outros. Ou melhor, é porque há sempre alguém a ganhar dinheiro que aparecem os buracos nos outros.
Brrrr ... chega de buracos, isto está a dar-me voltas à cabeça !
Volto à minha, está um frio do caraças, para Lisboa. Tenho o aquecedor a óleo ligado, aqui ao pé de mim e também liguei o que está ao pé do gato, não quero que o bicho congele. Se bem que talvez não fosse má ideia, se conseguisse que só os dentes dele congelassem. Mas acho que não é possível.
Queria escrever umas linhas para o meu blogue e vejam lá os efeitos do frio : saiu-me isto, assim, meio desconexo. Que se lixe : o que me apetecia agora era ir comprar pão quente e comê-lo, com manteiga, acompanhado de um café também bem quente. Uma amiga minha falou-me hoje em ir à padaria, e essa ideia não me sai da cabeça desde então ...
E é o que vou mesmo fazer. Até.

sábado, dezembro 18, 2004

A COSTA DOS MURMÚRIOS



Ontem fui ver “A costa dos murmúrios”, de uma jovem cineasta portuguesa, baseado no livro do mesmo nome de Lídia Jorge. Confesso que não li o livro, mas sei que a autora esteve em Moçambique, por volta de 69/70, época em que decorre o livro/filme. Era então casada com um oficial paraquedista e assistiu, digamos que de camarote, a certos aspectos da guerra colonial.
É claro que uma obra de ficção é tão ficção quanto se queira. Mas também é claro que qualquer ficção com base numa certa realidade acaba sempre, inevitavelmente, por mostrar quanto e como essa mesma realidade afectou a artista.
Neste caso, a ficção construida pela escritora e decalcada pela cineasta acaba por reduzir uma realidade extremamente rica e complexa numa série de clichés sequenciais : os militares são todos violentos, machistas, criminosos de guerra e politicamente alienados ; as mulheres desses oficiais aborrecem-se de morte enquanto os maridos fazem a guerra e entretêm-se portanto todas elas a dar umas quecas por fora do casamento, para manter a prática ; os jornalistas locais são esclarecidos e sabem o que se passa mas não podem fazer nada, a não ser participar entusiasticamente na actividade lúdica anteriormente mencionada das esposas sózinhas ; finalmente, os maridos corneados, quando regressam da guerra, dedicam-se a jogar à roleta russa com os amantes das mulheres e umas vezes safam-se ... outras vezes morrem...
Brilhante. Fiquei estarrecido com a riqueza e pureza cristalina da criação artística de Lídia Jorge.
Eu bem sei que ela era então casada com um paraquedista e que estes eram acusados de usarem boinas verdes para disfarçar o musgo que lhes crescia nas cabeças ...ehehehehe .... Neste caso, porém, acho que o musgo a afectou a ela, também ...
É que, leitores, eu também fazia parte deste filme que agora vi, mas na época e no local original do “crime”. E mesmo respeitando o direito à ficção e percebendo até algum ressentimento e horror da autora perante tal realidade, ainda assim me surpreendo com a miopia e o preconceito revelados.
Quanto à linguagem cinematográfica usada, apenas um comentário : um filme não pode, não deve ser uma sequência de planos filmados e depois colados, com uns textos em voz off para dar coesão. Eu não sei fazer filmes, mas sei ler um filme. E aquilo que vi é apenas uma tentativa de filme, nada mais.
Fiquei com lágrimas não choradas, por dentro. Um dia hão-de sair.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

O SEGREDO PORTUGUÊS

Os portugueses são tontos. Somos mesmo totalmente ridiculos, tomados no seu conjunto. Ou então totalmente sábios, vá-se lá saber.
Vamos vivendo neste doce rame-rame, sem esforços nem iniciativas de maior, sem grandes motivos de alegria, mas também sem grandes motivos de pesar, essa é que é a verdade.
Isto ao longo dos ultimos séculos, não é de agora.

A essência dos portugueses é dificil de compreender pelas modernas sociedades de mercado. Talvez só mesmo os nossos ancestrais avós, os árabes, nos consigam compreender : nós somos os grandes especialistas em ser felizes com o esforço mínimo !
Produtividade ? Qualificações ? Hummm ... isso não dá muito trabalho ? - perguntamos logo ! E como dá ...

Isto porque, sem perceber nada disto, há economistas e políticos que vêm, de vez em quando, questionar a organização económica da nossa sociedade. O prof. Cavaco Silva veio agora, por exemplo, afirmar que até 2006 vai ser a mesma miséria de economia, que nos estamos cada vez mais a afastar da média europeia, que precisávamos era de aumentar as nossas exportações !
Concordo, devo dizer. E acho que todos os outros portugueses também concordam. Vamos lá então aumentar as nossas exportações, hem ? Bora ?

O único problema é que para exportar é preciso produzir coisas que os outros queiram comprar. E que raio de coisas havemos nós de produzir, sem grande suor ? Esse é que é o problema, pá ! Que sabemos nós fazer que os outros queiram comprar e que não nos obrigue a trabalhar no duro ??
Espera ... deixa-me pensar ... só se for a nossa secular habilidade para ir vivendo feliz sem saber nem querer produzir nada !
É isso .... Uauuuuu .... descobri !
Vamos exportar o nosso “know-how” para viver de papo para o ar, sem preocupações. Olhem que esta técnica vale dinheiro, vão ver !

terça-feira, dezembro 14, 2004

O CIRCO DESCEU À CIDADE

Ando de novo numa de preguiça. Não me consigo convencer a escrever. Os factos que vão surgindo na vida do nosso país ora me deprimem ora me dão uma enorme vontade de rir.
É como se Portugal fosse um imenso Circo Chen : umas vezes angustiamo-nos com os homens e mulheres do trapézio voador, outras vezes rimo-nos com os palhaços... ainda por cima, estes palhaços fazem as suas rábulas com um ar muito sério, como se fossem senhores competentes e responsáveis, e isso ainda me dá mais vontade de rir.
Pelo meio, os equilibristas, um pouco trapalhões, e os ilusionistas, que tão depressa mostram as cartas todas juntas como as fazem desaparecer, cada uma para seu lado ...
E com isto tudo, confesso, perco a vontade de escrever e começo a cansar-me do espectáculo.
Quando é que raio vai acabar o espectáculo de circo ?

sábado, dezembro 11, 2004

O ESTRANHO CASO DO SECRETÁRIO DE ESTADO SEM TEMPO NA AGENDA...

De todos os factos que têm vindo a lume, nos ultimos tempos, sobre a forma de actuar deste Governo, vou destacar apenas um, para vos mostrar como as coisas são na prática.
O Governo recorreu a um militar para o cargo de presidente do serviço nacional de protecção civil, o que não espanta para quem conheça o tipo de treino e a forma de pensar dos militares em relação ás exigências daquele cargo.
Desta vez, era um Major-General do Exército.
O senhor bateu com a porta há dias, com estrondo, dizendo publicamente que não tinha confiança nenhuma no Secretário de Estado que o tutelava e explicando porquê : o jovem governante, do alto da sua importância e certamente também competência política e técnica sobre as áreas tuteladas, dava-se ao luxo de não o receber, para despacho, há qualquer coisa como quatro ( 4 ! ) meses .... Este governante exemplar nem sequer tinha ido conhecer o Serviço Nacional de Protecção Civil ( sabem o que é, não sabem ? incêndios, ambulâncias, catástrofes ... ) e estava-se nas tintas para os problemas que o general lhe queria colocar ...
As diferenças da forma de estar na vida entre políticos e militares são conhecidas e fáceis de descrever, numa pincelada : enquanto uns fazem da arte de conquistar votos e do jogo das aparências a sua essência, os outros foram ensinados a dizer a verdade, frontalmente e sem papas na língua. É assim e pronto, eu conheço bem os dois tipos de pessoas de que falo. Com algumas excepções nos dois sectores, como sempre, claro.
Mas neste caso, nem sequer é essa a questão que me chocou.
O que me indigna é que um governante ( apesar de ser um ajudante na terminologia de Cavaco Silva ) se dê ao luxo de estar quatro meses sem discutir os assuntos de um Serviço como o SNPC só porque não gosta do general seu presidente ...
Este facto evidencia uma falta de respeito enorme pelo país, por todos nós, até pelo seu dever como governante. Mas mais : o senhor Ministro da Administração Interna sabia disto e achava muito natural ...
Pensem bem nesta história.
Que raio de gente é esta que pensa que pode fazer o que quer, quando está no poder ?
Quando é que nós vamos eleger um bom administrador deste nosso condomínio á beira mar plantado e dar um pontapé no rabo a tipos que andem a gozar com o nosso dinheiro ?

terça-feira, dezembro 07, 2004

A MAGIA DAS LUZES

Acho que já o disse, pelo menos no ano passado : não gosto muito do Natal, pelos clássicos motivos da solidão e da inveja da alegria dos outros. Bem sei que há muitos como eu, e que a alegria de outros é mais fingida ( ou convencionada ... ) que sentida. Mas ainda assim, não gosto.
Deveria existir um Natal para as pessoas sós ou de famílias incompletas e pequenas. Afinal, toda a gente sabe que são cada vez mais as famílias nestas condições, pelo que seria uma medida bem acolhida, pela certa! O Natal das Famílias Incompletas. O presépio poderia, por exemplo, não ter o S. José, nem a vaca e o burro. Enfim, só sugestões valiosas que aqui deixo a quem de direito nesta questão do Natal.
Mas apesar destas minhas reservas, a verdade é que há coisas no Natal de que sempre gostei. Coisas simples. Como ficar deslumbrado a olhar as pequenas luzinhas com que decoramos as nossas vidas neste tempo. Luzes brancas, amarelas, azuis, verdes, fixas ou a piscar, made in Taiwan ou China. É algo de mágico, esta ingenuidade de homens e mulheres, presos nas luzinhas, esquecidos temporariamente das suas lutas e dos seus problemas. Poucas coisas conheço tão tranquilizantes como uma simples árvore de Natal, mesmo artificial, cheia de luzinhas a apagar e a acender ... Vá, montem uma em vossa casa e percam-se na contemplação das vossas memórias, ou dos vossos sonhos de futuro, enquanto olham as luzinhas do Natal e bebem um golo de qualquer coisa quente.
Aproveitem. Embora digam que o Natal é quando um homem quer, não acreditem : Natal só é uma vez em cada ano e apenas enquanto não decidirem acabar com ele, já que está a dar pouco lucro. Qualquer dia fecha ou é deslocalizado, mas, por enquanto, a magia ainda funciona.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

O PROBLEMA DO PSD

A grande questão que se coloca agora ao PSD : vão às eleições mantendo um candidato a primeiro-ministro que deu provas insofismáveis que não é capaz de governar , nem tem a mínima ideia de futuro para Portugal, ou vão arranjar outro candidato ?
É que se ficarem com o mesmo candidato, fica por demais evidente que apenas se preocuparam em maximizar as probabilidades de tornar a alcançar o poder, mesmo sabendo que, nesse caso, com o mesmo primeiro-ministro, seria a ruina para o país ...
Não acredito que não exista, dentro do PSD, muita gente que tem este mesmo raciocínio.
Porque não falam ? Porque se calam, à excepção de Pacheco Pereira e Miguel Veiga ?
Porque permitem que um partido que é representante de uma larga faixa de portugueses, gente moderada e sensata, seja liderado por um diletante e incompetente ( na função de primeiro-ministro, noutras será um ás ! ) como Santana Lopes ?
Acharão que a derrota nas próximas eleições é a única forma de se verem livres de tal personagem ? Ou acreditam ainda na capacidade de sedução de Santana Lopes, apesar de tudo, e não hesitam em alcançar o poder a todo o custo ?
Não gosto nada, mesmo nada, do que se anda a passar com as gentes mais responsáveis ( sê-lo-ão ? ) do meu país.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

AS PEQUENAS COISAS HABILIDOSAS DO SHARE POLÍTICO

Caros amigos : aquilo a que se convencionou chamar política, nos orgãos de comunicação e na terminologia dos políticos, mais não é, muitas vezes, que uma série de pequenas "jogadas" mais ou menos habilidosas, dentro de um "timing" bem escolhido, com o objectivo de valorizar a nossa posição e de prejudicar a do nosso adversário.
Pensavam que esta política era sempre e só uma coisa "limpa", de homens e mulheres sem nada nas mangas, de peito aberto e posições claras e desassombradas ?
Sim ? Pensavam isso, a sério ? Ehehehehehe, não acredito, já ninguém é assim tão ingénuo.
Leiam algumas coisas sobre os jogos de bastidores e inter-relações dos ministros deste ainda nosso governo, vão ver como é material do maior valor educativo !
Já repararam, também, na atitude do CDS/PP, nesta crise ? Ooooh, genial, meu Deus : é do tipo "eles é que foram os artolas e confusionistas, o PSD, nós trabalhamos bem e tivemos ministros de categoria ... ". Notem, em termos relativos até é uma meia-verdade, pelo menos, o pior é que é também um tiro pelas costas, logo que o cimento aglutinador do poder desapareceu ...
Mas estas coisas não acontecem apenas no campo da ainda actual maioria, não senhor. Hoje darei apenas um exemplo, não propriamente da oposição mas do senhor Presidente da República.
Reparem : vários foram os sinais de que o Presidente estará interessado em que o orçamento proposto pelo PSD/PP seja ainda aprovado, certo ?
Pergunto eu, então : nesse caso, porque é que o Presidente não esperou uma semana para declarar que ia dissolver a Assembleia ? Se o tivesse feito, o orçamento já estaria então aprovado ...
Porque não esperou então essa semana ?

