quinta-feira, abril 28, 2011

AINDA ME CONVERTO À CAUSA MONÁRQUICA, POR ESTE ANDAR ...

Acho que nunca vivi, na minha vida, um momento tão frustrante e desanimador. E olhem que vivi momentos maus, como nas vésperas da minha partida para a guerra colonial ou quando um e outro dos meus amigos eram presos pela Pide. Naquela altura, pelo menos, tínhamos esperança, olhávamos o futuro, sabíamos para onde queríamos ir e acreditávamos que um dia lá chegaríamos. E chegámos.
Agora não. Durante estes 37 anos, embora toda a gente de esquerda se desunhe a afirmar que valeu a pena e que estamos muito melhor do que então, a verdade é que os nossos partidos, os nossos políticos e toda a gente da sua corte acabaram por destruir financeira e moralmente este país.
Essa é a verdade inquestionável.
E agora ? Que fazer enquanto se aguarda, com angústia mal disfarçada, a sentença da tríade castigadora ?
Que esperança pode ainda haver se as pessoas que se alinham à nossa frente, pedindo os nossos votos, são exactamente aqueles que lançaram o país neste descalabro ?
Que estranha virtude esta da democracia, não é ?
Ou então, visto de outro ângulo, o problema não está nos políticos nem na nossa democracia, o problema está no povo inteiro.
Recuso esta última abordagem, sempre me pareceu uma forma de desresponsabilizar os partidos políticos e os próprios políticos. Não, acho que os partidos e os políticos são bem piores que o nosso povo, na sua essência.
Enquanto não conseguirmos alterar significativamente a forma como os partidos agem e se relacionam com o povo, nada mudará. Continuaremos, como agora, a ver os grandes partidos que deviam representar a forma de pensar da maioria dos portugueses a serem reféns de gente medíocre, mal preparada e mesmo sem ideologia nenhuma, a não ser a do saque e do tachismo. Já para não falar em questões de ordem ética e moral.
Assim, como é que alguma vez mudaremos o país ?
Sabem que muitas vezes tenho pensado se esta situação, no fundo, não será a grande vingança póstuma de Salazar ? Ah é ? Queriam democracia e partidos políticos ? Então assoem-se lá a esses, agora !
A sério, pessoal, não é mesmo desanimadora e frustrante a situação ? Mas onde é que diabo vou votar ?
Queres ver que eu, desde sempre republicano convicto, ainda acabo, na esteira do meu amigo Isidro Esteves, por me converter à Monarquia ? Pior do que esta bagunçada não seria, pois não ?

PS - só não me converto porque sei que, Monarquia ou República, a bagunçada acaba por ser a mesma. Veja-se o que dizia o monarca D. Carlos dos seus próprios Ministros, a páginas tantas, que era gente que só se governava a si própria ...
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terça-feira, abril 26, 2011

HÁ ALGO DE MUITO PODRE NA DISTRIBUIÇÃO DOS CORTES

Esta história dos empréstimos da Europa e do FMI e, sobretudo, de quem os vai pagar está muito mal contada, como é hábito nestas coisas.
Assim por alto, é indesmentível que Portugal foi obrigado a recorrer a esses empréstimos por motivos que vão muito para além dos gastos do Estado com o seu pessoal. Basta pensarmos no sistema de saúde, na educação, nas auto-estradas, no apoio aos BANCOS e muito mais gastos que, a terem alguma justificação, visavam a satisfação de necessidades do povo português, na sua generalidade.
Então porque raio é que são sempre os funcionários públicos a aguentar a parte de leão desses gastos e a sofrer cortes brutais nos vencimentos, pensões, subsídios de férias e natal ? E depois, ainda por cima, sofrer os aumentos do IVA e do IRS como toda a gente ? Que raio de equitatividade é esta ?
Porque motivo os salários privados não são objecto de um imposto especial ( não aplicável ao sector do Estado ) para também contribuirem para os encargos do empréstimo ?
Estou a ver mal o problema ? Ou impera o egoísmo habitual dos portugueses que pensam "enquanto cortam neles não é nada comigo ..." ?

domingo, abril 17, 2011


É PRECISO LATA !

Alternativa a quê ? Ao desastre financeiro e económico ?

O que será uma política alternativa à falta de política ?

Alternativa à ausência de política é ... uma política qualquer. Não me parece difícil.

É preciso lata - ou seja, para além da ausência de política, uma ausência também de vergonha - para dizer coisas destas.

Digam-me lá, os militantes e simpatizantes do PS são alérgicos à realidade ?

