quarta-feira, março 25, 2009

O ÓDIO COMO MOTIVAÇÃO DE GOVERNO ??

INQUALIFICÁVEL, esta equipa do ME ( ainda ) em funções. Quando uso este adjectivo sei bem porque o faço. Não sei dizer se são bons, maus, hábeis, inábeis, pessoas de mérito ou pessoas sem qualquer mérito. A sua actuação nem sequer cabe nas fronteiras do político, há muito que atravessaram para um território que também desconheço, que também não sei qualificar.
Ao longo de todo este ano lectivo, na actuação daquela equipa transpareceu, mais do que qualquer motivação política, mais do que uma preocupação em diminuir custos, um ódio puro aos professores. Ódio, nada de hesitações nas palavras. Por vezes, mais do que ódio, uma imensa raiva surda. Onde raio terão ido buscar as razões para essa raiva ? Quem lhes fez mal ?
Muito gostaria eu de conhecer os percursos da senhora ministra e dos senhores secretários durante o seu percurso pelo ensino secundário ...
Agora, esta ultima atitude do inefável secretário de Estado, a ameaçar os sindicatos que apresentaram uma acção em tribunal para suspender o concurso de professores : vai-lhes exigir indemnizações, olá se vai, pensam que o ME é o quê ??
Esta equipa está de cabeça perdida, já não distingue bem a realidade à sua frente. Então eles ( o ME ) podem inventar regras especiais, que ninguém conhece, para a ocupação de milhares de postos de trabalho de professores, com eventual abertura a toda a espécie de amiguismos e compadrios, na selecção dos professores para as escolas de intervenção prioritária ... Em resposta, os professores, directamente lesados nos seus interesses, UMA VEZ MAIS, por esta equipa, deveriam estar calados e quietinhos, a entoar hossanas ao Governo e ao ME !
Chega, senhores. Chega. Ganhem dimensão, ganhem vergonha. Aprendam a fazer política de outra maneira, de uma forma mais corajosa, ética e verdadeira. Este vosso jeito na Educação não é bonito e não presta, não nos leva a lado nenhum.
Convençam-se de uma vez : vivemos em democracia, não nos vamos calar, vamos lutar até vencer. E aqui para nós, que ninguém nos ouve, parece-me que o vosso reinado de terror está a chegar ao fim !

terça-feira, março 17, 2009

OS PATOS DA GULBENKIAN VOAM NA PRAÇA DE ESPANHA

Este mês tenho andado em maré de azar. Primeiro foi o carro : num momento ia a andar normalmente e no outro tinha uma luz acesa no painel e o motor a soluçar perdidamente. Condoído, lá o levei ao mecânico ( obrigado à amiga da minha filha que é sobrinha dum excelente mecânico de VW ali em Algés ) que me resolveu os soluços em troca de 320 euritos. Não, não foi xarope para a tosse que ele receitou ao carro, foram velas e bobines.
Mal refeito, aí está : a máquina de lavar roupa com uma pneumonia aguda, a fazer uns barulhos horrorosos na centrifugação. Ponho-lhe o estetoscópio : um rolamento farto de viver. Como a esta já se somavam outras mazelas, feitas as contas ao que me custaria o internamento da máquina, tumba, decidi comprar uma nova. Mais 500 euritos, tão a ver ? Ainda a não tenho cá em casa mas os euros já se foram.
Ah, pois, ainda não vos tinha dito que paguei este mês o seguro do carro, uma pechincha, toma lá mais 500, quem me manda ter seguro para danos próprios ? Como se tudo isto não bastasse, as Finanças fizeram-me uma proposta, pelo Correio : no próximo mês eu dou-lhes quase 300 euros e eles deixam-me viver mais uns tempos.
Lindo. Em quanto vai ?
Bom, sei perfeitamente que não me posso queixar muito nos tempos que correm. Posso pagar estas contas, embora um tanto avermelhado, este mês, mas há muita gente a passar mal, sem carro nem seguro nem máquina da roupa nem nada. E com problemas para criar os filhos. E a viver todos os dias com medo do futuro e raiva desta vida de merda que Portugal lhes proporciona. Gente a quem ninguém salva, já que não se chamam BCP ou BPN.
Sei tudo isso, óh se sei.
Há muitos, muitos anos, num mês como o próximo, vomitei todo o medo que tinha dentro de mim, aproveitei toda a bílis acumulada e juntei-me a um pequeno grupo de malucos românticos que queriam fazer de Portugal um sítio decente para se viver. Onde não tivéssemos vergonha de ser portugueses.
Pois foi, viu-se o que aconteceu 35 anos depois : manadas de corruptos, bandos de vigaristas, rebanhos de homens sem vergonha … uma desgraça horrorosa. Hoje, tenho mais bílis acumulada que nessa altura, tenho ainda muita vergonha de partilhar o meu país com toda essa cambada.
Que havemos de fazer, pessoal ?
Nem tudo é mau, porém. Ontem, ao passar pela Praça de Espanha, vi dois patos a voar, por cima da Praça, e depois a poisar numa relvado que há por ali. Uns azuis e verdes, coisas lindas ! Diz a minha filha que devem pertencer aos jardins da Gulbenkian. Que pertençam, antes à Gulbenkian que a S. Bento ou a Belém, não é ?

