quarta-feira, março 31, 2010

O ROCK'N ROLL
Foi em 1955, tinha eu 12 anos, que este senhor, Bill Haley de seu nome, e a sua banda, "The Comets", apareceram no show de televisão do célebre Ed Sullivan, nos EUA, com a canção que estão a ouvir.
Começava o reinado do rock'n roll, que iria durar décadas. Só depois surgiriam outros nomes como Elvis Presley, que se viriam a tornar lendas. O rock'n roll não foi apenas mais um estilo musical que apareceu. Foi uma forma de sentir a realidade, de viver o dia a dia, uma nova onda no vestir, na liberdade de movimentação, na forma de falar e por aí fora.
A canção que estão a ouvir agora, e as outras que se lhe seguiram, espantaram o Mundo, quebraram hipocrisias, derrubaram barreiras, conquistaram milhões de jovens, lançaram as sementes de uma nova forma de entender o Mundo para várias gerações de jovens que as ouviram e sentiram. Não creio, na história da modernidade, que uma só canção, a nível simbólico, possa representar um tão vasto conjunto de mudanças de formas de sentir e de viver.
Ao ouvi-la, não atentem demasiado na qualidade musical da canção, sintam antes de mais o sopro de mudança revolucionária e comportamental. Foi como se a libertação dos movimentos do corpo, ao dançar, implicasse de alguma maneira a libertação dos espíritos e da forma de olhar para as coisas.
Cresci a ouvir e a sentir estas músicas, antes de quaisquer outras. A minha geração não se moldou no fado nacional, cheio de lamentos e resignação, mas sim nestas músicas que traziam a ruptura e em milhares de outras que vieram a seguir, como as do Elvis Presley e dos inesquecíveis The Beatles. Tenho saudades destas musicas e do espírito de revolução e anti-resignação que traziam. Tivemos, eu e os meus contemporâneos, muita sorte em ter vivido esses tempos.
Depois de ouvir "Bill Haley and His Comets" nunca mais fomos os mesmos.
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terça-feira, março 30, 2010

PORQUE NOS DEIXAMOS IR ?
Pois é, malta, porque será que nos deixamos sempre levar à certa ? Ou acham que não, que é uma inevitabilidade ? Então vejamos :

1) Estamos numa grande crise, não é ? Quem a provocou ? Fomos nós, simples mortais, com os nossos tremendos vencimentos e prémios e demais regalias ? Fomos nós, pobres marionetas, que quisemos ganhar biliões e começamos a vender gato por lebre, a impingir empréstimos a todos os gajos que passavam no passeio em frente ? O leitor, sim, você aí, quantas centenas de milhar de euros levou para casa de prémio de desempenho em 2009 ? Mais de um milhão ? Ou nada, nicles, zero euros ?

2) Se todos os anos é preciso haver um orçamento aprovado na Assembleia, porque carga de água, como em qualquer organização, incluindo uma simples colectividade recreativa, não é obrigatório, no fim do ano, um relatório de apresentação de contas ? Assim saberíamos onde aqueles senhores gastaram o nosso dinheiro. Algum dos leitores sabe onde é que o gastaram ?? Para falar verdade, acho que nem eles sabem !

3) Agora, de acordo com as intenções do PEC, somos nós que vamos pagar tudo o que foi gasto a mais. Nós ?? Porque raio de motivo é que vamos ser só nós ?
Então andam por aí uns quantos gandulos a viver que nem uns nababos e quando é para pagar somos só nós ?? Os bancos não são chamados a participar nem nada ? As mais valias financeiras fica tudo na mesma ? Os offshore vão continuar o seu papel de ocultação, de vigarice legal ? O sistema financeiro fica tão desregulado como até aqui ?

4) Por ultimo, expliquem-me como vai a nossa sociedade sair da crise se os vencimentos ( poder de compra ) se vão reduzir, em termos reais, se a confiança está a baixar, todos os dias, se o consumo interno regredir drasticamente ? Vamos ficar sem défice, daqui a 3 anos, mas também ficamos todos desempregados ? Tesos, com fome e sem esperança, mas o défice abaixo dos 3% e o euro forte ? Quem e como é que vai investir, neste cenário ?
São estas as alternativas ? Como é que, UM DIA, Portugal há-de ser um país decente ?

Pois é, leitor, convença-me, por favor, que não andamos sempre a cair nos contos-do-vigário, tenham eles roupagens de direita, de esquerda ou de centro ...
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segunda-feira, março 29, 2010


PARA DESCONTRAIR E VARIAR ...
Sim, porque a vida não pode ser apenas discordância, revolta e zanga. Na vida tem que haver lugar ao prazer. Prazer de viver, de respirar, de olhar. Neste caso particular, prazer de ouvir música.
É meu hábito definir-me muito mais através das coisas de que não gosto. Hoje vou sair desse caminho, e vou-vos mostrar duas peças de música de que gosto. São muito diferentes. Uma é de Bach, cheia de acordes puros, música para enlevar, música para os que gostam de coisas lindas e harmoniosas. A outra é uma conhecida canção "country", música norte-americana onde se podem ler as aspirações e sonhos do homem comum. Esta, em particular, fala do sonho americano de aventura, estrada fora, vendo coisas e pessoas novas ...
Uma e outra música são do meu agrado. Ambas me proporcionam um prazer muito grande. Embora, se fosse obrigado a escolher entre as duas, para indicar aquela que tem mais a ver comigo, eu dir-vos-ia "on the road again...".
Tenham um bom resto deste dia pardacento e hesitante.
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sábado, março 27, 2010

CONFIANTES ? OU DESILUDIDOS ?
Esta é a questão chave do Portugal de hoje : o clima geral não é de confiança, nem no Governo nem em geral nas classes altas e nas gentes das elites dos partidos. Toda a gente desconfia que muitos desses senhores só pensam em "sacar" o mais possível, enriquecer e ir à vida. Ninguém dúvida desse fervor no enriquecimento rápido e fácil, atropelando quem for preciso, fazendo as falcatruas que forem necessárias, movendo todas as influências, pessoais, políticas, partidárias.
Esta é, infelizmente, a situação existente, de uma forma inquietantemente generalizada.
Neste enquadramento, vir pedir confiança aos portugueses, como Sócrates faz, é quase vir brincar com as pessoas que conhecem bem a situação que descrevo atrás, patente também na segunda notícia.
Sabem o que falta, apenas ? Música de fundo, num violino suave... Com violinos, talvez acreditássemos nesta gente.

