sexta-feira, março 30, 2012

SÉRIO ? É PRECISO ASSIM TANTO ESFORÇO ?

Não consigo perceber os meus concidadãos, muitas vezes. Pessoas com todas as condições e qualificações para serem sensatas e equilibradas dizem as coisas mais espantosas, quando nos situamos no domínio dos interesses partidários. E, acrescente-se, no domínio da defesa das suas escolha pessoais.
Ora sejamos honestos e simples : é preciso algum esforço, entre os portugueses, para demonizar Sócrates ? Ele, coitado, pessoa tão simples e humilde, não fez nada para isso ??
Deixemo-nos de tretas e de defender as nossas atitudes pessoais à posteriori : Sócrates, no meu universo conhecido de pessoas que se movimentam nos circuitos ditos políticos, é a pessoa que mais esforços fez, sem a ajuda de ninguém, para se tornar odiado e odioso. Nunca vi ninguém que reunisse, a determinada altura, tamanha coincidência de ódios e ressentimentos. Como político e como ser humano. É falso isto que afirmo ?
O senhor tinha ( tem ) uma concentração única de "qualidades", poucas vezes presentes em alguém. Uma mistura explosiva de auto-confiança e sobranceria, de teimosia inflexível e falta de pudor, de desprezo pela opinião alheia e de convicção exageradíssima das suas próprias virtudes. Digam-me lá então se é preciso alguém fazer muito esforço para o demonizar ?
Adicionem a tudo isto uma impreparação notória para a governação ( ao contrário da sua própria crença de que seria sobre-dotado ... ) e uma enorme insensatez, e terão os condimentos da matéria explosiva.
Mais : junte-se a este cozinhado o estado do país quando se começaram a fazer contas, as quantidades tremendas de dinheiro que foram "transferidas" para as grandes empresas, em jogos absurdos de parcerias privadas ( de publicas só tinham o dinheiro a pagar ), em sonhos pacóvios de energias eólicas e fotovoltaicas ( que exigiam ao contribuinte uma pagamento em duplicado a outras formas de energia ), em outros devaneios de grandeza e de "deixar obra" como no caso do TGV e do novo aeroporto e teremos o retrato completo de um senhor a quem nunca deveria ter sido permitido brincar aos estadistas.
Doa a quem doer - como por exemplo aos seus sustentáculos dentro do partido, por esta ou aquela razão - Sócrates foi um digno continuador da inépcia e falta de visão governativa de um Cavaco no seu melhor. Com uma diferença : tinha menos dinheiro para gastar e fez tudo como se tivesse muito.
Demonizar Sócrates ? Não é possível, ele foi um pequeno "demónio" ( pequeno por causa do inglês técnico, apenas ) por ele mesmo, demonizou-se por mérito próprio, não precisa que ninguém faça isso por ele.



sexta-feira, março 23, 2012

OS SINAIS DA REVOLTA

Estudam-se, há muitos anos, às condições materiais e psicológicas de eclosão das crises nas sociedades, até ao aparecimento dos primeiros sintomas de rotura do tecido social. Por outras palavras, há fenómenos que prenunciam o surgir da violência.
Os nossos governantes, quanto a estas questões, demonstram uma indiferença ( para não dizer ignorância ) extrema. Para eles, o escudo da lei protege-os e torna-os imunes à ira dos outros.
Ora a verdade é que não é bem assim. A história de Portugal mostra-nos muitas ocorrências de tumultos graves, de tentativas de revoluções e mesmo de golpes bem sucedidos antecedidos de muitos "avisos" a que ninguém ligou.
Nos ultimos tempos, o governo tem acumulado várias situações muito delicadas, gravemente ofensivas da paz social sem sequer parecer consciente dos riscos envolvidos. É natural, claro, uns andam atarefados a controlar os gastos e a fazer cortes, outros dedicam-se a fazer negócios, não há tempo nem paciência para tudo.
Mas as coisas vão fervendo, lenta e inexorávelmente, fiquem a saber.
Com a minha experiência, afirmo que aquela intervenção da polícia durante a greve geral, é extremamente reveladora do grau de raiva, desorientação e falta de enquadramento no seio da mesma polícia. Na verdade, não deve ser mesmo nada fácil ser polícia nestes tempos, amigos ...
Não estou a desculpar as acções exageradas e totalmente tontas da responsabilidade da PSP. O que vos estou a dizer é que elas são reveladoras de um estado de espírito que nunca deveria existir no meio deles.
E por falar em polícia, que se passará no meio militar ? E nos funcionários das finanças ? E nos outros funcionários todos do Estado, professores, juízes, médicos ? Já pensaram bem na redução terrível no desempenho destas pessoas, todos os dias assaltados por indignações e humilhações ?
Nem quero pensar no clima lindo que se vai viver quando, em Junho ou Julho, notarmos mesmo o roubo que nos fizeram. Enquanto, em simultâneo, é só milhões para o BPN, as PPP, os grandes grupos económicos que aprisionaram o nosso país e as nossas carteiras.
Senhores do governo, atentem bem nestas situações. Não se esqueçam que os portugueses são de brandos costumes ... só até perderem a paciência !
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terça-feira, março 20, 2012