Oferece-se um prémio ao leitor que der a resposta mais convincente, ehehehe ...

Mas estas breves linhas têm uma moral : a política real, não a dos livros e dos princípios, faz-se destes pequenos truques e não apenas de questões ideológicas e estratégicas.
A táctica destas pequenas malandrices (?)ganhou uma importância tremenda, sobretudo porque o que se disputa, afinal, não passa de uma espécie de "share" televisivo : o espectador, em vez de carregar num botão para sintonizar uma dada estação, irá escrever uma cruz num determinado quadrado de um bocado de papel.
Qual é a diferença, para muita gente ?
Isto é a democracia, gostem ou não gostem. Não sei se é, como afirmava o outro, o menor dos males ... mas lá que é um jogo bizarro, disso não tenho duvidas !
Apesar de o defender com unhas e dentes, se for necessário.
Fiquei farto de lápis azuis, no tempo da outra madame, e de ministros com raivinha de dentes, ou de centrais de informação, nestes ultimos tempos.

terça-feira, novembro 30, 2004

FINALMENTE !

Com mais de quatro meses de atraso, o Presidente da República decidiu dissolver a Assembleia da República e abrir caminho a eleições antecipadas.
Ouve-se um suspiro de alívio generalizado, o próprio Santana Lopes pareceu resignado e mesmo aliviado.
Ninguém agora irá contestar com grande veemência esta decisão do Presidente, depois de ser tão visível a balbúrdia e trapalhada política que este Governo trouxe à vida nacional.
Dá a ideia que Sampaio esperou por essa má actuação de Santana Lopes para ganhar força e tomar uma decisão quando toda a gente já tivesse visto, na realidade, o que valia este Governo.
O lider do PS é hoje Sócrates, e não Ferro Rodrigues, não se esqueçam também.
Aparentemente, pois, a actuação do Presidente da República foi impecável e muito inteligente, quando examinada na sua globalidade.
Discordo.
É que não era preciso ser bruxo, quatro meses atrás, para perceber que era isto que iria suceder, sendo Santana Lopes quem é. E, se isto é verdade, estes quatro meses foram um tempo perdido para o País.
Ou talvez não, pensando melhor.
Agora, a pouca aptidão de Santana Lopes para Primeiro-Ministro foi abundantemente demonstrada.
Agora, como exigia há dias Cavaco Silva, talvez tenha chegado o tempo da entrada em cena de políticos-homens e mulheres de barba rija, em vez de rapazes reguilas e atrevidos.
O unico problema é que ninguém sabe onde eles estão, esses políticos de primeira água ...

sexta-feira, novembro 26, 2004

COERÊNCIA OU TEIMOSIA ? CORAGEM OU SUICÍDIO ?

Impressionante. Intrigante.
Não consigo compreender a persistência teimosa do PCP nos ultimos anos.
Será que a verdadeira questão, o verdadeiro objectivo daquele partido é a coerência com as posições anteriores ?
Será que a virtude extrema de um militante do PCP é permanecer cego e surdo a tudo aquilo que os rodeia ?
Não mudar é, em si mesmo, uma virtude ?
Como explicam os dirigentes do PCP que o partido tenha cada vez menos votos, cada vez menos influência mesmo nos estratos sociais de cuja origem se reclama ?
Que critérios usam esses dirigentes para aferir a adequação das suas opiniões e das suas propostas políticas ? Ou essa questão não os preocupa ?
Que estranho maniqueismo os faz considerar como traição ou colagem ao PS e à direita qualquer crítica interna, qualquer proposta de alteração e adaptação aos tempos modernos ?
Que raio de eficácia política ou social poderá ter um partido que está tão desajustado da realidade como se vivesse noutro país ?
Que estranho autismo os fará manter uma linha política que a história mostrou ter sido catastrófica e criminosa em tantos países do mundo ?
Que espantosa cegueira os faz ignorar os anseios e necessidades das camadas populacionais mais necessitadas e falar como se Portugal em 2004 fosse um país de operários e camponeses ?? Onde é que diabo estão esses gajos ?
E sabem o que é mais dramático ?
É que tenho a convicção de que seria muito importante para o país ter um PCP moderno e ajustado às novas preocupações. Um partido como o PCP seria um tempero indispensável numa sociedade demasiado liberal, demasiado centrada numa política de voragem de destruição, abdicação e rapina.
Um PCP revigorado e actualizado seria tão util ao nosso país como uma URSS, igualmente actualizada e democratizada, seria ao Mundo, em contraponto a uns EUA demasiado impantes e impunes.
Não se trata de trair seja o que for, ou de cedências ou de desvios ... trata-se apenas de inteligência, sensibilidade, capacidade de leitura da realidade e, talvez mais importante que tudo isso, trata-se de interesse genuino pelos mais desprotegidos da sociedade.
Tudo aquilo que Jerónimo de Sousa não vai ser capaz de fazer. Com a indispensável vénia de respeito ao homem que ele é.
Já o disse uma vez e digo-o hoje outra vez : mas porque é que o PCP devia ter um lider diferente, se os outros todos têm os que têm ?

terça-feira, novembro 23, 2004

UMA VIAGEM AO RIBATEJO

Saímos de Lisboa pelas 10 da manhã, eu todo engaiolado numa caixa de plástico com muitas frestas que me permitem ver a rua e as pessoas. Não fazia a mínima ideia para onde íamos, a mim ninguém diz nada por mais que eu mie a reclamar. Fosse como fosse, foi agradável a viagem : a minha dona tirou-me da caixa e deitou-me no seu colo e eu ia vendo as árvores a passar, lá fora, muito depressa.
Sabem a velocidade que temos de dar quando queremos apanhar um rato ou um pássaro ? Pois eu acho que íamos a andar mais depressa ainda que isso. Não faço ideia de como é possível uma coisa dessas, deviam ver ...
Uma soneca e chegámos. Numa terra do Ribatejo, ouvi-os dizer, mas não me ralei nada, porque me foram mostrar um sítio muito bonito ( o que será um quintal ? ), cheio de ervas, ramos de árvores espalhados pelo chão e muitos cheiros novos ... Tchiiii, aquilo pareceu-me muito grande, mas também é verdade que eu sou pequenito e acho tudo muito grande, porque ainda não sou capaz de correr muito depressa.
Só vos digo que foi a sensação mais maravilhosa que tive até hoje ! A princípio estava um pouco medroso, havia uns arbustos muitoooooo altos e cheios de esconderijos e passagens secretas, mas nunca me afastei muito do meu dono, essa é que é a verdade.
Ele andava a apanhar umas bolas amarelas, de umas árvores que vi com muitas dessas bolas penduradas, e punha-os numa cesta. Não faço a mínima ideia para que quer ele aquilo, nem sequer cheiram bem, as bolas, fui lá cheirá-las e quase espirrei ! Tive que lavar as mãos bem lavadas a seguir, aquilo até sabe mal ! É lá com ele, pensei, eu tenho aqui muito com que me entreter.
O pior foi pouco depois ... de repente, aparece-me à frente, vindo não sei donde, um tipo muito maior e mais velho que eu, preto com grandes malhas brancas. O parvalhão estava todo excitado, pôs-se a falar grosso e a mostrar os dentes, como se me fosse assustar com aquilo ... e a verdade é que assustou mesmo, o estúpido. Lá tive que miar a pedir auxílio ao meu dono : ele olhou e começou a dizer palavrões para o cretino invasor e a correr direito a ele, enquanto me pegava ao colo. O outro, o herói ribatejano, só teve tempo para fugir dali, a vociferar e a bufar . Bem feito, este meu dono ainda serve para alguma coisa ! Ouvi-o depois ( ao meu dono ) a dizer não sei quê de gatos territoriais, mas achei aquilo uma grande léria. O outro tipo deve ser é mesmo parvo de todo, que mal lhe ia eu fazer ?
Bem, com aquela mania das explorações, tinha-me esquecido de comer, o que raramente me acontece. Fui reclamar à minha dona ( acho que ela é que me sabe compreender quanto a essas coisas ) e lá me serviu um magnífico prato com bocadinhos de uma coisa muito saborosa a que ela chama peixe. Não sei bem se é peixe se é pescada, porque já a ouvi dizer as duas coisas... se calhar, ela não sabe bem o nome e diz outro qualquer, de vez em quando. Aquilo é mesmo bom, seja uma coisa ou outra, não tenho querido comer mais nada ... A não ser, claro, para acompanhar, um pouco de um líquido cheiroso e saboroso, parecido com aquilo que eu chupava na minha mãe. Também gosto muito disso.
O meu dono prefere um líquido, também, mas o dele é umas vezes quase preto, outras vezes quase amarelo, ainda não percebi porque é que ele muda de côr.
Bom, não vos quero maçar mais ... daí a um bocado, lá fomos outra vez para aquela casa esquisita que anda muito depressa. Desta vez, nem sequer me puseram na caixa que eu odeio, fui directamente para o colo da minha dona.
E sabem que mais ? Adormeci logo, estafado com as correrias e saltos. Quando acordei já estava na minha casa verdadeira outra vez, estoirado de todo, sem sequer conseguir abrir os olhos ( ainda não tenho 2 meses, é preciso ver ) ... mas feliz com aquela aventura.
Aquilo de andar “à solta” deve ter as suas compensações ... tenho de lá voltar !

domingo, novembro 21, 2004

ABAIXO O SUOR NA EDUCAÇÃO !

Psicólogos, pediatras, pedagogos e sei lá mais quantos “sábios” vieram a terreiro desancar nos professores que se atrevem a mandar os meninos e meninas fazer trabalhos em casa ( TPC ). Pobrezitos, desunham-se a estudar a sério durante todo o santo dia, empenhados, entusiasmados, sem tempo sequer para limpar o suor que lhes cai rosto abaixo, enquanto escrevem e lêem nas salas de aula e depois ainda têm que ir para casa fazer TPC !!
E gastam nisso cerca de 5 horas por semana ! CINCO !!
Já viram ? Vejam lá se no resto da OCDE é assim ... é o tanas, claro : na média da OCDE trabalha-se MUITO MENOS, cerca de 4 horas e 36 minutos !! Faz toda a diferença, são cerca de uns longos 5 minutos por dia de diferença, o que é COLOSSAL !
Sinceramente, dou toda a razão aos “sábios” que levantaram esta questão. Os nossos jovens são autenticamente massacrados nas escolas, obrigam-os a trabalhar de uma forma desumana. E depois, para quê ? Não somos nós já dos melhores da Europa, se é que não do Mundo ? Pelo menos em Matemática, Física, Informática, Línguas ( incluindo o Português ) .... temos sempre as melhores classificações nesses concursos internacionais, como os Jogos Olímpicos da Matemática e outros ...
Eu iria até mais longe : proibia os TPC ; acabava com todos os exames, locais e nacionais ; proibia os professores de fazer testes escritos ou orais ( já pensaram no stress que isso provoca ? ) e, finalmente, decretava que só havia escola três dias por semana. Desses três dias, um deles seria obrigatoriamente dedicado ao futebol ou ao teatro, conforme as inclinações dos alunos.
Afinal, andar ao pontapé uns aos outros e a fazer de conta que somos um povo decente é aquilo de que mais precisamos ao longo da vida, não é ?
Então ? 'Bora nisso ?

