sábado, outubro 29, 2011

AS SOLUÇÕES QNLMJ

Uma vez mais, o duo da foto combinou uma solução para a Europa e convenceu os outros a aceitá-la.
Toda a gente aplaudiu, no primeiro dia, no segundo já nem tanto. Por mim, confesso que não percebi como é que raio aquilo é uma solução. A unica coisa que faz sentido é terem aumentado o limite do fundo para ajuda dos países em dificuldade. Ajuda ? Bem, para emprestar a esses países a um juro um poucochinho mais baixo. Contudo, se bem entendi, esse dinheiro nem sequer é europeu, vão pedir à China, Brasil, etc ... para entrar com massa.
Quanto ao perdão a 50% da dívida à Grécia aí é que não percebi mesmo. Perdão, de quem ? Quem é que perdoa ? Os bancos franceses e alemães ( e algum português ? ) que compraram títulos de dívida grega ? Quem é que convenceu esses bancos a perder assim tantos milhões ?
Não lhes vão pagar nada ? Sério ? Quem é que vai pagar essa dívida "perdoada" ?
Como vêem, pessoal, ninguém sabe que gaita de solução é esta. Nem ninguém acredita que seja uma solução.
Outro ponto : como toda a gente continua a não confiar no sector financeiro, incluindo a banca, vai daí a Europa obriga-os a ter uma maior taxa de dinheiro em caixa relativamente ao que emprestam. Porém, aqueles bancos que não o conseguirem fazer pelos seus próprios meios ( os accionistas entrarem com mais dinheiro, por exº ) vão receber dinheiro do Estado. Pago por nós, claro.
Ou seja, pagamos para compeensar a ruína e o descalabro da banca ( BPN ) e pagamos para evitar essa ruína. Sempre a pagar.
Para quê ? Ah, para a Banca poder financiar a actividade económica e o país poder crescer, ora bem. Mas como não cresce, mesmo assim, vai daí sacam-nos os subsídios, que é para dar à Banca, claro.
Alguém percebe alguma coisa desta lógica ? Eu não, só percebo que me estão a esbulhar. E vão continuar.

É como vêem. Está tudo claro e resolvido na Europa, dizem eles. Ou pelo menos estão a caminho.
O tanas, amigos. Estão a caminho, digo-o outra vez, é de de nos pôr a todos à pancada. E não será no futebol ... será mesmo a doer.
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PS - ah, sim, QNLMJ significa " que não lembram ao Menino Jesus ..."
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sexta-feira, outubro 28, 2011

A VERDADEIRA NATUREZA DA CRISE

A Itália, hoje, pagou à volta de 6%, na emissão de títulos de dívida pública a 10 anos, num montante de quase 8.000 milhões de euros.
Aos senhores da Europa, aos pequenos senhores do nosso país, aos liberais, aos incrédulos, aos fanáticos dos partidos do poder, apenas digo : continuem a cortar, meus senhores, comprem facas bem afiadas para quando chegar ao osso, mas saibam que não enganam ninguém dos que estão a ser cortados !!
Sabemos todos que os cortes não vão melhorar nada no nosso país, sabemos todos que as medidas da Europa são uma treta, sabemos todos que há muita gente a engordar com a nossa miséria e tristeza.
Não se iludam, nós não nos deixamos enganar assim.
Como da outra vez, um belo dia, pela madrugada, o sol vai brilhar de novo, porque alguma coisa ou alguém deu um pontapé nos fundilhos de todos os jogadores de casino que nos andam a lixar.
Digo-vos : nós sabemos o que andam a tentar fazer !
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quarta-feira, outubro 26, 2011

MEXAM-SE, PASPALHOS !