OS GRANDES LIDERES POLÍTICOS

Ouvem-se por aí muitas vezes afirmações caridosas, do género "o poder local é o verdadeiro baluarte da democracia em Portugal".
Nunca padeci desse verdadeiro delírio que faz as pessoas acreditar nesta afirmação. É verdade que muitos melhoramentos foram introduzidos em muitas terrinhas deste nosso país, falta é saber a que custo. Falta é descontar a essas maravilhas a profusão de rotundas estúpidas e outras obras que só interessam ao orgulho e amor próprio do sr presidente de câmara.
A própria filosofia de investir dinheiro para poder ser reeleito, usada pela grande maioria dos autarcas, é prova de que o poder local está longe de ser uma benesse dos Deuses para as populações locais. Eu diria mesmo mais, fazendo possívelmente zangar alguns dos meus escassos ( mas bons ! ) leitores : o chamado poder local é o verdadeiro repositório de todas as misérias humanas ( morais e profissionais ) dos portugueses. O poder local tem sido bem mais caciqueiro e esbanjador que o poder político central, e este, como se sabe, não tem sido propriamente um modelo de virtudes cívicas no uso dos dinheiros públicos.
Enfim, Portugal é o que é. Viemos a saber agora que, depois das dívidas da Madeira, à volta dos 6.000 milhões, as dívidas das Câmaras Municipais atingem os 12.000 milhões !!
Espantoso. Não nos bastava o "falso engenheiro" e outros, agora temos mais uns 300 e tantos "artistas", a fazer parvoíces e a virem-nos às algibeiras.
Confesso que estou farto desta gente. Chego a admirar e a desejar a contenção e a "avareza" de Salazar, para quem só era permitido fazer uma despesa pública se houvesse dotação orçamental. Qual pedir aos bancos qual carapuça, o homem era inflexível e se não havia "massa" não havia obra.
Pergunto a mim mesmo, nestes ultimos quase 40 anos, quem foram os inteligentes que permitiram os desvios a estas normas e autorizaram toda a gente a endividar-se.
Aquilo que se vê é simples de entender : não há nenhum organismo público com autonomia financeira que não se tenha endividado até à medula ! Com poucas excepções, como meia dúzia de Câmaras no país ( entre elas o Porto ), com as contas em ordem.
É por isso que um destes dias, ao ouvir António J Seguro afirmar que irá voltar à regionalização logo que oportuno, ia morrendo de riso e tristeza ... Isso, isso, mais uns quantos a endividarem-se, é mesmo disso que estamos a precisar ...
Temos grandes lideres políticos, sem dúvida.

domingo, março 18, 2012

LIBERALISMO NÃO É A MESMA COISA QUE DESVIO DE DINHEIROS PÚBLICOS.

De vez em quando, há que regressar ao início das coisas, aos princípios fundamentais, para que não subsistam equívocos e confusões. Os americanos incentivam esta atitude, lembrando muitas vezes "back to the basics".
É isso mesmo.
A grande confusão de algumas pessoas deste nosso pequeno rectângulo é entre opções políticas e ou ideológicas, legítimas em democracia, e opções entre a honestidade e a falta dela. Vejamos : ser liberal ou mesmo ultra liberal em política não é um crime. Pensar que o papel do Estado no país deve ser reduzido ao mínimo e que todas as actividades susceptíveis de gerar lucro devam estar no sector privado é uma forma de pensar legítima.
Já não é legítimo, nem sério, tratar os dinheiros públicos com displicência ou mesmo uma forte inclinação para os "entregar" ao sector privado.
Repito : isso não é política, é crime, é um roubo a todos nós. O dinheiro público não é do Estado, é dinheiro de todos nós, é dinheiro que nos tiram da algibeira através dos impostos. Insisto, há uma diferença entre opções políticas e entre seriedade e desonestidade.
Para mim, expliquem-me o que quiserem, pagar uma compensação a uma empresa privada, por algo que não sucedeu, conscientemente, deveria ser investigado pela Promotoria Pública. É um desprezo manifesto pelos verdadeiros donos daquele dinheiro, nós todos.
Um grupo económico oferecer de mão beijada um grande "emprego" ao homem a quem o nosso Governo incumbiu de fiscalizar e assessorar as privatizações e as PPP é ... surrealista, tal a falta de sentido ético envolvido. Diz o senhor primeiro ministro que não há incompatibilidade legal ou política : pois não, o que há é um enorme desrespeito por todos nós, o que parece que já não conta.
Deixar "cair" um secretário de Estado, só porque a EDP não gostou que ele tentasse defender os nossos bolsos da avidez daquela empresa revela outra vez desprezo por todos nós e submissão ao senhor dinheiro.
Andar a fingir que se faz alguma coisa em respeito às PPP é outra aventura : o respeitinho aos nossos amigos do dinheiro é muito bonito e mais vale cortar nos vencimentos dos mesmos do costume do que recuperar uns milhões aos gulosos.
Para evitar mal entendidos : o senhor Sócrates horrorizava-me porque esta que agora retrato era a sua postura habitual. O actual governo não vai por melhores caminhos, ao que tudo indica.
Acabo como comecei : diferenças ideológicas ou políticas são uma coisa, outra coisa é chamar parvos a nós todos e andar descaradamente a maltratar dinheiro nosso.
O Código Civil tem nomes para essas coisas, embora só se apliquem a nós e nunca a eles.
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sábado, março 10, 2012

