sábado, junho 30, 2007

CALMA, SENHORES MINISTROS

Amigos ou pelo menos leitores : que me dizem daquela história de Vieira do Minho ?
Conta-se em poucas palavras :

Acto 1 – O senhor Ministro da Saúde deu uma entrevista a um jornal. Entre outras preciosidades, afirmou que nunca na vida entrou num SAP, nem fazia ideia de alguma vez lá entrar ( acho que a ideia do Sr. Ministro seria a de que esses serviços estariam sempre insuficientemente dotados de equipamentos e pessoal, pelo que melhor seria muitos deles encerrarem ... ) ;

Acto 2 – Um médico do Centro de Saúde de Vieira do Lima, certamente sentindo-se “agradecido” ao Sr. Ministro por aquelas palavras, tão reconfortantes para quem todos os dias trabalha num serviço desses, resolveu afixar no placard do Centro uma cópia do jornal com a entrevista, adicionando-lhe um comentário brincalhão do género : “Façam como o sr. Ministro, não ponham aqui os pés !” ;

Acto 3 – O sr. Ministro, irritadíssimo com esta piada, exonerou a directora do Centro de Saúde ( não o autor da piada, cujo "castigo" acarretaria maiores dificuldades processuais ), invocando quebra de lealdade para com ele ;

Bom.
Que dizer de coisas como estas, que vão sucedendo um pouco por todo o país, entre cidadãos e membros do Governo ?

Em primeiro lugar, estas atitudes revelam insegurança.
Depois, imaturidade política.
Em seguida, uma atitude interior de pouca tolerância para com a forma de pensar dos outros.
Por ultimo, uma enorme confusão entre o que é o dever de lealdade institucional, de um servidor do Estado para com um membro do Governo, e a sua afinidade ou lealdade pessoal para com esse Governo, esse membro do Governo ou a sua política.

Estes sinais provocam inquietação em todos nós e também, segundo se sabe, dentro do próprio PS.

Mas que outra coisa seria de esperar, senhores Ministros ?
Este “nosso” Governo, em diversos sectores em simultâneo, investe sem dó nem piedade, tipo tsunami social, na destruição de muitas situações, a que chama de privilegiadas.
Os atingidos, funcionários do Estado, senhores de "privilégios" imensos como se sabe(embora não costumem fazer férias na neve nem em outros locais exóticos ) e milhares de outros cidadãos, atingidos pelo encerramento de instalações hospitalares,por exemplo, o que deveriam fazer ? Manifestações de agradecimento ao Governo, pelo empenho na defesa dos interesses nacionais ? Orações todos os dias pela manhã , pedindo graças divinas para os senhores Ministros ?
Ora vá lá, senhores Ministros : sou mais velho que a maior parte dos senhores, tenho a mesma formação académica, educação e inteligência, tenho experiência de vida e, num passado remoto, arrisquei tudo o que tinha ( não era muito, também ) para que este País voltasse a ter uma democracia. Sei o que custa hoje viver decentemente em Portugal, sem a protecção de privilégios, cartões de crédito, despesas de representação, carros caros de vidros escuros e outras mariquices quejandas. Não meto nem aceito cunhas, não precisei nunca de obter colocações vantajosas através de amigos, do partido ou da sociedade empresarial civil.
É desta posição, que receio bem comece a ser rara, que me permito lançar uma palavra de alerta e bom-senso : façam um esforço por cair no Portugal real, por perceber quão mal se vive neste gueto da Europa, por entender, finalmente, quão pouca gente percebe sequer o que os senhores Ministros pretendem fazer.
Pensam que as pessoas trabalham gostosamente e vivem para o combate ao défice, ou quê ? Terão sido os funcionários do Estado a inventar Institutos e outras posições muito bem remuneradas no mesmo Estado ? Somos nós que aumentamos as despesas e contratamos centenas e centenas de assessores e encomendamos pareceres e estudos caríssimos fora do Estado, quando lá dentro existem especialistas cuja função é essa mesmo ? Não vêem que estamos todos muito fartos de ouvir falar nisso, há anos e anos, aguentar salários sem aumentos ou aumentos baixíssimos, progressões congeladas, despedimentos, enquanto todos os outros países da Europa vão fazendo pela vida e conseguindo melhorar ?
Então, sinceramente, acham que os portugueses lhes deviam estar agradecidos por estes ultimos anos, nos quais obviamente incluo outros senhores Ministros anteriores a V. Exas ? Acham, a sério ?? Acham que os potugueses são parvos ?

Por ultimo, permitam-me que lhes recorde aquilo que Salazar sempre percebeu muito bem : deixem-nos ao menos brincar com estas coisas, senhores, inventar umas piadas, umas anedotas sobre V. Exªs ! Precisamos de válvulas de escape, senhores, não esqueçam !
Se nem isso lhes ( nos ) concederem, então podem ter a certeza, meus caros senhores, que os portugueses encontrarão, mais tarde ou mais cedo, uma resposta adequada para oferecer a V. Exªs.
Com toda a razão.

quinta-feira, junho 28, 2007

O CRIME DEFINE-SE POR OPOSIÇÃO AOS MEUS INTERESSES ?

Também disse que muitas situações são detectadas graças a denúncias, principalmente de particulares, o que reflecte uma mudança de mentalidade por parte das pessoas e «uma maior consciencialização de que a pirataria é crime».
O que acabam de ler é um excerto de uma notícia sobre a “caça” da TV Cabo aos ilustres cidadãos que se atrevam a instalar caixinhas pirata para ver a TV- Sport á borla.
Então é assim como viram : a “bufaria” é considerada pela TV-Cabo como sendo uma atitude de grande valor cívico, demonstrativa da forte consciência social dos portugueses perante o crime.
Extraordinário.
Ao ponto a que a hipocrisia chega : o elogio da denúncia como atitude positiva.
Estão mesmo a ver, não estão ? O Carlitos ali da esquina, todo roído com o Zeca por causa daquela garina boa do centro comercial, vá de chibar para a TV-Cabo que o Zeca vê o futebol á borla lá em casa, com uma box pirata ! É assim mesmo, catano, atão o gajo pensava que me gamava a garina e se ficava a rir ? Toma lá, lixa-te todo !
E aí temos o Carlitos das Fontaínhas, bufo inveterado e corno frequente, promovido á categoria de cidadão fortemente consciente dos seus deveres cívicos.

