quarta-feira, março 04, 2009

EÇA DE QUEIROZ, BAPTISTA-BASTOS E A CRISE ...

Ando a ler um livro do Baptista-Bastos e, nos intervalos, o “O Conde de Abranhos” do Eça de Queiroz. Não sei o que se passa comigo, ando sem paciência nenhuma. Ao BB ainda consigo entender e ter prazer com a sua leitura, em muitas passagens do ( acho eu, não me lembro bem, tenho o livro no carro … ) “Lisboa a Tinta da China”. É um homem sensível, ama Lisboa e os outros, consegue acertar-me com palavras comoventes. Mesmo assim, não suporto as longas passagens, as constantes reviravoltas nos personagens, ora o pai ora o filho, numa confusão do caraças, em tempos entremeados tipo James Joyce … Já não é o primeiro grande escritor português que se perde nas teias do "novo romance". Como o Lobo Antunes, excelentes no conto, na crónica, mas intragáveis no romance. Sobretudo o Lobo Antunes.
Mas o pior foi o Eças. O conde de Abranhos para mim, pertencia aos meus 19 ou 20 anos, era uma das obras que me faziam sustentar que o Eça era o suprasumo dos sarcásticos e dos lúcidos, num país cinzentão e ignorante como era o Portugal do séc XIX. Pois bem, foi uma desilusão, esta releitura. Não sei bem explicar-vos, mas o Eça está longe, afastado, já não pertence ao Portugal de hoje. Os seus personagens são ingénuos e inofensivos, no Portugal dos BPN, BPP e quejandos. O conde de Abranhos é uma virgem inocente, em oportunismo político, quando comparado com dezenas dos actuais políticos deste país. Apenas a ignorância do distintissimo Conde, então Ministro da Marinha e do Ultramar, ao situar Moçambique na costa ocidental de África me fez sorrir e recordar um outro Ministro, dos nossos tempos, quando proclamava a margem sul como um deserto … Talvez se deva dizer, em abono do Eça, que é dificil a um escritor permanecer intemporal numa época de tão grande degradação de todos os valores éticos e morais. Nem o Eça aguenta, por outras palavras !
Enfim, como comecei por dizer, devo ser eu que não ando com paciência.
Também, quem pode ficar indiferente ao descalabro acelerado deste país e aos efeitos sociais desta crise ?

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