quarta-feira, agosto 08, 2007

Confesso que não percebo o que faz correr Sócrates.
Sou capaz de perceber uma pessoa determinada, com espírito de missão.
Sou capaz de entender aqueles que têm um sonho e dele não se desviam.
A Sócrates, porém, não lhe conheço sonhos grandiosos para o país, nem lhe pressinto motivações ou concepções políticas de rasgo. Não é crime nenhum, mas Sócrates surge-me como uma pessoa mediana, homem sem grandes preocupações políticas ou humanisticas, nem sequer uma formação científica muito sólida. Os seus maiores entusiasmos, no domínio do sonho realizador, são o fim do défice e o engrandecimento da tecnologia. Sonho pequeno, convenhamos, para resultados tão destrutivos na vida e no sossego de tanta gente, com essa unica justificação.
Onde é que Sócrates foi beber o néctar da sua verdade ? Como se formou no seu espírito a descoberta de que era inevitável fazer o que está a fazer ? Quem ou o quê o convenceram que a felicidade do país exige o sacrifício de tantos dos seus filhos ?
Não sei, não, como diriam os nossos irmãos brasileiros, mas é como se Sócrates fosse movido por uma agenda secreta e invisível, que nunca ninguém viu ou sequer suspeita mas que está lá, á sua cabeceira, permanentemente. Agenda que exige frieza, mesmo um certo estranho e preverso prazer, na sua concretização.
Por mim ( mas quem é que eu sou, não é, comparado com um Primeiro-Ministro ? ), acho que nunca na vida seria capaz de sacrificar tanta gente em tão pouco tempo sem ter pesadelos durante a noite, sem me questionar se estaria no caminho certo ou não. Fosse por que motivo fosse. Sócrates, porém, não hesita nunca um momento, tem sempre uma Ota pronta na secretária á sua frente, tem sempre a certeza do que faz : vai reduzir o défice e pronto ! Ah, já me esquecia, desculpem lá : também vai colocar nas Escolas uns quadros esquisitíssimos, interactivos, dizem eles ( interagem com quem ? os alunos estão todos a ficar ignorantes ... ).
E vai, claro. Vai reduzir o défice. Vai reduzir o défice e muitas outras coisas mais, por arrasto, ao que se começa a ver.
Por favor, mas mesmo por favor, não queiram que Sócrates reduza mais o défice. Digam-lhe que já chega, está bem, obrigado, agora precisamos de outras coisas.
Como cuidar das pessoas, caramba. E da economia em geral.
E do País, já agora, se puder ser.