sábado, novembro 20, 2004

DOUTORES EM ECONOMIA, POLÍTICOS ... E NÓS, OS CRIMINOSOS CONSUMIDORES !
( texto não aconselhável a pessoas impacientes ou àquelas que apenas gostam de ver a quinta não sei de quem )

Todos sabemos que a política, em democracia, é uma espécie de equilibrio na corda bamba, em que se perdem votos, frequentemente, quando se tomam boas decisões e, ao invés, se é recompensado com a confiança acrescida das pessoas ao tomar decisões estratégicamente erradas. A esta ultima táctica chama-se demagogia, toda a gente sabe isto.
Já alguma vez pensaram, porém, quem é que avalia, com rigor e isenção, se uma determinada decisão política é ajustada, errada ou apenas demagógica ?
Não é problema menor, responder a esta questão. Bem vistas as coisas, uma decisão política é sempre correcta para os correligionários do governo que a tomou e normalmente errada para os seus opositores. No caso de não a poderem baptizar de errada, então chamam-lhe demagógica. Ou seja, não é má em si mesmo, mas está-se mesmo a ver que foi tomada só para ganhar votos.
O povo, esse, habituado a estas questões, está-se nas tintas para a eventual demagogia : toda a gente sabe que em vésperas de eleições é que se resolvem os problemas...Há mesmo quem afirme que as eleições deviam ser feitas todos os anos, por esse motivo !
Não me compete defender este governo que temos agora. Nem nenhum outro, para ser verdadeiro. Como muitas outras pessoas, não gosto mesmo do “cheiro” que este poder político emana.
Mas ... baixar o IRS é bom, mau ou demagógico ? Desbloquear o acesso às contas bancárias é bom, mau ou demagógico ? Aumentar os funcionários públicos é bom, mau ou é demagógico ?
Das críticas que têm vindo a aparecer ao projecto de orçamento para 2005, entre elas as do Banco de Portugal, retiram-se as seguintes ideias :

--> Não há margem de manobra para baixar impostos ... ou, noutra versão, a baixa dos impostos não existe, de facto ;
--> O consumo está a aumentar – e irá ainda aumentar mais, com este orçamento – quando o que devia aumentar era as exportações ;
--> Não podemos ainda deixar de nos preocupar com os déficits orçamentais, e este orçamento não cuida disso ;
--> Nesta fase do ciclo económico, em que começa a haver algum crescimento, deve reforçar-se a contenção e a consolidação das contas e não alinhar no “esbanjamento” como aconteceu no guterrismo.


Pessoalmente, acho um piadão a estes doutores da pseudo-ciência económica. Esquecem-se, quase sempre, que os actores da economia real são pessoas e não numeros, e ficam muito admirados e escandalizados quando essas pessoas ( que para eles são apenas variáveis de um sistema ! ) resolvem não proceder como eles previram ou gostariam.
Agora a grande algazarra é contra os consumidores, que decidiram começar a consumir coisas ( automóveis, TVs, casas, que sei eu ... ) antes deles dizerem “Já podem !” ....
É que assim, as importações aumentaram muito mais que as exportações e isso é horrível, dizem eles ! Não é sustentável !
Mas que culpa têm as pessoas que cá em Portugal não se produza nada a não ser receber turismo ? Vamos todos ficar à espera que se resolvam a aumentar as exportações antes de comprar casa e carro e rádio e televisão ? E isso é que seria bom para a economia ?
Ora deixem-se de tretas para-científicas, sim ? Não são os consumidores que devem resolver os problemas estruturais do país, são eles, os políticos, auxiliados pelo Banco de Portugal e outras digníssimas instituições. E são os empresários, também.
Mas já alguma vez, em algum país do mundo, os economistas e analistas financeiros e políticos ajudaram a criar o que quer que fosse ?
E quanto a contenções salariais, que o senhor dr. Vitor Constâncio tanto se afadiga a recomendar, vivamente, nos ultimos anos, apetecer-me-ia aconselhá-lo a começar por si e pelos outros administradores do Banco de Portugal. O exemplo tem sempre muita força, sabe ? Mas se calhar vão dizer que isto é demagogia da minha parte ...
Conclusão : não temos um governo capaz, é certo, mas esta oposição e estes técnicos das coisas económicas também não nos dizem para onde devíamos ir, pois não ?

sexta-feira, novembro 19, 2004

O PIPOCAS E OS TRÊS LIDERES QUE TEMOS

Está decidido. Após “auscultação consensualizada” ( ?? ), como diz o comunicado do PCP, resolvemos dar o nome de PIPOCAS ao nosso jovem gatinho. É amarelo e branco, como elas, e tem uns olhos doces. O nome é sonoro e fácil de dizer. Fica, pois, PIPOCAS.
Como não vamos realizar um congresso só para ratificar este nome, fica assim e pronto. Nem mais é de esperar num país onde nem sequer o governo foi eleito.
Voltando ao início, já leram ou ouviram o comunicado do PCP ? Parece que Jerónimo de Sousa vai mesmo ser o futuro secretário-geral daquele partido.
Claro que têm todo o direito de escolher Jerónimo de Sousa para liderar o partido. Também o PSD escolheu Santana Lopes e o PS elegeu José Sócrates.
Três escolhas ambíguas, discutíveis, sem esperança nem emoção. Lembram-se de Sá Carneiro, Soares e Cunhal ? Meu Deus, até onde iremos descer ?
Nenhum destes homens é, aparentemente, aquilo que o seu partido mais precisaria. Ou mesmo aquilo que o país exigiria. Mas todos eles são, certamente, aquilo que os seus partidos merecem actualmente... e, se calhar, o mesmo se aplica quanto ao país.
Já notaram que continua a imperar o domínio da imagem, da comunicação social, do tipo que já tem um nome feito e conhecido ? Até o PCP já aderiu à moda de escolher um lider mediatizado e mediatizável.
Enfim, é assim que somos, que havemos de fazer ?
De qualquer forma, vai ser giro observar as discussões destes três candidatos à liderança do país ( mais dois que o terceiro, embora ), já que nenhum deles tem nada no seu interior parecido a um projecto estruturante, uma ideia de futuro, um sonho sequer.
Nada. Todos eles são especialistas do vazio mediatizado, da palavra ôca e sem sumo.
Vão ser mais uns anos perdidos, os próximos.
Uma vez mais, Portugal adiado.
Entretanto, viva o PIPOCAS !

quinta-feira, novembro 18, 2004

NÃO É SÓ NO REINO DA DINAMARCA ...

Estas discussões na Assembleia da República são uma enorme perda de tempo para os deputados e de dinheiro para os contribuintes. Ninguém nunca nos espanta com uma posição original, independente da estratégia do seu partido, algo de pessoal. É sempre a mesma troca absurda de argumentos a que ninguém liga. É uma coisa enfadonha, sem garra, sem imaginação e sem paixão. E também sem futuro, não acredito que esta monotonia e ineficácia se possam manter por muito mais tempo.
A disciplina partidária obriga o deputado a ter uma opinião única, a do seu partido. Dizem os defensores desta prática que, de outra forma, os partidos ficariam ameaçados, sem nunca poderem definir e aplicar com segurança uma estratégia integrada na sua luta.
Pois é, isso é o que eles dizem.
O que eu digo é que isto é revoltante, repugnante mesmo. Estou farto de ver senhores tipo DVD ( é preciso actualizar aquela da cassette, não acham ? ), muito bem postos, todos a dizer o mesmo, em cada um dos partidos. Se assim é, para que serve uma discussão na Assembleia ? Só para fingir que os problemas são discutidos ?
Confesso, hoje, agora e aqui : não tenho o mínimo respeito pela Assembleia da República. Nunca consentiria em ser deputado.E não me culpem, se ficarem chocados com a afirmação. Culpem-os a eles, aos senhores deputados, e a todos os dirigentes partidários que deixaram desprestigiar completamente aquela casa.
E nem sequer percebem isso, nem sequer sabem o que pensam deles as pessoas que dizem representar.
Mas nada disto é para admirar, de facto. A vida política nacional está em degradação acelerada, cheira a pôdre por toda a parte. Poucos orgãos são respeitados, há uma sensação vaga de que todos podem fazer o que quiserem, porque ninguém tem poder, verdadeiramente. Os tribunais estão desacreditados ; a Assembleia é uma farsa ; o Governo dá uma sensação de irrealidade, ninguém aposta nele a sério ; os hospitais ou não conseguem atender as pessoas doentes ou provocam-lhes a morte ; as escolas vivem o seu dia-a-dia a fingir que ensinam alguém ; as finanças cobram dinheiro aos pobres e ignoram os ricos ; as televisões e os jornais despedem quem lhes não agrade ; a Alta Autoridade para a Comunicação Social diz que houve pressão ilegitima de um Ministro deste Governo sobre a TVI e os deputados da maioria assobiam para o ar e dizem que não concordam ....
No meio disto tudo, o senhor Presidente da República preocupa-se, honra lhe seja feita, e a Associação 25 de Abril promove um colóquio sobre a democracia ...
Sabem o motivo de tudo isto ?
Os homens e mulheres do meu país deixaram de ter valores e ética. Passaram a ter partidos e sindicatos e associações patronais e coisas dessas, mas perderam a vergonha, a honra, a modéstia, a sinceridade, a espiritualidade, a verticalidade e tantas outras coisas.
A hora é dos mercadores de bens e de almas. A hora é dos vendilhões do templo. E o pior de tudo é que já não vejo nenhum Jesus Cristo que os expulse das nossas vidas.

segunda-feira, novembro 15, 2004


UM NOVO AMIGO
Pois é : já tenho aqui em casa um novo inquilino, a quem vou fornecer cama, mesa e pêlo escovado em troca da sua amizade e companhia. É amarelo(a) e branco, tem um mês e meio ( nasceu a 30 de Setembro ultimo ) e veio do Estoril... Tinham-nos dito que era uma menina, e demos-lhe o nome de Lili, dado tratar-se de uma gata da linha, né ? Acontece que, afinal, parece tratar-se de um garboso mancebo e estamos ainda indecisos quanto ao nome ...
É muito corajoso e voluntarioso, já trepa às camas e salta delas abaixo, começou a comer sólidos hoje mesmo ( uns pedacinhos de peixe que o deixaram de cabeça à roda ... ) e tem um feitio alegre, falador ( mia muito ! ) e sociável.
Se quiserem, podem sugerir nomes para o bichano. Estão a vê-lo aí em cima, não estão ?
Claro que tenho ainda muito vivas as recordações do Cenoura, uma amizade de dois anos e pouco, e até me sinto um pouco a "trair" essa mesma amizade. Sério, é estranhíssimo que essas emoções aconteçam nas nossas relações com bichos e não só com pessoas.
Achámos, porém, que adoptar um novo gatinho seria o melhor remédio para a tristeza que foi a perda do Cenoura.
E parece dar resultado, a minha filha anda feliz com o bichano e eu, eu ando com ele ao colo e até lhe ponho uma manta de lã por cima, para ele dormir quentinho !
Vamos ver se consigo convencer este fulaninho que os dentes e as unhas dele e a minha pele não são lá muito compatíveis. E que essa incompatibilidade também existe em relação à pele dos sofás e ao tecido dos cortinados...
Ir-vos-ei dando notícia do desenvolvimento do jovem felino. Por enquanto, dorme beatificamente dentro da sua cesta, aqui junto a mim, como se nada no Mundo o pudesse ameaçar.

sábado, novembro 13, 2004

DESGARRADA ESQUIZOFRÉNICA

Para que serve este congresso do PSD ?
Afinal, os impostos vão descer em 2005 ? Ou só em 2006 ? Ou não vão mesmo descer ?
A proposta de orçamento de estado para 2005 é despesista, de contenção ou demagógica ? Este nosso primeiro-ministro é mesmo a sério ou é só uma imagem virtual ?
Marcelo Rebelo de Sousa foi ou não “empurrado” para fora da TVI ?
A liberdade de imprensa está em risco em Portugal ?
O senhor presidente da república continua ou não preocupado ?
Álvaro Barreto acha que Paes do Amaral apenas fez aquilo que todos os empresários fazem, e que é não hostilizar o poder político. Não se tratou, pois, de pressão sobre Marcelo. Álvaro Barreto pensa que nós somos estúpidos ? Ou é ele que está xoné ?
Jerónimo Sousa vai ser o novo líder do PCP ? Vai mesmo ??
Guterres quebrou um silêncio de 3 anos para dizer que a vida política portuguesa actual mais parece um reality show ... não deve mesmo gostar nada de reality shows, para dizer isto !
Os palestinianos enlouqueceram e invadiram o funeral da Yasser Arafat... aquelas imagens quase desfizeram, em breves minutos, aquilo que Arafat levou uma vida inteira a fazer : a credibilidade da Palestina para vir a ser um Estado soberano.
Um muçulmano extremista quase degolou, em plena Amsterdão, o realizador Van Gogh, só porque este filmou um documentário denunciando a forma ignóbil como o islão trata as mulheres. Ou pelo menos como certos muçulmanos o fazem, invocando o islão.
Esta acção, pretendendo ser de vingança e de defesa da dignidade, apenas confirmou aquilo que Van Gogh denunciara : a coberto da religião, há formas de pensar e de actuar que não podem ser albergadas e toleradas na Europa. Nem se calhar no resto do Mundo.
E por aí fora, assim vai este país e este mundo, a caminhar apressadamente para a insalubridade mental.

terça-feira, novembro 09, 2004

BOLAS, QUE MAIS ME IRÁ ACONTECER ??

