domingo, novembro 30, 2003

OUTRO DOMINGO SEM HISTÓRIA
Voltou a chover, embora sem grande convicção. Ainda bem para mim, como saberá o leitor que acompanhou as minhas aventuras de ontem. ( ainda está a tempo, estão descritas aí em baixo, já a seguir ! ) Hoje não pingou. Por enquanto.
Andei por aqui a dar umas voltas a pé, até à Igreja de Benfica e depois até ao Centro Comercial Fonte Nova. O ar está saturado de humidade, a rua cheia de poças, os carros a reluzir com gotas de chuva nos capots. Das varandas vão caindo pingos de água que invariavelmente me acertam na cabeça. Ou numa orelha, como aconteceu hoje.
Um desporto interessante nestes dias é o “salpica ou não ?” Trata-se de tentar evitar os salpicos provocados pelos autocarros ao passarem, pesadões e apressados, na Estrada de Benfica. É um jogo exigente, é preciso calcular exactamente a trajectória do autocarro e a nossa própria, em relação à localização das poças de água. Por vezes, o jogo complica-se por causa daquelas senhoras que insistem em nos enfiar as varetas do chapéu de chuva pelos olhos dentro. É dificil estar atento ao autocarro com uma vareta ameaçadora à nossa frente, isso vos posso eu assegurar !
Enfim, acabei por comprar dúzia e meia de sonhos para trazer para casa e saborear com um chá bem quente.
Estes são de abóbora, disse-me a senhora que mos vendeu, mas confesso que quanto a sonhos gosto de todos, mesmo dos impossíveis.
Passem bem este resto de domingo !

sábado, novembro 29, 2003

OBRAS NO CONDOMÍNIO
Hoje, sábado, foi dia de obras no prédio. Era preciso levantar cedo, porque o homem que vinha mudar os intercomunicadores chegava às 8:30. Claro que só chegou ás 9 e picos, mas eu, feito burro, lá estava pronto às 8 e meia e até já tinha ido ao café da esquina ( “A Carripana” ) beber a minha bica.
Às 9 estava prevista a chegada do pedreiro ( ou algo semelhante ) que vinha tentar a impermeabilização de um terraço que existe por cima do meu andar. Esse terraço não me grama e Inverno sim Inverno não despeja-me uma torrente de água na cozinha, o que me irrita á brava.
Já estão a ver, não ? Às 10, lá chegava o homem, acompanhado de um filho, miudo ainda em idade de secundário, já a ajudar o pai nestes biscates.
Juntámo-nos todos, lá por cima, o administrador do condomínio, o pedreiro, o filho e eu, a olharmos com ares entendidos para o terraço. O administrador, homem grande e pesadão, saltava em cima da tijoleira para avaliar se estavam bem colados ao pavimento ou não. O pedreiro acendeu um cigarro e ia tirando umas fumaças enquanto olhava com os olhos semi-cerrados para a tijoleira. O puto espreitava as núvens e avisava : “é capaz de chover”. Eu perguntava :”Então, que é que vamos fazer ?”. O cão da porteira ladrava.
Quase se ouvia o ranger daqueles cérebros todos na análise da terrível situação. Finalmente, arrisquei ( sempre sou engº civil, co’s diabos ) “não é melhor arrancarmos isto tudo, ver o que está por debaixo, depois ...etc...etc...? “.
Era, sim. Claro, corroborou o pedreiro. Então, se tem que ser, lamentou-se o administrador, a ver umas lecas a irem-se à vida ...
E lá se começou o trabalho. Ou melhor, começou o filho do pedreiro a dar uma marteladas tímidas numa chave de parafusos, a tentar descolar a tijoleira ... Homem, assim nunca mais ! Pois é, lamentou-se o pai, se me tivessem dito que era preciso levantar a tijoleira eu tinha trazido o martelo eléctrico, mas assim .... Ou seja, o cliente tem que avisar o artista quanto às ferramentas que ele deve trazer, tá visto.
Resignado, isto afinal é Portugal, desci a casa e trouxe um martelo e um escopro que tinha por lá. Sempre o puto podia partir melhor a tijoleira ...
Bem, e assim continuou, ao ritmo alucinante de dois metros quadrados por hora. Razão afinal tem a Drª Manuela Ferreira Leite : temos claramente um problema de produtividade em Portugal.
Entretanto, fui almoçar e fazer umas compras, com a minha filha, rotina habitual aos sábados. Quando voltei, o pedreiro estava a estender um rolo de tela no espaço entretanto preparado, olhando para as núvens com ar céptico. Lá acendeu o maçarico e começou a colar a tela ... não demorou muito tempo para se perceber que a tela também não chegava para a área toda ... Eh pá, um gajo não tem culpa, não lhe tinham dito quantos metros quadrados eram ...( por acaso eu tinha feito as medições mas palpita-me que o esperto do administrador, num golpe de génio, omitiu esse dado ao pedreiro, quando combinou a vinda dele ).
Enfim, segunda feira vai continuar a aventura. Espero que entretanto não chova muito, vai ser o pandemónio se chover.
Que não, diz o homem, ele já pincelou o pavimento todo com aquele produto maravilha que trazia numa lata e que indicava no rótulo : tapa-poros para paredes de alvenaria ...
De maneira que o leitor está mesmo a ver o que vai acontecer se chover enquanto o homem não cola o resto da tela ...
Ai, ai, este nosso Portugal, é tão girooooooooo !

sexta-feira, novembro 28, 2003

A CULPA FOI DA LIGAÇÃO À INTERNET
Durante quase 24 horas estive sem ligação à Internet. É assustadora, a sensação de perda e impotência que isso provoca. Como é possível, ao fim de tão pouco tempo, ficar-se tão dependente de um meio de comunicação ?
A verdade é que me estou a desculpar, também, de não ter actualizado este meu blog. Pois. Foi a falta da internet e ... a falta de vontade. Há dias assim, sentia-me ( e sinto ainda ) demasiado “vazio” para escrever fosse o que fosse com o mínimo de jeito. Enfim, admitindo que nos outros dias esse mínimo está naquilo que escrevo.
Seja como for, aproveitei uma aberta, hoje de manhã, e fui ao meu barbeiro. Após a encomenda do serviço “o costume, sr. Mário”, lá iniciou ele a habitual prelecção sobre futebol. “Foi ontem a Alvalade ? “, perguntou-me, a abrir. É estranho, já lhe disse mil vezes que não sou Sportinguista, nem costumo sequer ver futebol nos estádios, mas o homem insiste, pergunta-me sempre se fui à Luz ou a Alvalade.
Aproveitei, enquanto o mestre ia aparando os cantos, dei uma passagem pelo jornal. Sim, que o meu vício da ligação à internet ainda não substituiu o meu fascínio de sempre pelo papel do jornal. O cheiro, o toque, o virar das páginas, o dobrar das folhas para as ajeitar ao meu gosto ... não, não vou nunca preferir os jornais on-line. E o que se aprendia hoje ? O sr. ministro Bagão Félix voltou a atacar, desta vez com a história das baixas por doença. E com uma ideia originalíssima, para desincentivar as baixas fraudulentas : se estiveres doente apenas uma semanita, recebes metade do que ganhas ; se estiveres doente três meses, então recebes quase tudo o que ganhas normalmente. Ehehehehe, esta é de morte : como a maior parte das baixas é de curta duração, o ministro descobriu a forma de economizar umas massas largas, estão a topar ? Ganda espertalhão ...
Outra : Durão Barroso resolveu fazer um brilharete e decidiu que as empresas devem ser obrigadas a uma quota de 2% de empregados deficientes. Brilhante, também : como a maior parte das nossas empresas tem menos de 20 empregados, a quota vai obrigar cada empresa a admitir quatro décimos de empregado ! A este ritmo, vamos ser o país no Mundo que mais empregados deficientes temos no tecido produtivo.
A internet foi-se de novo abaixo, enquanto eu alinhava estas palavras. Como tudo em Portugal, nada é fiável, nada funciona em boas condições, nem sequer há uma explicação ao Zé pagante ...
A insustentável miséria de sermos medíocres.
Voltou, a internet. Deixa-me aproveitar agora.