quinta-feira, março 25, 2010

NUNCA TIVE SORTE AO JOGO !
Quer gostemos ou não, o futuro do nosso país passa pela atitude dos partidos políticos e, em especial, pela personalidade dos seus líderes. Nesta última área, Portugal não tem sido brindado pelos deuses, nos últimos tempos. Nos dois partidos do poder, o que temos visto é a chegada à liderança de pessoas cinzentas, sem bagagem político-ideológica, sem programas, sem ideias de futuro, sem capacidades de sonho e de concretização. Pessoas como Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates ou agora Pedro Passos Coelho, são nitidamente treinadores que jogam para o empate. Isto não seria nada grave não fora o caso de estarmos desesperadamente a necessitar de fazer pontos, de conquistarmos vitórias. Vitórias fora e em casa.
Esta reflexão aparece hoje por causa da escolha do líder do PSD, amanhã. Creio que o único candidato que sai desta análise é Paulo Rangel, mas não acredito que tenha grandes probabilidades de ganhar.
Ficaremos então com um “dueto” de ouro, para construir um país. Sócrates e Passos Coelho. Curiosamente, ao que sei, e falo de cor, começaram ambos pelas Juventudes do PSD. E não será a única semelhança : entre os dois, tudo somado e bem espremido, não vejo nada que me alegre ou dê esperança.
Onde estão os construtores do Portugal de amanhã ? Foram todos para o estrangeiro ?
Você, leitor, vê algo que o anime ?

domingo, março 21, 2010

Leram ? Sabiam disto ? Bem, a verdade é que eu devo ser um tipo atrasado mental, do século passado, cheio de teias de aranha morais e éticas, porque não gosto nada, mesmo nada destes tipos e destas coisas.
Primeiro, porque fica sempre a suspeita que as suas acções políticas não foram descomprometidas ( e não foram mesmo ... ) e tinham outros objectivos para além de defender os interesses da sua pátria. Curiosas, aquelas ligações aos petróleos do Iraque e aos interesses da família real do Kuwait.
Em segundo lugar, porque me parece mal ( sou de facto anacrónico, pelos vistos ) que um ex-Primeiro-Ministro se situe ao nível de um Luís Figo, fazendo "render" a popularidade e notoriedade obtidas no exercício da sua função.
Pode ser que nem uma coisa nem outra configurem situações criminais nem sequer eticamente reprováveis... mas quem me garante isso ? A ganância pelo dinheiro revelada não diz muito quanto à forma como exerceu política ?
Se o leitor discorda e não vê qualquer relação, é lá consigo, pode ser que tenha razão e eu não. Mas eu sou da velha guarda, antes deste frenesim diabólico a querer ganhar milhões. Eu sou daquele tempo em que a dignidade de certos cargos não se vendia, não se colocava no mercado. Os políticos não vendiam serviços a quem mais pagasse, correndo o risco de divulgar informações privilegiadas obtidas no exercício do cargo. Quando muito, escreviam um livro de memórias. Agora, dão conferências a ensinar como se ganha muito dinheiro ... O que dirá Blair nessas conferências ? Se quiser ganhar muito dinheiro faça-se Primeiro-Ministro do seu País e ajude a promover uma guerra num sítio rico e com muito petróleo ? Serão coisas destas que ele ensina ?
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PS - para expandir e ler melhor a notícia, clique na mesma.
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sábado, março 20, 2010





... tal como o novo líder do PSD ( ou eu, também, que não sou do PSD ) o podia desafiar a ele a deixar-se de comentários longínquos e fugidios, a abandonar a comodidade e a vantagem económica da sua vida actual e a regressar à política activa a sério, ajudando o seu partido a fazer qualquer coisa por este país.
Acho que só as pessoas de memória curta aturam os comentários, conselhos e desafios deste senhor que nem sequer tem a desculpa da idade como Marcelo Rebelo de Sousa em relação ao PSD.
Tenho dito. Estou farto de bocas da bancada.



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ESTÁ A VOLTAR TUDO AO MESMO ... E NINGUÉM FAZ NADA !

Muitas vezes, ao ler os jornais ou a ouvir os noticiários, apalpo-me para ver se ainda estou vivo e se não é nenhuma alucinação. Ou pergunto-me se estive ausente da Terra por vários anos e não acompanhei a evolução. Nem uma coisa nem outra, a explicação tem que ser outra.
A verdade é que por mais que me esforce, não consigo entender este mundo em que vivemos. Nunca ouvi falar em certas regras que hoje são leis e comandam o Mundo. Não consigo perceber porque temos que aturar isto.

Vejamos, uma delas, as empresas de rating. De onde saíram estas abencerragens, quem lhes conferiu credibilidade, que raio de armadilha é esta em que um país soberano está condenado a pagar mais de juros, muito mais, porque um qualquer energúmeno de uma empresa dessas diz que Portugal está em risco ...
Que raio de Mundo é este ? Quem são essas empresas, porque havemos de estar dependentes delas ? Que confiança merecem quando se sabe que só fizeram asneiras no período da crise financeira ? Como é que havemos de acreditar que estas empresas não são cúmplices dos que ganham milhões com a especulação do mercado monetário ? Porque é que a Europa continua a recusar-se a formar uma empresa destas, possivelmente integrada no BCE ?

Outro assunto, relacionado com o mesmo. A quem pode um país da Europa pedir dinheiro, quando precisa ? Quem são as entidades misteriosas desse tal mercado de capitais internacional ?
Então o Banco Central Europeu fez-se para quê, se não são eles que emprestam dinheiro aos países europeus ? E que regra esquisita é essa da Europa do euro que preceitua que nenhum país pode emprestar dinheiro a outro que esteja em aflição ? Que raio de sentido faz a Grécia precisar de dinheiro e ter que recorrer ao FMI ???
Que porcaria de espaço é este, o dos países do euro na Europa, que nem sequer se ajudam uns aos outros ? Que vantagem então em estar na zona euro ? O controlo da inflação ? Bahhh, dá ideia que o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia têm taxas de inflação elevadíssimas, não ?

Há 1 anito, todo o Mundo se confessava em pânico, a modéstia e a confissão dos pecados estava na ordem do dia, toda a gente afirmava que era prioritário “meter” dinheiro no sistema bancário, nas empresas, em todos os sectores ...
Então, apenas 1 ano depois, já ninguém se lembra disso ? Agora, à viva força, toda a gente quer reduzir os défices de um ano para o outro ? Já passou a crise ? Já não são necessários apoios ? Já toda a gente se rendeu de novo à ditadura dos mercados financeiros, que continuam tão desregulados como antes da crise ? Ninguém pergunta porquê ? Voltámos à ditadura das grandes financeiras ?
Vamos aceitar nova crise só porque essa gente continua a querer ganhar biliões, nem com milhões se contentam ?