Claro que, como em tudo na vida, a verdade é relativa. Aquilo que para alguns é crime, para outros é perfeitamente normal. Assim, o manfio que se atreva a “fintar” a TV-Cabo é tratado de criminoso e sujeito á denúncia dos Carlitos todos deste país, sob o olhar complacente do nosso Governo ; por outro lado, um senhor Ministro que finta os valores da isenção e lisura de procedimentos e “mete” a filha no seu Gabinete, a ganhar 3.500 euros por mês, sem saber ler nem escrever ... esse não é criminoso, é apenas esperto e não faz mais que toda a outra rapaziada faz.

Ora vêem ? Notam como tudo isto é divertido ?

Pois bem, invertamos as verdades : que tal acusar a TV-Cabo de “pirataria económica”, por primeiro ter entrado em nossas casas, por X por mês, todos os canais em claro e depois, progressivamente, quando já nos tínhamos habituado, começar a pedir mais 15 ou 20 euritos por mês pelo futebol ou pelo cinema, sem que o cliente tenha qualquer alternativa ?
Hem, que me dizem, isso não poderá também ser rotulado de “pirataria” ?
Ou será apenas ... uma estratégia inocente de “marketing” ?

Sabem que mais ? Abram-me bem esses olhos, malta ! Há por aí uma série enorme de gajos a tirar-nos dos bolsos todos os poucos cêntimos que ainda lá restam ! Uns de uma maneira, outros de outra. Uns cheios de moralidade, invocando sempre a lei e o mercado ; outros nem por isso, abusando apenas da sua posição e poder.
Não me venham pois com consciências cívicas, caramba, chega de cinismo e hipocrisia.

quarta-feira, junho 27, 2007

UM GATO PRETO NA FLORESTA PERDIDA

Um destes dias, ao fim da tarde, estava sentado no Colombo, a comer uma canja. A minha filha sentava-se a meu lado. Estávamos calados. Á minha frente, aqueles troncos retorcidos, enredados numas ruinas misteriosas, a versão Belmiro de Azevedo de uma floresta perdida. Aqui para nós, sempre senti uma simpatia inconfessada por aquela imitação. Sonhos de criança, maravilhas que povoam as nossas mentes, os livros de aventuras da nossa infância ?
Seja como for, aquela pantera negra a descer por entre os ramos ressequidos tinha um toque surreal, naquele ambiente urbano de centro comercial.
Quase esfreguei os olhos. Que raio era aquilo, já faziam decorações assim tão reais ?
Não, era um gato que descia pelos ramos, seguro e ágil. Um gato preto de olhos verdes, desconfiados.
Um gato ?? Ali, no meio do Colombo ??
Sim,um gato.
Desceu das árvores falsas e foi direito a um prato de comida, bem real. Era óbvio que o rei da selva misteriosa tinha cúmplices entre o pessoal dos restaurantes. A minha filha perguntou a uma mulher que trabalhava na limpeza das mesas e o mistério esclareceu-se. Era o gato residente, já há uns oito anos, disse ela. Aparecera nas obras, coisinha minúscula, perdido ou abandonado pela mãe e pelo mundo em geral. O pessoal das obras foi tomando conta dele, o jovem gato foi-se adaptando ao local. Quando construiram aquela floresta, no ultimo piso, o gato sentiu-se em casa. Árvores, belos sítios para se esconder e dormir. Comida á borla, ainda por cima, era o paraíso.
E lá estava ele, elegante, pêlo brilhante, todo preto, maravilhoso na sua solidão. Subiu de novo, numa árvore da sua floresta e quedou-se, empoleirado num ramo, a lamber-se vagarosamente. Tentámos ainda umas fotos, com o telemóvel da minha filha, mas não ficaram nada de jeito. Talvez seja melhor assim, podem imaginá-lo como quiserem, a viver naquele ambiente.
Saímos do Colombo, mas o gato preto não me largava o pensamento. Viver daquela forma, ali, numa floresta fingida, absolutamente só, sem outros gatos, já viram que vida a daquele ser ? Que espantoso equilibrio psicológico, que ascetismo mais admirável, que capacidade maravilhosa de sobreviver com o pouco que tem.
Será feliz ? Nunca terá tentado sair dali e ir por esse mundo fora ?
Senti-me verdadeiramente irmão daquele bicho. Também eu me sinto, nestes ultimos tempos, a viver numa mata fingida, empoleirado no meu sexto andar, sem coragem para enfrentar o mundo. Um destes dias vou levar-lhe um petisco. Pena que os gatos não gostem de cerveja, poderíamos beber um copo juntos.