Nos ultimos dias tem sido uma avalanche de coisas desagradáveis : a revolta dos electrodomésticos, para começar, com as baixas do aspirador e da máquina de lavar roupa que tive que substituir. Não sem antes percorrer dezasseis lojas de electrodomésticos : umas não têm para entrega, as outras entregam mas não recebem ( os equipamentos velhos a substituir ) e ainda há aquelas que não têm nada em armazém nem parecem interessadas em encomendar ... enfim, Portugal, não é ?
Depois, o cartão do multibanco que se recusou a funcionar, obrigando-me a ir ao banco pedir outro e a resmungar com os tipos que, em pleno século XXI, são incapazes de produzir cartões com tarjetas que não se desmagnetizem.
Pelo meio, mais uma escritura, naquele edificio gigantesco que é a sede da CGD em Lisboa : burocracia, atrasos, calor dentro da sala em pleno Novembro...
Que mais ? Ah, uma mini-viagem meio de aventura que tinha combinada com pessoa amiga foi para as urtigas, inesperadamente, na véspera da largada ...
E ainda falta algo ... ah, sim ... da clínica veterinária telefonaram a dizer que a gatinha que nos tinham prometido tinha metido requerimento para ficar a mamar na mãe durante mais uns dias. Que havia de fazer ? Deferi o requerimento e tive de aturar a desilusão da minha filha que anda impacientíssima para ter a gatita cá em casa.
Como vêem, só chatices, desilusões, frustações. Ehehehehe ...Só duques, com este jogo não vou longe.
E não sei se notaram que, no meio destas coisas chatas todas, nem sequer falei do Governo e dos seus actos esquisitíssimos. Nem do n_ésimo ataque americano a Falluja, destinado ao êxito estrondoso dos anteriores, certamente. Nem de mais uma brilhantíssima dissertação política desse portento intelectual que é o sr. Ministro das relações parlamentares.
Náaaaa ... desta vez, para me chatear, bastou uma máquina de lavar roupa que desatou a fazer disparar o disjuntor geral do meu quadro eléctrico ...
Grrrrr ... que raiva, pá !!

segunda-feira, novembro 08, 2004

CADA VEZ MAIS EGOISTAS E INDIFERENTES ?

O mundo está esquisito. Todos os dias, a todas as horas, somos bombardeados com violência, com sangue, com mortes, com a fome, com actuações autoritárias ... é uma verdadeira orgia permanente de sangue, suor, lágrimas e horror.
Esta é uma das consequências da tremenda velocidade com que as notícias circulam em todo o Mundo.
Qual vai ser, a prazo, o efeito destas realidades que todos os dias nos entram pela casa adentro ?
Vai ser ...

(a) uma maior tomada de consciência dos males que afligem o mundo e consequentemente uma atitude mais participante das pessoas ?
(b) uma progressiva banalização do horror, e, consequentemente, a indução de uma atitude cada vez mais passiva e desinteressada das mesmas pessoas perante esses problemas ?

Não sei se será hoje possível responder claramente a esta pergunta. Mas é pelo menos possível especular, aduzindo argumentos.
Por mim, acho que todo este imenso show permanente não irá conduzir a nenhuma atitude positiva de reacção. Quando o medicamento é ministrado em overdose, o máximo que se consegue é uma intoxicação.
E se assim for, a violência cada vez será maior, por ausência de oposição e indignação, perante rebanhos de seres humanos cada vez mais apáticos e egoístas.
Será este o cenário previsível do nosso futuro ?

domingo, novembro 07, 2004

UM FIM DE SEMANA FEITO DE NADAS

Este foi um daqueles fins de semana em que, tudo pesado e bem visto, não fiz nada. Li, vi cinema, fui às compras, jantei fora na sexta feira ... mas a minha sensação é de que nada se passou. Conhecem esta sensação, não conhecem ? Quando tudo o que se faz sabe a rotina e a dejá-vue. Quando nada de excitante acontece, como por exemplo aquela balzaquiana jeitosa que mora ali em frente perguntar-me se quero jantar com ela ...Enfim, entendam isto como um exemplo, apenas, ehehehehe ...
Percebem ? Não aconteceu nada este fim de semana.
O melhor de tudo, afinal, foi aquele franguinho assado, que comi ao jantar com a minha filha, num pequeno restaurante ao pé de mim. Nada de fantástico nem sofisticado : apenas um frango assado, muita salada e algumas batatas fritas. Aaaahhhh, e meia garrafa de um vinho tinto que não envergonharia ninguém, embora fosse correntíssimo de lineu. E uma boa cavaqueira, daquelas que só se tem com alguém que nos é muito querido.
Tive em seguida uma trabalheira danada a convencer a minha filha a ir ver um filme português que eu vira recomendado ... Sabem como é, os filmes ( e outras coisas ) portugueses não são lá muito entusiasmantes, pois não ?
Lá acabámos por ir. Fiquei de lhe pagar uma coima se ela não gostasse ! Já vêem como a cultura é dificil em Portugal !
O filme não é mau, não senhor : Noite Escura. Uma estória diabólica, de um casal que explora uma casa de alterne e que acaba por vender uma filha, carne para prostituição, como pagamento de uma dívida a uma mafia de leste ...
Linguagem vernácula, como se imagina, sangue, champagne, meninas e pseudo engatatões, o lado sórdido e miserável do negócio, uma boa direcção de actores ( pareceu-me ), uma montagem influenciada pela linguagem entrecortada dos clips musicais, um certo ar de fábula teatral tal o numero de cadáveres e outras tragédias tudo na mesma noite ... mas enfim, come-se, como dizia um amigo meu ( que por sinal falava de outras coisas que não cinema, quando usava essa frase ).
Bom, hoje ... hoje ? que raio me aconteceu hoje ? Deixa ver ... fui às compras, levámos algumas para casa da minha filha, fui depois lavar o carro ( gosto daquele sistema de sermos nós próprios a lavar o carro ), bebi um café, e ... pronto, era noite.
Ainda olhei para o televisor, o Benfica ganhava ao Setúbal ( devem estar doentes, aqueles tipos do benfica ! ) e mais nada, aqui estou a alinhavar esta crónica.
Esta crónica do nada.
Até amanhã, minha gente.

sexta-feira, novembro 05, 2004

A INCONTORNÁVEL E INCOMPREENSÍVEL REELEIÇÃO DO SR. BUSH

É incontornável. Ainda que eu queira esquecer e fingir que não sei de nada, a realidade é omnipresente e agride-me : Bush foi reeleito. Vamos ter de aturar Bush durante os próximos 4 anos.
Como é possível ?
Procurei hoje respostas. Como ? Porquê ?
Pelo que li, mesmo os analistas norte-americanos estão sem respostas. Fizeram-se sondagens, estilo "o que mais o motivou para ter votado Bush ?" ... e sabem quais foram os resultados ? A causa isolada mais vezes invocada foi "por uma questão dos valores que defende", em 22% dos casos. Depois, em muitos por cento, também, por causa da maior credibilidade na luta contra o terrorismo...
Leram bem ? Tornem a ler, vá ...
Agora pensem comigo : então um tipo que (a) se cortou de ir para o Vietnam, usando a influência do paizinho, para uma guerra com que concordava ( mas que a fizessem os outros ) e que (b) mentiu descaradamente quanto aos motivos da guerra contra o Iraque e mais (c) andou completamente desnorteado e em fuga enquanto as torres ardiam e colapsavam ... então (d) um tipo que deixa andar à vontade o Bin Laden, o inimigo declarado nº 1 e se dedica a invadir um país onde ele não está e que nem sequer o apoia ... então um fulano destes é votado POR CAUSA DOS SEUS VALORES e da SUA CREDIBILIDADE na LUTA ANTI-TERRORISTA ????
Por ultimo, os analistas americanos, falam do chamado "teste da cerveja", que significa que os americanos tendem a votar no homem com quem mais à vontade se sentiriam a beber uma cerveja... E Kerry tem um perfil um pouco snob e assustador para esse americano médio, amante de cerveja e de um amigo a beber com ele ...
Bush sairia assim beneficiado do teste da cerveja, pelos vistos !
Maior estupefacção ainda : mas ele, Bush, nem sequer bebe cerveja, acha que beber uma gota de álcool é pecado !
Minha nossa, como diriam os amigos brasileiros, esta barra é mesmo pesada de compreender : não há nada a fazer contra esta lógica da América profunda e interior.
Estes eleitores tem todo o direito de ter votado como votaram, claro, mas a verdade é que vamos ter que aturar mais quatro anos o homem que descobriu ( e declarou ) que a maior parte das importações americanas estava a vir de fora.
Estes eleitores tem todo o direito de ter votado em quem julgam que os defende, mas a verdade é que vamos continuar a ouvir Bush declarar "Bin Laden, morto ou vivo", enquanto vai invadindo mais um ou dois países que não têm nada a ver com isso.

Não consigo compreender, que querem ?

quinta-feira, novembro 04, 2004

UMA HISTÓRIA DE JOBS PARA OS NETOS

Hoje, na sua crónica do Público, Eduardo Prado Coelho dá conta, embevecido, que Artur Maurício, seu velho amigo dos verões de S. Martinho do Porto, tomou posse como presidente do Supremo Tribunal Constitucional. Mais à frente, no fim da crónica, pergunta-se, ao olhar para o neto, “de que virá ele a ser presidente. As crianças que correm à nossa frente serão reitores, dirigentes de empresas, treinadores de futebol” ...
Pois é , estes senhores são tão cristalinos, puros ... e elitistas nos seus pensamentos que até arrepia. Por detrás destas palavras de EPC está um mundo inteiro de injustiças e de desigualdades, das quais ele parece nem se dar conta.
Porque raio é que o neto dele há-de ser presidente seja do que for ou dirigente de uma qualquer empresa ?
Porque carga de água é que ele tinha o direito de andar em Letras e passar férias tranquilas e divertidas em S. Martinho do Porto, enquanto outros comiam o pão que o diabo amassou e as unicas férias que conseguiam era na Guiné, Angola ou Moçambique ?
Que espécie de alquimia social e política faz destas pessoas hoje seres de esquerda, fazedores de opinião de certos estratos intelectuais do nosso país ?
Que sabe ele, EPC, de injustiças, falta de liberdade, ausência de oportunidades, luta por um lugar ao sol ?
Claro que sabe pouco dessas coisas todas e o que sabe é por ouvir dizer ou por ler.
Porém, acho que EPC pouco se importa com isso.
A razão está do seu lado, é forçoso reconhecê-lo : o seu neto há-de mesmo vir a ser presidente de qualquer coisa ou dirigente de uma grande empresa, enquanto que o meu neto e o neto ali do Zé da Esquina, vendedor de jornais e cautelas, hão-de continuar a ser presididos ou dirigidos pelo neto de EPC ...
Noblesse oblige não é ?
Afinal, continuamos todos a estar condenados ao nosso destino, logo à partida. Inexoravelmente.
Inapelavelmente.
Com muito poucas excepções.
Por isso, EPC tem razão na sua crónica.
O que ele finge ignorar é que essa razão se alimenta de uma enorme injustiça e explica a ineficácia deste nosso país no seu conjunto.
É que nada garante que o neto de EPC venha a ser mais competente como dirigente ou presidente ou reitor do que o meu neto ou os netos de todos os Zé da Esquina deste país.
Antes pelo contrário : há muitos mais netos de Zés da Esquina neste país que netos de EPC.
Simples análise probabilística.
Mas a verdade é que o neto de EPC já tem mesmo o job garantido, essa é que é essa, e eu ... nem sequer tenho um neto, ainda, imaginem !

terça-feira, novembro 02, 2004

UMA CLÍNICA LISBOETA, PERDÃO : POLICLÍNICA !

