segunda-feira, junho 18, 2007


AS DESVENTURAS DE UMA GATA VOADORA
A Lili anda com uma crise de identidade. Ou não sabe que é apenas uma gata ou então tem secretos desejos de ser mais que isso. Um pássaro ? Uma águia ?
Não sei o que vai naquela cabecita, não vos posso explicar bem os porquês, mas a coisa foi assim : na passada sexta-feira, de manhã, estava eu a fazer a barba, o Pipoca ( o gatão amarelo, macho de 3 anos ) começou a fazer um enorme chinfrim na porta da casa de banho, com miados estridentes e enérgicas raspadelas.
Abri a porta e percebi que ele andava á procura da sua companheira Lili. Como ali não estava, fiz um rápido périplo pelos sítios habituais da gatinha. Sem êxito.
De repente,notei uma fresta na janela da marquise da cozinha. Senti-me gelar por dentro, aquela janela dá directamente para o parque de estacionamento das traseiras, seis pisos abaixo ... Corri para a janela e olhei : lá em baixo, muito pequenina, uma coisita branca e preta estava deitada no chão, imóvel, sabe-se lá em que estado !
O meu coração entrou em paranóia, confesso. Não tenho vergonha de vos confessar que foi um dos momentos mais aflitivos da minha vida, e já passei por alguns que não recomendo a ninguém.
Chamei-a, com um berro : “Lili !!!!!! “. Não é que a gatita virou a cabeça e olhou para cima ? Estava viva, pelo menos ainda estava viva !!
Precipitei-me para o elevador, a cara ainda com espuma, totalmente despenteado, só com uma t-shirt e umas calças, mas com a lucidez para agarrar as chaves do carro.
Era ela, a pobrezita. Teria caído ? Teria dado um salto para apanhar qualquer passarito ? Teria pensado que voava ? Certo, certo é que estava deitada ali, imóvel, em estado de choque, seis andares abaixo de casa.
Peguei-lhe e ela desatou num pranto de miados, dorida, assustadíssima, com um ar infeliz, como quem não entende o que lhe aconteceu. Fui correndo para o carro, enquanto lhe apalpava as patas e a barriga. Ela ia soltando miaus terríveis, as pessoas voltavam-se para olhar aquele quadro esquisito, um homem com ar esgazeado, as calças a cair, levando ao colo uma gata espavorida que soltava pungentes lamentos.
Fiz um vôo baixo até ao veterinário. Lá a examinou, não encontrou nada partido, injectou-lhe um anti-inflamatório e mandou-me ver se ela usava a bexiga bem ... entretanto, tinha avisado a minha filha, com cuidado.
A Lili passou o resto da sexta-feira deitada de lado, tapada com um cobertor, em estado de torpor, sem comer nem beber. Nem urinar, nem nada.
Eu e a minha filha íamos deitando olhares desconfiados para a bichinha e ás 9 da noite não resistimos : agarrámos na Lili e acelerámos para o Hospital Veterinário de S. Bento ( na Rua de S. Bento ), onde sabíamos existir urgências e meios complementares de diagnóstico.
E assim foi, a Lili teve direito a nova auscultação e apalpação, raios-X, ecografia e outro anti-inflamatório. Respirámos um pouco, finalmente, a bexiga da bicha via-se bem, intacta, na ecografia. Nem sinais de hemorragia interna nem nada.
Eram quase 11 da noite de sexta quando chegámos a casa, de novo, bastante mais descansados. A Lili, essa, alheia ás nossas preocupações, dormia descansadamente, na caixa de transporte...
Bem, o fim de semana passou-se ainda um pouco em sobressalto, mas a jovem felídea foi-se recompondo, recomeçou a comer desalmadamente e, pouco a pouco, também a fazer as suas visitas a sua casa de banho.
Relaxei, enfim. Só no domingo á noite me apercebi bem do stress que a queda da bichana nos tinha provocado.
Laços ... é o que é. Laços que tecemos com os outros, sejam pessoas, bichos ou até coisas. Laços de ternura, como aquele filme de há uns anos, lembram-se ?

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