Caros senhores importantes, bem vestidos, por nós excessivamente pagos e nada, mas mesmo nada inteligentes ou competentes : Portugal não é um rebanho de ovelhas e cabras que se leva a pastar aqui ou ali e a quem se dá ou retira a ração, à vossa vontade. Portugal é habitado por pessoas ( sabem o que é ? Seres humanos ... ) que precisam de comer e comprar vestuário para os filhos, pagar a renda da casa e o aluguer da TV Cabo, essas coisas, sabem, que a vocês parecem insignificantes mas que muita gente por aqui começa a não poder fazer.
Não se esqueçam, Portugal não é habitado por números mas sim por pessoas. Pessoas que por vezes se irritam e com alguma ajuda são capazes de correr com moiros, franceses e mesmo com um ou outro alemão que, pela calada da guerra, nos entrou por Angola dentro.
Porque é que todos esses senhores inteligentes da Europa ( a começar pelo "nosso" Durão Barroso ) não percebem que esse caminho, o dos cortes, não leva a lado nenhum ? Ainda não perceberam quem é e onde está o inimigo ? Quando é que se decidem a combater o poder financeiro, aqueles outros senhores que vivem para multiplicar os seus ganhos emprestando dinheiro ? Quando é que percebem que o verdadeiro inimigo são esses tipos e não os desgraçados dos funcionários públicos gregos, irlandeses ou portugueses ?
Meu Deus, enquanto estes iluminados não perceberem qual é a verdadeira luta vamos assistir a esta batalha esquisita onde nos vamos desarmando e desgastando à espera que o inimigo tenha pena de nós e baixe os juros das nossas dívidas...
Isto é cretino, estupido, paranóico ! Meus senhores, arregacem as mangas, façam com que o Banco Central Europeu possa emitir moeda ( até o nosso Presidente já sugeriu isso mesmo, caramba ! ), satisfaçam as necessidades imediatas de vários países europeus ( enquanto se reorganizam para a produção ) e sequem, definitivamente, a gula das sociedades e bolsas financeiras americanas sobretudo.
Façam isso, gaita, deixem-se de parvoíces e de seguir sempre o figurino dos cortes, cortes, cortes ...
Digo-vos isto com calma, enquanto é tempo. Se prosseguirem pelo vosso caminho, digo-vos com toda a certeza : vamos acabar todos ao sopapo e não vai ser lindo. Se assim for, quando vos apanharmos, não vos iremos perdoar, podem crer.
Ah bom, sim, por vezes escapa-me : a não ser que V.Exas sejam os dignos representantes na Europa desses tais grandes interesses da finança mundial. Pode muito bem ser ...
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PS - este texto foi escrito ao abrigo de já não sei que acordo linguístico. Nem me interessam essas cretinices de quem não sabe fazer mais nada a não ser chatear os outros. Porque não cortam essas coisas, já que andam nessa fúria de cortar ?
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A TAL COESÃO NACIONAL ...

Leio frequentemente declarações de pessoas ligadas ao Governo a perorar sobre a necessidade de nos juntarmos todos nesse grandioso desígnio nacional de aguentar a crise e reconstruir o País.
Ainda não percebi se estão a tentar enganar alguém ou se, pura e simplesmente, ainda não entenderam que já não vivemos numa ditadura.
Mas essa gente não tem consciência de que andam a fazer equilíbrio numa corda bamba ? Não sabem que essa história da coesão nacional é um assunto complexo e muito difícil de manter ? Não, acho que não sabem, não podiam ter aprendido em sítio nenhum por onde andaram a estudar e a trabalhar.
Dentro do conceito de coesão nacional habitam sentimentos muito diferentes e difusos, de pessoas muito diferentes umas das outras, quanto à sua cultura sociológica, académica e civilizacional. Sentimentos como a inveja e a raiva surgem muito espontãneamente, dadas as enormes diferenças de estatuto social. A coesão nacional pressupõe que as desigualdades não sejam muito grandes ou muito óbvias. No mínimo, as pessoas devem ver sinais de que o mau tempo abrange todos - e não os afecta só a eles. A coesão exige que olhemos uns para os outros e esbocemos um sorriso de cumplicidade - ou um esgar de tristeza - conscientes que estamos todos no mesmo barco.
As medidas de âmbito sectorial NUNCA podem favorecer a coesão nacional. Sejam elas medidas boas ou más. Despertam sentimentos "ainda bem que não é nada comigo" ou "acho muito bem são uns malandros da pior espécie" !!
Bom, não é preciso ser nenhum sociólogo ou politólogo para perceber que estamos a caminhar exactamente ao contrário. E que esse caminho é MUITO perigoso. A coesão nacional não é um jogo de palavras, é algo que tem a ver com dôr, com sangue, com violência, com morte. Não se iludam.
Nos últimos dias, todos os comentários de gente simples que eu oiço traduzem uma raiva crescente, uma indignação galopante que excede em muito a questão do corte dos subsídios. Acho que Passos Coelho e os seus conselheiros não têm consciência do "monstro" que se arriscam a acordar. E ninguém se deixe enganar com a ideia dos pretensos brandos costumes nacionais ...
Penso que esta foi a mensagem principal do Conselho de Estado de ontem. Embora não sejam a maioria, há Conselheiros de Estado que conhecem este assunto que hoje vos trouxe.
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segunda-feira, outubro 24, 2011