quarta-feira, novembro 26, 2003

OS GOLPES URBANÍSTICOS E A TAÇA AMÉRICA
Afinal, a America Cup vai ser feita com base em Valência, Espanha e não em Lisboa/Cascais. E logo agora que convinha tanto a este Governo, arranjar assim uns balões de oxigénio virtuais.
É que, como toda a gente sabe, nós portugueses só progredimos quando temos grandes desafios pela frente : dêem-nos estádios para fazer, exposições para montar ou competições de vela para alojar e vão ver do que somos capazes ! Revolvemos tudo, desalojamos o que for preciso, projectamos, construimos, gastamos o dobro do orçamentado, arranjamos procedimentos sem nenhuma burocracia ( nem cautelas anti-corrupção, diga-se também ) mas fazemos mesmo, a tempo e horas. Agora sem a America Cup é uma tristeza, pá ... como é que vamos justificar os investimentos todos que já estavam na calha ? Como é que vamos convencer o Zé Povinho a gastar umas boas massas em mais um fabuloso empreendimento urbanístico, á beira do Tejo ( como o outro ), onde muito poucos dos pagantes poderão alguma vez sonhar em adquirir um lugarzinho ao sol ?
Ahhh, mas estou outra vez a ser velho do Restelo – expressão aqui muito pertinente, dado que tudo isto se vai passar perto da zona. A isto chama-se progresso, trata-se de restituir dignidade a uma zona do Tejo que está degradada e de pouco serve ...
Pois é. É sempre assim. Pouco ou muito, é sempre dinheiro público que é usado na urbanização de base destes espaços. Dinheiro público ... e espaço público, convirá não esquecer. E depois de tudo alindado e de tudo construido, quem pode comprar ali uma habitação, quem é ??
Ou seja, não é ao aproveitamento urbanístico dos espaços que me oponho, não haja qualquer confusão. Aquilo que me perturba é o mesmo velho fenómeno : a restituição desses espaços, depois de arranjados, a uma minoria muito minoria que pode pagar aqueles preços altíssimos. E não me venham dizer que o empreendimento se basta a si próprio e tem capitais privados lá metidos e que quem tiver dinheiro pode vir a comprar. É que o espaço é nosso !
Por outras palavras ainda mais simples : no fundo, apropriam-se de uma magnífica zona pública, urbanizam-a, embelezam-a e depois “entregam-a” a meia dúzia de abençoados pelo dinheiro.
Os outros ... podem ir até lá e passear um bocadinho. Desde que não sujem e não façam ondas. E viva o progresso !

terça-feira, novembro 25, 2003

NOTÍCIAS QUE ME FAZEM DIZER PALAVRÕES
Hoje destaco três notícias. Uma delas provoca-me calafrios, podem crer. É esta, destacada de um dossier TSF sobre o aumento da violência doméstica : “Na Europa, 1 em cada 5 mulheres, pelo menos uma vez na vida, é vítima de agressões dentro de casa. Em Portugal, mais de 10.000 mulheres por ano queixam-se à polícia ou aos centros de apoio e todos os meses, pelo menos 5 são vítimas fatais.”
Vítimas fatais ?? Mas que selvajaria é esta ? Que raça de atrasados mentais, cobardolas e rufiões andamos nós a criar neste país ? Isto é de uma gravidade extrema, não só pelo acto em si, a que só posso chamar de repugnante, como pela indicação que nos dá quanto à baixíssima qualidade de seres humanos ) que a nossa sociedade anda a produzir. Neste caso, homens. Ou melhor, deviam ser homens.
E agora ? Depois de se saber isto vai tudo continuar na mesma ? O sr. ministro de qualquer coisa e o sr. director-geral não sei de quê farão um ou outro comentário, com um ar compungido e vão continuar a almoçar regaladamente no Vela Latina ou no Tavares das 2 ás 4, não é ?
E querem saber mais ? Depois destas coisas querem continuar a convencer-me que os crimes importantes neste país são os de pedofilia ? Ah, meu Deus, digo isto desde o primeiro dia : vamos todos andar aos papéis por causa de meia dúzia de gajos que gostam de ir ao rabo a meninos ranhosos ?? Hoje não consigo, tenho mesmo que ser desabrido : porra, levem a julgamento quem deve ser levado e dediquem-se a estes e outros crimes que de facto são a vergonha de um país.
Quem discorda ?

A segunda notícia não é surpresa para mim. Foram as declarações-denúncia de Leal Martins sobre as pressões políticas, ameaças de morte e desconfianças quanto a movimentações de dinheiros enquanto era responsável pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil. Escrevi aqui neste blogue, já há quase dois meses, aquilo que penso sobre esta indústria de “produção e extinção” de fogos ... o que estranho, sabem o que é ? É que o sr. engº Leal Martins só agora tenha revelado isso e não tenha dado dois berros enquanto podia. Também estranho a estranheza do sr. Ministro quanto a estas declarações. Então o sr. Ministro nunca se deu conta daquilo que todo o país já percebeu ??
Enfim, vamos de mal a pior ....

Por ultimo, o gozo total. Os ministros das Finanças da Europa decidiram “perdoar” à França e Alemanha a ultrapassagem ( com grande á vontade ! ) da fasquia dos 3% nos seus déficits orçamentais. Acho que entenderam muito bem como seria complicado tal não suceder. O ministro das Finanças francês argumentou mesmo que, se não violassem o Pacto de Estabilidade, lhes aconteceria o mesmo que em Portugal : a depressão !
Ehehehe ....
Sabem o que estou a pensar ? A drª Manuela Ferreira Leite, que fez do cumprimento do Pacto a SUA POLÍTICA ( alguém lhe conhece outra ?? ), como se sentirá agora ? Aposto que não muito bem, aposto que lhe estará a apetecer gritar : “Merdaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa !”
A mim está, pelo menos.