Conhecem essas clínicas privadas que foram instaladas em apartamentos inicialmente destinados a habitação ? Lisboa está cheia dessas clínicas, ou policlínicas, como lhe chamam, vangloriando-se das consultas a duas ou três especialidades médicas.
À entrada do prédio há sempre um destaque especial para o 2º Dto – Policlinica do Rato, ou coisa do género. No cimo das escadas, transposta a normal porta de um andar, depara-se-nos um guichet minúsculo, obra-prima de desenho arquitectónico do primo do sócio principal da clínica. Perdão, da policlínica.
No guichet preenche-se uma ficha de cliente, não esquecer o numero do cartãozinho de saúde ( é ADSE ?? ). Ou sorrimos de felicidade, se já somos clientes e não precisamos de preencher o raio dos impressos.
Depois, temos um antigo quarto de dormir ou dois, transformados em sala de espera. Pintura a branco, uns bancos de plástico ao longo das paredes, um ou dois aparelhos de TV com imagem mas sem som ( sempre estamos numa clínica, não é ? ), uma mesa baixa com meia dúzia de “Máximas” e de “Vips” da “saison” passada ...
Sentadas, várias pessoas com ar de poucos amigos, como se estivessem todas terrivelmente doentes e não o quisessem dizer a ninguém. Velhas folheiam revistas de modas que não lhes devem dizer absolutamente nada.
Porque será que a maioria de pessoas nestas clínicas ( perdão, policlínicas ) é constituida por mulheres ? Apenas porque há mais mulheres ou será que elas são mais doentes ? Ou são tão doentes como os homens mas queixam-se e preocupam-se mais ? Aceitam-se opiniões ...
Um dos médicos assoma á porta da sala de espera e sussurra : Dª Felismina Silva . É ele, o clínico, que faz a chamada dos seus pacientes, numa acumulação de funções que diz muito sobre a política de emprego da clínica... perdão, da policlínica.
Adiante. Uma senhora de idade ( ehehehe, pr’aí da minha idade, mas muito mais velha ! ) veste uma camisola de lã, mais um casaco também de lã e, por cima, um casaco comprido de fazenda grossa, preta. Chove lá fora, mas aqui dentro da sala está calor. A mulher primeiro despe o casaco comprido, despe e tira o outro casaco de lã interior e volta a vestir o casaco comprido. Daí a minutos despe também o casaco comprido e põe-o pelas costas ...Mau, mau ...mais um pouco e tenho que aturar a velha a fazer strip-tease, não ?
Ao fim de duas horas ( o senhor doutor vem hoje mais tarde ) lá chamam a minha filha. Bem, talvez escape ao strip-tease.
Agora, deambulando pela sala, anda uma rapariga de 29 anos, desengraçada mas algo exibicionista. Sei a idade dela porque atendeu pr’aí uns 4 ou 5 telefonemas, repetindo sempre “obrigadinho, obrigadinho”, com um ar vagamente compungido e desanimado que eu não estava a perceber. Até que lhe ouvi : pois é, é o ultimo da casa dos 20, para o ano já terei 30, estás a ver ?
Fiquei mesmo com pena da moça, claro. Não pelos 29 anos, mas pela parvoíce que já não devia ter naquela idade. Com medo dos 30 ????? Meu Deus !
Bom, estava a ver que, depois de escapar ao strip-tease da outra velha ainda tinha que ir pagar um copo a esta velha prematura de 29 anos, tão em baixo a rapariga estava ... Mas não, a minha filha entretanto saiu da consulta, com uma data de papéis a esvoaçar nas mãos e proclamando “Cá comigo é sempre rápido, já tá !” ....
Afinal, ainda não tava tudo, eram precisas ainda cerca de trinta e nove vinhetas e códigos de barras e outros carimbos destinados a garantir a idoneidade do clínico e da clínica.
Perdão, da policlínica.
E aí têm a minha tarde de terça-feira, 2 de Novembro de 2004.
Confesso que só depois me lembrei do significado especial deste dia na nossa cultura.
Recordei então pessoas queridas que vivem ainda na minha memória. :(
Possivelmente, tal como você, leitor.
Vivamos, então, com as nossas mágoas e alegrias.

domingo, outubro 31, 2004

FIM DE TARDE NA TRAFARIA

O Tejo estava hoje rabujento, quezilento, com má cara. O vento encrespava-o em pequenas ondas irrequietas e toda a gente sabe que ele, Tejo, não gosta mesmo nada desse mexe-que-mexe que o desgasta. O céu também não ajudava nada, indeciso entre o cinzento de chumbo e um branco sujo, ambíguo e pouco duradouro.
Ainda assim, fora do conforto do carro, o ar frio soube-me bem, na cara e nas mãos e o cheiro do Tejo inundou-me de reminiscências de outras épocas e outras felicidades. Eram cerca de cinco horas da tarde e a noite já espreitava, esta hora de Inverno é uma chatice tramada !
Enfim, conhecem a Tasquinha do Aires, na Trafaria ? Se não conhecem, deviam conhecer. Nada como uma saladinha de polvo ou uma morcela assada, acompanhada por um vinhito verde tipo turista mas que, assim mesmo, me soube muito bem.
Juntem ao Tejo e à morcela a companhia e a conversa alegre de pessoa amiga e terão um bom fim de tarde na outra margem do Tejo ...
Sabem lá vocês quão precisado eu ando desta frescura do Tejo e de uma risada simples, inconsciente e cúmplice !
Viva a morcela e o vinho verde a martelo da Tasquinha do Aires, caramba !
QUEM PERMITE - OU IMPEDE - O AUTORITARISMO SOMOS NÓS !

Leitor, alguma vez perguntou a si próprio como é que se faz para instalar um regime ditatorial num país qualquer, seja ele a Alemanha de Hitler, a URSS de Estaline, a Itália de Mussolini, a Espanha de Franco ou o Portugal de Salazar ?
Claro, vai-me responder que a força, a repressão, a violência desempenham um papel essencial nessa transformação. O que é verdade.
Mas há aspectos mais importantes a reter. Há circunstâncias que não podem ser escamoteadas, por mais incómodas que possam ser : a verdade é que qualquer ditador se ergue sobre o silêncio, a cobardia e o egoismo da imensa maioria das pessoas. No início destes processos, o ditador não dispõe, regra geral, de força física ou política para amordaçar uma nação inteira. O que faz, então, é identificar alvos parcelares, bem seleccionados e procura eliminá-los, tão silenciosamente quanto possível. Se a reacção for diminuta ou controlável, o candidato a ditador repetirá o processo em relação a outro alvo, com os mesmos pézinhos de lã ...
Entretanto, muitos cidadãos notam essas iniciativas e pode acontecer que encolham os ombros, convencidos que não é nada com eles. Outros calam-se porque pura e simplesmente têm medo e nunca farão nada que afronte o poder. Poder nenhum. Outros ainda resolvem alinhar com o ditador tirocinante, na mira de umas migalhas que vão caindo...
E o ditador em potência continua a sua marcha, cada vez mais forte e impune. E cada vez mais cidadãos se calarão, por medo, egoismo e conveniência. E cada vez mais será dificil a alguém erguer a voz e denunciar o ditador.
Até que, sem se dar por isso, o candidato já não é candidato, é mesmo ditador. Colocou gente da sua confiança nos locais que controlam a opinião pública, distribuiu benesses criteriosamente a pessoas que lhe irão retribuir os favores, intimidou a maior parte da população e fez calar, com maior ou menor violência, os poucos que tentaram desmascará-lo.
Nesta altura, quem disser mal dele é subversivo e traidor á Pátria, está concluido o processo.
Percebido, leitor ? Se é que tinha duvidas quanto a este mecanismo...
Pois bem, qual é a moral da história ?
É muito mais fácil impedir um tiranete de chegar a ditador do que desalojar um ditador encartado. Para impedir essa progressão, basta NÃO FICAR COM MEDO E CONTINUAR SEMPRE A DENUNCIAR TODAS AS TENTATIVAS PARA NOS CALAR.
Por isso, leitor, em toda a parte, no trabalho, no café, no bar ou até ... na cama, seja com quem for que se encontra, não deixe de afirmar a SUA verdade. Mesmo que lhe chamem chato. Mesmo que a voz lhe doa. Mesmo que a pessoa injustamnete perseguida não seja da sua simpatia ou da sua cor política ou do seu partido.
Seja qual for a sua opinião, por favor, NÃO SE DEIXE NUNCA AMEDRONTAR E CALAR !

quinta-feira, outubro 28, 2004

ENTÃO SOMOS TODOS POLÍTICOS, CARAMBA !

Cada vez é mais dificil sentir-me bem nesta cidade onde vivo, esta Lisboa desencantada e desventrada, ou mesmo no meu país, desacreditado, medíocre, estagnado.
Tempos houve em que sonhei, ajudei a reconstruir, vibrei com as esperanças que se abriam. Nesses tempos éramos muitos, homens e mulheres sem sono e sem cupidez, generosos e embriagados de liberdade ... Não sabia ainda, nessa época, que a podridão de espírito custa assim tanto a limpar, que as nódoas são teimosas e aparecem de novo, mal se lhes dá uma aberta, que o fedor da mesquinhez e da corrupção nunca desapareceria completamente das ruas e de muita gente do meu país ...
Agora, nesta fase da minha vida, a raiva e a indignação ainda persistem, é certo, mas mais do que tudo sinto um enorme desalento, um cansaço que vem do fundo da alma e que não vai passar, sei-o bem.
Nós, os portugueses, somos mesmo assim tão pequeninos, tão miseráveis por dentro como aparentamos ? Se não somos, porque nos encarniçamos tanto em parecê-lo ?
Por que motivos singulares andamos décadas – séculos, que digo eu ? – a discutir temas como a saúde, a educação, o crescimento económico, a circulação nas estradas ... tudo, enfim, sem conseguir fazer NADA DE JEITO em nenhum destes domínios ?
Nem com laivos socialistas nem com trejeitos liberais. Aparentemente, a única coisa para que temos algum jeito é para a intriga, a baixa política, a defesa dos interessezinhos e dos tachos...
E não me venham com essa de que os maus são os políticos, esses malandros, cambada de egoístas e outros mimos quejandos ...
Ná, ná, ná, ná ... a questão é bem mais complexa. Ou simples, sei lá.
É que, bem vistas as coisas, então ... somos todos políticos ! Com todos os atributos atrás mencionados ...
O quê ? Ah, bem, você, leitor, abro uma excepção para si, caramba ! Também, há-de escapar alguém, não é ?

terça-feira, outubro 26, 2004


REQUIEM PARA UM AMIGO AMARELO
O meu gato partiu.
O Cenoura foi de viagem para os campos verdes com que sempre sonhou, onde abundam os ratos, gafanhotos e passarinhos que ele nunca conseguiu apanhar por aqui, em minha casa.
O gato amarelo da minha filha, que eu ajudei a criar e que sempre amei, já não está connosco. Desistira de viver, debilitado por uma anemia tremenda que lhe retirara toda a alegria e vivacidade.
Era uma sombra daquele gato brincalhão, de olhos claros e vivos, que nos incitava à brincadeira com sussurrados miaus. Já não vinha ter comigo à mesa de trabalho, por volta da meia-noite, com cabeçadinhas significativas para eu lhe dar comida.
Aos dois anos e pouco, a vida traiu-o . O seu sangue diluiu-se, debilitado por um qualquer virus cruel que nada se interessa por gatos e ainda menos pelos laços profundos que ele tinha estabelecido com os donos.
Sinto-a de novo, a revolta e a angústia. Estou tão farto de perder pessoas e agora companheiros amigos à minha volta ...
Sei que um gato não é uma pessoa, mas a verdade é que foi uma das melhores coisas da minha vida nos ultimos dois anos. Ouvia-me sempre, embora nem sempre concordasse: de vez em quando mostrava-me a sua discordância com uma dentada...
Acho que ainda vou ouvir, por muito tempo, os seus raros miados de prazer ao sol da varanda...
Partiu, o Cenoura. Para sempre. Com ele foi também uma parte da minha vida.
Boas caçadas, amigo, até sempre !

terça-feira, outubro 19, 2004

GARÇAS A DEUS !