segunda-feira, junho 25, 2007

O INTRIGANTE E OMNI-PRESENTE SENHOR JOE BERARDO

Sou um aprendiz permanente da natureza humana.
Mais do que um amor genérico pelo ser humano, que não reinvidico – em certos casos sinto mesmo repugnância – tenho o fascínio dos porquês, das motivações, das explicações.
No fundo, talvez não seja mesmo um humanista, apenas alguém que gosta de desmanchar os brinquedos para saber como são por dentro.
Dito isto, confesso que aquele tipo me intriga, o Joe Berardo. Sei pouco sobre ele, ainda não ouvi muita coisa dele, apenas o vi e ouvi em algumas entrevistas, por causa do Benfica.
Da mesma forma que não me reclamo de humanista, também não sou um místico do dinheiro ou do poder. Não sinto qualquer apelo ou admiração particular nem por um nem por outro.
Contudo, gostaria muito de saber o que faz de um ser humano milionário e de outro sem-abrigo. A oportunidade, uma pre-disposição, a ambição, uma habilidade especial, o karma ?
Olhem bem para este homem, oiçam-o. Qe raio existe neste tipo que justifique ou explique os milhões que ele tem ? Transforma em ouro tudo o que lhe vem á mão ?
Coisa intrigante.
Aquilo que se vê é que o senhor é ecuménico : tanto compra obras de arte como clubes de futebol, os seus interesses não conhecem barreiras nem fronteiras, tal como a sua vida. Gosta de se ouvir, tem montes de ideias ( aparentemente sem grande brilho ), assume o papel de animador da vida portuguesa.
Ainda assim, das suas intervenções e palavras ressalta um vazio enorme. Quem é, de facto, este senhor ? Que fez ele na vida ? Ganhou o dinheiro como ? Que habilidades especiais o povoam ? Será um génio do investimento financeiro, será um especialista daquelas mais-valias tipo compra hoje e vende amanhã com 1000% de lucro ?
Notem, não estou a indignar-me nem a criticar o senhor. Apenas gostava de saber como é por dentro este Joe, o homem que diz “fuck him” acerca de Rui Costa, eh eh eh ... Alguma virtude terá, e grande, se o avaliarmos pela sua talha dourada. Mas onde se esconde essa veia de ouro que não a consigo descortinar no meio da sua conversa dificil, mal articulada e um pouco superficial ?
Não, decididamente, este Benfica não vai nada bem... não é este novo mecenas que vai trazer algo de novo ao velho clube...
É apenas mais do mesmo : uma troca de dinheiro por ... mais dinheiro, com a oferta adicional de uma auréola de homem importante e providencial.
Mas que raio terá o futebol, no seu interior, que tanto atrai este género de pessoas ?
Que estranhos tempos estes em que o nome de um clube velhinho, com história e tradição, mais não é que uma marca que vende bem.

quarta-feira, junho 20, 2007

NÃO NOS PODEMOS QUEIXAR DE ESTAR MOLHADOS, SE ANDARMOS Á CHUVA ...

Parece que o senhor José Socrates (JS ), cidadão deste país mas também Primeiro-Ministro, neste momento, apresentou queixa-crime contra o cidadão António Albino Caldeira (AAC ) , professor em Alcobaça, devido ás afirmações deste no seu blogue sobre o processo da licenciatura do primeiro, na Uni.
Não li a totalidade dos escritos de AAC no seu blogue, mas li alguns. Foi ele, nesse blogue, que levantou a celeuma, depois agarrada pelos orgãos de comunicação social.

Claro que JS tem todo o direito de apresentar queixas sobre quem ele quiser, não é isso que está em causa.
O facto de o fazer agora, porém, enquanto titular do cargo que ocupa, é extremamente revelador da sua personalidade.

Vamos agora aos factos : JS sente-se ofendido ( atacado ? ) por questionarem a forma como terminou a sua licenciatura na Uni. Na sua opinião, fez tudo com lisura e não teve qualquer responsabilidade em nada.
Tudo bem, cada um pensa o que quiser dos seus actos. Embora nunca ninguém seja bom juiz em causa própria, como se sabe.

O que eu não posso, porque ficaria a pesar na minha consciência, é deixar de dizer o seguinte :

1º ) Sou engº civil, com a licenciatura terminada no IST sog a égide da Academia Militar, dado que sou militar de carreira ( agora na reserva, prestes a passar á reforma ) ;

2º ) Estive muitos anos inscrito na Ordem dos Engenheiros, tendo depois cancelado a minha inscrição, por motivos pessoais ;

3º ) Tenho orgulho pessoal em ter “tirado” um curso de Engª Civil primeiro na Academia Militar, depois no IST, com professores qualificados e exigentes, dos quais recordo o célebre Prof Edgar Cardoso, em Pontes. Terminei o curso com uma boa média geral, acrescente-se ;

4º) Nesse tempo, nesse curso, seria IMPENSÁVEL que o mesmo Prof fosse responsável por quatro cadeiras, assim como seria IMPENSÁVEL fazer testes, ainda que de uma coisa chamada Inglês Técnico, através de fax ;

5º) No meu tempo, no IST, para que um aluno fosse convidado a dar aulas, após terminar o curso, era preciso que esse aluno fosse de facto um “craque”, do género 18 ou 19 de média ;

6º) Se eu tivesse concluido uma licenciatura em Engª Civil numa Universidade como a Universidade Independente, em idênticas condições ás de JS, NUNCA na vida teria a coragem de me intitular engenheiro, inscrito ou não na Ordem. NUNCA. Para mim, ser engº tem outra dignidade científica, técnica e intelectual ;

7º) As pessoas são obviamente diferentes, nos seus procedimentos habituais e na forma como se apresentam e actuam em sociedade. Por isso, acho que JS tem todo o direito a agir como quiser, embora seja obrigado a aceitar a opinião dos seus concidadãos, quanto ao mérito dos seus procedimentos ;

8º ) JS não se pode furtar a que qualquer pessoa, neste caso EU, faça um juízo de valor negativo sobre a qualidade científica e técnica daquelas cadeiras que fez na Uni, da forma como aparentemente foram leccionadas. Acho também que JS é obrigado a reconhecer-ME o direito a pensar que os cargos que desempenhava na altura tenham tido eventualmente influência na forma como todo o processo decorreu. Verdadeiro ou falso, com o seu conhecimento ou sem ele, tenho o direito a colocar essa hipótese e a escrever a minha OPINIÃO sobre ela. A verdade é que eu nunca poderia ter enviado um fax ao director do IST , nem a nenhum Professor, começando com um “Meu caro ... “ ;

9º) Acho que, se for verdade que JS apresentou uma queixa-crime contra AAC, este procedimento em nada engrandece JS, nem dignifica e fortalece a democracia portuguesa. JS não é hoje apenas um vulgar cidadão, qualquer atitude deste tipo que eventualmente tenha tomado questiona as liberdades fundamentais de uma democracia, fomentando o medo e o passivismo.
Por mim, odiei demasiado essas coisas ao longo da minha vida para agora as aceitar.