segunda-feira, novembro 24, 2003

O MITO DA NÃO-MORTE
Alguns quilitos a mais, a idade e as insistências da minha filha, fazem-me recorrer, de vez em quando, a uma alimentação mais cuidada, do tipo “isto é tão intragável que até deixas mesmo de comer, meu !”. Aqueles croquetes de soja e empadas de lentilhas, completamente indescritíveis, conhecem ? Enfim, a amargura de ter de mastigar estas iguarias fez-me reflectir nesta característica tão vincada do nosso tempo, nas sociedades de abundância : a negação permanente da morte, a sua quase recusa. E mais : o dever de estar em perfeitas condições físicas, sempre, em qualquer idade. Suponho que mesmo na morte.
Esta valorização ( excessiva ? ) da vida é um facto novo, creio eu, e nada tem a ver com a concepção cristã da morte, por exemplo. Quase todas as religiões pretendem desdramatizar a morte, até mesmo fornecer, a nível psicológico, algumas compensações, a perspectiva de uma outra vida ...
Este fenómeno é o oposto, mitifica esta vida terrena, busca a eterna juventude física, prega a rejeição da própria ideia de morte. A maior longevidade das pessoas de hoje favorece esta atitude, sim. Mas não é apenas isso : a nossa sociedade tornou-se hedonista, ninguém está disposto a sacrifícios, ninguém quer aceitar o risco de morte inerente a certas acções, cada vez menos jovens se deixam arrastar para as responsabilidades, riscos e trabalho de criarem filhos. Mesmo os grandes ideiais colectivos são postos de lado, não vá aparecer a necessidade de os defender com a vida ...
O mito moderno é o da vida eterna. Sem rugas. Sem barriga. Sem celulite. Aqueles desfiles de manequins importados de Auschwitz continuam a impor os seus padrões. As boas clínicas médicas organizam programas especiais de check-up, mesmo a prestações, se for preciso. Os regimes alimentares são obrigatórios e numerosíssimos. As plásticas, um must absoluto. Os ginásios prosperam com o arfar de cinquentões que nunca tinham corrido nem sequer para o autocarro. Quarentonas procuram desesperadamente o formato ideal para o “redondo” ( leia-se rabo ), suando em bica, acima e abaixo, em banquetas ridículas de eficácia duvidosa. Dezenas de pais de família desafiam a gravidade e a paciência dos peões em arriscadas corridas de bicicleta, por essa cidade fora. A euforia do prazer e a esperança da vida eterna sente-se no ar.
Pois é.
Por mim, não tenho pressa de morrer, que fique bem claro. Mas não alinho nesta euforia maluca. Só me resigno a comer os tais croquetes de soja se, de vez em quando, puder ver á minha frente um bom cozido à portuguesa. E faço o que for preciso e vou onde for preciso, sem pensar duas vezes na morte, se achar que tal é importante para mim, os meus amigos ou o meu país.
E, quando morrer, quero ver a cara desta gente, lá onde todos nos vamos encontrar, quando descobrirem que as plásticas, o step, as máquinas do ginásio e até os croquetes de soja estão muito fora de moda naqueles verdes sem fim !!!
Ora toma !

domingo, novembro 23, 2003

A SEGUNDA DERIVADA E OS CENTROS COMERCIAIS AOS DOMINGOS
Aos domingos, os centros comerciais da grande cidade enchem-se de pessoas de todas as idades e feitios. Talvez mais pessoas de idade. Muitas mulheres com roupas escuras, aos pares, viúvas de maridos e de esperança. Casais de meia idade, com os sogros, mulheres á frente, homens atrás, um ar enfastiado e submisso. Para muita desta gente é o único momento de liberdade durante a semana, a única palavra que não rima com cansaço e monotonia.Talvez vão mais tarde a algum sítio beber um chá ou um café, alguns queques e pastéis de nata, cerveja para os homens. Talvez nem isso, só os olhares para as montras e para os outros que circulam nos corredores apinhados.
Os centros comerciais são horrorosos aos domingos, dizemos nós, mas para estas pessoas são aquilo que existe de mais parecido com a diversão, com a alegria de viver.
Já alguma vez, num esforço sério, tentaram vestir a pele destas mulheres ? Sim, porque a vida delas é sempre cem vezes pior que a deles : o seu reino ainda é apenas a casa, a cozinha, a roupa, uma ocasional conversa com a vizinha do lado.E quando trabalham fora de casa ainda é pior, aí parecem gestores públicos ou professores universitários, a acumular “tachos” e a correr de um lado para o outro. Parecem-se com eles mas não nos vencimentos, claro.
É por essa e outras que as vejo mirar as montras com um ar mortiço, sem chama de interesse no olhar.Até isso já perderam. Gostava de saber o que se passa dentro da cabeça de uma mulher dessas quando vê numa montra uns sapatos de mulher por 250 euros ! Ou uma saia por 350. Também gostava de saber porque motivo ninguém escreve sobre estas pessoas. A verdade é que todos nós já as vimos, a passar nos corredores, com aquele ar de quem é transparente e pede desculpa ao Mundo por isso.
Ah, já me esquecia : o sr. ministro Bagão Félix explicou que a taxa de crescimento do desemprego baixou um pouco. A segunda derivada, diz ele. Isto é, para vocês perceberem, cambada de iletrados e iletradas da econometria básica : o desemprego continua a crescer, mas começou a crescer um pouquinho mais devagar...!
Suponho que estas pessoas que eu vejo aos domingos estão bestialmente satisfeitas com a tal segunda derivada.
Também não admira, caramba. Os sinais de esperança sempre vieram das segundas derivadas ... e das segundas circulares !

quinta-feira, novembro 20, 2003

OS NOVOS VENDILHÕES DOS TEMPLOS / ESTÁDIOS
O futebol profissional há muito que deixou de ser um desporto. Ou mesmo uma simples indústria de espectáculo. Passou a integrar as estratégias nacionais da competição económica internacional. Projecta a imagem de marca nacional. É elemento indissociável de qualquer política de desenvolvimento de turismo. Interessa a milhões de espectadores e, portanto, também a todo o sector da publicidade e orgãos da comunicação social. Interessa, embora de uma forma mais descontínua, às empresas de construção civil e de fornecimento de acessórios e serviços diversos, desde os relvados até às cadeiras dos estádios. Movimenta ainda centenas e centenas de pequenos negócios marginais, como o dos adereços clubísticos ( cachecóis, camisolas, bandeirinhas, bonés ... ), e o dos comes-e-bebes à volta dos estádios. Estes são apenas os interesses mais óbvios, claro. E a hotelaria ? E o comércio de souvenirs ? E a restauração em geral ? E o maior de todos os negócios actuais do sector, a compra e venda de jogadores ?

São estes os interesses que fazem mexer os países quando se trata de organizar um campeonato mundial, europeu ou local. São estes impactos na economia que provocam comportamentos estranhos, como a recente preocupação dos nossos responsáveis com o apuramento da Espanha para o Europeu 2004. Se não tivessem sido apurados, já pensaram quantos espanhóis deixariam de vir a Portugal ? Quantas dormidas, quantas refeições, quantas entradas em cervejarias ? Até um sr. Ministro rejubilava, ontem, com o apuramento da Espanha !

E o que sucedeu há poucos dias em França, no apuramento da selecção portuguesa de sub-21 para o europeu da categoria, frente á selecção francesa ? As autoridades sanitárias francesas resolveram pedir à selecção portuguesa que se sujeitasse a um controlo anti-doping, à revelia da legislação da UEFA, que não previa essa obrigatoriedade.Análises que, evidentemente, seriam feitas por eles, em França, ehehehe ...
Matreiro, o responsável nacional recusou, e disse que só faria o controlo se o delegado da UEFA levasse as amostras com ele para a sede, na Suiça. ( Esperto, o homem, hem ? ).
Por sua vez, os putos portugueses, com as suas tradicionais boas maneiras e apurada elegância, vá de escaqueirar o balneário todo. Não faço ideia se para comemorar a vitória se para se desforrarem do tratamento francês.
Agora, o governo francês ( o governo, notem !!! ) pediu à promotoria pública francesa ( acho eu ) a realização de um inquérito à recusa portuguesa em se submeter ao controlo ...
Tchhhh .... onde chegámos ! Tudo em nome do desporto e da verdade desportiva, claro !
Pois...lembram-se também do caso do Sporting na Suécia, recentemente ?