Como vêem, o Mundo não parece estar de muito boa saúde mental ... mas se calhar sou eu que estou doente e ainda não aceitei que hoje, no Mundo, tudo e todos se submetem ao deus sagrado dos tempos modernos, o dinheiro, nú e crú, sem sentimentos nem remorsos.
Afinal, sabe muito mais da vida o senhor Godinho, sucateiro, filósofo da modernidade e filantropo do que o Papa, não é ?
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sexta-feira, março 19, 2010

A FLEXIGOVERNANÇA

Lembram-se do conceito de "Flexisegurança" que nos queriam impingir para as relações de trabalho ? Pois bem, este Governo inaugurou uma nova estratégia política, a que chamei de "Flexigovernança". Diga-se em abono da verdade, estratégia nunca antes tentada por qualquer outro partido político. Se irá resultar ou não, ainda é uma incógnita, mas até ver está a permitir que o Governo se aguente à linha de água.
Vejamos então os pontos fundamentais da estratégia :

OS PROGRAMAS DE POUCO INTERESSAM. O que é preciso é golpe de rins, flexibilidade, audácia e uma pitada de falta de memória. O que se afirma hoje pode ser executado de maneira contrária amanhã. É preciso pragmatismo. Que foi ? Já não me lembro bem do que disse ... Isso do socialismo, já o Mário Soares o meteu na gaveta, não foi ?

A ARTE DA DISSIMULAÇÃO. Bem, por vezes é complicado, mas eles tentam, anyway. Tentaram que não fosse muito óbvio o aumento dos impostos, mas agora, quando já se percebeu que vão mesmo aumentar, o Governo continua a repetir incessantemente “não vamos aumentar os impostos, as taxas são as mesmas ...”

A VERDADE POUCO IMPORTA. NEGAR SEMPRE, SEMPRE.
O Governo rege-se pela máxima do marketing : uma coisa só existe quando admitimos que existe. Portanto, a todas as acusações responde-se “Não é verdade, querem é prejudicar-me, nunca fiz nada de mal “. Repetir tantas vezes até que todos acreditem ou se cansem.

NÃO PRECISAMOS DE UMA MAIORIA, NÓS SOMOS A MAIORIA.
Este é outro dos lemas do nosso Governo. Basta-lhes não reconhecer que estão em minoria na Assembleia e explorar os sentimentos dos outros quanto à “governabilidade” e coisas do género. Pronto, é como se estivessem mesmo em maioria.

NÃO É PRECISO ESTRATÉGIA PARA O PAÍS. Mas que raio querem os gajos dizer com essa da estratégia para o país ? Mas acham que é fácil manter o poder assim como nós o mantemos ? Olhem que é preciso MUITA estratégia, caramba ! Ainda querem mais ?? Não fizemos o plano tecnológico, que deu um resultadão ? Não oferecemos computadores aos putos todos ?

E pronto, leitor, aí tem os princípios estratégicos do PS actual e do nosso Governo. Qualquer discordância que tenha, faça favor, comunique.
Em qualquer caso, não se esqueça de ir lendo o PEC para ver o que o espera ... discorde de mim só depois disso, está bem ?
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quinta-feira, março 18, 2010

ERA SÓ PARA VER SE PASSAVA, SE OS APANHAVA DISTRAÍDOS, DIZ A SRª MINISTRA !

A Alice continua a espantar-se com o novo País para onde caiu.
É surpresa atrás de surpresa. O homem do chapéu e a senhora bem vestida e de sorriso charmoso, continuam a tirar coelhos da cartola, e a dizer e fazer coisas assombrosas.
Hoje foi outra vez na quinta da Educação. Inacreditável, pelo que revela sobre a forma de fazer política neste país de maravilhas. Estes senhores e senhoras conseguiram a proeza de transformar a política, o confronto de opiniões, a negociação entre as partes, num jogo de escondidas um pouco sórdido e totalmente desleal.
A ideia deles é fazerem o cozinhado todo sem ninguém saber, pela calada da noite e depois aparecer com tudo já preparado e fumegante, pronto a servir.
É a ideia de negociação e de política dos senhores do país das maravilhas.
Depois, quando os comensais descobrem a ementa, e a ementa até começa a ser discutida na horta principal do reino, a assembleia, aí d’El Rei que afinal pode tirar-se tudo, era só uma ideia, que querem ?, mas pronto então fica tudo na mesma conforme tinha sido acordado ...
Repito, parece-me um jogo baixinho e sórdido, não é ?
E também com uma pitada de ridículo, não acham ?
Pobre Alice, anda meia maluca com estes figurões.
Amanhã vamos falar de outra maravilha estonteante, o PEC e de como o mestre socialista está a perder completamente as estribeiras e o norte !
Não saia do seu lugar ... ah não, isso é na TV, aqui pode sair e ir para onde quiser !
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quarta-feira, março 17, 2010

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Estamos a caminhar para uma situação generalizada de ebulição de sentimentos e emoções, em Portugal. O jogo social praticado ultimamente pelo partido do poder e o Governo dele emanado ( e também por outros actores sociais ), assenta sobre uma espécie de cortina de fumo onde nada é o que parece e onde as coisas têm valores esquisitos e absurdos para a nossa compreensão. Vivemos uma reposição, só nossa, da “Alice no País das Maravilhas” : as dificuldades não são, afinal, o que pareciam há alguns meses, antes das eleições, cresceram desmesuradamente ; os vencimentos e prémios dos senhores de fraque das grandes empresas nacionais têm valores absurdos e incríveis, para o nosso nível ; os políticos eleitos por nós podem dizer e fazer o que quiserem, gozam de impunidade e óbvia cobertura de uma vasta rede de interesses ; agora até um apresentador de uma sessão qualquer de propaganda política-económica se atreve a apresentar o Primeiro-Ministro pelo seu nome num conhecido programa de humor.
Esta situação de irrealidade e absurdo, irá provocar rupturas de contornos difíceis de prever. Nesta espécie de jogo de faz-de-conta em que a Alice se vê envolvida tudo é autorizado, deixou de parecer mal socialmente mentir, aldrabar, dizer hoje uma coisa, amanhã outra. Tudo é show-off, tudo é imagem e propaganda, mas em simultâneo estão a pedir-se ( terríveis ) sacrifícios às pessoas, numa variante do filme que não estava prevista.
Neste cenário, todos se vão sentir impunes, a autoridade moral esboroa-se, as normas sociais vão afrouxar ainda mais, as tentativas de fuga às obrigações sociais vão crescer, a raiva e a má vontade também, a aceitação das medidas vai ser reduzidíssima.
Tenha Sócrates responsabilidades criminais ou políticas ou não nos casos que lhe imputam , a questão já não é essa. A questão é que, em termos de psico-sociologia, Sócrates já deixou de ter a credibilidade de um lider forte e amado. Já pouca gente vai acreditar genuinamente nele e aceitar de bom grado as reduções da sua qualidade de vida trazidas pelo PEC.
Se o PEC é indispensável, este ou outro, por favor, restituam a credibilidade às instituições e ao poder político. O país não vai aguentar estes 3 ou 4 anos sem uma nova legitimação do poder, toda esta situação foi escamoteada nas últimas eleições.
Façam eleições o mais depressa possível, ainda que Sócrates venha a ganhar de novo, já nada me admira neste País das Maravilhas.
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terça-feira, março 16, 2010