segunda-feira, junho 18, 2007


AS DESVENTURAS DE UMA GATA VOADORA
A Lili anda com uma crise de identidade. Ou não sabe que é apenas uma gata ou então tem secretos desejos de ser mais que isso. Um pássaro ? Uma águia ?
Não sei o que vai naquela cabecita, não vos posso explicar bem os porquês, mas a coisa foi assim : na passada sexta-feira, de manhã, estava eu a fazer a barba, o Pipoca ( o gatão amarelo, macho de 3 anos ) começou a fazer um enorme chinfrim na porta da casa de banho, com miados estridentes e enérgicas raspadelas.
Abri a porta e percebi que ele andava á procura da sua companheira Lili. Como ali não estava, fiz um rápido périplo pelos sítios habituais da gatinha. Sem êxito.
De repente,notei uma fresta na janela da marquise da cozinha. Senti-me gelar por dentro, aquela janela dá directamente para o parque de estacionamento das traseiras, seis pisos abaixo ... Corri para a janela e olhei : lá em baixo, muito pequenina, uma coisita branca e preta estava deitada no chão, imóvel, sabe-se lá em que estado !
O meu coração entrou em paranóia, confesso. Não tenho vergonha de vos confessar que foi um dos momentos mais aflitivos da minha vida, e já passei por alguns que não recomendo a ninguém.
Chamei-a, com um berro : “Lili !!!!!! “. Não é que a gatita virou a cabeça e olhou para cima ? Estava viva, pelo menos ainda estava viva !!
Precipitei-me para o elevador, a cara ainda com espuma, totalmente despenteado, só com uma t-shirt e umas calças, mas com a lucidez para agarrar as chaves do carro.
Era ela, a pobrezita. Teria caído ? Teria dado um salto para apanhar qualquer passarito ? Teria pensado que voava ? Certo, certo é que estava deitada ali, imóvel, em estado de choque, seis andares abaixo de casa.
Peguei-lhe e ela desatou num pranto de miados, dorida, assustadíssima, com um ar infeliz, como quem não entende o que lhe aconteceu. Fui correndo para o carro, enquanto lhe apalpava as patas e a barriga. Ela ia soltando miaus terríveis, as pessoas voltavam-se para olhar aquele quadro esquisito, um homem com ar esgazeado, as calças a cair, levando ao colo uma gata espavorida que soltava pungentes lamentos.
Fiz um vôo baixo até ao veterinário. Lá a examinou, não encontrou nada partido, injectou-lhe um anti-inflamatório e mandou-me ver se ela usava a bexiga bem ... entretanto, tinha avisado a minha filha, com cuidado.
A Lili passou o resto da sexta-feira deitada de lado, tapada com um cobertor, em estado de torpor, sem comer nem beber. Nem urinar, nem nada.
Eu e a minha filha íamos deitando olhares desconfiados para a bichinha e ás 9 da noite não resistimos : agarrámos na Lili e acelerámos para o Hospital Veterinário de S. Bento ( na Rua de S. Bento ), onde sabíamos existir urgências e meios complementares de diagnóstico.
E assim foi, a Lili teve direito a nova auscultação e apalpação, raios-X, ecografia e outro anti-inflamatório. Respirámos um pouco, finalmente, a bexiga da bicha via-se bem, intacta, na ecografia. Nem sinais de hemorragia interna nem nada.
Eram quase 11 da noite de sexta quando chegámos a casa, de novo, bastante mais descansados. A Lili, essa, alheia ás nossas preocupações, dormia descansadamente, na caixa de transporte...
Bem, o fim de semana passou-se ainda um pouco em sobressalto, mas a jovem felídea foi-se recompondo, recomeçou a comer desalmadamente e, pouco a pouco, também a fazer as suas visitas a sua casa de banho.
Relaxei, enfim. Só no domingo á noite me apercebi bem do stress que a queda da bichana nos tinha provocado.
Laços ... é o que é. Laços que tecemos com os outros, sejam pessoas, bichos ou até coisas. Laços de ternura, como aquele filme de há uns anos, lembram-se ?

quinta-feira, junho 14, 2007

QUANDO A ARGUMENTAÇÃO DESCE AO NÍVEL DA ANEDOTA
O nível da argumentação dos actuais dirigentes do PS para justificar as suas decisões quanto ao novo aeroporto atingiu os limites da decência intelectual.
Como sabem, a decisão do Governo quanto ao novo aeroporto tem duas componentes : fazer o aeroporto num local horroroso em termos geológicos e orográficos ( com autênticos pântanos rodeados por montes ) e, além disso, terminar com o actual aeroporto da Portela.
Que eu saiba, nunca ninguém explicou claramente aos portugueses o porquê destas duas decisões. Referem-se sempre uns estudos complicadíssimos, vastos e pesados dossiers, umas análises terrivelmente científicas feitas por entidades de renome internacional, mas, manda a verdade afirmar alto e bom som, NUNCA NINGUÉM DISSE AOS PORTUGUESES AS RAZÕES, PÃO, PÃO, QUEIJO, QUEIJO.
Como se estas coisas fossem complicadíssimas e não pudessem ser explicadas em termos simples.
Bom, hoje, na TV, ouvi António Costa usar um dos mais “inteligentes” e “sólidos” argumentos sobre o encerramento da Portela :
“Acho muita piada aos que defendem a manutenção do aeroporto da Portela no meio de uma cidade como Lisboa. Então, porque não defendem a construção do novo aeroporto também dentro da cidade, ali entre Benfica e Monsanto ? “
Esta pérola de lógica iluminou-me a manhã. Sinceramente, acredito que António Costa, nesta altura, já deve estar arrependido de se ter saido com esta ideia. Contudo, a verdade é que eu o vi e ouvi dizer isto.
Pelos vistos, para António Costa, pretender que a Portela continue, sob outras condições, ou fazer um aeroporto novo na 2ª circular são duas ideias idênticas e da mesma natureza.
Comparar a manutenção de um aeroporto que funciona todos os dias, em condições de segurança, com centenas de aviões a descolar e aterrar e milhares de passageiros a sair e a entrar com a construção de um novo aeroporto em Benfica é uma atitude intelectualmente MUITO desonesta e que revela um quase desespero, na incapacidade de explicar as questões.
Nós, portugueses, não merecemos atitudes destas e não as queremos. Nós, lisboetas, também não. Por isso, no que me respeita, António Costa não será o novo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. E se o vier a ser, por conseguir legitimamente a adesão de outros lisboetas que não eu, então o meu desejo é que aprenda a respeitar mais as pessoas e não volte a atirar-lhes ideias apressadas e tontas como esta.
Nem todos os lisboetas são estúpidos, co’os diabos.

terça-feira, junho 12, 2007

QUE CHATICE, PÁ, AGORA QUE EU ME ESTAVA A CONVENCER SOBRE A OTA !!