É como vêem. No futebol já não há ingenuidades, está tudo resumido a uma lógica de economia de mercado, com todos os ingredientes normais : jogo de influências, acção concertada dos governos, golpes jurídicos se for preciso. Afinal, este é que é o verdadeiro futebol TOTAL : o que interessa não é vencer, é ... VENDER !

quarta-feira, novembro 19, 2003

O CHARME DOS AVÔZINHOS
Não sou pessoa de fazer conhecimentos facilmente. Nunca tive muito jeito para quebrar aquela barreira de silêncio e reserva individual, dizendo uma balela qualquer para aquela mulher interessante que está a ler na mesa ao lado. Nem mesmo para comentar o futebol com o vizinho do 3º esquerdo. Aqueles silêncios nos elevadores oprimem-me, mas nunca descubro as palavras certas. Ou melhor, descubro-as só quando já vou a quilómetros do elevador ...
Bem sei, bem sei, é só deixarmos andar, as coisas são mais simples do que parecem. Eu tenho visto outras pessoas, como é fácil para elas entrarem em contacto com estranhos, daí a minutos já todos se riem e se tratam como se se conhecessem há séculos !
Que raiva, para mim não é, nunca foi assim. Com os anos tenho melhorado um pouco, mas há sempre uma espécie de écran invisível, campo de forças ou sei lá o quê, entre mim e os outros. Se me falam, tudo bem, respondo calorosamente e a conversa flui. Mas se os outros são como eu, fica tudo calado e constrangido. Chego a ensaiar abordagens, formas de dar início à conversa, mas tudo me parece terrivelmente foleiro e sem interesse e fico calado, a sentir-me mal.
( é estranho, porque não sou demasiado tímido, tenho alguma auto-confiança e sou capaz de uma conversa normal, sem bloqueios nem gaguejos ... O arranque a frio, porém, é o meu problema ! )
E depois, existem normas obscuras, não escritas, sobre o que se pode e não pode dizer, sobre onde se deve e não deve falar, isto não é fácil. Quando entro num consultório médico, por exemplo : se estão dez pessoas, só uma ou duas responde ao meu receoso bom dia ou boa tarde ... nos consultórios não se deve falar ??
E se nos sentamos ao pé de uma daquelas senhoras terrivelmente bem ? É escusado dizer seja o que for : ela olha-me de alto a baixo, repara nas calças de bombazine a precisar de ferro e naqueles sapatos com uma ou outra mancha de lama seca e remete-se a um silêncio ofendido, enquanto finge ler.
Ultimamente, porém, reparei em algo inesperado e sensacional : as pessoas tratam-me com mais deferência e à-vontade, nas lojas, nos locais públicos, refiro-me sobretudo às senhoras, mesmo novas, dantes esquivas e a fazerem caras de quem não quer conversa . Agora retribuem-me as palavras, normalmente com um sorriso simpático, até me mandam bocas, como um destes dias quando acompanhei a minha filha a uma loja de modas. E a menina era bem gira !
É pá, finalmente consegui, pensei eu, ultrapassei as minhas inibições, agora é que vai ser bom !!!! Senti-me bem, achei-me um homem insinuante, charmoso ... até que finalmente percebi o que se passava !!! Tinha passado a beneficiar da indulgência para com a 3ª idade ! As senhoras e as meninas estavam era a sorrir ao senhor de cabelos brancos e ar de avôzinho .... Passei a não representar perigo nenhum, sou apenas um senhor de idade com um ar distinto, mesmo usando as mesmas calças de bombazine.
Já viram isto, hem ? Bem, resta-me usufruir do estatuto, não é ? Pode ser que andem para aí umas senhoras que gostem de avôzinhos ...

terça-feira, novembro 18, 2003

QUEM DISSE QUE SE PODIAM SOMAR PARTIDOS ?



Sarsfield Cabral, na sua crónica de hoje no DN, e a propósito do medo de governar contra interesses estabelecidos, afirma “Este Governo foi escolhido pelos eleitores para mudar Portugal, não para se acomodar.”
Esta afirmação fez-me reflectir. Discordo dela frontalmente. Duplamente.
Primeiro, porque este Governo está mesmo a mudar Portugal, como escrevi há dias neste blogue. Destruir também é mudar. E este Governo está a destruir muita coisa.
Segundo, e mais importante : ESTE Governo não foi escolhido pelos eleitores.
Bem sei que constitucionalmente é um Governo legítimo. Os acordos entre partidos, com incidência na formação do Governo, DEPOIS das eleições, são legais. Mas a verdade é que nenhum eleitor votou num Governo PPD+CDS. Ou votou ?
Todos os eleitores, do PPD, CDS e à esquerda destes partidos, todos eles votariam da mesma maneira se soubessem que Durão Barroso iria entregar ao CDS aquelas pastas todas ? Não haveria eleitores do PPD a votar PS por não gostarem da aliança à direita ? O mesmo acontecendo com eleitores do PCP ou do BE, com o voto útil no PS ? Quem garante ?
A verdade é que ANTES das eleições nem o PPD nem nenhum outro partido colocou ao eleitorado essa possibilidade, nunca tal foi discutido ou apresentado como medida a tomar.
E, se assim é, NÃO se pode dizer que ESTE governo foi escolhido pelos eleitores, em meu entender.
É um Governo legítimo e legal, sim, mas não foi escolhido pelos eleitores, tal como está constituido. Trata-se de uma decisão à posteriori, tendo o partido com maior expressão eleitoral usado desse seu privilégio de fazer um acordo com qualquer outro partido.
Se o PPD tivesse escolhido aliar-se com o PS ou com o PCP, por absurdo, também seria constitucionalmente admissível. Nesse caso, seria igualmente o Governo escolhido pelos eleitores ? Quer dizer então que há diferentes Governos escolhidos pelos eleitores resultantes da mesma eleição e sem que esses mesmos eleitores o saibam ??
Não devia ser possível ... a verdade é que as alianças com incidência governamental ( que se traduzam na entrada de outros partidos para o Governo ) apenas deviam ser admitidas pela Constituição se realizadas ANTES do acto eleitoral, ou, pelo menos, se tivessem sido indicadas pelos partidos como INTENÇÃO CLARAMENTE ASSUMIDA durante a campanha eleitoral.
Só assim se poderia afirmar, sem qualquer ambiguidade, que um Governo saído de uma aliança dessas seria o Governo escolhido pelos eleitores.

