quarta-feira, março 06, 2013

A FRANÇA DE VICHY

A França capitulou perante Hitler em Junho de 1940, assinando a rendição, pela França, um militar, o Marechal Pétain.
Os alemães apoderaram-se de todo o norte do país, zona que mais lhes interessava, em termos estratégicos e económicos. Quanto ao sul do país, entregaram a sua administração a Pétain, que formou um governo pseudo-livre francês com sede em Vichy.
Era um governo de um país ocupado. Pétain pautava a sua acção de acordo com todos os desejos dos alemães, de uma forma autoritária e de carácter nazi-fascita.
Por exemplo, entregava sem piedade aos alemães todos os franceses sobre os quais incidiam suspeitas de serem judeus.
Um excelente discípulo de Hitler, portanto. Um francês cuja vocação era servir os alemães e que se estava nas tintas para os problemas e necessidades dos seus compatriotas, os franceses.
Não queria massacrá-los com estas histórias abomináveis de franceses e alemães em tempos da Segunda Guerra. Apenas o faço para vos dar a justificação da minha afirmação de hoje : o actual governo português é uma espécie de governo de Vichy, embora com sede em Lisboa. Toda a sua estratégia e actuação prática tem por origem outros centros de poder, a Europa, a Alemanha, mas nunca o povo português. É um governo de um país sob ocupação estrangeira, a troika, e apenas projecta e executa de acordo com a vontade da potência ocupante. Nunca lhes passa pela cabeça protestar ou fazer valer as necessidades do povo português, bem patentes pela miséria social crescente. Não, tudo ao gosto dos ocupantes, nada que os faça irritar connosco.
Alguns leitores acharão que exagero nesta afirmação. A esses peço-lhes que pensem, sem preconceitos, e vejam onde e quando este governo se dignou representar verdadeiramente o povo que o elegeu e os seus anseios. Digam-me, quando ? Depois, vejam como se comportam sempre com os "invasores" : sorrisos, mesuras, salamaleques ... Depois de pensar bem, digam-me lá então se temos ou não o governo de Vichy ?
Ah, é verdade, deixem-me que vos dê só mais uma informação : quando os aliados desembarcaram na Normandia e libertaram a França, o governo de Vichy foi considerado uma traição à França. O Marechal Pétain foi julgado e condenado à morte por alta traição à Pátria, sendo esta pena comutada mais tarde em prisão perpétua.
Pedaços de História muito elucidativos, em meu entender.

PS1 - afinal, porquê todas estas exigências e não pode fazer isto nem sonhar em fazer aquilo que a troika nos dita ? Bolas, eles nem sequer nos ganharam militarmente. Apenas nos emprestaram dinheiro - e com juros, caramba. Porque havemos de ser tão subservientes ? Porque rastejamos tanto ?

PS2 - para quando está previsto o dia D ? Quando é o desembarque dos aliados ? Ou quando é que atiramos algum "ocupante" de uma qualquer varanda abaixo ?

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quarta-feira, janeiro 16, 2013

COELHO HOJE NA CONFERÊNCIA "PENSAR O FUTURO"

É absolutamente hilariante que certas pessoas, ostensivamente incapazes de pensar o presente, resolvam botar palpites sobre o futuro. Fantástico.
Talvez por isso Passos Coelho tornou a declarar, acho que pela segunda vez, que o Sporting vai afinal ganhar a Liga este ano - perdão, que a crise está em vias de terminar.
É esta capacidade de previsão que faz dele um político de excepção. De excepção porque nenhum dos outros se mete em tantas baralhadas.
Enfim. Que tenha uma longa vida, é o que lhe desejo - agora com sinceridade - mas de preferência perto de Sócrates. Assim, pelo menos, irritam-se um ao outro e não a nós.

