quinta-feira, novembro 20, 2003

OS NOVOS VENDILHÕES DOS TEMPLOS / ESTÁDIOS
O futebol profissional há muito que deixou de ser um desporto. Ou mesmo uma simples indústria de espectáculo. Passou a integrar as estratégias nacionais da competição económica internacional. Projecta a imagem de marca nacional. É elemento indissociável de qualquer política de desenvolvimento de turismo. Interessa a milhões de espectadores e, portanto, também a todo o sector da publicidade e orgãos da comunicação social. Interessa, embora de uma forma mais descontínua, às empresas de construção civil e de fornecimento de acessórios e serviços diversos, desde os relvados até às cadeiras dos estádios. Movimenta ainda centenas e centenas de pequenos negócios marginais, como o dos adereços clubísticos ( cachecóis, camisolas, bandeirinhas, bonés ... ), e o dos comes-e-bebes à volta dos estádios. Estes são apenas os interesses mais óbvios, claro. E a hotelaria ? E o comércio de souvenirs ? E a restauração em geral ? E o maior de todos os negócios actuais do sector, a compra e venda de jogadores ?

São estes os interesses que fazem mexer os países quando se trata de organizar um campeonato mundial, europeu ou local. São estes impactos na economia que provocam comportamentos estranhos, como a recente preocupação dos nossos responsáveis com o apuramento da Espanha para o Europeu 2004. Se não tivessem sido apurados, já pensaram quantos espanhóis deixariam de vir a Portugal ? Quantas dormidas, quantas refeições, quantas entradas em cervejarias ? Até um sr. Ministro rejubilava, ontem, com o apuramento da Espanha !

E o que sucedeu há poucos dias em França, no apuramento da selecção portuguesa de sub-21 para o europeu da categoria, frente á selecção francesa ? As autoridades sanitárias francesas resolveram pedir à selecção portuguesa que se sujeitasse a um controlo anti-doping, à revelia da legislação da UEFA, que não previa essa obrigatoriedade.Análises que, evidentemente, seriam feitas por eles, em França, ehehehe ...
Matreiro, o responsável nacional recusou, e disse que só faria o controlo se o delegado da UEFA levasse as amostras com ele para a sede, na Suiça. ( Esperto, o homem, hem ? ).
Por sua vez, os putos portugueses, com as suas tradicionais boas maneiras e apurada elegância, vá de escaqueirar o balneário todo. Não faço ideia se para comemorar a vitória se para se desforrarem do tratamento francês.
Agora, o governo francês ( o governo, notem !!! ) pediu à promotoria pública francesa ( acho eu ) a realização de um inquérito à recusa portuguesa em se submeter ao controlo ...
Tchhhh .... onde chegámos ! Tudo em nome do desporto e da verdade desportiva, claro !
Pois...lembram-se também do caso do Sporting na Suécia, recentemente ?

É como vêem. No futebol já não há ingenuidades, está tudo resumido a uma lógica de economia de mercado, com todos os ingredientes normais : jogo de influências, acção concertada dos governos, golpes jurídicos se for preciso. Afinal, este é que é o verdadeiro futebol TOTAL : o que interessa não é vencer, é ... VENDER !

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