segunda-feira, novembro 17, 2003

O IRAQUE E BUSH NÃO SE ENTENDEM : E AGORA ?
Alguém sabe bem o que se está a passar hoje no Iraque ? Eu confesso a minha ignorância, apenas posso traçar hipóteses, com a experiência histórica de outras situações.Vários cenários são possíveis, para aquelas acções a que temos vindo a assistir. Grupos pequenos e organizados de homens de Saddam Hussein ? Células da organização de Bin Laden ? Grupos de habitantes hostis aos americanos sem ligação a Hussein ou Bin Laden ? Uma mistura de algumas das hipóteses anteriores ?
O que parece óbvio é que são acções de intimidação e desgaste dirigidas não só contra as tropas da coligação, mas também contra as organizações humanitárias entretanto instaladas no Iraque e até contra sectores políticos iraquianos colaborantes com as tropas da coligação. Por isso, aposto não tanto em Bin Laden mas mais em Saddam Hussein, cujas capacidades de sobrevivência e de reorganização terão sido perigosamente subestimadas.
A actuação dessas eventuais células “resistentes” é muito facilitada pela ausência de segurança e de condições básicas de vida das populações iraquianas. De facto, olhando a esta distância, não faço a mínima ideia das razões que têm impedido os americanos de regularizar o abastecimento de água e luz a Bagdad. Nem compreendo o seu aparente desinteresse ( ou incapacidade ) em policiar a vida da cidade, como se isso não fosse da sua responsabilidade. ( ao contrário, os ingleses parecem ter conseguido alguns êxitos na zona sob a sua jurisdição, para onde foram os nossos homens da GNR. )
Se eu vivesse em Bagdad, ainda que nunca tivesse gostado de Saddam, provavelmente já estaria a esta hora zangado com os americanos e começaria a desejar que se fossem embora.
A verdade é que, a pouco e pouco, o Iraque começa a parecer-se não com o Vietnam, como alguns sugerem, mas com um país militarmente ocupado onde o invasor enfrenta forças de resistência muito activas. A libertação planeada ( ?? mal, pelos vistos ) pelos americanos está muito longe de ter acontecido no Iraque e arriscamos, a médio prazo, uma retirada precipitada e perigosa.
Este resultado viria sem dúvida a agradar a muitos dos que discordaram da arrogante e insensata aventura de Bush. Não é o meu caso, embora tenha sido contrário à invasão. Seria algo de resultados imprevisíveis, em termos políticos globais, e totalmente catastrófico, em termos humanos locais, uma saída precipitada do Iraque que deixasse o terreno livre ao regresso de Saddam Hussein.
Convirá não esquecer que os americanos já fizeram coisas parecidas antes, por mais de uma vez. É que as administrações americanas só são defensoras dos direitos humanos ( para uns ) ou imperialistas ( para outros ) enquanto a opinião pública está do seu lado ou as eleições vêm longe ...
Uma coisa tenho por certa : o futuro próximo do Iraque vai influenciar decididamente o futuro da comunidade internacional. Razão acrescida para estarmos atentos e não deixarmos o Iraque apenas nas mãos do sr. Bush.
Já vimos que não se entendem muito bem.

domingo, novembro 16, 2003

A BELA E O ACTOR
Ontem fui ao cinema. O filme chama-se “Culpa Humana”. Anthony Hopkins, sobretudo, e Nicole Kidman são garantias de profissionalismo e de prazer, quanto à arte de representar. Não vos vou falar da história, vão ver o filme, se quiserem, eheh .Apenas vos digo que não há efeitos especiais, nem cenas de grande impacto mediático, tudo é muito sóbrio e tranquilo, apenas um velho professor universitário, um escritor jovem e uma mulher de trinta e poucos anos, em cenários de grande beleza natural com a neve em pano de fundo. Para quem gosta de coisas cheias de acção, barafunda e milagres em série, tecnológicos ou de magia, tipo Mattrix, o Senhor dos Anéis ou o inefável Harry Potter, este não é um filme recomendável. É um filme para quem conhece os seres humanos e se emociona com as suas histórias. É um filme para quem não ignora ( ou quer aprender ) a ternura imensa e a solidão desesperada que existe dentro de cada um de nós. Também para quem goste da boa velha técnica de fotografia em cinema, com grandes planos intimistas, a mostrar bem a cara e a alma das pessoas e o turbilhão dos seus sentimentos.
Por mim, no fim do filme, apeteceu-me aplaudir Anthony Hopkins ( o homem é um Actor e está tudo dito ) e trazer comigo a Nicole Kidman, um dos rostos mais belos de sempre no cinema.Embora sem conseguir apear do pedestal a minha preferida, Susan Sharandon.
Apeteceu-me ir beber um copo depois do filme, ainda era muito cedo, mas ... não calhou, vim para casa. Ando muito doméstico.

sexta-feira, novembro 14, 2003

JÁ NEM SEQUER ME CONSIGO ESPANTAR ...

Apontamento #1

Numa página do Diário de Notícias de hoje, um crítico de gastronomia fala de um restaurante na capital, em Carnide. Comida tradicional portuguesa, alentejana, muito boa.
Os preços até são moderados, não mais que 25 euros por cabeça. Diz ele.
MODERADOS ? Eu, por vezes, sinto-me estrangeiro no meu país. Mas que raio de crítico é este, quanto ganha, que noção tem do país onde está, para quem escreve ?
Então pagar 5 milenas antigas por cabeça por um jantar é moderado ? Nesse caso, se é verdade, devo ser eu a andar completamente desfasado do país .... Ou o DN agora só é lido pela chusma de “gestores” públicos, directores-gerais e outros que tais a quem todos nós pagamos demais e que podem entregar-se a almoços e jantares via cartãozinho de crédito ?
Vá, chamem-me agora populista, também. Parece que está na moda o termo...

Apontamento #2

As Finanças descobriram ( agora !! ) que, dos portugueses que em 1999 declararam para IRS rendimentos superiores a 12.500 Euros, mais de 100.000 deixaram de o fazer, nos anos seguintes ....
Tchhhh.... já viram onde chegámos ?
Então demoraram 4 anos para descobrir algo que seria possível em 10 minutos ???
Ah, leitor, leitor, andamos nós a pagar impostos, todos os anos, e as nossas Finanças ainda estão na pré-história, no que respeita a sistemas de informação.E não pensem que é por falta de investimento, não ! Nos ultimos dez anos, que me lembre, o sector das Finanças investiu largas dezenas de milhões de contos em equipamentos informáticos, programas, assessoria técnica e mais não sei quê. Existe um Instituto Informático do Ministério das Finanças, com centenas de funcionários, existem serviços próprios para o IVA, outros para o IRS/IRC, com mais umas centenas de técnicos e uns milhões em equipamentos. Idem para a Informática Aduaneira. E não sei se me esqueço de algum ...
E depois, nem sequer é possível, em cada ano, saber quem deixou de apresentar declaração do IRS em relação ao ano anterior ?
Não esqueça o leitor, nesta matéria de impostos, aquele famoso processo a Inspectores da área de Lisboa e chefes de Repartição ( processo que deve estar mais parado que o ataque do Sporting ) ou ainda ao recente roubo ( roubo, não, entrada com chave e tudo ! ) de computadores de instalações das Finanças em Lisboa.
Quando iremos perceber que andamos para aqui a apertar o cinto e a pagar cada vez mais impostos enquanto outros não pagam nada e alguns ainda recebem por conta ??
Quando nos iremos chatear de vez e limpar a casa, do tecto ao sobrado ? Quando iremos arranjar administradores para o nosso condomínio à beira-mar plantado que não alinhem com esta despudorada incúria e criminosa cedência a grandes interesses ?
Lembrei-me agora ... o crítico gastronómico acima referido, que acha uma quantia módica pagar 25 Euros por cabeça para jantar, quanto pagará de IRS ????
Ehehehehe ...