Gosto de chuva, já o disse outras vezes. Gosto de chuva, mas assim não ... já vos conto !
Hoje, quando regressava a pé do Colombo para minha casa, o vento atirava-me a água da chuva para as pernas, insistentemente, teimosamente.
Chuva e vento, mistura complicada. Os chapéus viram-se do avesso, a água penetra insidiosamente, as árvores abanam e despejam-nos água em cima...
Então, e no meio desta desventura pluvial, não é que lá estavam elas ? Tranquilas, brancas, paradas, aguardando uma aberta no tempo.
As garças ! As garças do costume, naquela quinta em frente do Colombo de que já vos falei tanta vez. Hoje eram umas doze ou treze, umas gotas de água nos meus olhos não me deixaram contar bem. À chuva, pousadas no chão por entre as ervas, à procura de minhocas ou outra bicharada. Digo eu, sei lá, não conheço muito bem os gostos alimentares das garças.
Pois olhem que as garças não pareciam particularmente impressionadas com a chuva nem com o vento. Também é verdade que todas elas tinham vestido aqueles impermeáveis de penas brancas, e eu não. Mas a questão não é de gabardine, não, é de modelo de vida. Aquelas garças gostam de chuva, não sabem o que é molhar a roupa toda e sentir os pés encharcados.
De onde virão elas ? Do estuário do Tejo, das bandas de Alcochete, onde sei que vivem muitas ?
Como raio é que descobriram que ali há boas minhocas e escaravelhos ?
A verdade é que, graças a elas, as garças, cheguei a casa feliz, apesar de molhado.
Aquelas garças fazem-me sempre bem ao espírito.

domingo, outubro 17, 2004

OS NECRÓFAGOS OPORTUNISTAS

O meu enjôo de ontem foi-se.
Ficou apenas o nojo, uma tremenda repulsa por este bando de necrófagos, aves de rapina oportunistas a quem mão hesitante e imprevidente conduziu ao banquete.
Atiram-se à pouca carne ainda presa aos ossos deste putrefacto país.
Chamam ao festim os amigos, os outros que nem asas têm, hienas de pernas tortas, mandíbulas a tremer e saliva a escorrer pelos beiços bestiais ...
Aprendi que, em democracia, é preciso respeitar as opiniões dos outros. Mas ninguém me preparou para isto, para este golpe da selva palaciana ...Como raio é que deixámos, nós todos, que esta maralha sugadora e esfomeada se chegasse ao festim ?
Como querem que eu respeite as opiniões desta gente ? Sim, como ?? É que, para começar, nem opiniões oiço, apenas sons obscenos do seu mastigar voraz e sem vergonha.
Olho para eles, para os seus cães de fila, e só vejo seres gordos, sebosos, luzidios, inchados de presidências de conselhos de administração e outras prebendas, tão redondos que até os vários cartões de crédito se notam nos femininos peitos, e mesmo assim ainda clamando contra Guterres, a mãe e pai de todos os males.
E eu, que até nunca morri de amores por esse socialista dividido entre o diálogo e a inacção, dou por mim a pensar : bem, pelo menos esse foi mesmo eleito pelos portugueses e nunca notei que tivesse tendências para a necrofagia. Nem tal vi com Cavaco ou com a teimosa Manuela Ferreira Leite, hoje hostilizada pelos seus seguidores de ontem ...
Podem pensar deles próprios o que quiserem, mas a verdade é que Durão Barroso e Jorge Sampaio, entre outros, abandonaram este nosso cadáver à voracidade dos necrófagos !
Agora, temos que ser nós a correr com essa bicharada mal-cheirosa e oportunista.
Vamos a isso ?

sábado, outubro 16, 2004

ANDO TÃO ENJOADO ! ...

Passo muitas vezes por aquilo a que chamo de curas de silêncio. Enjôo-me de falar e de escrever. É como se ficasse doente com a incapacidade de mudar a realidade. Ainda por cima, vivo ( vivemos ) num país de gente que fala e escreve muito ... mas pouco faz. Os pôdres dos portugueses estão cada vez mais a descoberto e, em simultâneo, fala-se e escreve-se cada vez mais...
Vejam o próprio presidente da república : quando foi chamado a agir, nada fez. Porém, agora fala pelos cotovelos, com aquelas frases compridas e inteligentes ( pensa ele, eu penso que se tornam quase inintelegíveis ... ), como se pudesse redimir, pela palavra, a ausência de acção anterior .
Bolas.
Esta semana fiquei calado, portanto. Não da mesma forma que o professor, que o fez ( diz ele ) por razões de educação e de laços de família. Eu fiquei calado apenas por estar enojado com tudo aquilo que se faz hoje em Portugal.
Não é só este governo surrealista e tipo coelho-na-cartola que me provoca este fastio e estes vómitos. São também muitos outros portugueses, vendendo-se e aviltando-se por meia dúzia de eurozitos ...
Não, decididamente os tempos vão maus para quem a corrupção, a vigarice e o interesseirismo fazem mal ao estômago.
Estou agoniado.

domingo, outubro 10, 2004

UM DOMINGO DIFERENTE

Hoje não foi um daqueles domingos de pijama, jornal e televisão. Bem pelo contrário, foi um domingo de surpresas e de sol a brincar por entre as núvens.
Soube-me bem, este domingo de Outono.

Claro que a companhia ajudou. E muito. Gente do norte. Raios de sol, gentis e gráceis.Gotas singulares de amizade nestes aguaceiros precoces e tristonhos. Pessoas simples e povoadas de sonhos, mãos estendidas aos outros.

Manhã ainda cedo, pelos meus parâmetros, e já deambulávamos pelo Museu de Arte Antiga, vasculhando entre pintores portugueses, flamengos, italianos, ourivesaria barroca, cerâmica vaidosa e turistas desengonçados de roteiros nas mãos. Para minha surpresa, o principio sacrossanto do utilizador-pagador não se aplicava hoje, as entradas foram grátis. O dr. Santana Lopes deve andar distraido ou está a preparar o discurso para amanhã, quem sabe ?
O que se calhar também o leitor não sabe é que o Museu das Janelas Verdes tem um pequeno serviço de restaurante no piso inferior, portas abertas para um jardim sobranceiro ao Tejo. Nem o serviço nem o estado de conservação do jardim ganhariam prémio algum, mas o local é simpático e tranquilo, convidando a uma conversa amena e descontraida.
Depois, o Tejo atraiu-nos, convidando-nos para um café, na esplanada do Café In.
Um pouco de vento. Os veleiros aproveitaram e levaram os donos para a água, eram dezenas, enganando o vento, inclinados, mostrando o preto abaixo da linha de água.
A tarde ia a meio quando decidimos uma incursão pelos terrenos de Belém.
Não que o Presidente nos tenha convocado, o chamamento foi mais dos pastéis. Aqueles polvilhados de canela, a besuntar os lábios, mornos e saborosos. Disseram-me que aquela casa vende cerca de 10.000 pastéis daqueles por dia. Imaginam ? Pois bem, hoje venderam 10.008, fiquem a saber !
E assim o domingo se fez sexta ou sábado, dia feliz, contra a rotina. Graças a esses meus novos amigos.
Viva a amizade, abaixo a minha preguiça e a solidão.
Obrigado.

quinta-feira, outubro 07, 2004

SILÊNCIAR A CRÍTICA, ESSA IRRESISTÍVEL TENTAÇÃO !

Sempre pensei – e afirmei – que Jorge Sampaio se iria arrepender da sua decisão de entregar o poder executivo, de mão beijada, a um senhor do género de Santana Lopes.
A realidade recente mostra bem até que ponto aquela decisão foi errada.
Não me lembro, incluindo os velhos tempos de Salazar e Caetano, de ver um primeiro-ministro tão pateticamente à deriva e tão flagrantemente desajustado ás necessidades do nosso País.
Claro que, contrariamente a Salazar e mesmo Caetano, Santana Lopes tem contra si um facto simples mas terrivelmente letal : a liberdade de informação, na imprensa, rádio e televisão. E nos blogues, já agora.
É isto que o faz surgir aos olhos do público tão manifestamente incompetente.
Logo, este é um assunto vital para ele : o controlo, ou pelo menos o apaziguamento, da informação. A emissão de imagens favoráveis.
A estratégia tem vindo a ser levada á prática, de uma forma sorrateira mas visível. Primeiro, a formação daquela “central” de “propaganda”, ao nível da estrutura do governo, com a dignidade de uma direcção-geral. Depois, pela colocação á cabeça do grupo PT Multimédia, de um nome como Luís Delgado, um homem em tempos jornalista que a certa altura se decidiu por outros vôos bem mais lucrativos. Em seguida, algumas medidas avulsas mas concertadas com as anteriores : o silenciar de vozes influentes e com grande audição como Marcelo Rebelo de Sousa ou Pacheco Pereira. .
Começou pelo primeiro. Há uns dias, a JSD do Porto desencadeou as hostilidades. Podia parecer algo desgarrado e espontâneo, mas não era : seguiu-se um discurso bafiento e ressumando a ódio de um senhor ministro deste governo, cujo nome eu não conhecia nem quero conhecer.
O sujeito deu um show de ignorância, raiva, despeito e autoritarismo que eu julgava ser impossível nestes tempos. Ouvia-o e ouvia ao mesmo tempo Moreira Baptista, ministro da propaganda de Salazar, a vociferar contra os comunistas e outros traidores a Portugal. Nos olhos do homenzinho cintilavam chispas de ódio que nem sequer se deu ao trabalho de disfarçar. A bílis corria-lhe dos beiços...
Foi tudo ? Não ...
Vem depois aquele senhor de inefável elegância, o administrador da TVI, o sr. Paes ( com “e” ) de Amaral ( ou “do” ?? ), aconselhar Marcelo a ... enfim.... conter-se um pouco mais. Não seria preciso muito, só para não dar azo ao Governo a inviabilizar uns negócios em que a TVI anda metida. Claro, compreende, Marcelo ?
Marcelo não quis compreender, que coisa ....
O ministro que vomitou a bilis ( a pedido, claro ) vem a público afirmar que nunca quiseram calar Marcelo ( é verdade, queriam era vê-lo a dizer bem deles ... ), o primeiro-ministro reclama-se de um pluralismo a toda a prova – embora ache que o contraditório é que é bom , ehehehehe – o presidente da república chama Marcelo a Belém ... enfim, é vê-los numa azáfama tremenda para remediar o que está mal.
Quando teria sido tão simples.
Quando ainda pode ser tão simples.
Como ? Apenas isto : reconhecer que homens que são apenas invenções mediáticas, sombras da noite lisboeta, seres pusilânimes e voluntaristas que de manhã decidem um túnel e à tarde acabar com uma refinaria, homens cuja preocupação é arranjar um forte á beira mar para passar uns tempos com a família ou contratar assessores de imagem para “dourar” a embalagem e levar os portugueses a comer-lhe nas mãos ... reconhecer que homens desses nunca deveriam chegar a primeiro-ministro de Portugal.
Como quase todos hoje estão a ver.
Espero que o sr. Presidente da República esteja dentro desse grupo, dos que estão a ver, e aja em conformidade.
Por mim, até podem colocar o sr. Santana Lopes ao lado da ex-ministra Cardona. Afinal, o serviço público deve ser recompensado, não é ?