AGORA JÁ NÃO VALE, SRs. MINISTROS

Sou daqueles que não ligam grande importância a estas minudências, tais como subsídios de alojamento, ajudas de custo, despesas de representação, etc ... Acredito que usufruir de uma qualquer vantagem que a lei permita para certos cargos é uma questão da consciência de cada um e, sobretudo, da adequação da medida à sua situação concreta. Ou seja, se um qualquer político precisar de alugar uma casa em Lisboa ( porque não tem nenhuma ), para o exercício das suas funções, não vejo que seja injusto pagar-lhe um subsídio para isso.
O que já não me parece tão bem são as consciências pouco tranquilas ou as demagogias eleitoralistas.
De facto, ou os senhores ministros precisavam ( precisam ) mesmo do subsídio para viver em Lisboa, e não percebo porque vão AGORA abdicar dele, ou então, se acham que o estavam a receber um tanto "forçadamente", devolvam o dinheiro recebido e sujeitem-se à avaliação política dos eleitores. Não creio que existam outras alternativas, não percebo o que é abdicar de um subsídio por solidariedade por um colega.
A única questão, repito, é saber se o sr. Ministro da Administração Interna possue ou não uma casa em Lisboa ( ou Algés ) habitável e disponível ou se se trata apenas de afirmações maldosas e infundadas. Nenhuma das atitudes de renúncia dos senhores ministros podem fugir a esta questão.
E note-se, nem sequer estou, desta vez, a tomar uma posição perante o que se passou. Estou apenas a dizer que quero - tenho esse direito - saber a verdade dos factos.

domingo, outubro 23, 2011

MENTIRAS ...

Haverá uma só pessoa em Portugal, descomprometida ( isto é, que possa pensar ) que não veja como o governo PSD/CDS elegeu os funcionários públicos como os "patrocinadores" oficiais da crise ? Acham que há alguém ? Claro que não, os desgraçados patrocinadores já "deram" 5% em média, sózinhos, depois meio subsídio de Natal ( ou já se esqueceram ) , este em conjunto com toda a malta que trabalha, e, finalmente, em 2012 e 2013, os dois subsídios, num valor superior a 14% dos vencimentos.
Toda a gente explica a crise, nas conversas de café, a suprema forma de conhecimento em Portugal, que a crise apareceu porque o país vive acima das suas possibilidades. Acho que não é assim, os únicos que viviam acima do que podiam eram os funcionários, todos os outros estavam bem.
Para justificar essa decisão, já ouvi as mais variadas e tresloucadas opiniões. Desta vez não opiniões emitidas à volta de um café e uma aguardente, mas afirmações oficiais de membros do governo. A saber :

a) São só os funcionários públicos porque ganham mais 10 a 15% que os outros do sector privado ;
b) ... porque é a única forma de diminuir a despesa do Estado e não de aumentar os impostos como seria se pagassem todos ;
c) ... porque afinal os funcionários têm ( ainda ) segurança no emprego.