quinta-feira, novembro 13, 2003

QUE RESPOSTA BRILHANTE !
Hoje não escrevo. Por um lado, não me apetece, e isto de escrever deve ser feito apenas se e quando der prazer. Para mim, claro, que não vivo da escrita.
Em vez disso, e possivelmente com algum ganho para o leitor, tenho um pequeno apontamento humorístico para vos mostrar. Foi-me enviado por uma amiga. Trata-se da resposta de um aluno a uma questão que lhe é colocada num teste escrito. É brasileiro, acho eu, mas poderia perfeitamente ser português. O brilhantismo do rapaz, o improviso e a elegância do raciocínio são ... indescritíveis. Portanto, leia :


quarta-feira, novembro 12, 2003

HOMENS E MULHERES DA GNR PARTIRAM PARA O IRAQUE
Partiram hoje para o Iraque os militares da GNR que o Governo quis envolver naquele conflito. Não vou discutir ( hoje ) a oportunidade e legitimidade política da decisão do Governo. Vou apenas desejar boa sorte aos homens e mulheres que partiram e esperar que vão bem preparados e equipados para as dificuldades que vão ter pela frente.
Não resisto, no fundo de mim, a pensar em tantas outras partidas, de outros homens e mulheres, para outros locais do Mundo, em outras épocas. Também em resposta a uma ordem do poder político. Com ou sem legitimidade e razão histórica, pouco interessa, há sempre algo de obsceno nestas decisões : quem parte, fá-lo sempre de coração apertado e nó na garganta, quem fica nunca compreende bem o que é partir e arriscar a vida.
Não poucas vezes, acaba na morte de quem partiu e na culpa de quem ficou, por não ter feito tudo ao seu alcance na protecção de quem foi. É que, se é verdade que as grandes causas justificam os grandes sacrifícios, não menos verdade é que causas menores ou mal preparadas podem resultar em sacrifícios inglórios.
Desejo, muito sinceramente, que este não venha a ser um desses casos, e que tudo corra bem para os homens e mulheres da GNR. Eles partiram para longe e não levam culpa nem pecado.

terça-feira, novembro 11, 2003

FERRO RODRIGUES
Vi hoje Ferro Rodrigues, na RTP1, numa entrevista conduzida por Judite de Sousa. Não conhecendo pessoalmente Ferro Rodrigues, tenho que basear-me apenas naquilo que é conhecido da sua vida e na minha impressão das suas palavras e atitudes, enquanto homem e político. E digo-vos : se eu sei avaliar homens – e gastei nisso a minha vida – este é um homem honesto sem sombra de dúvida. Gostei da sua atitude.
E, assim sendo, deixem-me sugerir-vos este racíocinio :

1)Ferro Rodrigues é um homem sério, honesto e eu acredito que NUNCA na vida dele esteve envolvido em qualquer acto pedófilo.
2)O seu nome aparece mencionado no testemunho de alguns ( 3 ? ) putos alegadamente vítimas de ataques sexuais. Ao que dizem.
3)Não parece crível que esses putos tivessem “inventado” essa participação de Ferro Rodrigues por sua espontânea vontade. Alguém lhes sugeriu essa ideia.
4)Então, quem e porquê está interessado em “abater” Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso e o PS com eles ?
5)As estações de TV que participaram há dias, naquela história da divulgação das conversas telefónicas e agora o “Correio da Manhã” tê-lo-ão feito apenas por critérios de ganhos jornalísticos ou tratar-se-à de acções com a mesma orientação de quem convenceu os putos a envolver estes nomes na pedofilia ?
6)O Magistério Público não está interessado nesta linha de investigação ? Quero dizer, acredita-se piamente nos putos e mais nada ?
7)Seria assim tão dificil averiguar a verdade por detrás daqueles testemunhos dos putos, que eu acredito terem sido "fabricados" ?

Por favor, senhores do Magistério Público : façam favor de nos mostrar que o vosso compromisso é com a verdade e a justiça. Por enquanto, só vi pressa de acusar a torto e a direito, e mesmo assim sem grande qualidade.
Uma nota final : pode parecer, pode. Podem pensar que. Mas não, não sou filiado nem simpatizante do PS. Nem sequer votei neles. O que não sou é parvo nem gosto que me façam passar por tal.

segunda-feira, novembro 10, 2003

LÁ VEM ELE OUTRA VEZ COM A POLÍTICA ...

Ao contrário de muita gente, acho que este Governo tem uma estratégia clara, bem definida e que está a ser executada de forma segura. O objectivo é a destruição completa dos ultimos resquícios do Estado social. Com requintes, até mesmo com laivos de vingança recalcada há muito. Em vez de uma nação solidária, num país com desigualdades tão gritantes, pretendem a construção de uma sociedade hiper-liberal, onde tudo pode ser objecto da iniciativa privada e todos os serviços devem ser pagos por quem a eles recorrer.
Os valores dessa hipotética sociedade serão a produtividade do trabalho, a competitividade das empresas e a rentabilidade do capital financeiro. O ser humano só interessa enquanto factor e instrumento de produção e, por conseguinte, deve também ser competitivo ... ou desaparecer.
Toda a vida em sociedade, incluindo a política, se deve subordinar aos critérios da economia de mercado. Não existem valores superiores, nem em nome do Homem nem em nome de Deus ... excepto, claro, os valores da propriedade. E, se possível, da fuga aos impostos.
Posso parecer restrictivo, quase fundamentalista. O quadro é tão negativo que o Governo nunca admitirá serem estas as consequências finais da sua actuação. Irá sempre insistir que reduzir impostos às empresas e reduzir salários aos trabalhadores aumenta a competitividade e é, portanto, a melhor forma de tornar todos felizes ...
A evidência, porém, é muito forte e corrobora as afirmações que faço. Muita gente já o percebeu. Mesmo entre aqueles que votaram nestes partidos do Governo. Até a Igreja Católica se inquieta, nos ultimos tempos, com esta liberalização selvagem em nome exclusivo da eficácia e do dinheiro, sem qualquer preocupação com a dignidade do ser humano.
Aqui chegados, tenho que lhes dizer que tenho fé. Este Governo não vai conseguir o que pretende. Continuo a ter o sonho de um Portugal solidário e próspero, tudo ao mesmo tempo. Em liberdade. Com dignidade.
Tenho fé nas próximas eleições.
O Sol irá aparecer novamente.

domingo, novembro 09, 2003

E VIVAM OS PASTÉIS DE BELÉM !
Como somos diferentes uns dos outros ! Provavelmente, esse é um dos segredos da evolução da espécie humana, tipo garantia de êxito qualquer que seja a ameaça.
Recebi um comentário ao meu texto de hoje ("Os Domingos são tão chatos"- ver abaixo ) que não quero deixar de destacar aqui, com uma vénia à autora. Demolidor ... e inspirador.
Somos diferentes, de facto, mas a vontade de viver e o entusiasmo que estão patentes no comentário levam-me a reproduzi-lo aqui. Pode ser que dê animo a quem ler estas notas.
E obrigado à autora, uma velha amiga.
...........................................................................................................................................................
Como assim?! então e tudo aquilo q n se faz nos outros dias e q se tem p fazer???? Arrumar gavetas, dobrar roupas, fazer sopa, comprar o jornal c calma e acordar e estar vivo??? é bom sinal qdo nos aborrecemos: ainda cá estamos e pode-se deixar de estar chateado. a seguir, no outro instante!! E há tanto p fazer...dou já 1 ex.: aos domingos de manhã, entre as 11 e as 12 há concertos de jovens musicos, nos Jerónimos. N é mto tempo, anima a alma, e antes ou depois pode-se spre dar 1 voltinha pelo claustro e andar de cabeça no ar a ver tanto q lá há p ver, isto p n falar em ver quem são os outros q estão acordados àquela hora, naquele dia, naquele sítio! podemos ficar de cabeça no ar por outras razões...Fica a sugestão!
Até ao proximo domingo, e de boca doce, q 1 pastel de nata a seguir é+1sugestão! Aí, tenho a certeza, n será 1 domingo chato! As tarefas q há q fazer, fazem-se c outro ânimo e ficam...menos chatas!

