segunda-feira, abril 28, 2008

A ESPERANÇA E A PRODUTIVIDADE

Ser dinheiro antes de ser humano, ter olhos em cifrão, vender fome e morte a baixo custo. Inventar deuses inexistentes ou irresponsáveis. Alienar principios, bondade, verdade.
Correr depressa, sempre cada vez mais depressa , fomentar sempre a competição. Fabricar perdedores obrigatórios. Crescer sempre para ganhar.
Produtividade, religião moderna : vamos todos para a China , lá trabalha-se muito e come-se pouco, apenas uma malga de arroz, abençoada globalização, agora quero ver os sindicatos ...
Possuir, possuir, cada vez mais, que se lixem os deserdados, que façam pela vida, são um bando de preguiçosos ...
Estou preocupado, contudo : a esperança fugiu daqui ! E na China também não a vi ... poderei continuar a ganhar assim tanto sem a esperança ao lado dos meus escravos ???

quinta-feira, abril 24, 2008

OBRA JOCOSERIA ...



Há algo em Portugal que eu nunca entendi, confesso. Já vivi em outros países por tempo suficiente para perceber que é algo de profundamente lusitano. E também profundamente pernicioso. Dir-se-ia algo entre o masoquismo e o narcisismo ao contrário.Sabem do que falo ?


Deste sentimento tão português de descrença, de cinismo, de fatalismo, de miserabilismo.Mas não é tudo. Para lá desta mescla de sentimentos enviesados nota-se algo ainda mais surpreendente : um certo gosto pelo trágico-cómico, pelo teatro burlesco. Como entender de outra forma o apelo de Menezes a Jardim para se candidatar a lider do PSD ? Ou a intenção de Santana de se candidatar ?Confesso : não entendo este meu país. A parvoíce, a mediocridade e a desvergonha andam à solta ... ou sou eu que já não percebo nada de nada ?Alberto João Jardim, para lider do PSD ? Eh, eh, eh, eh ... este Menezes é um ponto. A menos que fosse para mostrar ao Mundo que no PSD ainda há piores que ele, no domínio das ideias tontas. Meu Deus ... E é com gente desta que podemos contar para fazer frente a Sócrates ? Sabem o que é pior ? Um destes dias começo a pensar que Sócrates deve ser um génio, de facto, neste país "exíguo", como lhe chama, apropriadamente, Adriano Moreira.
Exíguo de valores humanos.
Exíguo de sensatez.

Que havemos nós de fazer deste nosso País ?

sexta-feira, abril 11, 2008

QUE INGÉNUOS QUE NÓS FOMOS ...

Vivemos uma época de grande balburdia. Confusa, entaramelada, sem regras nem principios consensualmente aceites. É uma época sem brilho, sem grandeza, atafulhada de pequenos e grandes expedientes. Respira-se uma atmosfera de sobre-regulamentação em muitas áreas da nossa vida, ao mesmo tempo que, noutras áreas, pouco ou nada se respeitam outras coisas, com o maior dos à vontades. Somos protegidos de todos os tipos de bactérias e virus, por um lado, mas somos sujeitos a todas as espécies de agressões aos direitos e liberdades individuais, por outro. Que coisa estranha ...Ou talvez não : perante as duas realidades, qualquer pessoa que não seja imbecil, cedo descobrirá que a motivação verdadeira para todas estas coisas NÃO é o respeito pela PESSOA. Será respeito, ou amor, ou conveniência por outras coisas, mas pelo ser humano, não é.
Volto á minha sensação : vive-se uma autêntica peixeirada, não é ? Quais são os valores que ainda estão intactos, no Portugal de hoje ?No meio deste xarope delicodoce, vejo algumas linhas de força perfeitamente delineadas, em progressão subreptícia, lenta mas inexorável .

Uma primeira linha, a dos aprendizes de ditadores. Uns muito pouco experientes, ainda, outros já com tarimba. Uns e outros ultrapassaram a vergonha cultural e colectiva do passado salazarista, acham que é chegado o momento de talhar as coisas a seu gosto. Tanto na economia real das empresas, como na burocracia do poder político, os aprendizes pululam, ansiosos, despudorados, ávidos. A meta é a mesma : cortar, reduzir, mandar para a rua, poupar dinheiro nuns pobres desgraçados ( para poder gastar noutras coisas, mais giras ... ). Proibir está na ordem do dia. Seja o que for, desde o tabaco até ao piercing.

A segunda linha é mais astuta, aproveita as aberturas dos entusiastas da primeira linha ( no futebol chamar-se-ia a estas oportunidades, assistências ... ) para desviarem o máximo de recursos financeiros para os seus bolsos. Esta linha de actuação tem diferentes patamares, é claro : o patamar dos gajos ditos sérios que se deixam colocar em grandes empresas, obviamente pelos seus méritos profissionais ; o patamar dos gajos espertos que, investidos do poder para tal, incentivam hoje alguém a vender por 100 e amanhã arranjam uma empresa publica que o vai comprar por 1000 ; o patamar, mais ao nível do rés-do-chão, dos que aceitam descaradamente luvas em troca de favorecimentos ; o patamar ainda do tipo que angaria donativos para o partido e se esquece de metade desses donativos no porta-luvas do carro ... enfim, nunca mais acaba !

Em síntese : uns ameaçam, proibem e mandam calar, outros enriquecem, paulatinamente, sem alarido.
Como sempre, o Zé Povinho assiste, meio estonteado, meio incrédulo, a este regabofe.
Mas então - vocifera, com a saliva a escorrer-lhe dos lábios - mas então, não era o outro, o Salazar, mais o Tenreiro, que eram os maus da fita ?? Afinal, quantos Salazares e Tenreiros é que este país tem ?