quarta-feira, outubro 06, 2004

VIDAS A PRAZO

A vida é, de facto, um contrato a prazo incerto. A minha e a do meu gato.
Há dois dias, quando fui ao veterinário pela 2ª vez numa semana por causa do “Cenoura”, as novidades não foram nada boas. Mesmo nada.
A minha filha e eu passámos lá um bom par de horas, o veterinário muito simpático a fazer análises sobre análises, e finalmente um diagnóstico : o bicho parece que é positivo na análise à FeLV ( que eu desconhecia ) e que é nem mais nem menos que ... leucemia felina.
Raio, até o nome assusta. Ficámos devastados.
O bichano ficou a soro, levou um antibiótico e mais um anti-inflamatório, ia pondo em pânico toda a gente na clínica com o seu génio de pequena fera e finalmente lá o trouxemos de volta para casa, esbaforido, assustado e um tanto ou quanto sujo. Quem é que na clínica conseguia lavar um leopardo daqueles ?
Bem, a FeLV é um vírus assustador para qualquer dono de gato. Não há cura, apenas há uma vacina contra isso, que ele até tinha : cremos que já tinha o vírus quando foi vacinado, proveniente da mãe.
Que fazer, agora ? A esperança de vida do bichano reduziu-se significativamente : pode durar meses, um ano ou três, mas não muito mais que isso... Como é que se lida com uma amizade a prazo ?
Primeiro, fiquei muito triste e em baixo, agora interiorizei e tenho certezas : tudo será igual para o futuro. Vou continuar a dedicar a mesma amizade que sempre tive ao Cenoura, até mesmo mais, sem pensar que um destes dias ela será interrompida. Vou olhar para ele como sempre. Que se dane o vírus e mais a análise fatal. Não sucedeu nada, o mais certo é o Cenoura ainda cá andar quando eu já tiver partido há muito ...
Afinal, não é esse mesmo mecanismo que usamos para com um ser humano ? Afinal, não são as nossas vidas, todas elas, um contrato a prazo incerto ?
Felizmente, fosse porque fosse, pouco depois de chegar a casa o bicho começou a mostrar o regresso do seu apetite normal ( que é muito, tipo Garfield ) e iniciou uma metódica "destruição" de comida, como quem precisa de recuperar o tempo perdido ! É completamente pateta, eu sei, mas eu e a minha filha entreolhámo-nos, quando vimos o bicho assim, e havia lágrimas nos olhos de ambos.
Lá se vai a minha imagem de duro ...
Bem, e é assim, agora : temos o Cenoura de volta, a sua alegria habitual quase recuperada, a par do seu apetite ...
Ele não sabe que é FeLV positivo, ignora que as suas defesas contra infecções oportunistas são muito reduzidas ... mas não vou ser eu a dizer-lhe, prometo-vos.
Há-de ser nosso amigo e ter a nossa amizade até ao fim. Até ao fim dele ... ou ao meu. Exactamente o mesmo que eu desejo que os meus amigos e amigas façam comigo.
Imitando Manuel Alegre, quanto ao seu cão, apetece-me dizer : Cenoura, um gato como nós !

domingo, outubro 03, 2004

COITADO DO MEU GATO !
É domingo, passa do meio dia e acordei com a neura habitual dos domingos. Ando preocupado com o meu gato amarelo, vejam lá, não come nada há cinco dias penso que por causa daquela história de engolir os pêlos quando se lava. Foi, pelo menos, a sugestão do veterinário. Portanto, logo que me levantei, fui dar-lhe daquela espécie de pasta dos dentes com cheiro horroroso ( e sabor a avaliar pelas contorsões do bicho ! ) que é suposta facilitar-lhe a expulsão dos pêlos. Veremos, mas o bicho anda com um ar infeliz que se farta, olhos doridos, movimentos lentos e inseguros e eu sinto-me mal e impotente.
Enfim, como dirão logo algumas pessoas, certamente muito piedosas, seria muito pior se fosse um ser humano. Como se a nossa afectividade tivesse de ser orientada e graduada de acordo com classificações e taxonomias ... Pois eu proclamo alto e bom som : gosto muito mais do meu gato que de certos seres humanos aberrantes, cretinos, vigaristas e desonestos que por aí andam, disfarçados de seres pensantes. E, para além disso, o meu gato é bem mais bonito que essa gente. Não é, digam lá ?
Bem, não sei bem que fazer, agora. Tomar um banho e ir almoçar fora ? Ficar por aqui a preguiçar, comendo uma sandes de carne assada ? Pondero os prós e os contras : que ganho eu em sair ? Vejo pessoas, uma réstea de sol, um pouco do Mundo, é verdade. Mas isso gastaria as poucas energias que tenho hoje. Hoje acordei velho, está tudo dito, vou ficar em casa. Só mais logo sairei da toca, para uma bica no meu café.
Passem bem.

quinta-feira, setembro 30, 2004

UMA GANGRENA SOCIAL ALARMANTE !

Em carta ao director do “PÚBLICO” de hoje, um professor do 1º Ciclo do Quadro de Zona de Bragança, de nome José Alegre Mesquita, narra o seguinte : pela primeira vez em 24 anos de ensino, e apesar da sua 89ª posição na lista ordenada, este ano não foi colocado em nenhuma escola, tendo-lhe passado à frente mais de 400 ( ! ) outros professores, invocando motivos de saude e juntando atestados médicos obviamente passados com apressada ligeireza, quando não mesmo com leviandade. Mais de 60% dos professores deste quadro apresentaram atestados desses, num caso sem precedentes no nosso país.
O Ministério da Educação determinou uma averiguação a esta situação, é verdade, mas o certo é que este professor não tem colocação e não virá a ser ressarcido das angústias e incómodos que esta gente sem escrúpulos lhe provocou.
O mesmo professor conta que todos os amigos lhe diziam para fazer o mesmo, ao que ele se opôs, na convicção de que a vigarice e o oportunismo não teriam êxito.
Enganou-se. Passaram-lhe todos à frente, fraudulentamnte, com a complacência de Governo e Sindicatos.
E ainda se este fosse caso único ! Mas não, os exemplos de comportamentos enviezados e pouco éticos têm crescido como cogumelos nos ultimos tempos em Portugal : foge-se aos impostos, incluindo um numero crescente de “deficientes”, como foi recentemente noticiado ; passam-se atestados médicos nitidamente “exagerados”; organizam-se golpes e calúnias contra pessoas ou partidos ; conseguem-se pensões de reforma dignas das Mil e Uma Noites ; chega-se a Primeiro Ministro sem votação prévia ou transforma-se uma região autónoma num domínio feudal ...
Nestes casos, como em muitos outros, os portugueses estão a interiorizar a noção de que compensa ignorar a lei e torpedear as normas. A sensação reinante é a de que usar expedientes ilegítimos para obter vantagens pessoais já não é vigarice, é apenas legítimo direito de defesa, é ser esperto numa terra onde vale tudo.
Esta noção deturpada e cínica alastra como uma gangrena pelo tecido social português, acelerada pela quase certeza da impunidade. As situações são bem conhecidas publicamente, há anos, sem vestígio de censura ou penalização.
Em Portugal começa a não haver espaço para a honestidade e seriedade.
Em Portugal os homens e mulheres de bem começam a sentir-se num gueto.
Em Portugal, a vigarice está na moda, a falta de escrúpulos é que está a dar, de cima a baixo, da direita à esquerda.
Enquanto isto se passa, todos nós continuamos calmamente a almoçar e a jantar, a dormir o sono dos justos e a passar umas fériazinhas regaladas no ripanço de uma qualquer praia.
Incluindo o sr. Presidente da República, os membros do Governo, os senhores deputados da Assembleia da República, os senhores procuradores da Procuradoria-Geral da República, os senhores bastonários das Ordens dos Médicos e dos Advogados, os senhores dos partidos políticos, os senhores dos sindicatos ... e todos nós afinal !
Quando iremos nós fazer qualquer coisa para interromper esta gangrena galopante ??
Senhores que detêm o poder político e ou a responsabilidade : ajam, por favor. Ajam. Sem perda de tempo.
Mostrem que o crime não compensa.
Se não o fizerem já, cada dia que passa aumenta a impunidade e faz alastrar o mal a toda a nação.
Ajam. Já não têm ( temos ) muito tempo.

terça-feira, setembro 28, 2004

VELHAS FOTOGRAFIAS NUMA CASA VAZIA

Fui hoje à velha casa de família, em pleno Ribatejo. A casa está desabitada, embora todas as semanas lá vá uma mulher dos arredores abrir as janelas e regar as plantas que ainda resistem. Era a casa dos meus sogros ( já ambos desaparecidos ) mas a ela me ligam circunstâncias muito fortes. Para começar, foi um dos meus primeiros projectos, em engenharia civil : uma moradia de dois pisos, quartos amplos, uma casa de banho do tamanho da do Júlio César, uma cozinha com espaço para dar uma festa de casamento. Depois, ali vivi momentos inesquecíveis, junto de pessoas que gostavam de mim e a quem eu também amava. Ali se criou a minha filha, com os avós, enquanto andei por guerras de África, e mesmo depois disso. Não se admirem, pois, que aquela casa me fale e eu lhe responda, agora que está vazia e triste de tanta saudade.
Curiosamente, nunca sinto o vazio, dentro desta casa. Devia sentir, penso eu, mas não sinto. É como se todas as coisas me falassem e saudassem, felizes de me verem por ali. Sinto-me lá bem.
Hoje, a minha filha decidiu abrir uma velha gaveta, num móvel que alberga um velho e bonito relógio de pêndulo. A gaveta estava cheia de fotografias. Antigas. Algumas do principio do século passado, de 1900 e poucos. Os pais da minha mulher, os avós, o casamento de primas e primos, senhores com ar digno e bigode farfalhudo que eu não soube dizer à minha filha quem eram. A minha mulher em criança e em jovem. Ela própria, a minha filha, em fases diferentes da sua meninice. Algumas minhas, também, com um ar esfomeado e magricelas. Traços de vidas cumpridas e terminadas, umas, etapas já percorridas de vidas ainda em aberto, noutras.
Não me apercebi logo, mas fui-o sentindo à medida que as fotos me iam escorregando pelos dedos : a angústia do irremediavelmente passado ia-se infiltrando em mim, insidiosamente, mansamente...
Desisti de ver as fotos primeiro que a minha filha. Trouxe duas ou três da minha mulher, muito jovem, de uma beleza e juventude que ainda me faz sofrer pela sua perda.
E foi isto, apenas.
Viemos embora, pouco depois, uma refeição simples e apressada na zona de serviço de Torres Novas e pouco depois, Lisboa de novo.
Os vazios da minha vida ficaram lá, a cento e tal quilómetros.
Fotos envelhecidas mal arrumadas numa gaveta de um relógio de pêndulo que há muito esgotou a corda.

sábado, setembro 25, 2004

A ESTRANHA RELAÇÃO ENTRE BAGÃO FÉLIX E OS LAVAGANTES

- E aquelas ali, todas pretas, o que são, pai ?
- Aquelas são lavagantes, filho ....
Estava hoje a olhar para um daqueles aquários-tipo que existem nas cervejarias, enquanto almoçava, quando estas palavras me vieram à memória, muitos anos depois do meu pai me ter ensinado o nome daqueles bichos que estavam no meio das lagostas mas pareciam mais guerreiros japoneses com armaduras negras.
Alguns deles passeavam-se lentamente pelo fundo do aquário, com as tenazes atadas, provavelmente louvando ministros como a Drª Manuela Ferreira Leite e o Dr. Bagão Félix : graças a esses distintos gestores da coisa pública, poucas famílias, nesta zona, se atreverão a perturbar o seu sossego ...
Enquanto esperava umas sardinhas assadas ( obviamente menos beneficiadas pelo regime fiscal em vigor ), fui-me enternecendo a pensar no meu pai ( há muitos anos falecido ) e nas muitas coisas que aprendi com ele.
Coisas como andar de bicicleta, fazer uma fisga para atirar aos pardais ( ainda não tinham direitos, os pardais, naquele tempo ! ), fazer brinquedos de madeira, com o auxílio de algumas ferramentas e sobretudo ...pescar. Passei muitas tardes com ele, à sombra de um salgueiro, na margem do Tejo ou então nas rochas da praia dos Salgados, perto de S. Martinho do Porto, sua terra natal.
Falava pouco, mas junto dele sentia-me sempre bem, em paz, como se tudo na vida fosse simples e tranquilo. Nunca conheci ninguém mais despojado das coisas materiais da vida que o meu pai. Era feliz ( penso eu ) com muito pouco e a sua filosofia de vida consistia em tentar viver tranquilo e sem chatices.
Acho que, mesmo sem dar por isso, parte dessa sua essência passou para mim. Sempre fugi das coisas chatas e incómodas da vida, nunca me atrairam honras ou popularidade ou riqueza. Fiquei em pânico, uma ou duas vezes na vida, só porque um desmiolado qualquer queria à viva força fazer de mim ministro, naqueles conturbados anos de 74/75 .... ainda hoje tremo só de pensar nisso.
Pois é. O meu pai. Tenho saudades dele... Da minha mãe também, com quem sempre tive uma relação agitada, de amor e desentendimento. Um dia hei-de falar disso, talvez. Mas sinto mais a falta de uma pessoa como o meu pai. Gostava de mim e eu sabia-o mesmo sem ele dizer uma palavra que fosse. Bastava ir com ele, de bicicleta, a pedalar por carreiros fora direitos ao Tejo, com as canas de pesca atadas ao longo das bicicletas.