.............................................................................................................................................................
OS DOMINGOS SÃO TÃO CHATOS ...
Sempre achei os Domingos dias particularmente tristes e depressivos. O fim do fim de semana. O pré-início de nova semana de esforço e desenraizamento. O ter de regressar. Tornar a enfrentar os desafios e as dificuldades.
Acordava – refiro-me a uma época passada da minha vida - muito mal disposto e nada me alegrava, durante todo o dia. Embirrava com toda a gente. Ficava particularmente chateado à tarde, quando me metia num combóio para regressar a Lisboa, cidade onde estudava mas à qual não me ligavam laços de especial amizade. Ainda hoje sinto aquela infelicidade tremenda com que olhava pela janela e via desfilar, ao fim da tarde, a lezíria ribatejana, troços cinzento claro do Tejo, pequenos apeadeiros e também a minha própria vida.
Escolhia sempre o lado esquerdo da carruagem, sentia-me menos infeliz com a paisagem desse lado, mais perto do Tejo.
Muito tempo depois, ainda conservo resquícios desse mal-estar em relação aos Domingos. Já não tenho de regressar a lado nenhum, mas continuo a sentir-me triste. Parecem-me soturnas as pessoas que vejo na rua. Sinto mais aos Domingos a falta de muita coisa, de muita gente. É também aos Domingos que o balanço da minha vida me parece mais em déficit, mesmo com os esforços da Drª Manuela Ferreira Leite.
Enfim... continuo a não gostar dos Domingos.

sábado, novembro 08, 2003

CRÍTICA DE UMA CERTA CRÍTICA DE CINEMA

Embora o leitor se esteja nas tintas, sempre gostaria que soubesse, por amor à verdade, que a minha formação académica se situa na banda das ciências ditas exactas, com alguns salpicos qb de ciências sociais e de comportamento humano. Antes que digam aahhhhh, logo vi, apresso-me a acrescentar que nunca rejeitei, antes pelo contrário, o encanto e a sensibilidade próprios do mundo artístico. Gosto muito de cinema, música, pintura, escultura e arquitectura, por exemplo. Do que não gosto nada - e é disso que vos queria falar - é daquela escrita barroca, mastigada e intrincada que alguns portugueses cultivam, no domínio do artístico, porventura na convicção de que assim lhes será reconhecida a sua imensa cultura e elevação espiritual. Verdade seja que a tendência se encontra não tanto na produção intelectual, nos autores, mas sobretudo naqueles que vivem da crítica aos mesmos. Crítica de literatura, teatro, cinema. Lê-se ... e fica-se espantadíssimo, umas vezes com a profundidade do pensamento do crítico, outras vezes sem perceber grande coisa do que o crítico escreveu.
Claro que isto não é aplicável a toda a crítica, valham-nos todos os santos dedicados às coisas da arte. Mas este senhor ... bem, falo do sr. João Lopes, crítico de cinema do Diário de Notícias.
A ele a palavra : “Não admira que Matrix Revolutions desemboque num simbolismo religioso ......O desenlace da odisseia de Neo explicita a dimensão crística da sua figura e, mais do que isso, a possibilidade de formulação de uma nova «ideologia» ( ou será uma nova crença ?) capaz de integrar a falibilidade emocional dos seres humanos e a certeza informativa dos circuitos das máquinas.”
Confesso que perdi uns largos segundos até descobrir que raio seria a dimensão crística ...sou um saloio, está visto. Depois exultei com a chegada da tal nova crença ou ideologia, não se sabe ainda, com a simbiose homem/máquina ...
Ou ainda, desta vez referindo-se ao filme Kill Bill, de Quentin Tarantino, com a sempre bela Uma Thurman ( na foto ) : “Essa é mesmo uma proeza formal que pode resumir o arrojo do seu projecto( de Tarantino ). A saber : a criação de um espaço de representação hiper-realista em que a paixão pelo detalhe humano vai a par de uma contagiante vertigem abstracta.”
Ora toma, nem mais, que se poderá objectar a isto ?
Bem, dirá o leitor que estou a ser mauzinho e que o crítico em questão está apenas a usar o seu critério pessoal. Claro, eu sei. Nada de pessoal me move contra o sr. João Lopes, nem sequer o conheço e não me custa a admitir que seja uma excelente pessoa. Estou a falar é do crítico, que escreve coisas para o público, ainda por cima para o esclarecer e influenciar, que é o papel da crítica.
É que este crítico em concreto, na avaliação que faz no DN de hoje, atribui a 8 filmes em exibição um valor médio de 4 estrelas ( muito bom ), sendo que considera 3 deles dignos de 5 estrelas ( excepcionais ) ... Excepcionais, caramba ! Por este andar, não precisamos de crítica de cinema para nada. Os filmes são todos excepcionais ou muito bons e tá a andar ....
Mesmo assim, subsiste ainda a questão da linguagem ... não seria possível um espaço de crítica em que a paixão pelo gongórico fosse a par de uma contagiante vertigem pelo concreto, pelo perceptível ? Humm ??

sexta-feira, novembro 07, 2003

FOTOS DE VERÃO

Como hoje não me apetece muito escrever, lembrei-me de partilhar momentos do Verão passado. Tirei esta foto em Lagos, a 06 Agosto deste ano, às 6.48 da manhã, a partir da janela do meu quarto.
O Sol nasceu há muito pouco tempo e tinge a baía ainda de vermelho. Pode ser um pouco bilhete-postal, mas a verdade é que a natureza é bela e se os bilhetes postais a captarem nada tenho a objectar :)))
Ah, para os leitores eventualmente mais incrédulos : sei o dia e a hora exactos porque nestas fotos digitais esses elementos ficam registados. Dá jeito.

quinta-feira, novembro 06, 2003

A ULTIMA QUINTA DE BENFICA - II


Hoje resolvi fotografar a quinta em Benfica sobre a qual escrevi um texto há alguns dias. Deu-me um trabalhão, tive que fazer três ou quatro fotografias e depois montá-las no computador. Mas dá uma ideia, não dá ? À esquerda os prédios para os lados do Fonte Nova, do lado direito espreitam os da Av. do Uruguai. No alto, ao centro da foto, adivinham-se os edifícios da quinta. Acho que estão habitados, vejo carros lá, de vez em quando. Um espaço magnífico, em pleno território do betão. Algo que transmite paz e tranquilidade.
Quanto tempo mais resistirá ao poder dos construtores civis, ao fascínio do dinheiro ?
PS - Não desesperem, eu ainda só vou na ULTIMA QUINTA DE BENFICA II .... aqueles da MATRIX já vão no III ou IV !!!