Nestes dias, ler as notícias é como estar em presença de artistas surrealistas que tivessem estupidificado ou que fizessem de nós tontinhos.

Espantoso !!

PS - claro que nada disto significa que o PSD tenha, de facto, uma política. Porque não tem mesmo. Mas isso não é novidade nem obstáculo, Passos Coelho é um Sócrates apenas com menos jeito para o show business.

sexta-feira, abril 15, 2011

O MEU AMIGO CARVALHO

Um bom amigo meu, há muito radicado na Alemanha, comentou o meu texto anterior, juntando-lhe comentários seus e informações sobre a forma como os meios de comunicação social alemães colocam as questões da crise financeira da actualidade.
Diz o meu amigo que os jornais colocam títulos do género :"Para que havemos nós de pagar as pensões de sonho dos gregos ?", alongando-se depois em explicações do género "aqui na Alemanha as pensões andam à volta dos 46% do salário ( ou média de salários ) no activo, enquanto na Grécia são da ordem dos 80 " ...
Claro que quem assim escreve sabe perfeitamente aquilo que está a dizer. E o que está a dizer é um chorrilho de asneiras mal-intencionadas. Primeiro, os alemães NÃO estão a pagar as pensões dos gregos, apenas lhes emprestaram dinheiro e quase a 6% ao ano. Não me parece que isto seja pagar coisa alguma, antes um aproveitamento da situação.
Segundo, não se leu nada nesses jornais, aposto, quando a Alemanha pressionou a Grécia, para a conclusão do acordo do empréstimo, a continuar com os contratos de compra à Alemanha de uns quantos submarinos e fragatas. Claro, aí não convinha falar.
Terceiro, quanto às pensões : os 80% do activo, para as pensões gregas, devem ser em média bem menores que os 46% das pensões alemãs. Ou não ? Isso não conta ? Então as pensões são de sonho só na percentagem, não interessam os euros ?
Estas questões, que o meu amigo dá conta, mostram como certos meios de comunicação desempenham o seu papel ao incentivar os sentimentos mais baixos da população em geral. Não é novidade, esta actuação. É exactamente o mesmo papel desempenhado contra os judeus, no início da questão, nos anos trinta, ou contra os turcos ...
Agora, porém, deveria ser papel da Comissão Europeia divulgar a verdade sobre estas coisas e não permitir um crescendo de ódios e ressentimentos, baseados em inverdades e mesmo mentiras.
Conviria também que o Governo Federal Alemão tomasse a seu cargo essa tarefa de sensibilização pública, dizendo a verdade e repondo a justiça. Mas a senhora Merkel será totalmente incapaz de o fazer, prefere um ambíguo jogo duplo ... Prefere também criticar os outros povos e Assembleias, em vez de dizer a verdade na sua casa.
Sabem que mais, amigos ? Acho que toda esta malta que, em plena crise, enche os hotéis do Algarve estão cheios de razão, o que é preciso é animar a malta ...
Obrigado, Carvalho, um abraço pelos esclarecimentos. Aos teus amigos, aí, vai tu dizendo a verdade que eu sei que sabes qual é, vai-lhes dizendo que eles, alemães, vão lucrar, a prazo, milhões de euros com a "ajuda" deles aos gregos, irlandeses e portugueses. Milhões. E diz-lhes também para se lembrarem que a saúde económica da Alemanha depende em muito da saúde do euro e da saúde económica dos países da Europa.
Vou mas é fazer a barba e tomar um duche, enquanto posso ...
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quinta-feira, abril 14, 2011