sábado, março 07, 2009


DE NOVO O PETRÓLEO !!

Os motivos da subida brutal do petróleo, há uns meses, estão bem patentes nesta notícia de hoje, sábado, no Público. O petróleo não é, com as actuais regras dos mercados, um bem de consumo, que se compra e vende para ser usado como petróleo, mas sim um produto de investimento, para comprar hoje a um preço e vender daqui a uns dias, por um preço muito superior. Ou seja : permite-se que o petróleo, matéria-prima essencial no Mundo de hoje, seja usado como meio de especulação, como forma de criação artificial de mais-valias financeiras.
Foi assim durante a gestação desta presente crise financeira e económica, está hoje de novo a ser assim. Quando ninguém já conseguia fazer dinheiro com aqueles produtos financeiros fraudulentos que nada valiam, todos os grandes investidores apostaram nos cereais, primeiro, e depois no petróleo. Até os Fundos de Pensões americanos. Toda a gente do meio sabia, ninguém ou quase ninguém o disse ou se ralou com isso.
Porquê ?
Porque ninguém via ( nem hoje vê ) alternativas para este imenso jogo de Dª Branca. Ninguém sabe como parar esta incessante e obrigatória escalada de fazer mais dinheiro, cada vez mais dinheiro, a partir do que existe. Ninguém sabe como substituir esta lógica suicida por outra qualquer que seja sustentável. Nem ninguém parece muito preocupado com isso, diga-se em abono da verdade. Ou quase ninguém. Quando aparece alguém chama-se-lhe extremista ou esquerdista e pronto, está resolvida a questão.
Esta terrível espiral é a mesma que leva ao inexorável esgotamento dos recursos naturais do planeta, à destruição das florestas, à poluição dos mares, à subida imparável da temperatura média, á destruição de todos os valores morais.
Pensam que estou a exagerar ?
Quando todos os políticos da Europa e dos Estados Unidos andam por aí a gritar que querem construir uma nova ordem financeira mundial, porque raio é que nem sequer conseguem riscar do mapa os off-shores ? Como é que nem sequer conseguem restringir as transacções de matérias primas como o petróleo às companhias de refinação e de comercialização ?
Porque é que ninguém tem a coragem de confessar que a economia mundial está completamente dominada pela actividade financeira especulativa ?
Porque é que falam em regulação e não em destruição e substituição ?
Porque é que ninguém consegue explicar a necessidade aparentemente imperiosa de crescer sempre, de ganhar sempre mais dinheiro, de produzir sempre mais automóveis, mais computadores, mais tudo ?
Sabem do que precisávamos ?
De mais modéstia. De menos cupidez. De mais simplicidade na vida. De menos fausto e manias das grandezas. De menos vencimentos milionários, como se esses tipos que os ganham valessem alguma coisa como Homens, como lideres ou como gestores. Como se viu. Ficções, contos de fadas, fábulas modernas.
Que mundo este, onde o grande objectivo do Homem é adorar o dinheiro !!

sexta-feira, março 06, 2009


SOLIDÃO. ESCOLHA OU INCAPACIDADE ?

