terça-feira, março 17, 2009

OS PATOS DA GULBENKIAN VOAM NA PRAÇA DE ESPANHA

Este mês tenho andado em maré de azar. Primeiro foi o carro : num momento ia a andar normalmente e no outro tinha uma luz acesa no painel e o motor a soluçar perdidamente. Condoído, lá o levei ao mecânico ( obrigado à amiga da minha filha que é sobrinha dum excelente mecânico de VW ali em Algés ) que me resolveu os soluços em troca de 320 euritos. Não, não foi xarope para a tosse que ele receitou ao carro, foram velas e bobines.
Mal refeito, aí está : a máquina de lavar roupa com uma pneumonia aguda, a fazer uns barulhos horrorosos na centrifugação. Ponho-lhe o estetoscópio : um rolamento farto de viver. Como a esta já se somavam outras mazelas, feitas as contas ao que me custaria o internamento da máquina, tumba, decidi comprar uma nova. Mais 500 euritos, tão a ver ? Ainda a não tenho cá em casa mas os euros já se foram.
Ah, pois, ainda não vos tinha dito que paguei este mês o seguro do carro, uma pechincha, toma lá mais 500, quem me manda ter seguro para danos próprios ? Como se tudo isto não bastasse, as Finanças fizeram-me uma proposta, pelo Correio : no próximo mês eu dou-lhes quase 300 euros e eles deixam-me viver mais uns tempos.
Lindo. Em quanto vai ?
Bom, sei perfeitamente que não me posso queixar muito nos tempos que correm. Posso pagar estas contas, embora um tanto avermelhado, este mês, mas há muita gente a passar mal, sem carro nem seguro nem máquina da roupa nem nada. E com problemas para criar os filhos. E a viver todos os dias com medo do futuro e raiva desta vida de merda que Portugal lhes proporciona. Gente a quem ninguém salva, já que não se chamam BCP ou BPN.
Sei tudo isso, óh se sei.
Há muitos, muitos anos, num mês como o próximo, vomitei todo o medo que tinha dentro de mim, aproveitei toda a bílis acumulada e juntei-me a um pequeno grupo de malucos românticos que queriam fazer de Portugal um sítio decente para se viver. Onde não tivéssemos vergonha de ser portugueses.
Pois foi, viu-se o que aconteceu 35 anos depois : manadas de corruptos, bandos de vigaristas, rebanhos de homens sem vergonha … uma desgraça horrorosa. Hoje, tenho mais bílis acumulada que nessa altura, tenho ainda muita vergonha de partilhar o meu país com toda essa cambada.
Que havemos de fazer, pessoal ?
Nem tudo é mau, porém. Ontem, ao passar pela Praça de Espanha, vi dois patos a voar, por cima da Praça, e depois a poisar numa relvado que há por ali. Uns azuis e verdes, coisas lindas ! Diz a minha filha que devem pertencer aos jardins da Gulbenkian. Que pertençam, antes à Gulbenkian que a S. Bento ou a Belém, não é ?

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