SER PORTUGUÊS É UM DESALENTO DO CARAÇAS

Há dias em que desanimo, palavra. A realidade está a ultrapassar os piores pesadelos que alguém possa ter tido quanto a Portugal.
Não há nenhum sector da vida nacional que se aproveite. Nada. Está tudo sujo, corrompido, abastardado ou acomodado. Da boca dos políticos brotam as insignificâncias do costume, com ou sem razão, não interessa, não têm poder nenhum. Os políticos eleitos acham que essa condição de eleitos os autoriza a prescindir de outros valores humanos e é o que se vê. Os senhores do sistema, encaixam-se nas suas mordomias, recebem prémios ainda por cima e acham-se muito bom gestores, porque se podem passear em BMW 500s ou Mercedes não sei quantos. Os procuradores da república nem sabem para onde se virar, já sabem que o único tribunal que funciona é o da opinião pública. Os juízes continuam, imparáveis, como sempre fizeram há mais de cem anos, sem mexer uma palha para melhorar a sua casa, preocupados apenas com as suas sinecuras. Os professores, coitados, cansados das suas lutas recentes, baixaram os braços e rendem-se à burocracia, à indisciplina, ao granel tremendo em que se transformaram as nossas escolas. Os militares, atónitos, olham para toda esta loucura, resmungam, mas acabam por comer e calar, o tempo não vai de feição para outros 25 de Abris. No meio deste perfeito cataclismo social, há pessoas a viver com 450 euros mensais e outras com 4.500 ou mesmo com 45.000, para os mais “competentes”. Fora os robalos e os pargos que lhes são oferecidos por sucateiros espertos.
Se se gasta demais, a meter dinheiro nos bancos que alguém roubou , qualquer PEC resolve o problema, põe-se a populaça a pagar o que for preciso. Afinal, sempre foi assim, porque havia agora de ser diferente ?
E se, mesmo assim, ainda não chegar, privatiza-se a TAP, a ANA, o resto da GALP e da PT, os CTT ( ???? ) e, se calhar, qualquer dia, as próprias escolas, tribunais e prisões.
E é assim. Uma tristeza. Não consigo ter a mais pequena réstea de esperança. É triste viver sem esperança, não é ?
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segunda-feira, março 15, 2010

NÃO GOSTO DESTA ADMINISTRAÇÃO DO NOSSO CONDOMÍNIO

Chamam-lhe Plano de Estabilidade e Crescimento, mas das óbvias leituras irónicas que podem ser feitas sobre este título, interessa-me agora uma outra, pelo que tem de insólito.
Tanto quanto sei sobre o PEC, trata-se apenas de uma lista de intenções de medidas, não constando sequer, para cada uma delas, nem a quantificação dos seus efeitos, em euros não gastos ou recebidos a mais, nem sequer a data a partir da qual o Governo pretende levá-la à prática. Também ninguém pensou – é tradicional de resto em Portugal esta omissão – em inventariar os impactos sociais negativos de cada medida.
Então a uma simples lista de compras de mercearia pode chamar-se um Plano ?
Só pode haver uma explicação para estas lacunas : o Governo do PS não quer que saibamos muito sobre cada uma das medidas, não se vá dar o caso de virmos a perceber a leviandade de certas decisões e a discricionariedade de outras. Ou seja, como Sócrates já nos habituou, o que interessa é a propaganda, quanto menos soubermos sobre a realidade, melhor.
É deveras impressionante a forma como este Governo nos pretende adormecer, entreter, fazer discutir migalhas, quando as grandes opções ficam de fora ou são camufladas.
Volto a insistir : até este momento ninguém me mostrou, preto no branco, onde foi gasto em 2009 o dinheiro a mais correspondente ao défice.
Agora, para compensar esse défice de razões desconhecidas e não quantificadas, querem impingir-nos um contra-défice do qual também pouco se sabe, de uma forma clara e quantificada ???
Mas que raio de administradores de condomínio são estes ? Se fosse nos nossos prédios, não estariam já demitidos e substituídos por outros ?
À ESPERA DE UM EUSÉBIO ...

Não gosto de Passos Coelho, candidato a líder do PSD. Acho-o demasiado parecido com Sócrates, no vazio ideológico e de ideias que arrasta consigo. Não sei que maldição é esta que domina a vida política portuguesa, só arranjamos arquitectos de vão de escada quando o país precisava era de construtores de utopias.
Já notaram que de toda esta gente ninguém apresenta uma ideia de futuro para o país ? Ninguém tem um sonho, um conceito, uma visão, uma esperança. É tudo gente miúda, que encara a política como um projecto de vida, a deles, e não como um sonho para o país. Todos estes senhores fazem apenas trabalho de manutenção, ainda por cima correctiva, nós precisávamos era de obra nova. Bem sei que os grandes visionários, ainda por cima com sentido prático de concretização, nunca abundaram na nossa história. Mais ou menos como os pontas de lança goleadores, no futebol.
Mas, co’os diabos, não acham que já era tempo de aparecer um Eusébio na nossa política ?
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sábado, março 13, 2010

INDISCIPLINA NAS ESCOLAS II

Os nossos responsáveis são assim como vos passo a contar.
A senhora Ministra da Educação apelou à serenidade e equilíbrio no tratamento destas questões e afirmou que a vida das crianças deve estar acima dos debates. Também informou que já deu mais autoridade aos directores para resolver o problema.
O senhor director regional de educação de Lisboa afirmou que tudo será feito para ajudar os alunos. Temos que nos esforçar, diz o referido senhor, para ultrapassar estas situações, porque a maioria dos alunos não pode transportar uma situação de culpa( referia-se ao suicídio do Professor ).
O senhor Pedro Frazão, psicólogo e membro da Sociedade Portuguesa de Suicidologia ( só o nome é estranho ) alerta para a necessidade de formar os professores para lidarem com a violência e a indisciplina.

Chamo a atenção do leitor para o conjunto destas intervenções. Os portugueses, estes pelo menos, são assim. Morrem por ocultar os problemas, são especialistas em falar disto quando o problema é aquilo. Negam sempre a evidência até que alguém lhes aponte uma arma á cabeça. "Não me comprometa" é a frase que mais se lhes ajusta.