SERIEDADE, PRECISA-SE COM URGÊNCIA

O que diria o leitor se tivesse uns euros para investir e alguém lhe viesse dizer que estava disposto a garantir-lhe uma taxa de retribuição do seu capital de 10 ou 15% ao ano, sem qualquer risco para si ?
O leitor provavelmente desconfiaria da fartura e perguntaria o porquê da oferta, não é ? Bom, o seu interlocutor diria que não tinha capital disponível para o investimento, mas que precisava mesmo de fazer esse investimento e que conseguiria sempre pagar a "renda" anual.
Acharia bom, leitor ? Uma alta taxa de rentabilidade financeira com risco nulo ?
Pois bem, essa é exactamente a forma "habilidosa" como diferentes governos nacionais conseguiram fazer "obra", sem terem orçamento para isso, comprometendo-se depois a pagar quantias astronómicas, tudo somado, nos anos vindouros.
É a este "esquema" que se dá o nome de PPP - Parcerias Publico-Privadas : os privados investem, o Estado paga anualmente os seus lucros, o risco é nulo para o privado, os encargos avultadíssimos para o país.
Isto foi aplicado a auto-estradas, a hospitais, a pontes, à co-geração de energia eléctrica e a mais não são quantas outras áreas.
Esta solução é ruinosa e imoral. Ruinosa porque incentiva o poder político a lançar-se em projectos ( como é que pensam que o novo aeroporto iria ser construido ? ) para os quais de outra maneira não teria meios. Ruinosa porque sugere que podemos construir coisas sem dinheiro e depois logo se verá. Imorais porque proporcionam lucros certos e fabulosos às firmas das parcerias ( por exemplo a MOTA-ENGIL, não é ... ), sem qualquer risco envolvido, à custa dos mesmos de sempre.
Obviamente, o sistema agrada às firmas envolvidas e também aos políticos que aparecem com obra feita.
Um dos resultados desta história é a profusão totalmente absurda de auto-estradas neste país, circunstância que ameaçou o "negócio" no início, uma vez que a "renda" anual que o Estado pagaria ( nas ex-SCUT ) era calculada em função do número de carros a circular nas mesmas. Pobrezitos, lá foi necessário ( no final do reinado de Sócrates ) um Secretário de Estado vir alterar as regras do jogo e inventar uma forma de calcular a "renda" em função ... da disponibilidade ou potencialidade da autoestrada, e não dos carros que por lá transitam. Bom trabalho, o risco continua a ser nulo.
Pormenores. Tal como este outro pormenor, o "engano" recente de pagar duas vezes a mesma coisa à LUSOPONTE. Pagava-se-lhe uma compensação de cerca de 4 milhões de euros por não se pagar portagens na ponte em Agosto. Em Agosto ultimo o Governo acabou com a "borla", a LUSOPONTE recebeu as portagens ... e também a compensação por não as receber. Só mais 4,4 milhões de euros. Tudo pelos privados, ainda que tenhamos que ir buscar dinheiro à rapaziada que trabalha.
Será apenas amor à iniciativa privada ou favores a amigos ? Nem pensem, leitor, trata-se também de acautelar o futuro, quando sairmos da esfera pública e arranjarmos um qualquer lugarzito no Conselho de Administração de uma MOTA-ENGIL ou LUSOPONTE.
Digo-vos : em muitos anos de vida e uma atenção constante à coisa política, nunca como hoje presenciei uma tal degradação da ética e da honra. E dos ideais republicanos.
É vergonhoso. É assustador. É uma pouca-vergonha. Com hifen ou sem ele.
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