ESTOU FARTO DE ENGOLIR SAPOS

As núvens ficam escuras, na Europa. Cada vez é mais nítido que a Europa, como um todo, não existe. Percebe-se hoje muito bem que o Euro, se é que alguma vez nos trouxe alguma vantagem, na taxa de inflação, também nos trouxe um colete de forças. O Euro é forte demais para nós, não tem nada a ver com a nossa economia.
Por outro lado, a Europa nunca entendeu montar estruturas para defesa do euro e do espaço económico comum, talvez comece a perceber-se agora porquê : vários países, começando pela Alemanha, não estão interessados nisso. A Alemanha começa a retrair-se e a não querer participar nestes esforços para a defesa da zona Euro. Quase como se o dinheiro a envolver nessas acções fosse oferecido e não emprestado a taxas de juro confortáveis para quem empresta. Alguém terá explicado aos alemães que o dinheiro não vai ser dado a Portugal ?
Receio bem que, a prazo, quer o Euro quer esta Europa de desmoronem. Não vejo políticos imaginativos e criadores, corajosos também, para dar o passo em frente que se está a tornar indispensável. Pelo contrário, só vejo políticos pequeninos demais para a envergadura do trabalho que deveria ser feito. Não, a menos que aconteça um milagre, esta Europa vai dissolver-se e desaparecer numa onda de egoísmo e falta de visão. Dentro de anos, o Euro será a moeda no eixo franco-alemão e pouco mais.
Portugal, se quiser continuar no mapa, no meio desta hecatombe de desconstrução, terá de pensar em associações regionais. Com a Espanha, provavelmente. Ou com o Brasil.
Para mim, está na hora da lucidez e da coragem. Esta fantochada de sermos obrigados a fazer isto e aquilo para nos emprestarem dinheiro é uma farsa que se arrisca a ser tragédia, quando no fim de todos os nossos esforços a Alemanha, a Finlandia, a Holanda e não sei quem mais nos disserem "afinal não vamos emprestar coisa nenhuma !".
Sejamos pois corajosos. Não loucos, claro, primeiro há que sair deste aperto, mas logo a seguir pensemos nos caminhos do futuro. Não se esqueçam, há mais moedas sem ser o Euro e há mais países potenciais aliados e amigos que não a Alemanha.
Afinal, o que nos mostra a História quanto à Alemanha ?
Hem, já se esqueceram ?

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terça-feira, abril 12, 2011

NÓS SOMOS PIORES QUE O FMI, ADMITAMOS

Façamos algo que não é habitual em Portugal, pelo menos no meio político. Falemos verdade. Pelo menos tentemos ser sérios.
Esperam-nos dias duros, com mais cortes nos vencimentos e pensões. Mais impostos, também. Todos os impostos, IVA e IRS. E outros, IMI e na área automóvel.
Bom, admiram-se ? Acham que o FMI e o FEE são maus e gostam de fazer sofrer os povos ?
Bem, bons propriamente não são, mas a questão não se pode colocar assim. Quem empresta dinheiro, e sobretudo quem empresta dinheiro nestes montantes, quer ter a certeza que o credor vai conseguir pagar o empréstimo, juros incluidos. Vocês não fariam o mesmo se pudessem, sobretudo se estivessem a emprestar a um país que passou os ultimos anos a estoirar dinheiro ?
Os cortes a que vamos ser obrigados têm esse objectivo. Há outras questões de outro âmbito, como irão ser decerto as mexidas forçadas na legislação laboral, mas isso já entra noutro filme, bem mais prepotente e injusto.
Quanto aos dinheiros, a verdade é que quem só gasta o que tem, ou o que pode pagar a breve prazo, não é obrigado a cortes. Portanto, malta, deixemo-nos de chorar no leite derramado e centremo-nos no essencial.
Para mim, o essencial seria, como já várias vezes referi, perceber :

a) Onde foi gasto, e com que rentabilidade social, o dinheiro que excedeu o orçamento nos ultimos 10 ou 15 anos. Porquê ? Quem beneficiou com esse acréscimo de gastos ?

b) O dinheiro agora "emprestado" pelo FEE e FMI irá ser aplicado como ? Onde ? Para pagar o quê ? Quanto desse dinheiro será emprestado à Banca ? Como será pago ao Estado ?

c) Como será repartido o esforço de pagamento desse empréstimo, DE UMA FORMA CLARA ? Como se assegura que o esforço é proporcional à disponibilidade dos diversos actores ? Como se assegura que o Estado vai mesmo emagrecer, acabando com os institutos e empresas desnecessárias ?

d) MUITO IMPORTANTE : COMO SE VAI GARANTIR O IMPULSO PARA QUE A ECONOMIA NÃO ESTAGNE OU REGRIDA DEFINITIVAMENTE E POSSA HAVER UMA RECUPERAÇÃO ?

A leitura dos pontos anteriores mostra que não há uma preocupação grande da minha parte em saber que cortes vão ser. Não nos enganemos, os jornais e a TV vão vomitar toneladas de lixo sobre esses cortes e coisas do género, mas muito pouco sobre o resto. Nem os orgãos de comunicação nem os partidos políticos, esses apenas preocupados agora com as eleições.
Vão ver, amigos : uma vez mais, as coisas importantes e urgentes não irão ser discutidas. Nem nunca serão.
... e daqui a 20 anos, cá estará o FMI outra vez.
São uns chatos.

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segunda-feira, abril 11, 2011

VENHAM ASSISTIR ÀS MARAVILHAS ! É ENTRAR, É ENTRAR !!