Alguém os ouviu dizer, alto e bom som : "Temos que acabar com a indisciplina nas escolas" ?
Alguma vez disseram isso ? Nunca ! Para eles, o problema é que não podemos traumatizar os jovens, os professores é que têm que se habituar e aprender a lidar com a violência e a indisciplina.
Veja bem, leitor, aonde chegámos na negação da verdade, na submissão, na derrota, na renúncia ! Que vergonha sinto ao ler estas declarações tontas e cobardes !
Dir-se-ia que é impossível reduzir, limitar ou mesmo eliminar a violência e a indisciplina nas escolas. Parvoíce ! Ignorância ! Cobardia ! Comodismo !

Sem negar que existem escolas em enquadramentos sociais muito adversos, onde instalar e manter a disciplina seria mais dificil, a demonstração de que é possível criar numa escola um ambiente de disciplina razoável está na própria realidade. Estudem-se como casos exemplo várias escolas de todo o País onde as respectivas direcções e professores conseguiram esse objectivo. Veja-se o que eles fizeram para obter esse resultado e apliquem-se os métodos nas outras escolas. Não me parece dificil fazer isso, pelo menos. Para que falam então nas pobres criancinhas e em traumatismos quando o problema é este ?

Para que não restem dúvidas, posso desde já adiantar algumas das situações que iriam decerto encontrar nas escolas onde o ambiente disciplinar é bom :

1. Existência de normas disciplinares claras e sem ambiguidades ;
2. Procedimento contra toda e qualquer infracção reportada pelo professor e ou director de turma ;
3. Nunca, nunca, nunca permitir que um aluno que ofenda, desrespeite ou humilhe um professor ou auxiliar fique impune. NUNCA.
3. Adopção das sanções disciplinares correspondentes à infracção, SEMPRE.
4. Publicitação das sanções, com nomes e datas;
5. A maior rapidez possível na aplicação da sanção. Sempre que for possível, acção imediata, a título preventivo.
6. Não alinhar com as demoras da DREL ( ou equivalente ) para a tomada da decisão nos casos que envolvam expulsão da escola ou equivalente. Chatear o Ministério, apelar à comunicação social se necessário. Em casos extremos, se o Ministério não alinhar, impedir fisicamente a entrada do aluno na escola.
7. Extinguir ou substituir imediatamente na escola todo e qualquer procedimento que ponha em causa a autoridade do professor dentro da escola, como por exemplo, a existência de filas de espera comuns a professores e alunos nos refeitórios ou bares da escola, a complacência com os empurrões nos corredores de acesso às salas de aulas, as "bocas" mal-criadas, etc ... Tolerância zero para tudo isto.
8. Uma atitude firme, inquestionável e bem publicitada periodicamente na escola quanto à autoridade do professor, por parte da direcção da escola. Absolutamente proibidas as atitudes em que é notória a discrepância entre a direcção da escola e os professores.

etc ... etc ... mas estas são as normas essenciais.

Por último, dirão alguns que a aplicação destas normas apenas será possível com mais algum pessoal. Concordo. Nos casos mais difíceis, seria necessário reforçar o pessoal das escolas. Não seria problema, há muito pessoal desempregado que desempenharia essas funções por mais uns euros a pagar pelo Ministério.

Não me parece um problema insolúvel nem sequer muito complicado, se as pessoas e organismos envolvidos tiverem vontade de o resolver, não tiverem medo nem começarem a falar em alhos quando o problema é de bugalhos.

sexta-feira, março 12, 2010

PROBLEMA Nº 1 DO ENSINO : A INDISCIPLINA

Ando a afirmar isto há anos. Literalmente. Há problemas nas nossas escolas secundárias que poderiam ser resolvidos com relativa facilidade e não o são. A indisciplina é um deles. Convirá não esquecer que a disciplina numa escola é condição sine qua non para uma vida escolar sadia que viabilize o ensino/aprendizagem. Contudo, premissas básicas quanto à disciplina são ignoradas por muitas escolas públicas nacionais. Conselhos directivos e agora Directores, largamente ignorantes e incompetentes nesta área, com a cabeça cheia de conceitos parvos e errados, pensam que a indisciplina se resolve com "amor" e "compreensão", apenas falando amigavelmente com os prevaricadores, dando-lhes uma palmada amigável nas costas e mandando-os em paz.
Isto que vos digo não é apenas um palpite : tenho dados concretos para o afirmar. Em várias escolas, a Direcção comete o maior "crime" de lesa disciplina que pode existir, ignorando ostensivamente a maior parte das iniciativas disciplinares dos professores e directores de turma. As participações de ocorrências graves sucedidas nas salas de aulas ( injurias a professores, empurrões, ameaças de agressão física aos professores ... ), levadas pelos directores de turma à Direcção da Escola ficam na gaveta, sem nenhuma acção disciplinar subsequente. Os professores são continuamente desautorizados, umas vezes porque o director tem da disciplina uma ideia romântica e errada, outras vezes porque corre a ideia de que o numero de processos disciplinares instaurados a alunos penaliza a avaliação de desempenho do próprio director. Uma escola conheço eu em que algumas dezenas de propostas para a realização de conselhos de turma disciplinares repousam na gaveta do director ... enquanto os professores são obrigados a fazer frente, sózinhos, sem a cobertura da direcção, às permanentes diatribes e ofensas dos alunos, cheios de força pela impunidade visível dos seus actos. Nessa mesma escola, sabem qual foi a solução preconizada pela direcção ? Colocar mais um professor na sala de aula ... sem qualquer procedimento disciplinar para as faltas cometidas. A vantagem seria, penso eu, dois professores ofendidos e humilhados em vez de um único ! Ou então, passe a ironia macabra, suicidarem-se dois professores em vez de apenas um ! Brilhante !
É assim como vos conto, não pensem que exagero. Os professores, como este da notícia ( que devia ter alguma fragilidade psíquica, para além disso ) são completamente "traídos" por essas direcções incompetentes e destruidoras. Neste caso, diz a notícia, o infeliz professor já teria participado 7 vezes de alunos de uma determinada turma pelo seu comportamento agressivo e ofensivo. Resultado ? Nada, a Direcção não fez nada ... e o pobre resolveu que a única saída seria o suicídio.
Se eu fosse familiar deste pobre professor, garanto-vos que movia um processo-crime contra a direcção daquela escola.
Mas mais : o Ministério da Educação, que dispõe de umas dezenas de professores-inspectores, alguns com larga experiência, porque não elege este tema como prioritário para levar a cabo acções de inspecção ?
Reitero : muitos problemas das nossas escolas seriam resolvidos com uma actuação saudável e consciente, por parte das respectivas direcções, na área disciplinar. O bullying ( nem sei qual é a grafia exacta ), a falta de eficácia das aulas, a carga nervosa dos professores, o stress permanente, o clima de guerra de algumas escolas, tudo seria minimizado e mantido em limites aceitáveis, se essas direcções das escolas tivessem a mais pequena noção do que é disciplina. Acreditam que também conheço escolas onde a divulgação das penas disciplinares impostas ( muito raramente ... ) a alguns alunos foi proibida ? Não se podiam traumatizar os pobrezinhos dos infractores ! E assim se perdiam os efeitos dissuasores das sanções disciplinares, em termos da escola. Enfim, patetices, mas patetices que ajudam a destruir o ambiente das NOSSAS escolas !
E não me interpretem mal : não seria preciso instituir um clima de ferro e fogo, bastaria CUMPRIR o que está regulamentado, sem cedências nem medos. Mais nada. E podiam continuar a dar umas palmadinhas amigáveis nos infractores, se quisessem ... depois de lhes aplicar as sanções que merecem. Não é mutuamente exclusivo, disciplinar e ser humano e amigável.