A solidão fascina-me e entristece-me, no mesmo minuto. Toda a minha vida me senti sózinho, por vezes com pessoas à volta, outras mesmo sem ninguém.
Faço questão em afirmar que vivo perfeitamente sózinho, mas não é verdade, nunca foi. O que eu gostaria e nunca tive, era alguém que tivesse verdadeiramente prazer em estar comigo, em conversar ou em estar simplesmente calado. Nunca tive ninguém assim, ninguém. Talvez a minha mulher, nos primeiros tempos. Mas até essa grande amiga já partiu. Nunca mais tive nenhum amigo, nenhuma mulher que fosse capaz de me dedicar a sua intimidade, tal como eu gostaria. Com o tempo, eu próprio me tornei egoista e incapaz de conviver em liberdade e sentir felicidade com alguém.
Amigos, amigos mesmo, tenho tido mas do tipo longínquo, de nos vermos de mês a mês. Depois de ficar viúvo, tive muitas experiências, conheci algumas mulheres interessantes ( se calhar melhores do que eu … ) mas continuei a não sentir aquela cumplicidade e amizade que tudo ultrapassa.
Erro meu ? Azar ? Não sei, mas a verdade é que me sinto um solitário total, nestes tempos.
Tenho uma espécie de namorada-amiga com quem mantenho uma relação mais de fidelização do que outra coisa ( é como ser cliente da TV Cabo … ), mas dessa relação não aproveito nada, em termos de amizade, compreensão ou cumplicidade. Sou eu que dou tudo, não sei porquê. Acho que mantenho essa relação mais por um sentimento ( errado ? ) de companheirismo para com ela ( tem algumas dificuldades na vida e eu tento ajudá-la ) do que outra coisa.
Hoje, por exemplo, essa minha amiga-namorada decidiu ( faz isso muito ) que ia jantar com umas amigas, todas elas divorciadas ou mal-casadas, desejosas de arrastar as amigas para esse partido das mulheres sózinhas e unidas. Coisa tenebrosa de facciosismo e egoismo. Nem lhe passou pela cabeça que eu preciso dela, de alguém com quem conversar para me sentir vivo. Desconhece a empatia, desconhece-me totalmente.
Acho que eu é que estou errado, não se deve depender para nada de alguém sem empatia, não é ? Como diz o Rui Veloso numa canção, não se deve amar ninguém que não gosta da mesma canção que nós …
Seja como for, vi-me só numa noite de sexta. Resolvi jantar num pequeno e modesto restaurante em Benfica, perto da Igreja, “O Chafariz”. Não é a primeira vez.
Três pessoas na sala, comigo. Mais tarde, entram outras três pessoas, com um ar um pouco deslocado, talvez de Angola ou Moçambique. Raça negra. Marido e mulher mais filha, esta grávida. O marido tem um olho todo tapado com um penso. Sentam-se perto de mim.
Daí a um bocado, ou o tinto fez efeito ou foi o olho tapado, o homem derrubou o copo e entornou o vinho todo pelo fato. Um fatinho de bom aspecto diga-se.
Não resisti, e com aquela intimidade de pouca gente na sala mais o meu hábito de África, comentei : “foi o olho tapado, olha que pena “ e ri-me … O homem, como tantas vezes vi em África,com um sentido de humor excelente, largou-se a rir, virado para mim, dizendo “ que pena, o vinho ...” !
Esta cumplicidade, étnica, ainda por cima, fez-me sorrir na noite, quando saí do restaurante e caminhei para casa ( moro perto ).
Ia eu embrenhado nestes profundíssimos pensamentos ( a solidão e a cumplicidade inter-raças ) quando dei de caras com uma ex-namorada, de mão dada com o seu actual companheiro. Homem da minha idade, aspecto algo ingénuo. Muito mais nabo que eu, pensei instintiva e imediatamente, porque somos nós assim ?
A minha ex- parou, fez um sorriso do tipo “olha um velho amigo meu “ e apresentou-me ao amigo. Afirmei que tinha muito prazer ( mentira ! ), perguntei pela mãe dessa minha amiga ( uma velhota simpática e rabujenta de mais de 90 anos, agora ) e despedi-me.
Prossegui sózinho, pensando na coincidência daquele encontro, como se Alguém me estivesse a dizer : “Estás sózinho porque queres, porque és egoista e tens sido incapaz de amar ...”.
Curiosamente, pouco me ralei, continuou o egoismo, apenas me lembrei de como aquela minha ex-namorada era quente e audaciosa na intimidade. Sim, apenas senti saudades do sexo, não da pessoa. Que quer isto dizer, não presto mesmo como ser humano ? Que apenas fico bem na minha solidão ? Que tenho o que mereço ?
O grande problema é que eu não fico bem, assim solitário, assim como não me sinto bem, apertado e espartilhado numa relação íntima comprometida. E se isto é assim, aos 65, como raio virá a melhorar ?
Passem bem. Por mim, vim para casa e escrevi este texto.