segunda-feira, janeiro 07, 2013

LAMENTOS DESARRANJADOS

São nove da noite. Lá fora, na rua, está frio. Aqui, no meu quarto, o gato dorme pacificamente aos pés da minha cama. A casa está silenciosa, a minha filha está na escola ainda, só deve chegar lá pelas 10 e tal. Tenho a televisão sem som, como muitas outras vezes. Nem o ruido dos autocarros me chega da rua, graças ás recentes janelas de vidro duplo. Acho que já tenho saudades desses ruidos. Estive a ler durante muito tempo, parei com a sensação de não saber as horas nem onde me encontrava. Agora já sei mas fiquei a matutar no tempo. No tempo que nos foge. Entre muitas outras coisas, é esse tempo que me tem vindo a fazer envelhecer. Este ano, lá para meio do ano, vou fazer 70 anos. Incrível, setenta anos. Um velhote, em todos os sentidos. Lá está esse tempo estuporado, não sei bem como é que isto aconteceu tão depressa. Claro que é melhor eu aceitar, ou fingir que aceito, ninguém tem paciência para aturar um velho arrependido e contrariado por ter envelhecido. OK, mas lá que estou estonteado com esta história é verdade.
Tenho fome ? interrogo-me. A verdade é que não almocei, hoje. Comi uma sandes de carne assada, lá pelo meio da tarde, quando regressei do Leroy Merlin. Sabem, aquele armazém grande de artigos de bricolage ? Frequento esse ambiente como outros vão a apresentações de livros, a estreias de cinema ou a exposições de pintura. Acho que me identifico mais com berbequins e tintas do que com escritores e senhoras distintas a falar bem. Reparo agora que isto dito assim me dá um ar troglodita e vagamente estúpido. Que se lixe, é a verdade. De pintura, por exemplo, prefiro as Janelas Verdes, aprecio muito mais os pintores já mortos, que nos deram tempo - cá está o tempo de novo - para depurar e saborear as suas obras. Passa-se o mesmo com os escritores. Conheço dois ou três escritores ainda vivos e, apesar de até gostar de algumas das suas obras, dou por mim a rejeitar os seus maneirismos, a sua mania, os seus tiques. Como a vaidade. Quanto a Eça de Queiroz, por exemplo, já não somos convidados para a apresentação de mais um livro, na FNAC ou no Grémio Literário, nem somos escorraçados pelo seu mau feitio ou vaidade. Não, em síntese, um artista bom é um artista morto. Não pelo mesmo motivo que por vezes se diz isso dos extremistas, mas pelos motivos que já vos apontei.
Não faço a mais pequena ideia do motivo que me levou hoje a alinhar estas palavras. A solidão, talvez.
Ou a anti-vaidade que é uma forma canhestra de vaidade, também. Chiça !
Passem bem. E não me venham mais chatear para eu não estar sempre a escrever sobre política. Já viram no que dá quando escrevo sobre outras coisas ??



sexta-feira, janeiro 04, 2013


AS QUINTAS E AS HORTAS, EM BENFICA


A quinta que vêem na foto chama-se Quinta da Granja e ainda resiste, orgulhosamente, em Benfica. São cerca de 11 ha de terreno cultivado, com um complexo de casas no topo da colina, rodeados por edifícios e arruamentos por todos os lados. A quinta data de finais do século XVII, é velhinha, tem todo o direito de estar onde está sem que ninguém a chateie. Já teve vinha, depois ovelhas, agora apenas cereais. Ao que me disseram, a família proprietária recusa vender esta linda preciosidade, de outra forma já estava transformada em betão encavalitado um no outro.
Fica mesmo perto do Colombo, em Lisboa.
Mas hoje não me vou ficar pela Quinta da Granja. Saibam que ela já não está sózinha no meio dos carros e prédios. Entre a quinta e o Colombo a Câmara Municipal de Lisboa deu expressão a um sonho velho do Arquitecto Ribeiro Teles e construiu umas Hortas Urbanas. O terreno ( já existiam no local umas velhas hortas ad-hoc ) foi todo preparado, água e electricidade colocadas e dividido em talhões com uns barracões pré-construidos.


Em seguida foi feito um concurso e cada talhão foi alugado a um interessado na sua exploração. Garanto-vos, são autênticas mini-hortas onde não faltam as couves, as alfaces, as favas, ervilhas e tudo o resto que se adivinha.

Vou de minha casa ao Colombo muitas vezes, a pé, e é sempre ao lado destas hortas que passo. Os meus olhos vagueiam sempre pelo verde das plantas e pelo esforço dos agricultores urbanos que, curvados e de enxada em riste, por ali se divertem calmamente, a dois passos dos carros e da balbúrdia do grande centro comercial.
Lembro-me sempre do velho arquitecto Ribeiro Teles, que eu conheci nos anos sessenta em comícios de oposição ao ditador Salazar. Como ele deve sorrir ao ver esta realidade !
Penso, muitas vezes, como deve ser ser bom ver um dia concretizado um velho sonho de transformação da realidade que uma vez tivemos...
Seja como for, obrigado arq Ribeiro Teles e obrigado Câmara Municipal de Lisboa. Esta ideia e a sua concretização estão a trazer muita felicidade a muita gente.
Entre eles ... a mim, também.
Até.

PS - Não, não, não sei nada de nabos e hortaliça, gosto muito da ideia mas não me vão apanhar de enxada ao ombro ...