Voltemos ao protector dos lavagantes. Ao dr. Bagão Félix. ( raio de nome ... ). Este circunspecto senhor tem mesmo um ar digno, sério, lavado, educado, não tem ? E diz coisas a favor dos pobrezinhos, contra os ricos ! Pessoa minha amiga disse dele que lhe achava um ar de padre, querem maior elogio ?
Gosto mesmo muito deste senhor tão sério. Portugal precisa de homens destes. Contudo, ando a ficar um pouco baralhado : primeiro, quando ele disse que eu pertencia ao grupo de 30% das pessoas mais ricas deste país. É que eu faço todos os anos um PPR . Bem, aí ainda acreditei ... Mas agora é que fiquei mesmo baralhado : se o senhor é assim tão asceta, sério, anti-corrupção e anti-PPR, porque diabo é que arranjou aquele tacho na CGD à ex-ministra Cardona ? Então o Estado não pode beneficiar-me em 250 euros por ano como incentivo no meu PPR mas pode pagar pr’aí uns 15.000 euros POR MÊS àquela senhora que NADA sabe daquilo ??
Decididamente, a vida está é para os lavagantes ...

sexta-feira, setembro 24, 2004

DESCULPAS

Peço desculpas a dois dos meus leitores que fizeram comentários ao meu ultimo post. Eu li-os, mas não consegui que eles ficassem disponíveis no blog, por motivos técnicos que não consegui decifrar.
Será que estamos - os meus leitores e eu próprio - a sofrer represálias pelas críticas ao processo da colocação dos professores ??
O vírus COMPTA/ME estará a atacar ?
Veremos se este problema se resolve no futuro ...

quarta-feira, setembro 22, 2004

TACHOCRACIA INTER-PARTIDÁRIA DE FACHADA DEMOCRÁTICA

Já o disse muitas vezes, mas repito agora : não sou extremista, em termos políticos. Com isto quero dizer que não acredito na eficácia de preconizar medidas políticas extremas no que respeita à evolução das sociedades. Pertenço, acho eu, a uma esquerda um pouco romântica, acredito em valores humanos e sociais básicos ( como justiça social, solidariedade, honestidade... ), penso que as transformações sociais se fazem gradualmente, com luta sim, mas sem balas nem mortes.
Sou isto tudo ... mas não sou parvo.
E como não me considero parvo, apetece-me hoje falar-vos de um fenómeno das nossas sociedades que de tão rotineiro e persistente se arrisca a ser considerado “normal”. Trata-se do fenómeno da distribuição inter-partidária dos bons tachos. A tacharia inter-partidária.
Vejamos como funciona : os senhores e senhoras das camadas superiores dos partidos de governo constituem-se numa espécie de clube de elites do país. Possuem formações académicas superiores, vestem bem, frequentam os mesmos círculos sociais e todos ostentam idênticos sinais exteriores de bem-estar social. São educados, simpáticos, bem falantes, não deixam que a ideologia dos partidos a que pertencem provoquem entre eles divisões ou atritos. São amigos dos membros do Governo e dos dirigentes partidários. Estão sempre presentes em todas as cerimónias de tomadas de posse, de director-geral para cima. Telefonam-se, convidam-se, fazem-se notar.
Depois ... é fácil : são sempre eles, e só eles, os elegíveis para todos os cargos públicos ou semi-públicos onde se ganha bem. É como se possuissem um alvará que mais ninguém tem. Rodam de empresa em empresa, de conselho de administração em conselho de administração. Sempre eles. Só eles. Mais ninguém tem acesso a este clube altamente restrito e ferozmente defendido da vil populaça.
Neste clube não interessa ser-se do PSD ou do PS ou do CDS. Quanto muito, ser-se do partido que está no poder apenas confere prioridade para os melhores lugares. Mas os outros podem sempre contar com lugares igualmente bem remunerados ...
E digo-vos mais : o mesmo fenómeno se nota, embora em grau muito inferior ( como convêm ... ) nas autarquias onde o PCP manda !
Ah, não pensem que os membros deste clube têm andado distraidos ... durante estes anos arranjaram maneira de se aumentarem, de aprovarem benesses várias, honrarias e distinções... por algum motivo os vencimentos dos gestores portugueses estão dentro dos maiores praticados na Europa !! Sim, ouviram bem !! Em valor absoluto, euro por euro. E, espertos como são, ainda passam a vida a afirmar que ganham pouco ...
Quanto a benesses, é melhor que ponham os olhos na pensão que o pobre do engº Mira Amaral vai usufruir por ter estado um ano e pouco no conselho de administração da CGD : mais de 3.000 contos por mês, coitado ! Leram bem, três mil contos mensais, uma bagatela, nada de especial. Nós, os tesos, é que não temos noção do que custa vestir bem e ter de ir almoçar a bons restaurantes, levar a família de férias para as praias das Caraíbas e ter de comprar e manter o Audi A-8 e a vivenda na Quinta da Marinha, para não falar da outra, naquela urbanização fechada da costa nordeste do Brasil. Experimentem, e vejam lá se não precisam mesmo dos 3.000 contos mensais... está tudo pelas horas da morte !
Bom, o que podemos fazer contra isto ? Confesso que não sei. Suponho que a primeira coisa que podemos e devemos fazer é tomar conhecimento.
Depois, podemos expressar a nossa indignação e o nosso cansaço deste vício tremendo.
Cada um de nós pode dizer : basta !
É que isto assim não é democracia, não é nada. Parodiando os outros, diria mesmo que a ser alguma coisa é tachocracia de fachada democrática ...

terça-feira, setembro 21, 2004

UMA IMENSA TRISTEZA ...

Inacreditável.
Confrangedor, mesmo.
O que me perturba não é o fracasso reiterado e quase suicidário das listas de colocação de professores. O que me faz calafrios é a ignorância, incompetência e incapacidade de decisão de tanta gente que anda lá pelo ministério á volta desta questão.
Como é possível esta gente toda estar colocada no ME ? Então é a gente desta que estamos “entregues” ? E nos outros ministérios, há alguns motivos para pensar que a situação seja diferente ?
Leitores : tenho mais de quinze anos a trabalhar em informática, como gestor num departamento público responsável pelo desenvolvimento de sistemas de informação ( vulgo programas ) de grau de complexidade elevada.
Sei muito bem como se processa este tipo de trabalho, aprendi, antes de mais, que todo o cuidado é pouco nas fases iniciais dos projectos, a de definição dos requisitos operacionais ( o que se pretende que o programa faça, de facto ) e a da análise dos fluxos e processamentos de dados, a que também poderíamos chamar a da definição das regras do jogo.
Estas fases exigem um trabalho permanente e íntimo entre dois grupos de pessoas : as donas do projecto, que devem conhecer exactamente os objectivos a atingir e todas as regras do jogo e aquelas outras pessoas que sabem analisar estas regras e convertê-las numa lógica de programação simples. Estes dois tipos de pessoas devem ser competentes nas áreas respectivas e devem também saber trabalhar em equipa, todos eles liderados por um chefe de projecto prestigiado, idóneo e experiente.
Esta interacção é tão íntima, tão estreita e imprescindível, que muitas vezes deve começar mesmo ANTES da definição das regras do jogo, ANTES da sua tradução em lei.
E aqui começam os factos aberrantes neste caso concreto : as regras do jogo de colocação de professores ( o DL 35/2003 e demais legislação posterior ) são obtusas, mal redigidas, pouco claras e muitas vezes quase incompreensíveis, numa perspectiva da sua conversão para linguagem binária. Em algumas das regras parece mesmo ter havido a preocupação de complicar as coisas, de forma a que não funcionem. E eu sei porquê : a concepção do modelo do concurso foi feita essencialmente por técnicos de gestão do pessoal docente e por juristas, uns e outros sem quaisquer preocupações de viabilidade do tratamento informático posterior.
Querem um exemplo ? Leiam as regras para afectação dos professores dos QZP a horários surgidos nesses QZP. Os horários são divididos em grupos, consoante o numero de horas, os professores declaram as suas preferências por escolas mas a estas acaba por se sobrepor o maior número de horas dos horários ... um pesadelo, concretizar estas regras baralhadas num programa informático. A hesitação do legislador, as suas duvidas e incertezas acabam por se tornar numa armadilha mortal para algum incauto que vá definir uma lógica de decisão para o sistema informático.
Depois ... estão mesmo a ver a dinâmica de uma equipa de projecto conjunta com técnicos do ME e de uma firma privada exterior, não estão ? Uns sem ideia nenhuma do que é a lógica binária, os outros sem qualquer contacto ou experiência do que é o mundo da colocação de professores !
Juntem a isto uma orientação política incapaz, desde o nível de director-geral até ao próprio ministro, e terão a fotografia completa do desastre.
Mais : em alturas de contingência, há que saber escolher alternativas, sem hesitações. Não é o que tenho visto suceder. Em diversas ocasiões, lembro-me de pensar que a decisão óbvia e sensata não fora tomada.
Por exemplo, quando se notaram milhares de erros na primeira lista de ordenações, decidiu o ME continuar o processo, avaliando as dezenas de milhares de reclamações entradas.
O mais elementar bom-senso aconselharia outro caminho : reconhecer que grande parte dos erros foram devidos aos impressos de recolha abstruzos que inventaram e á recolha dos dados pela leitura óptica desses impressos, com reconhecimento óptico de caracteres.
Qualquer pessoa com experiência destas coisas teria seguido outro caminho : redesenho do impresso de recolha e repetição dessa fase com maior garantia de dados sãos.
Outro exemplo : algumas das lógicas de validação dos dados recolhidos, nessa fase das listagens provisórias e definitivas, estavam totalmente erradas, numa perspectiva funcional, denunciando uma ligação imperfeita entre o ME e a firma de informática.
Aparentemente, ninguém se preocupou com isso.
Qualquer pessoa com experiência neste domínio teria ficado com os cabelos em pé e teria feito uma autêntica revolução na equipa de projecto, exigindo que os informáticos fossem totalmente esclarecidos quanto às regras das colocações ou optando por mudar a empresa responsável ... ou ambas as medidas.
Tal não foi feito, muitos erros forma considerados “erros informáticos” sem mais consequências.... Mas como é possível, já nesta fase final, afectar um professor de um determinado QZP a uma escola de outro QZP ? Pensam que isto é um erro informático ? O tanas é que é : isto é pura e simplesmente um erro de coordenação dentro da equipa e um erro na incapacidade de detecção de erros na fase de testes.
Enfim ... uma infinita tristeza, é o que tudo isto me provoca.
Como já disse, bem gostaria de pensar que a gestão da coisa pública estivesse entregue em mãos mais experientes ... mas a verdade é que está entregue a amadores. E maus.

sábado, setembro 18, 2004

MAIS UMA IDEIA ORIGINAL EM SEDE DE IRS !
( os cidadãos que não fogem ao fisco devem pagar a crise ! )


A ideia é SEMPRE a mesma, inapelavelmente, infatigavelmente, desavergonhadamente : extorquir MAIS dinheiro àqueles que já pagam IRS.
Sim, todos nós sabemos que é mais fácil fazer isso do que ir incomodar e aborrecer os nossos ( deles ... ) amigalhaços que não se dignam pagar o seu IRSzito ... ainda se iam ofender connosco, sei lá ...
Apenas um aparte : sabem que os rendimentos médios declarados por engenheiros, advogados, médicos, etc ... em 2003 andavam à roda dos 800 euros mensais ? Taditos, ganham mesmo mal para quem tem tantos estudos e tanto trabalho ! Só os dentistas declararam um pouco mais, cerca de 1250 euros, imaginem !
Pois bem : em vez de fazer pagar essa malta toda, em vez de obrigar os bancos a pagar mais que uns míseros 13 a 14% de IRC, vá de acabar com os benefícios fiscais de quem faz contas poupança, tanto de reforma como de habitação ! Ora toma ! Vai-se buscar aos mais ricos, diz o Ministro ...
Aos mais ricos ???
Vai-se é buscar sempre aos mesmos, sempre aos mesmos, digo eu.
Até que esses mesmos acordem, de uma vez por todas, e resolvam dar um belo pontapé no rabo a quem assim os trata, deixando de lado, intocáveis e descansadinhos, todos os figurões acima referidos !
Hem ? Que acham da ideia ? Vamos a isso ?