quinta-feira, março 11, 2010

SEM DÚVIDAS : O MEU REPÚDIO PELA GREVE ANUNCIADA DOS PILOTOS DA TAP

Antes de mais, uma declaração prévia ao tema que vou hoje abordar : por motivos profissionais conheço alguma coisa sobre o tipo de trabalho de um piloto de linha comercial como são os pilotos da TAP. Respeito as sua qualificações profissionais, as exigências médicas a que devem corresponder, as verificações periódicas de aptidão a que são sujeitos, a responsabilidade permanente do exercício da sua profissão, no que respeita à defesa das vidas dos passageiros e dos equipamentos que lhe estão confiados. Conheço também as qualificações académicas de vários dos pilotos da TAP.
Por último, tenho alguma informação quanto ao perfil psicológico, como seres humanos, de vários destes profissionais e isso inclui o seu posicionamento perante a vida, a empresa onde trabalham e o país a que pertencem.
Depois desta introdução, afirmo aos meus leitores que os motivos pelos quais os pilotos de linha comercial ( e os da TAP estão nesse cesto ! ) são tão principescamente pagos não tem muito a ver com a complexidade da função nem sequer com a escassez no mercado de pessoas com qualificações e ou aptidões para aquela função. A função é equivalente, em termos da sua complexidade tecnológica, stress profissional e responsabilidade a outras profissões que existem no Mundo que nem por isso são tão bem pagas. O nível de vencimentos que auferem é histórico, digamos assim, está directamente ligado ao passado, à época inicial da aviação, por vezes apelidada de “heróica”, quando os pilotos eram olhados como semi-deuses que faziam coisas mirabolantes que pouca gente era capaz de fazer. Depois, a gestão cuidadosa e interessada dos sindicatos, ao longo das últimas dezenas de anos, conseguiu sempre manter e até elevar os patamares de retribuição que estes profissionais auferem.
Pessoalmente, não me interessa muito discutir a ideia do merecimento ou da reprodutividade social ou empresarial daquilo que fazem versus aquilo que ganham. Tudo o que disse atrás apenas visou esclarecer o leitor quanto a alguns mitos que ainda rodeiam aquela profissão : um piloto de linha comercial é um profissional como muitos outros, sem nada de mítico ou divino nas suas aptidões e qualificações. Há-os muito competentes mas também os há apenas a cumprir os mínimos. A função não exige super-homens, e cada vez mais isso é verdade, à medida que as aeronaves vão sendo dotadas de meios automáticos de controlo de vôo, de navegação e de segurança. E a verdade é que quando esses meios falham, no todo ou em parte, raramente são os homens a conseguir impedir a tragédia.
Bom, tendo isto dito, apenas falta dizer uma outra coisa : sendo elevados os vencimentos dos pilotos da TAP, o seu sindicato é um sindicato “rico”, dado o volume das quotizações. Quando resolvem fazer greve, penso que é o único sindicato em Portugal que se dá ao luxo de compensar os seus associados pelo ordenado não pago pela entidade patronal nos dias de greve. No todo ou em parte.
Temos então um grupo profissional muito bem pago, que passa a vida pela Europa e pelo Mundo todo, em hoteis de cinco estrelas ( pagos pela empresa, claro, aí é natural ), habituados a possuir bons carros e boas casas, com uma carga de trabalho não muito intensa, uma vez que é limitada por motivos de segurança e com um background de formação humana e ou académica apenas média, quando não reduzida, frequentemente alheados dos problemas dos outros, o que significa alheados do seu país. Por norma, os termos de comparação deste grupo profissional são retirados de outros grupos estrangeiros, como os pilotos da Lufthansa, por exemplo. Não será de estranhar que muitas destas pessoas acabem por se olhar como seres superiores, com direito a muito mais do que aquilo que já possuem. Na velha escola, diria que é um grupo profissional fortemente alheado dos seus compatriotas e mesmo da sua empresa, que estão habituados a que ceda sempre aos seus desejos.

Dirá o leitor, agora : este gajo não os grama mesmo !
É verdade : em termos de grupo profissional, considero-os egoistas, abusadores e extraordinariamente insensatos. Ao longo dos anos, cansei-me das suas exigências permanentes, algumas das vezes exorbitantes, ao arrepio das condições gerais do país.
É verdade : se fosse Primeiro-Ministro e tivesse força política para isso, encerraria a TAP e recomeçaria de outra maneira. Não iria nunca permitir uma empresa onde, no passado, frequentemente tivemos, todos nós, de meter dinheiro para que suas excelências fossem sempre muito bem pagos.
Profissionais alienados da realidade como estes, para mim, teriam os dias contados. Há muitos homens e mulheres no Mundo com aptidões para as mesmas tarefas a metade do custo, acreditem.
Bem, porquê agora esta diatribe contra os pilotos da TAP ? É que as excelências decidiram agora fazer seis dias de greve. Seis !!! Não vão perder dinheiro com a greve, o Sindicato paga, até podiam ser dez dias. Pouco importa se a empresa, deficitária e exangue, vai ainda perder mais umas dezenas de milhões de euros com a greve. Que lhes importa isso, o raciocínio deles é que, se for preciso, alguém há-de colocar dinheiro na TAP.
Sempre fui de esquerda, leitor. Sempre procurei defender quem trabalha. Respeito a sua opinião, se contrária a esta. Mas do que se trata aqui não é de trabalhadores, é de um sindicato de homens que se julgam lordes, alheados a tudo o que se passa á sua volta, convencidos de que podem sempre esticar a corda porque ela nunca se parte. E que se lixem os outros.
Shame on them.
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terça-feira, março 09, 2010

