quarta-feira, outubro 05, 2011

OXALÁ DEUS GOSTE DA EUROPA

No meu último escrito, dei-vos a minha quase-certeza, este caminho político e financeiro não tem saída, é impossível o País recuperar com este plano.
Hoje, gostaria de vos falar de outra desgraça que nos aflige : a qualidade dos homens e mulheres que nos representam, nas várias instâncias do poder. Qualidade ... ou falta dela. O fenómeno não é exclusivo de Portugal, está espalhado por toda a Europa, pelo menos, mas isso não o torna menos preocupante. A verdade é que olhamos para todos os lados e não vemos políticos de elevada craveira. Não vemos gente excepcional, só gente muito certinha, a repetir as mesmas palavras, sem dúvidas, sem rasgos, sem visão de futuro, sem ousadia. Desde Durão Barroso ( inclusive, claro ) que Portugal não consegue ter um primeiro ministro motivador e com visão. E com gente vulgar, os problemas acumulam-se e pioram, não se irão resolver.
É completamente patética a forma como o poder político se comporta, nos nossos dias. Agem como se tudo se fosse resolver, com umas quantas medidas de austeridade. Fingem que será solução, que o caminho está aberto, que a luz ao fim do túnel brilha forte e intensa. Ocultam o que verdadeiramente possam pensar, têm o máximo cuidado em não ser derrotistas, evitam a todo o custo a verdade !
Mas é assim que vamos alguma vez recuperar ? Claro que não.
Então, como virá a ser a saída ?
Como sempre, em Portugal, as saídas para as crises aparecem abruptamente, ou de dentro ou de fora, mas sempre viabilizadas por terceiros, nunca pelos responsáveis políticos da altura.
Foi assim em 1640, em 1910 ( que hoje celebramos ), em 1974 ( o regime de então também estava num beco sem saída ) e ... não sei quando será a próxima. Também como habitualmente, logo que surge um corte radical e moralizador com um regime "defeituoso", surge imediatamente uma "clique" à volta do novo poder que se aproveita da situação e começa a substituir a ética pelo primado do venha-a-nós.
Apesar de gostarmos de pensar o contrário, somos de facto um povo de gananciosos medíocres e sem vergonha, em termos maioritários. O Eça sabia disso muito bem.
E então, não há esperança, não há saída ?
Bem, talvez exista, mas não será através da austeridade, com toda a certeza. Talvez a Europa ganhe juízo e perceba o que tem de fazer, colectivamente. Talvez só venha a existir saída depois da hecatombe, quando todo o Mundo perceber que o poder financeiro tem de ser ferozmente disciplinado, antes de haver esperança. Talvez ... quem sabe ?
Uma coisa é certa, porém : não será o nosso governo a criar condições para essa saída. Nem o estimável senhor presidente da República, mestre a prever o óbvio e escasso em sugerir soluções. Para ser justo, naquela entrevista no palácio de Belém sugeriu algo com potencial, mas parece ter-se arrependido.
Se eu fosse religioso, diria que esta é uma daquelas alturas em que faria sentido um "Deus nos valha " ... já que os homens que nos dirigem não parecem ser capazes de o fazer.

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