Que desilusão do caraças me deu o sr. Primeiro-Ministro !
A verdade é que eu andava com uma curiosidade tramada para ver até que ponto ia a teimosia do senhor. Um país inteiro a dizer-lhe que não tinha razão quanto áquela história da Ota e ele que sim, que era ali mesmo que ia ser o novo aeroporto, a menos que chovessem picaretas !
Confesso que a sua obstinação me andava a maravilhar, não é qualquer pessoa que faz aquilo, pá ! Um herói da resistência, um prodígio de autismo !
Bolas, então agora que eu já tinha praticamente feito do senhor o meu ídolo dos tempos modernos, ele muda, ele cede e afinal vai estudar a localização em Alcochete ??
Desculpem-me, senhores e senhoras, mas isto assim não é nada ! Apetece-me dizer : porra para Alcochete ! Então agora chegam aqui meia duzia de patrões da industria e só porque entregaram uma duzia de folhas A4 ao sr. Presidente da Republica, provavelmente amanhadas á pressa, falando em Alcochete, agora já vamos estudar um novo local ???
Não concordo, porra, Alcochete não se compara com a Ota, tem muito menos relevo, é praticamente um deserto, qualquer gajo faz ali umas pistas, qual é o gozo ? Hem ? Que piada vai ter terraplanar aquelas terras já todas lisinhas ? Tem algum jeito ? Vá lá, senhor Primeiro-Ministro, agora é que vai desistir ? ‘Bora continuar com a Ota ! Ota ! Ota ! Ota !
Como é que vai ficar agora a minha fé na indestrutibilidade da teimosia do senhor Primeiro-Ministro ? Hem ? Um destes dias ainda me vêem dizer que Mourinho não é o melhor treinador mundial de todos os tempos, começo a não acreditar em ninguém ...
Vivemos tempos de incerteza, pá, agora até já o engº Sócrates muda de opinião !
Que mais nos irá acontecer ??

sexta-feira, junho 08, 2007

A BANDA LARGA

Hoje foi dia de ar condicionado. Mais um, o terceiro.
A coisa ficou a funcionar, mas a minha confiança nele não. Até evito ligar o bicho, com medo que o mesmo vomite ar quente. Acho que trouxe um dragão para casa, em vez de um urso polar.
Esta epopeia da fuga do gás proporcionou-me, contudo, um momento cada vez mais raro na nossa relação com o mercado. Acontece que eu tinha entregue o cheque ao dono da firma que me instalou o ar condicionado, no dia anterior áquele em que de novo verifiquei que não estava a funcionar. Quando, no dia seguinte, os técnicos entraram em minha casa, um deles entregou-me o cheque que eu tinha passado, dizendo “O meu patrão devolve-lhe o cheque, só o quer de novo quando tudo estiver OK “...
Fiquei admiradissimo, ainda há gente assim, com ética e estilo. Boa !

A meio caminho de lado nenhum.
Este slogan foi inventado pelo PSD, celebrando o meio do mandato do PS. Raramente tenho visto, no marketing político, um slogan tão certeiro como este.
Pouco me importa se o slogan parte de senhores que, nos ultimos tempos, tampouco chegaram a algum lado; é giro e faz-me sempre sorrir, quando o leio nos outdoors espalhados por esta Lisboa. De facto, estamos todos numa dinâmica tremenda de mudança, mas ninguém sabe para onde iremos, ou o que queremos do futuro.
Confrange-me, esta miopia política, esta navegação sem rumo, ao mesmo tempo que se vão fazendo umas coisas para entreter o cidadão.
Navegamos rumo ao défice, como que se assim chegássemos a algum lado. O crescimento é baixissimo, a inflação aumenta ( óh a admiração dos economistas ! ), o desemprego prospera, os despedimentos colectivos upa, upa, a confiança da generalidade dos portugueses há muito que desapareceu ... mas o Governo que escolhemos ( digo escolhemos porque as eleições são um processo de responsabilidade colectiva, não porque eu o tivesse escolhido ) continua teimosamente, muito teimosamente a insistir que estamos no rumo certo.
A ultima das delícias foi esta do anuncio da oferta de computadores e do acesso á internet via banda larga a alunos e professores, ao desbarato. Fiquei emocionadíssimo, agora percebi, finalmente.
Num país de ignorantes, como o nosso, a banda larga é de facto uma aposta sensacional para o desenvolvimento.
Vamos poder afirmar que somos o primeiro país da Europa com analfabetismo funcional, insucesso escolar, elevado desemprego e baixos salários ... tudo em banda larga. E bem larga, ao que se sabe.
Já viram a pinta ?

quinta-feira, junho 07, 2007

OS FERIADOS SÃO POUCO MELHORES QUE OS DOMINGOS

Foi-se.
É verdade, não estou a gozar, o gás do ar condicionado fugiu todo outra vez.
Não perguntem, não faço a mínima ideia para onde fugiu e ainda menos por onde fugiu.
Começo a acreditar que este sistema de ar condicionado está com mau-olhado.
Amanhã tenho outra vez aí uma equipa de técnicos ( ?) ...