Maravilhai-vos, leitores, estamos em tempos de coisas incríveis e excepcionais. Este pobre e enxovalhado país levanta-se, todos os dias, incrédulo, para assistir às mais mirabolantes novidades depois de Cristo !
País miserável, habitado por elites medíocres e de apetites cinco furos acima das suas posses, acordámos falidos um destes dias. Seguiu-se o folhetim do pede ajuda ao FMI, só por cima do meu cadáver, afinal parece que é melhor. Segunda parte do folhetim, eu cá não negoceio coisa nenhuma, vá lá pá, então, alguém tem de o fazer, está bem, então eu negoceio mas não com a oposição...
Caramba, rapaziada, vamos lá com isso, afinal quem vai pagar tudo somos nós, não são vocês ! Ah, não, que a eles não interessa quem paga ou se o faz com muito ou pouco esforço, só interessa é que possam dizer que a culpa foi dos outros !!
Este enredo é de esperar num jardim infantil de criancinhas urbanas, convenientemente educadas para serem egoístas, mas nunca ao nível político de topo de um país. Ou estou errado ?
Cereja no cimo do bolo, que muito gozo me deu, a reviravolta do sr. dr. Nobre !! Malta, é a lei da vida neste país desgraçado ! Poucos resistem a uma cenourinha apetitosa ! Cabeça de lista por Lisboa do partido que está com possibilidades de chegar ao poder ? Pá, nem se pensa duas vezes, aceita-se logo... por uma questão de cidadania, pá, que é que estás a pensar ?
Cidadania, pois. Há quem lhe chame outra coisa. Mas não deixa de ser bem feito para muita gente que se deixou deslumbrar pelas palavras desajeitadas e sem nexo que o senhor balbuciava e o medo do sr. Alegre. Para a próxima, não se esqueçam de olhar com cuidado para as pessoas, tá bem ?

Uma última referência : a unanimidade da malta do PS, em torno do sr. Sócrates. Gente há muito meio separada e em discordância com a direcção, como Ferro Rodrigues e Manuel Alegre, cerram fileiras e defendem o PS com unhas e dentes ... Esta história de colocar os interesses de um partido acima da nossa consciência e, sobretudo, acima do País, provoca-me náuseas. A sério. Isto chama-se o quê ? Que interesses estão eles a defender ? Os do PS, do País ou deles próprios, como detentores do poder ?
Espectáculo deprimente, aquele.

Como podem notar, é só maravilhas, rapaziada !!!!!
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quarta-feira, abril 06, 2011

AÍ VAMOS NÓS PAGAR A FACTURA, OS PARVOS DO COSTUME

A economia de um País é um sistema complexo, cheio de variáveis e imponderáveis. Contudo, malta, no que respeita à questão financeira, as coisas até nem são muito difíceis de entender : se se andar a gastar mais que aquilo que se tem, e a pedir dinheiro para o que falta, mais ano menos ano a dívida acumula e não há volta a dar-lhe. No que respeita ao Estado é o que vem a acontecer, praticamente desde Abril de 1974, com um destaque especial para os últimos 10 anos em que essa dívida DUPLICOU.
Ninguém sabia disto ? Ou sabiam e estavam-se nas tintas, pensando que mais tarde alguém havia de pagar (alguém que não eles, claro ) ?
Ou seja, incompetência pura e dura. Ou mesmo uma atitude lesiva dos interesses particulares e nacionais.
Quanto aos diversos Governos que ignoraram os sinais de aviso, pura e simplesmente acho que deveriam ser acusados pelo MP de gestão danosa da coisa pública.
Mas o endividamento do País não se limita a isto, não. À dívida pública há que somar a dívida das empresas, dos bancos e dos particulares, que, no seu conjunto, atinge um valor bem superior à dívida pública.
Uma vez mais, ganância, incompetência, talvez mesmo actividade criminosa. Porque carga de água a banca tem dívidas tão grandes aos exterior ? Para financiar o quê ? A compra de casa própria, por exemplo, que gente estranha convenceu os portugueses ser preferível ao arrendamento. Toda a gente quis ( e quer ) comprar casa própria. Onde é que os bancos foram buscar os enormes volumes de dinheiro para financiar essas compras, já que o dinheiro dos depósitos a prazo nem sequer cobriam metade desse volume ? Ao exterior, claro, foram pedir dinheiro emprestado. As empresas, a mesma coisa.
Estamos conversados, portanto : se a situação do Estado é caótica, com uma dívida enorme, a situação dos bancos e das empresas não é melhor.
Ou seja : andámos todos, nos últimos anos, a gastar muito mais do que aquilo que produzíamos ou tínhamos. Quando digo andámos todos, é um exagero, claro. Conheço muitos portugueses que sempre viveram com o que tinham, pouco ou muito. Honra lhes seja feita. Incluo-me nesse grupo.
A grande chatice, agora, é que também nós, os "moderados", temos que ajudar a pagar essas dívidas todas, quer queiramos quer não. Ou seja, uns gozaram, tiveram salários chorudos, compraram carros de sonho, fizeram viagens aqui e acolá, construiram vivendas com piscina e vista para o mar ... e nós, os parvos, vamos pagar tudo isso sem refilar.
Esta ideia não é nada reconfortante, pois não ?
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sexta-feira, abril 01, 2011