OS PAGANTES DO COSTUME

Gostava de perceber isto : porque é que sempre que o Governo gasta mais do que deve, a tapar buracos em bancos, a pagar contratos milionários de serviços externos desnecessários, ou a proporcionar chorudos vencimentos a toda aquela gente dos Institutos Públicos criados para os "boys", quem acaba por pagar são sempre os mesmos, os desgraçados sem culpa nenhuma dos desvarios alheios?
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segunda-feira, março 08, 2010

OS PARTIDOS POLÍTICOS E O PENSAMENTO LIVRE

É comum afirmar-se que sem partidos políticos não há democracia. Mário Soares, por exemplo, já afirmou e reafirmou esta ideia milhares de vezes. Aceito essa ideia, não seria nada fácil viver numa sociedade onde existissem 3.914 correntes de opinião. Nenhuma delas teria peso suficiente e rapidamente surgiria um qualquer messias para arrumar a casa. Logo, venham os partidos políticos, sim senhor.
Observo, contudo, ainda que de uma forma talvez não muito fundamentada, que nas sociedades modernas as pessoas mais “livres” e com opiniões mais sinceras e lúcidas pertencem, por norma, a sectores da população não comprometidos com partidos políticos. E, salvo melhor opinião, há aqui uma enorme contradição : se os partidos políticos são indispensáveis á democracia, por um lado, pelo outro parecem ser uma má influência na liberdade, lucidez e isenção com que reflectimos sobre a sociedade.
Uma vez mais sem grandes pesquisas, inclino-me a pensar que isto sucede assim pela necessidade de formar uma frente coesa contra os adversários e também ( o que é bem mais grave ) pela forma como os militantes ascendem dentro das estruturas do partido e são escolhidos para os altos cargos, quando o partido está no poder.
Em todos os nossos partidos, a “carreira” do militante depende em grande parte da sua proximidade ao lider e do apoio incondicional que lhe prestar. É raro o militante que consegue atingir um status de relevo em qualquer partido se manifestar, várias vezes, a sua discordância pela linha política do líder.
Ou seja, os partidos políticos em Portugal ( e não só ) fomentam exageradamente a coesão e o monolitismo de opinião, de tal forma que ninguém ousa discordar do chefe do partido.
Esta realidade explica bem, na minha perspectiva, porque é que os pensadores mais originais e lúcidos da sociedade estão fora dos partidos. Em resumo, os partidos políticos viabilizam a democracia mas também a limitam.
Urge fazer qualquer coisa quanto a isto, alterando, por exemplo, o regime eleitoral, de tal forma que os candidatos de cada partido dependam mais dos eleitores locais, em cada partido, e menos do chefe do partido.
Esta ideia anda no ar há séculos, mas nenhum partido a “agarra” com convicção.
Percebem porquê, não percebem ?

sábado, março 06, 2010

O ADIAR PERMANENTE DAS VERDADEIRAS QUESTÕES ESTRATÉGICAS

Amigos : temos vindo a falar de economia. Tenho-vos transmitido a minha convicção de que a economia ( a oficial ), como ciência, faliu completamente. Mantenho essa convicção.
Outra coisa é falarmos da organização da nossa vida económica, nos seus vários sectores. Que fazer da agricultura, das pescas, da industria, dos serviços. Queremos ou não investimento estrangeiro ? Como é que a educação e a justiça, por exemplo, jogam com os objectivos dos outros sectores ? Por aí fora.
Provavelmente, ninguém que leia estas linhas contesta a necessidade de Portugal tenha ideias para a evolução dos sectores que acima descrevi. É fundamental sabermos o que queremos fazer nesses sectores, traçarmos planos para isso e ... cumprir esses planos.
E uma grande parte dos nossos problemas está aqui : alguém conhece esses planos ? Alguém já disse, neste país, o que se vai fazer das pescas, da agricultura, do turismo, da justiça, da educação ?
Respondam em consciência, por favor.
Não, ninguém disse. Nuns casos, porque não sabem, noutros porque não querem dizer.
Na agricultura e nas pescas, por exemplo, tem sido muita clara a orientação, pressionada por Bruxelas, para ir extinguindo esses sectores em Portugal. A Europa tem milhões de agricultores a produzir, do que precisa é que Portugal importe esses produtos, não que os produza. Quanto às pescas, para além do mesmo raciocínio, acresce outro, importantíssimo : se Portugal deixar de pescar, as suas águas e as suas quotas de pescado reverterão para os restantes países da Comunidade.
Pensam que não é assim, que eu exagero ? Então pesquisem, leiam, procurem, pensem e depois falamos outra vez.
Então o que fica ? O que significa hoje governar ? Qual tem sido a estratégia para o desenvolvimento do nosso País ?
O quê ? O plano tecnológico, o TGV, o novo aeroporto ? Isso é que é uma estratégia ?
Que Deus nos proteja, nada disso está pensado em termos integrados, de projecto sério. A verdade é que as consequências dos cursos mal tirados não são apenas políticas, são sobretudo um travão ao desenvolvimento do país. Então não é que ouvi, um destes dias, o senhor ministro do Equipamento Social ou das Obras Públicas ou lá o que é dar como justificação para o TGV permitir aos madrilenos vir a Lisboa fazer surf ? Querem maior demonstração de que estamos entregues aos bichos ?
Meu Deus ...
Entretanto, o país vai ficar adiado mais 3 ou 4 anos, com o famigerado PEC II, vai ser um apertar de cinto diabólico ( sempre os mesmos ) , o grande objectivo vai ser outra vez o défice público !
E as verdadeiras questões – aquelas de que falámos acima – vão outra vez ficar adiadas.
Ah ganda Governo ! Ah ganda Europa !!!

sexta-feira, março 05, 2010

TANTA PRESSA NUMAS COISAS ...
Palavra que sou uma pessoa razoável, comedida nos meus juízos políticos e ainda mais nos que envolvem o carácter das pessoas. Das pessoas em geral, não faço qualquer distinção com magistrados. Porém, o que também não sou, definitivamente, é parvo, distraído ou ignorante. Já vivi uns anos largos, conheci o meu país no tempo de Salazar e Caetano e acho que também o conheço hoje. Ou pensava que conhecia.
Olho para o meu país hoje ... e não gosto NADA do que vejo. Mesmo nada. Não me reconheço neste lamaçal em que isto se está a tornar. E a culpa não é da chuva. Se as escutas que têm vindo a lume tiveram algum mérito, foi esse, indubitavelmente, para além de se discutir se Sócrates sabia ou não sabia da compra da TVI pela PT ou se Sócrates queria tirar da TVI a Manuela Moura Guedes. Então, que mérito foi esse ?
Pura e simplesmente, ficaram bem claros os "esquemas", o tráfico de influências, o "estilo" de poder, os conhecimentos, as cunhas, os jogos. E isso é horrível, ficou à mostra o lamaçal completo em que se tornou a nossa vida pública.
Dirão os mais "empedernidos" : então mas não sabias que era assim ? Com estes ou com outros gajos ?? És cá um ingénuo ... Respondo eu, saber sabia, mas nunca pensei que chegasse tão longe !
A verdade é que, depois destas escutas, nada será o mesmo. A podridão invadiu, definitivamente, este meu País.
No meio deste nojo, desta maré negra que comeu toda a ética e a moral, como normas de convivência social, a preocupação do Ministério Público com alguns jornalistas que quebraram o segredo de justiça é patética. Repito, patética e inexplicável. A vida política do país é uma merda pegada e o MP corre atrás de quem nos veio mostrar a merda que existe.
Sabem, para não aumentar o lamaçal, dispenso-me de dizer o que penso desta lamentável iniciativa. Mas o que não posso é deixar de concordar com José António Saraiva, em artigo de opinião no SOL de hoje, ao afirmar que o Sr. Procurador-Geral da República devia abandonar as suas funções.