Como o leitor pode ver, é só escolher. O problema é que as várias explicações não são coerentes entre si, umas são de uma natureza as outras querem dizer coisas diferentes.
Balelas. Não fujamos à palavra : mentiras !
Se é preciso pagar erros e asneiras, ou azares de conjuntura, que sejamos todos a pagá-los : trabalhadores do sector privado, funcionários públicos, gente com dinheiro ganho em aplicações financeiras, bancos, empresas, bolsa de valores, etc ...
Esquecer tudo isto e concentrar os esforços num só sector, os trabalhadores do Estado, só pode ser explicado por uma política deliberada de ataque ao Estado, minando o seu alicerce básico, a motivação das pessoas que dão corpo e vida a esse mesmo Estado. Claro, adicionalmente estão a reduzir despesa ; mas o que de facto lhes interessa, na minha perspectiva, é desorientar e desmotivar toda a máquina do Estado.
Se isso acontecer, óptimo, mais fácil será, no futuro imediato, destruir toda a máquina do Estado na saúde, no ensino, em todos os sectores que, por ideologia, o Governo pretende entregar ao sector privado.
Em síntese, aquilo a que assistimos é a uma tentativa de aproveitamento da crise para concretizar uma agenda liberal de destruição do Estado. O azar dos pobres funcionários públicos é que estão entre o Governo e essa agenda liberal e, ainda por cima, podem ser e estão a ser usados como catalizadores da destruição.
Mas sabem, acho que não vai ser como eles pensam e projectam.
Acho que a malta vai perceber a tempo de ...
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sexta-feira, outubro 21, 2011

O CAMINHO CERTO PARA O FIM DO PAÍS

Estas medidas de Passos Coelho, na sua violência e quase castigo, irão representar um valor de 2,0% do PIB ( corte de subsídios e congelamento, descontando o efeito negativo no IRS não arrecadado pelo Estado ), cerca de 3.360 milhões de euros ( Fonte : Relatório do OE 2012 ).
Segundo se depreende do mesmo relatório, são medidas que foram tornadas indispensáveis porque se vai chegar ao final de 2011 com um saldo real de -7,7%, suavizado para os -5,9% apenas com a transferência para o Estado de mais um fundo de pensões de um banco qualquer. Ou seja, deveríamos estar a passar de -5,9% em 2011 para -4,5% em 2012 ( -1,6%) mas afinal estamos a passar de -7,7% para -4,5%, na realidade.
E PORQUÊ ??? Vêem ? Lá está de novo o PORQUÊ ...
Aí, este Governo faz umas fintas, uns golpes de rins, diz umas larachas apressadas e evita ao máximo comprometer-se com uma explicação. A verdade é que a marcha da execução orçamental do subsector Estado, Administração Central, até está a correr melhor que o esperado, soube-se hoje. Então, que raios, onde está o tal buraco tremendo, de 3.400 milhões de euros que tanto aflige o Governo ?
Não tenho a certeza do que vou dizer, mas aposto que não errarei muito se disser que os excessos estão ligados a duas coisas : os efeitos BPN ( oferecidos aos angolanos do BIC, mas sem as dívidas ... ) mais os efeitos Madeira.
E então ? Então, expliquem-me lá a seguir porque raio é que oiço tanta gente a afirmar que os funcionários públicos são demasiados, comem o orçamento todo, etc , etc ... Mas que raio tem uma coisa com outra ???
Certo, certo é que Passos Coelho acha que os salários dos funcionários públicos é que devem pagar a política de merda desenvolvida ( pelo anterior governo ) quanto ao BPN e agora também devem pagar as madurezas do Alberto João da Madeira.
Ora tomem !
Como podem ajuizar, nada mais simples, nada mais justo, nada mais equitativo.

Só que, pessoal, a coisa não vai parar aqui. Farto ando eu desta gente toda a dizer-me patetices e bojardas, sem nada de concreto e de inteligente, sem uma perspectiva para amanhã ...
Só que, dizia eu, em 2013, o défice vai ter que andar pelos 3,0%, malta. Ou seja, é preciso baixar de 4,5% em 2012 ( hummmm, de uns 5,0%, pelo menos) , para 3% em 2013.
Com a abordagem inteligente ao problema que se viu agora, é legítimo perguntar a Passos Coelho : em 2013 vai cortar o QUÊ exactamente ? Aos mesmos funcionários públicos, pelas mesmas razões agora invocadas ? Corta-lhes as pilas e o cabelo ? Ou mais 10 ou 15% de vencimento ?
Ou ainda não pensou nisso ?

quarta-feira, outubro 19, 2011

PORQUÊ ?