OS BRUXEDOS DO SÉC XXI

A vida das sociedades modernas está cheia de coisas inexplicadas, mitos, esquemas preversos de fazer dinheiro, bruxarias dos tempos modernos.
Pensamos que estamos a séculos daquilo a que chamamos Idade Média mas a verdade é que em muitos domínios estamos tão às escuras como então. No nosso dia a dia, somos invadidos por coisas estranhas e misteriosas como os "ratings", o valor dos juros quando pedimos dinheiro emprestado, a voz dos "mercados" e muitas coisas desse tipo. Ouvimos, engolimos em seco, lamentamo-nos ... mas nem sequer sabemos bem que gajos são esses que nos andam a lixar todos os dias. Não sabemos, mas também não perguntamos nem ninguém nos elucida. Uma grande confusão.
Vejamos uma delas, as empresas de rating. Uma data de senhores e senhoras supostamente bem qualificados e informados emite juízos sobre a maturidade e idoneidade de países e empresas, quanto à sua capacidade de respeitar compromissos financeiros. Essa malta olha para um país, mastiga uns tantos dados e classifica o país como um devedor seguro, que vai pagar o que deve ou um devedor que não merece a confiança de ninguém no Mundo.
Enganam-se ou acertam sempre ? Não, enganam-se frequentemente, e, mais do que isso, são suspeitas de não serem totalmente isentas nas suas avaliações. Na recente mega crise de 2008, por exemplo, as grandes empresas envolvidas directamente na crise estavam avaliadas no grau máximo de "gente de confiança". Pequenos enganos, claro.
De que vivem essas empresas ?
Surpreendentemente, são contratadas e pagas pelos países e empresas a quem atribuem as avaliações. Isto, porque neste Mundo de gente esquisita, empresa ou país que não possua uma avaliação dessas não vale nada ...
As suas fontes de rendimento, porém, mostram o enorme equívoco original em que se baseiam estas firmas : então avaliam quem lhes paga ? E a mão não lhes foge para glorificar quem lhes dá os dólares, que foi exactamente o que aconteceu na crise de 2008 ?
Grande e esquisito negócio, este.
Bom, e responsabilidade por errarem a avaliação ? Podem ser processadas por danos causados ?
Não. Não há legislação nesse sentido.
Recentemente ( está a acontecer ) a Europa fez saber a estas agências ( são todas americanas ) que iria produzir legislação para as responsabilizar nos casos em que provoquem prejuízos a países ou empresas com avaliações erradas.
Aceitaram ?
Não, responderam, soberbas e omnipotentes, que se a Europa avançar com essa medida não vão atribuir ratings aos países periféricos da Europa, ou seja, àqueles que exigem mais cuidado nessas avaliações.
Este episódio pode dar-vos uma pequena ideia da arrogância destas empresas, da sua total irresponsabilidade nestas crises.
Acreditam neste esquema ? Isto não é uma coisa de atrasados mentais, aturarmos estes gajos ?
Apenas mais um pequeno pormenor : já alguém nos elucidou quem e como são fixadas as taxas aplicadas nas compras das dívidas soberanas ? Aquilo é apenas bruxedo, baseia-se nas transacções diárias dos títulos de dívida nos mercados secundários ou é à vontade de algum senhor instalado em algum trono de oiro em Wall Street ?
Ninguém explica, não há jornalistas a perguntar, fingimos todos que sabemos.
Pois bem, eu não sei de nada. Por formação, não acredito em mecanismos que não conheço. Irritam-me essas empresas de rating. Irritam-me as taxas todos os dias crescentes. Irrita-me a desregulação e desresponsabilização que reina em todo o Mundo. Irrita-me, sobretudo, que venha a ser eu ( e vocês também ... ) a pagar as asneiras e novo-riquismos dos outros.
A vocês não irrita ?