quinta-feira, março 04, 2010

CRISE ... MA NON TROPPO !

No seguimento do que ontem escrevi, dei hoje comigo a ruminar certas notícias vindas a lume. Ruminar é mastigar lentamente, não é ? Pois foi o que fiz, com os anúncios dos lucros obtidos em 2009 pela PT e também pela EDP. Centenas de milhões de euros, a EDP atingiu praticamente os 1000 milhões de euros. São empresas privadas, geridas na perspectiva do lucro, pelo que se pode afirmar que são resultados brilhantes.
Brilhantes ?? Mas oiçam lá, amigos, 2009 não foi um ano de uma crise do caraças ? Como é que estes senhores conseguem obter resultados destes ?
O mínimo que me passa pela cabeça é que os bancos, a EDP e a PT nunca foram avisadas quanto à crise.
Vejamos : então empresas que fornecem crédito ( bancos ) e serviços essenciais á nossa economia ( comunicações, electricidade ) não foram chamadas a suportar a sua quota-parte de esforço para recuperar da crise ? Como, por exemplo, energia e comunicações a preços mais baixos para a industria e comércio, crédito mais acessível e a custos inferiores ? Ou, em alternativa, com o pagamento de uma sobretaxa nos seus impostos ?
Não seria isso legítimo e até natural ? Notem que, pelo menos a Caixa Geral de Depósitos, registou uma diminuição grande nos seus lucros. Não seria de esperar o mesmo das outras grandes empresas ? Sem comprometer a sua rentabilidade e a retribuição justa aos accionistas ?
Pois é, meus amigos, é por estas e outras que os portugueses se sentem tão deprimidos, tão ofendidos com os políticos, tão descrentes quanto ao futuro.
É que, ao contrário do sol, a crise, quando chega, não é para todos ...

quarta-feira, março 03, 2010

PARA QUE SERVE A ECONOMIA ?

O que vou dizer a seguir não é nada politicamente correcto. É mesmo muito chocante : o saber actual em economia, corporizado no conhecimento académico transmitido pelas faculdades de economia aos seus alunos é chocantemente inoperante. Ou seja : não funciona, de pouco adianta em termos práticos.
Não é dificil perceber porquê : a economia não é uma ciência “exacta”, no sentido das engenharias ou da física e matemática. É uma ciência social, lida com comportamentos humanos em sociedade. Daí o seu grande grau de incerteza, daí a sua baixa fiabilidade.
Não viria grande mal ao mundo desta constatação, não fora o facto dos economistas terem enorme influência no traçado das políticas de desenvolvimento nos países modernos. O pior é quando sucedem os precalços do tipo desta ultima crise : aí ninguém se entende, toda a gente manda palpites mas ninguém sabe o que fazer. Deixa-se o tempo ir correndo e espera-se que as coisas vão retomando o seu curso, é o que se faz. Para além disso, apenas se evitam falências indesejadas pelo efeito de dominó e se atira dinheiro ( de todos nós ) para aqui e para acolá.
É uma tristeza, esta coisa da economia. E nas finanças ainda é pior. Uma calamidade, uma brincadeira de putos, um jogo arriscado e viciado em muitas das suas regras.
Para que não pensem que chego aqui e mando umas biscas para o ar, vou fazer algumas perguntas simples, nestes domínios :

1. Alguém sabe explicar porque motivo a Europa afirma que 3% é o limite máximo para o défice público dos vários países ? Porque não 2 ou 4 ou 5 % ? Julgam que, por detrás deste 3%, há algum motivo miraculoso ou cabalístico ?

2. Qual a razão de impor um limite destes para TODOS os países, independentemente da sua situação económica e financeira ?

3. Um défice nas contas públicas é mau, por si mesmo, independentemente daquilo onde se gastou o dinheiro a mais ? Tanto faz ser um défice provocado por investimento como por consumo ?

4. Em 2009, o défice português parece que foi de 9 e tal %. OK, muito bem. Toda a gente diz isto e aquilo, mas o essencial acho que ninguém pergunta : onde foi gasto todo aquele dinheiro a mais ? Já alguém explicou isso, preto no branco ?

5. Se ninguém ainda clarificou onde foi gasto todo aquele dinheiro a mais, como é que logo a seguir descobrem onde hão-de fazer poupanças na despesa ? Como é que se atiram logo aos salários dos funcionários públicos ? Foi aí que foram gastos os milhões a mais ?

6. Como é possível, numa situação como a que atravessamos, que os bancos apresentem lucros tão elevados ? Então a crise não deve também ser paga com a ajuda deles ? Então quando esses senhores estão com problemas devemos injectar-lhes quantidades loucas de dinheiro mas depois, quando aparecem esses lucros, não vamos buscar nenhum desse dinheiro ?

7. Porque é que numa crise destas, os pobres e remediados é que se lixam sempre ? Quando não se aumentam salários, esta medida tem o mesmo impacto em quem ganhe 800 euros por mês ou em quem ganhe 8.000 euros ?

E por aí fora. Perguntas simples para as quais os economistas não dão respostas. Ou dão muitas e desencontradas, o que vai dar no mesmo.
Conclusão : a economia, esta economia que nos servem todos os dias, é uma grande treta. Não se deixem levar por estas falas, porque eles ( os economistas ) não sabem o que hão-de fazer ( na hipótese mais simpática ) ou então sabem muito bem o que andam a fazer, mas nesse caso não esperem grandes melhorias ...

E é assim, de desencanto em desencanto, tal como o elefante anda de nenúfar em nenúfar ... isto é, com o credo sempre na boca !
Tenham um bom dia e não se deixem levar ( totalmente ) pelo meu pessimismo. Ainda há milagres, dizem alguns.
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