As coisas perdem o sentido, quando repetimos muitas vezes a mesma afirmação. É um princípio bem conhecido na publicidade e no marketing. Infelizmente, na política também.
A crise. A crise. A crise. A crise existe porque ... estamos em crise.
As circunstâncias especiais e estranhas que vivemos aconselham a que não esqueçamos esta verdade e continuemos sempre a perguntar PORQUÊ. Desde as causas originais da crise ( PORQUÊ o descontrolo e a cupidez do sistema financeiro ? Terá de ser mesmo assim ? ), passando pela chamada crise da dívida soberana ( PORQUÊ agora esta crise ? Há anos que os países de todo o Mundo vendem dívida soberana, PORQUÊ a crise agora ? Será que no fundo não há nenhuma crise de dívida soberana, o que há é ainda o sistema financeiro a querer ganhar mundos e fundos ? ) até ao mito que nos é impingido pelo FMI e pelo Fundo de Estabilidade Financeira Europeu que um País se irá "safar" se cortar tudo e todos até toda a gente cair para o lado.
PORQUÊ ? Porque havemos de acreditar nisso ? Alguma vez tal aconteceu ?
Ainda mais : é óbvio que as privatizações vão ser feitas ao preço da uva mijona e o capital daí resultante não vai dar para compensar défice nenhum. Então PORQUÊ ? Porque se vão fazer ? Porque é que a "Troika" nos forçou a fazer isso ? PORQUÊ ??
Por último : Passos Coelho quer tirar os dois subsídios aos funcionários públicos, para financiar o país. PORQUÊ aos funcionários públicos ? PORQUÊ não a todos equitativamente ? PORQUE se pensou numa coisa para o subsídio de Natal de 2011 e noutra coisa para os subsídios de 2012 ?
E, finalmente, não haverá nada que um país soberano ( pouco, mas ainda alguma coisa ) possa fazer para criar melhores condições para atacar a crise ?
PORQUÊ esta subserviência e aceitação sem discussão ?
PORQUÊ andam por aí a França e a Alemanha a mandar na Europa e os outros todos a baixar a cabeça e a aceitar ?
PORQUÊ ?

domingo, outubro 16, 2011

QUE MAL FIZEMOS NÓS A DEUS ?

Dizem que os portugueses são muito queixosos e que nunca estão satisfeitos com o que têm. Pois. Dizem. Mas a verdade é que podíamos ter um pouco mais de sorte, não ? Então, este é o melhor a que temos direito ? Meu Deus ...
Esta última, então, é bem digna do anedotário nacional. Afirma o senhor doutor Passos Coelho, a quem os portugueses ( alguns ) confiaram o cargo de primeiro ministro do nosso país, que cortou os subsídios de férias e natal de 2012 apenas aos funcionários públicos porque o vencimento médio destes é superior em 10 a 15% á média nacional ou do sector privado, não sei bem.
Ah, bom, ficámos todos mais descansados. Afinal, apesar de todas as evidências, é uma medida justa e equitativa, destina-se a compensar o excesso de vencimento que os malandros dos funcionários públicos, pela calada, vêm acumulando.
Está bem, até concordo. Decerto, foi para compensar também esses 10 a 15% de excesso que os vencimentos dos funcionários públicos já tinham sido cortados, em média, 5% desde o início do ano ... Não, espera lá : 5% deste ano mais os 14,28% ( 2 em 14 )do próximo ano já dá 19,28% !! Alto lá, então como é ? Onde é que está a diferença dos 10 a 15% usados na justificação ???
Não pode ser, senhor primeiro ministro, as suas contas não batem certo. Essas contas estão-me a parecer muito à moda da Madeira.
E depois, aqui para nós, já enjoa ouvir dizer sempre as mesmas larachas sem qualquer fundamento de facto. Estou mesmo farto, senhor primeiro ministro. Então os vencimentos dos funcionários públicos, em média, são superiores em 10 a 15% ao vencimento médio nacional ? Mas o senhor não se lembra que no funcionalismo público existem 50% de pessoas com cursos superiores e boas qualificações, como médicos, juízes, professores, etc ... enquanto essa média a nível geral do país ( ou no sector privado, se quiser ) é muitíssimo mais baixa ? Ou está a ponderar em igualdade de qualificações ? Ainda pior, diga-me se um engenheiro ou arquitecto de uma qualquer Câmara Municipal ganha mais 10 a 15% do que um engenheiro ou arquitecto do sector privado ? Ou quererá V.Exa comparar o vencimento de um Chefe de Clínica em Sta Maria com o vencimento de um médico com uma avença numa qualquer policlínica de vão de escada ? Ou comparar o vencimento de um Oficial das Forças Armadas com um homem da segurança de um banco ? Ou um juíz de comarca com um juíz de café ?
Não sei se nos estamos a entender, senhor primeiro ministro, o senhor está a fugir à realidade, a toda a força, exactamente como o outro, a seu lado na foto acima. Para não ter que dizer fugir à verdade.
E, ainda que fosse verdade o que afirma, o senhor já tinha ido "buscar" aos funcionários públicos quase o DOBRO do que afirma ser a diferença para a média do país ou do sector privado. Ou arranja outros números ou deixa de ir "sacar" apenas aos funcionários públicos, caramba.
Mas que sorte que nós temos, malta. Colectivamente, são estas as melhores escolhas que somos capazes de fazer ? Hem ?