quarta-feira, março 04, 2009

EÇA DE QUEIROZ, BAPTISTA-BASTOS E A CRISE ...

Ando a ler um livro do Baptista-Bastos e, nos intervalos, o “O Conde de Abranhos” do Eça de Queiroz. Não sei o que se passa comigo, ando sem paciência nenhuma. Ao BB ainda consigo entender e ter prazer com a sua leitura, em muitas passagens do ( acho eu, não me lembro bem, tenho o livro no carro … ) “Lisboa a Tinta da China”. É um homem sensível, ama Lisboa e os outros, consegue acertar-me com palavras comoventes. Mesmo assim, não suporto as longas passagens, as constantes reviravoltas nos personagens, ora o pai ora o filho, numa confusão do caraças, em tempos entremeados tipo James Joyce … Já não é o primeiro grande escritor português que se perde nas teias do "novo romance". Como o Lobo Antunes, excelentes no conto, na crónica, mas intragáveis no romance. Sobretudo o Lobo Antunes.
Mas o pior foi o Eças. O conde de Abranhos para mim, pertencia aos meus 19 ou 20 anos, era uma das obras que me faziam sustentar que o Eça era o suprasumo dos sarcásticos e dos lúcidos, num país cinzentão e ignorante como era o Portugal do séc XIX. Pois bem, foi uma desilusão, esta releitura. Não sei bem explicar-vos, mas o Eça está longe, afastado, já não pertence ao Portugal de hoje. Os seus personagens são ingénuos e inofensivos, no Portugal dos BPN, BPP e quejandos. O conde de Abranhos é uma virgem inocente, em oportunismo político, quando comparado com dezenas dos actuais políticos deste país. Apenas a ignorância do distintissimo Conde, então Ministro da Marinha e do Ultramar, ao situar Moçambique na costa ocidental de África me fez sorrir e recordar um outro Ministro, dos nossos tempos, quando proclamava a margem sul como um deserto … Talvez se deva dizer, em abono do Eça, que é dificil a um escritor permanecer intemporal numa época de tão grande degradação de todos os valores éticos e morais. Nem o Eça aguenta, por outras palavras !
Enfim, como comecei por dizer, devo ser eu que não ando com paciência.
Também, quem pode ficar indiferente ao descalabro acelerado deste país e aos efeitos sociais desta crise ?

domingo, março 01, 2009


OS NOSSOS OFF-SHORE E OS DOS OUTROS

Hoje não vos vou aborrecer com política.
Hoje vou virar-me para o humor, tão necessário neste país cinzento.
O sr Ministro de Estado e das Finanças ( ver imagem ao lado ) repudia energicamente os off-shore que, como ele muito bem sabe, foram inventados e proliferaram por todo o Mundo para permitir a fuga aos impostos e a outras esquisitices regulamentares dos governos.
Repudia os off-shore ... menos o da Madeira, claro.
O "nosso" off-shore é muito melhor que os off-shore dos outros.
O "nosso" off-shore é supervisionado por ele, garante.

( este espaço foi por mim intencionalmente deixado em branco para permitir ao leitor raciocinar e tentar compreender a elevada densidade científica desta afirmação )

E pronto, deixo-vos com este apontamento queiroziano.