Hem, estão todos mais satisfeitos ?
Os países do G8 concordaram que é preciso diminuir a emissão de dióxido de carbono.
Não é fantástico ???
A resolução não diz QUANTO nem QUANDO será essa tal diminuição, mas toda a gente parece considerar este acordo como um passo em frente.
Eu também.
Acho que é um passo em frente para o prosseguimento inexorável do aquecimento da Terra, por via do efeito de estufa. E olhem que o dióxido de carbono não foge do sítio, como o gás do meu ar condicionado. Fica lá sempre a chatear, a tapar, a fazer subir a temperatura.
Raios os partam a todos.

A notícia estalou, como um milagre. Alguém, desconhecido, telefonou para a polícia espanhola dizendo que sabia onde estava a pequenita do Algarve.
Esperança ...
Horas depois : a policia espanhola nega a história e a nossa PJ também não sabe de nada.
Jornalismo, isto ? Ou já ninguém se dá ao trabalho de confirmar notícias ?
Jura solene : não volto a ler qualquer notícia sobre este caso, a menos que encontrem a menina.

Esta tarde, peguei no carro e fui dar uma volta pela marginal. Com a minha filha, tivemos uma ou duas horas pai-filha.
Não estava demasiado calor, o termómetro do carro indicava 26º C exteriores. Apesar disso, as praias da linha estavam já todas a 80 ou 90%. Esta malta anda toda maluquinha com o sol, mesmo com todos os avisos contra os ultravioletas.
Sabem porquê, não sabem ? A moda, a ditadura do fica bem, a pressão exacerbada da opinião publica ( credo, mulher, estás tão branquinha ... ).
Que se lixe a opinião publica. Desde miudo que gosto de mar, de pescar, de caça submarina, de tomar banho nas ondas ... mas nunca gostei de me esparramar ao sol, feito lagarto tonto de pele nua e sem escamas.
Não é agora que vou começar.

Acabámos a tomar uma bebida ( pronto, está bem, tabém comemos um bolito ... ) na Vela Latina, ali mesmo em frente á célebre Universidade Moderna e lado a lado com a Torre de Belém. É um local giro, onde se encontram, numa calma convergência, os ecos das grandezas passadas dos portugueses com algumas das suas recentes misérias. Turistas aos bandos, acho que éramos os unicos portugueses.
Minto, os arrumadores também eram portugueses. What else ?

Ciao, vou publicar este texto e depois vou ler ou ver TV.
Passem bem, não resmunguem muito e ... abram os olhos, os ouvidos e a garganta.
O tempo da tolerância acabou.

quarta-feira, junho 06, 2007

SURREALISMOS
Excerto de uma notícia recente, a propósito da decisão do Banco Central Europeu de voltar a aumentar a taxa de referência :

“O preço do dinheiro encontra-se agora no valor mais elevado em seis anos, depois de oito aumentos consecutivos da taxa, com o BCE a tentar evitar que o forte crescimento económico gere pressões inflacionistas no médio e longo prazo. O BCE mostrou-se ainda preocupado com a possibilidade das empresas aproveitarem o período actual de crescimento económico para aumentar os preços. A economia europeia cresceu no primeiro trimestre ao ritmo mais elevado da última década e ao triplo do ritmo da economia norte-americana, suportada pelo baixo desemprego e elevada confiança dos consumidores e empresários.”

ISTO É SURREALISTA : MAS DE QUE É QUE ESTES GAJOS ESTÃO A FALAR ?

FORTE CRESCIMENTO ECONÓMICO ???

CRESCIMENTO DA ECONOMIA MAIS ELEVADO DA ULTIMA DÉCADA ????

ELEVADA CONFIANÇA DOS CONSUMIDORES E EMPRESÁRIOS ????????????

QUE TEMOS NÓS, AQUI EM PORTUGAL, A VER COM ESTA SITUAÇÃO ?

É DA MESMA EUROPA QUE FALAMOS ?

PORQUE RAIO DE MOTIVO SOMOS OBRIGADOS A SUPORTAR MEDIDAS ECONÓMICAS COMPLETAMENTE EM CONTRACICLO COM A NOSSA REALIDADE ECONÓMICA, SÓ PORQUE INTERESSA Á EUROPA RICA ? ?

QUEM É QUE GANHA COM ESTES VERDADEIROS TIROS NOS PÉS, AUMENTAR AS TAXAS DE JUROS QUANDO ESTAMOS PRATICAMENTE EM ESTAGNAÇÃO ???

JÁ NÃO NOS BASTAVAM OS FALSOS PROFETAS PORTUGUESES, AGORA TAMBÉM TEMOS QUE ATURAR AS MADUREZAS DOS PROFETAS EUROPEUS RICOS ?

ESTA EUROPA COMEÇA A FAZER-ME ALERGIAS ... PORQUE TIVEMOS NÓS QUE ADERIR AO EURO ( E SUPORTAR OS ACRÉSCIMOS NOS PREÇOS ), PORQUE TEMOS QUE PASSAR A VIDA SUJEITOS A 3% NO DEFICIT PUBLICO, PORQUE TEMOS QUE SUPORTAR AS DECISÕES DE UM QUALQUER SR. TRICHET DO BANCO CENTRAL EUROPEU ?

ENTÃO ... PORQUÊ ???
ESTAMOS A APROXIMARMO-NOS DELES, DOS RICOS DA EUROPA ?
O NOSSO PODER DE COMPRA TEM AUMENTADO ?
A NOSSA ECONOMIA TEM CRESCIDO ?
O DESEMPREGO TEM DIMINUIDO ??

E O PIOR DE TUDO É QUE, NESTES DIAS QUE CORREM, ASSUNTOS IMPORTANTES QUE AFECTAM A NOSSA SOBERANIA SÃO DISCUTIDOS EM BRUXELAS E, SE HÁ O RECEIO DE VIREM A NÃO SER APROVADOS, TENTA-SE QUE ESSES ASSUNTOS NÃO SEJAM SUBMETIDOS Á CONSULTA E VOTAÇÃO DESSES MESMOS POVOS.