PS - Uma pergunta a V.Exa : quando decidiu cortar uma boa fatia no subsídio de Natal de TODOS os portugueses que o recebem, no final deste ano, os funcionários públicos não ganhavam já 10 a 15% mais do que os outros, como agora V.Exa afirma ?

quarta-feira, outubro 05, 2011

OXALÁ DEUS GOSTE DA EUROPA

No meu último escrito, dei-vos a minha quase-certeza, este caminho político e financeiro não tem saída, é impossível o País recuperar com este plano.
Hoje, gostaria de vos falar de outra desgraça que nos aflige : a qualidade dos homens e mulheres que nos representam, nas várias instâncias do poder. Qualidade ... ou falta dela. O fenómeno não é exclusivo de Portugal, está espalhado por toda a Europa, pelo menos, mas isso não o torna menos preocupante. A verdade é que olhamos para todos os lados e não vemos políticos de elevada craveira. Não vemos gente excepcional, só gente muito certinha, a repetir as mesmas palavras, sem dúvidas, sem rasgos, sem visão de futuro, sem ousadia. Desde Durão Barroso ( inclusive, claro ) que Portugal não consegue ter um primeiro ministro motivador e com visão. E com gente vulgar, os problemas acumulam-se e pioram, não se irão resolver.
É completamente patética a forma como o poder político se comporta, nos nossos dias. Agem como se tudo se fosse resolver, com umas quantas medidas de austeridade. Fingem que será solução, que o caminho está aberto, que a luz ao fim do túnel brilha forte e intensa. Ocultam o que verdadeiramente possam pensar, têm o máximo cuidado em não ser derrotistas, evitam a todo o custo a verdade !
Mas é assim que vamos alguma vez recuperar ? Claro que não.
Então, como virá a ser a saída ?
Como sempre, em Portugal, as saídas para as crises aparecem abruptamente, ou de dentro ou de fora, mas sempre viabilizadas por terceiros, nunca pelos responsáveis políticos da altura.
Foi assim em 1640, em 1910 ( que hoje celebramos ), em 1974 ( o regime de então também estava num beco sem saída ) e ... não sei quando será a próxima. Também como habitualmente, logo que surge um corte radical e moralizador com um regime "defeituoso", surge imediatamente uma "clique" à volta do novo poder que se aproveita da situação e começa a substituir a ética pelo primado do venha-a-nós.
Apesar de gostarmos de pensar o contrário, somos de facto um povo de gananciosos medíocres e sem vergonha, em termos maioritários. O Eça sabia disso muito bem.
E então, não há esperança, não há saída ?
Bem, talvez exista, mas não será através da austeridade, com toda a certeza. Talvez a Europa ganhe juízo e perceba o que tem de fazer, colectivamente. Talvez só venha a existir saída depois da hecatombe, quando todo o Mundo perceber que o poder financeiro tem de ser ferozmente disciplinado, antes de haver esperança. Talvez ... quem sabe ?
Uma coisa é certa, porém : não será o nosso governo a criar condições para essa saída. Nem o estimável senhor presidente da República, mestre a prever o óbvio e escasso em sugerir soluções. Para ser justo, naquela entrevista no palácio de Belém sugeriu algo com potencial, mas parece ter-se arrependido.
Se eu fosse religioso, diria que esta é uma daquelas alturas em que faria sentido um "Deus nos valha " ... já que os homens que nos dirigem não parecem ser capazes de o fazer.