quarta-feira, novembro 05, 2003

OS NOVOS VELHOS DO RESTELO
Muito bem : para evitar preconceitos e mal-entendidos, esqueçamos, por momentos, as ideologias e os partidos políticos das nossas simpatias. E também das nossas antipatias. Procuremos ser frios, imparciais, isentos. Sejamos tão puros e descomprometidos como uma criancinha de colo. Atrevo-me mesmo a sugerir que olhemos para o nosso Primeiro-Ministro como uma espécie de Robin dos Bosques e para a senhora Ministra das Finanças como a Madre Teresa de Calcutá das Finanças nacionais.
Isso. Vá lá, façam um esforço. Aí está, pronto !
Então agora expliquem-me lá se o povo que soube partir daqui, de Belém, e chegar ao outro lado do Mundo, enfrentando desafios e perigos de toda a ordem, é o mesmo povo que prepara um orçamento de Estado tão tristemente cobarde e medroso. Naquela época, fomos capazes de navegar para onde mais ninguém o tinha feito. Hoje só conseguimos orçamentar o naufrágio inevitável ? Alguma coisa mudou e eu acho que sei o que foi : os navegadores de hoje são os velhos do Restelo de ontem. Esta é a afirmação mais simpática que consigo fazer, depois de ver aquela proposta orçamental. Que me desculpem a Madre Teresa de Calcutá e o Robin dos Bosques.

terça-feira, novembro 04, 2003

O MEU GATO AMARELO

Hoje vou-vos falar do meu gato. Meu, não é bem assim, é um gato em regime de co-propriedade com a minha filha.
Há anos que ela me pressionava para termos um gato em casa. Finalmente, quase por acaso, um amigo meu contava que á volta da casa dele, perto de Torres Vedras, tinha muitos gatos e gatas e que algumas andavam para ter filhos. Então saiu-me : "Se nascer um amarelo, tem que ser amarelo, fico com ele !"
E não é que nasceu mesmo um amarelo ? Duas semanas depois do bichinho nascer ( só duas, notem ! ), aparece-me no gabinete esse meu amigo ( trabalha ao pé de mim ) dizendo, muito aflito : “Oh pá, o gatinho trepou para dentro do motor do carro, deve ter entrado por baixo e veio lá de Torres Vedras até aqui, pendurado ...vê lá tu... ouvimos uns miados baixinhos no carro e lá estava ele ... Queres ficar já com ele ?“
O gatinho estava assustadíssimo e esfomeado. Trouxe-o para casa, fui comprar leite substituto de leite de gata e um biberão microscópico e lá começamos , eu e a minha filha, a alimentar o gatinho. Era do tamanho de uma palma de mão !
Hoje está um senhor gato, já com ano e meio, bigodes bem esticados, olhos inteligentes e dentes rápidos, mais que as garras. Acho que a falta dos ensinamentos da mãe e das brincadeiras com os irmãos fizeram dele um gato um tanto arisco e que não suporta carícias muito demoradas. Insiste muitas vezes em brincar às emboscadas connosco e, de vez em quando, tende a confundir uma perna minha com o rato a caçar e lá sai uma mordidela ... mas gosto dele, mesmo assim. Desculpo-o, são traumas de infância, ehehehe ....
É inteligente, o bicho, como podem apreciar na foto ao lado. Tem um ar que não se vê em muitos senhores ministros. E se pensam que os gatos não aprendem a nossa linguagem e aí se parecem, isso sim, com os tais senhores ministros, então oiçam isto : aprendeu o significado de algumas palavras, uma delas é rato. Quando lhe digo "rato", vai logo direitinho ao local onde escondeu o rato de brincar. Quando vi isto ainda pensei em ir à TVI, mas agora eles só se interessariam por gatos pedófilos, não por gatos filólogos.
Enfim, é uma das minhas companhias mais frequentes e fiéis, nestes ultimos tempos. Ah, quase me esquecia : em relação a uma companhia feminina tem uma grande vantagem : fala muito pouco e só quando é preciso. Eheheheh ...

segunda-feira, novembro 03, 2003

SANTARÉM
Hoje passei por Santarém. Foi nesta cidade que frequentei o velho Liceu, desde o 1º ao 7ºano. Claro que dei uma volta pelo velho edifí­cio, ainda em pleno funcionamento. Desilusão : no pátio, onde decorria um jogo de futebol, não vi ninguém da "malta" amiga ... só outros putos. Não vi o Pirica, nem o Isabelinha, o Madeira Lopes ou o Plaza. Ninguém.
Só vi o Tejo. Esse continua lá, a correr preguiçosamente na lezí­ria, testemunha daqueles anos já tão distantes. Pensando bem, já nem o Tejo é o mesmo. Debaixo da mesma ponte, nunca passa a mesma água duas vezes.

domingo, novembro 02, 2003

NÃO HÁ VARINHAS MÁGICAS ou OS MITOS DO LIBERALISMO
O céu anda escuro, nestes ultimos dias. Que é feito daqueles dias límpidos de Outono, com um sol delicado e trémulo, e uma temperatura amena ? Até o tempo está contra nós ?
Talvez seja por isso, contaminado por este pessimismo de Inverno, que António Barreto ( A.B.), na sua habitual rubrica de hoje no Público, advoga pura e simplesmente a extinção da Casa Pia. Por estar "esgotada" a solução, diz ele, e aproveitando a situação de quase caos e "culpa" daquela organização. Como solução alternativa, propõe ... a adopção dos miúdos que ninguém quer. Mais, faz cálculos ao dinheiro que o orçamento do Estado dedica à Casa Pia ( será familiar de Manuela Ferreira Leite ?? ) para concluir que é muito, demasiado.
Quanto à ideia-base de A.B., e embora lhe reconheça aqui e ali alguns laivos de razão, quase me apetece dizer que as pessoas mudam, perdem a sensibilidade para os problemas dos outros e das sociedades, passam a ver tudo à lógica fria dos cifrões e da eficiência ....
Acho que A.B. foi atacado pelo vírus do liberalismo descentralizante, numa variante de febre alta que o impede de ver a realidade. Senão, vejamos :
Há problemas no ensino secundário ? Entregue-se às autarquias ! Há problemas na Casa Pia ? Acabe-se com ela e dêem-se os putos para adopção ! Os hospitais não trabalham bem ? Entreguem-se à iniciativa privada ! As Universidades andam em crise ? Dê-se-lhes a autonomia total !
É curioso que para A.B., como para muitos pensadores modernos, todos os problemas têm a mesma génese : o Estado. Retirem-se-lhe competências e todos os problemas ficarão resolvidos. Que limpidez de pensamento, caramba.
A mim, que não percebo muito destas coisas, apetecia-me apenas perguntar onde é que estas pessoas foram colher a experiência prática para terem estas convicções tão fortes. Ou mesmo os conhecimentos teóricos.
E daí ... A.B. é capaz de ter razão numa coisa : quando não sabemos resolver uma questão, o melhor é endossá-la a outra entidade, não é ? Então, cá por mim, que já não sei como ler e entender A.B., entregá-lo-ia também para adopção, se acreditassse que ele assim deixaria de dizer tontices destas. Mas qual quê, nem mesmo assim ele se calaria, pois não ?
E ainda bem, no fundo. Os problemas não acabam só por os entregarmos a outrém. Temos mesmo que os resolver, não há varinhas mágicas.

sábado, novembro 01, 2003

RETRATO DO BLOGUISTA ENQUANTO JOVEM

Retirei este post por me parecer demasiado pessoal e por nada adiantar ao leitor.
Continha apenas uma foto do "bloguista" com 4 ou 5 anos de idade.