TUDO ISTO EM NOME DE UMA IDEIA DE EUROPA QUE JÁ NINGUÉM SABE EXACTAMENTE QUAL É ...

terça-feira, junho 05, 2007

AS DESVENTURAS DE UM ENCALORADO

Tudo me acontece.
Até mesmo um sistema novinho de ar condicionado que não condiciona coisa nenhuma, a não ser o meu humor. Quanto ao ar, quente comme d´habitude, muito obrigado.
Eu conto.
Um destes dias, após várias e sábias considerações sobre o aquecimento global ( e em particular o aquecimento da minha casa nestes ultimos verões ), decidi derreter uma data de massa num sistema de ar condicionado, em vez de ser eu a derreter com o calor. Um toque de burguesice que a minha idade já me permite ter, com a desculpa de que sofro muito com o calor e bla bla bla ... Adiante.
Bem, adjudiquei a coisa, veio primeiro o dono da firma,muito simpático, “ eu se fosse ao senhor fazia assim e assado, etc ... “, acordámos os termos da obra e tudo bem. Daí a uns curtos dias, aparecem-me em casa quatro manfios ( quatro, gaita !!! ), cheios de caixotes de papelão, rolos de tubinho de cobre e uma enorme colecção de caixas de ferramentas. Isto logo de manhã na ultima sexta-feira.
O granel lá se foi desenrolando, o chão cheio de ferramentas sorteadas, parafusos, rolos de fita isoladora e, sobretudo, bocadões enormes do estuque, os energumenos eram especializados em abrir buracos gigantescos nas paredes !
Os meus dois gatos, alarmados com o barulho dos berbequins e as botifarras dos instaladores, retiraram prudentemente para o quarto da minha filha.
Eu, desgraçado, nem almoçar fui, seguindo atentamente as obras e tentando evitar que toda a casa se transformasse num enorme buraco.
Lá para as 5 da tarde, famélico, pernas trémulas, cheio de pó e caliça, observei os especialistas a terminar o seu trabalho. Os aparelhos pareciam estar a funcionar bem e, portanto, tudo tinha terminado em bem. Aleluia !
Horas depois, tudo aspirado e rearrumado, duche, estômago confortado, vou experimentar as delícias de um fresquinho quase nocturno .... e nicles. Aquilo parecia soprar apenas o ar da noite, morno e humido.
Nada ? Seria eu que não sabia manejar as novas tecnologias ? Hummm, de sobrecenho carregado, dediquei uma longa hora ao esudo dos vários manuais do utilizador e de instalação, pode ser que ...
Nada, nenhuma informação util. Deito-me, desanimado e quente.
Passa o fim de semana e logo na segunda, faço um tímido telefonema para o dono da firma, não haverá nenhuma fuga de gás, sr. Correia, que acha ?
O sr. Correia, desconfiado e depois de muitas perguntas destinadas a averiguar da minha sanidade mental e capacidade de distinguir ar frio de ar quente, lá me retorquiu que me ia enviar uma equipa para ver o problema .
Ufa, pensei, agora vamos lá a ver se a tal equipa chega, aperta dois botões do telecomando e aquela porcaria começa a deitar frio ... Vai ser bonito, as caras dos manfios a rirem-se de mim, já viram ?
Bom, na mouche, os matulões ( dois mulatos de Angola ) chegaram e logo declararam que aquela coisa não botava népias de frio, de facto. Vitória, proclamei eu, tinha razão !!
De pouco me valeu a razão, todo o dia foi dedicado 1º) a ver se havia uma fuga no gás 2º) a tentar descobrir onde era a fuga ... 3º ) reparada uma fuga, a colocar todos os circuitos com gás á pressão, para ver se havia mais fugas ... 4º) a encher a instalação de novo com gás 5º) veja lá então agora se já deita ar frio ....
Deitava. Estava frio. Que maravilha !! Finalmente !
Bem, mas eu não disse que tudo me acontece ? O resto da tarde passei-a a reparar um pé da mesa da sala que eu parti , com o tira e põe no sítio.
Finalmente, com a sala arrefecida, posso agora descansar um pouco.
Não com muita confiança, sabem, de todo o lado me parecem surgir ruidos de gás em fuga, arruinando-me de novo este conforto tão arduamente conquistado.
Amanhã conto-vos se o gás ainda cá está ou não ...

segunda-feira, junho 04, 2007

OS GALEGOS SOMOS NÓS !!

Os trabalhadores da Galiza ganham hoje um salário médio da ordem dos 1.200 euros mensais, o dobro do salário médio no Norte de Portugal. Com taxas de crescimento da ordem dos 4% e desemprego bem abaixo do nosso, a Galiza de hoje é muito diferente do que era há 50 ou 60 anos atrás, onde milhares de pessoas emigravam para Portugal á procura de uma oportunidade. Ainda há quem se lembre dos amola-tesouras , dos negociantes de tecidos, dos empregados de restaurante e mesmo dos donos desses restaurantes, todos galegos. Nessa época, a palavra galego aplicava-se a alguém pobre e que se matava a trabalhar. Trabalhei que nem um galego, dizia-se ...
Mas que raio há de errado connosco ? Que fado miserável e desgraçado é o nosso, sempre condenados á miséria, sempre a queixarmo-nos de tudo e de todos ? Que maldição nos lançaram ? Porque havemos nós de continuar sempre a trabalhar que nem um galego e a ser ... português, no que ao salário respeita ?
Sabem que este é um tema querido de muitos intelectuais ? Que muitos cérebros portugueses e alguns até estrangeiros se debruçaram sobre este enigma ?
Por mim, já li teorias interessantes, já ouvi muita gente, já vi bastante do nosso país e continuo a espantar-me : ainda oiço coisas como aconselhar-se moderação salarial, porque a nossa economia é pouco competitiva, sem NUNCA se acrescentar qualquer medida ou sugestão para melhorar a tal competitividade. Esta é uma afirmação recorrente, por exemplo do sr. Governador do Banco de Portugal.
Pois bem, e sem medo das palavras, de uma vez por todas : o que se passa é que os nossos empresários são, por norma, um bando de desqualificados. Não temos empresários bons, assim como também nos faltam bons políticos. E também não temos, acho eu, Governadores do Banco de Portugal com mais senso e menos hipocrisia económica.
Quando se fala de produtividade, de competitividade, porque raio de raciocinio enviesado se fala logo dos trabalhadores ? Então a culpa é dos trabalhadores se a magnifica fábrica Lanifícios de Vizela, Lda ainda opera com máquinas do século passado e se derrete todo o seu capital nos Ferrari dos Sr. Augusto e do filho ? A culpa da falta de competitividade é dos operários do vidro da Marinha Grande ( há uns anos atrás, hoje faliram quase todas ) obrigados a usar fornos do tempo da Maria Cachucha ?
Quando se planeiam cursos de formação e qualificação profissional, como é que ninguém se lembra de organizar cursos de empresários e gestores ?
Vão por mim, o problema de Portugal não é, nem nunca foi o da qualidade e generosidade da nossa mão-de-obra. Como se sabe, infelizmente, pela qualidade do contributo que muitos compatriotas nossos dão á economia de países como a Bélgica, Luxemburgo, França ou Alemanha.
Não, claro. O problema é da péssima qualidade ( em média ) dos nossos empresários. E já que estamos com a mão na massa, também dos nossos políticos. E depois, este nacional-cunhismo que em nada fomenta a qualidade, a eficiência. Sim, só por mero acaso é que o filho do sr. Ministro disto ou daquilo é melhor que aquele rapazito da Guarda, bom aluno e muito persistente e esperto. Mas é sempre o filho do sr. Ministro que ocupa o cargo, não é ? Que mal tem que o rapaz não seja nenhum génio e que só vá fazer disparates ?
Bom, digam-se as verdades. Acabe-se com a corrupção e o tráfico de influências. Fomente-se o aparecimento de novos empresários, com coragem e vantagens económicas e fiscais. Aposte-se muito forte nisso, caramba. Incentivem-se os cérebros a aderir ao empreendorismo. Penalizem-se os empresários que nada tentam para a inovação e reapetrechamento tecnológico das suas empresas e que assim condenam os seus trabalhadores a salários de miséria. Retomem-se valores universais tais como a competência, a honestidade e a isenção. Mas a sério, nada de hipocrisia e fantochadas.
Aposto que, se assim fosse, em 10 ou 15 anos Portugal estaria francamente diferente.
Não tenho esperanças, porém.

domingo, junho 03, 2007

ROTINAS

Sou um homem de rotinas.
Gosto de hábitos que ajudem a dar um sentido á minha vida. Sem esses hábitos, tenho a péssima tendência de não fazer nada e deixar o tempo passar, enquanto leio ou vejo TV. A cabeça não pára, continuo sempre a pensar nisto ou naquilo, mas as pernas, na ausência de compromissos ou hábitos, acham por bem descansar e nada nem ninguém as convence a sair dessa letargia.
Preciso pois de hábitos.
Ou de projectos, porque me entusiasmo facilmente com novas ideias, novos rumos, coisas a atingir. Entro então em estado “febril”, a adrenalina em pleno, esqueço-me de comer, durmo pouco, pareço incansável.
O chato é que, noutras ocasiões, não tenho projectos em carteira e as minhas rotinas são alteradas por qualquer motivo. Sinto-me então “desligado” da corrente, sem nenhuma vontade de fazer nada.
Hoje foi um desses dias. Tinha a bateria em baixo quando acordei, senti logo. Mais tarde, as pessoas com quem costumo almoçar aos domingos tinham mais que fazer. Fui-me então deixando ficar por casa, vagamente aborrecido e cheio de pena de mim próprio. Vi um ou dois filmes, outras tantas séries, almocei e pouco mais.
Descobri, entretanto, que na TV passam, nos vários canais, mais de 39 séries sobre hospitais, médicos e pacientes. É obra, caramba, um perfeito desperdício ! O sr. Ministro da Saúde que não as veja, ainda encerra meia dúzia delas, pelo menos as que passarem nos canais publicos, não é ?
E se não são de médicos e hospitais, são de detectives, investigadores e criminosos. Normalmente, gajos brilhantes que descobrem sempre tudo e prendem os maus, rapidamente e a baixo custo, nada que se compare com a nossa PJ, enfim ...
Também redescobri a minha velha antipatia pelos domingos, pensava eu que isso me tinha passado. Mas não, continuam a ser dias horrorosos, pardacentos, mais antecâmara de nova semana de luta que dia de descanso. Estilo ultimo dia de condenado.
Não gosto de domingos, definitivamente, nem de não saber que hei-de fazer.
Devolvam-me as minhas rotinas, por favor.
Ou ofereçam-me um milagre.

sábado, junho 02, 2007

ESTOU FARTO DO NOVO AEROPORTO !

Suponho que, para a maior parte das pessoas, esta história da OTA já enjoa.
Contudo, se pensarem bem, a história é terrivelmente esclarecedora quanto á incapacidade portuguesa de fazer seja o que for bem feito.
Neste momento, estou-me nas tintas se a construção de duas pistas meio pantanosas na OTA é melhor ou pior que a construção das mesmas no meio dos passarocos ( e dos camelos ?? ) do Poceirão. Não alinho nessa discussão, estou farto dela, nada do que se passa tem a ver com técnica.
O que me interessa é o aspecto exemplar e paradigmático deste caso.
É assim que os portugueses são : seja a solução boa ou má, os que são do outro partido acham-a forçosamente má. E vice-versa, exaustivamente, cansativamente, doentiamente. E as coisas vão apodrecendo, vão sendo adiadas, até que alguém, mais teimoso, leva mesmo á prática qualquer coisa. Tardiamente, por norma, e quase nunca a melhor solução. Somos assim...
Então, aqueles lancinantes apelos ao consenso do Senhor Presidente da República servem para quê ?
Ora, também eles, esses apelos, fazem parte da nossa maneira de ser : apela-se para que se faça aquilo que se sabe ser impossível, apenas para não se ser acusado de não o ter feito. Estranho, não ?
Ah, esta imensa dificuldade de ser português ...