quinta-feira, março 11, 2010

SEM DÚVIDAS : O MEU REPÚDIO PELA GREVE ANUNCIADA DOS PILOTOS DA TAP

Antes de mais, uma declaração prévia ao tema que vou hoje abordar : por motivos profissionais conheço alguma coisa sobre o tipo de trabalho de um piloto de linha comercial como são os pilotos da TAP. Respeito as sua qualificações profissionais, as exigências médicas a que devem corresponder, as verificações periódicas de aptidão a que são sujeitos, a responsabilidade permanente do exercício da sua profissão, no que respeita à defesa das vidas dos passageiros e dos equipamentos que lhe estão confiados. Conheço também as qualificações académicas de vários dos pilotos da TAP.
Por último, tenho alguma informação quanto ao perfil psicológico, como seres humanos, de vários destes profissionais e isso inclui o seu posicionamento perante a vida, a empresa onde trabalham e o país a que pertencem.
Depois desta introdução, afirmo aos meus leitores que os motivos pelos quais os pilotos de linha comercial ( e os da TAP estão nesse cesto ! ) são tão principescamente pagos não tem muito a ver com a complexidade da função nem sequer com a escassez no mercado de pessoas com qualificações e ou aptidões para aquela função. A função é equivalente, em termos da sua complexidade tecnológica, stress profissional e responsabilidade a outras profissões que existem no Mundo que nem por isso são tão bem pagas. O nível de vencimentos que auferem é histórico, digamos assim, está directamente ligado ao passado, à época inicial da aviação, por vezes apelidada de “heróica”, quando os pilotos eram olhados como semi-deuses que faziam coisas mirabolantes que pouca gente era capaz de fazer. Depois, a gestão cuidadosa e interessada dos sindicatos, ao longo das últimas dezenas de anos, conseguiu sempre manter e até elevar os patamares de retribuição que estes profissionais auferem.
Pessoalmente, não me interessa muito discutir a ideia do merecimento ou da reprodutividade social ou empresarial daquilo que fazem versus aquilo que ganham. Tudo o que disse atrás apenas visou esclarecer o leitor quanto a alguns mitos que ainda rodeiam aquela profissão : um piloto de linha comercial é um profissional como muitos outros, sem nada de mítico ou divino nas suas aptidões e qualificações. Há-os muito competentes mas também os há apenas a cumprir os mínimos. A função não exige super-homens, e cada vez mais isso é verdade, à medida que as aeronaves vão sendo dotadas de meios automáticos de controlo de vôo, de navegação e de segurança. E a verdade é que quando esses meios falham, no todo ou em parte, raramente são os homens a conseguir impedir a tragédia.
Bom, tendo isto dito, apenas falta dizer uma outra coisa : sendo elevados os vencimentos dos pilotos da TAP, o seu sindicato é um sindicato “rico”, dado o volume das quotizações. Quando resolvem fazer greve, penso que é o único sindicato em Portugal que se dá ao luxo de compensar os seus associados pelo ordenado não pago pela entidade patronal nos dias de greve. No todo ou em parte.
Temos então um grupo profissional muito bem pago, que passa a vida pela Europa e pelo Mundo todo, em hoteis de cinco estrelas ( pagos pela empresa, claro, aí é natural ), habituados a possuir bons carros e boas casas, com uma carga de trabalho não muito intensa, uma vez que é limitada por motivos de segurança e com um background de formação humana e ou académica apenas média, quando não reduzida, frequentemente alheados dos problemas dos outros, o que significa alheados do seu país. Por norma, os termos de comparação deste grupo profissional são retirados de outros grupos estrangeiros, como os pilotos da Lufthansa, por exemplo. Não será de estranhar que muitas destas pessoas acabem por se olhar como seres superiores, com direito a muito mais do que aquilo que já possuem. Na velha escola, diria que é um grupo profissional fortemente alheado dos seus compatriotas e mesmo da sua empresa, que estão habituados a que ceda sempre aos seus desejos.

Dirá o leitor, agora : este gajo não os grama mesmo !
É verdade : em termos de grupo profissional, considero-os egoistas, abusadores e extraordinariamente insensatos. Ao longo dos anos, cansei-me das suas exigências permanentes, algumas das vezes exorbitantes, ao arrepio das condições gerais do país.
É verdade : se fosse Primeiro-Ministro e tivesse força política para isso, encerraria a TAP e recomeçaria de outra maneira. Não iria nunca permitir uma empresa onde, no passado, frequentemente tivemos, todos nós, de meter dinheiro para que suas excelências fossem sempre muito bem pagos.
Profissionais alienados da realidade como estes, para mim, teriam os dias contados. Há muitos homens e mulheres no Mundo com aptidões para as mesmas tarefas a metade do custo, acreditem.
Bem, porquê agora esta diatribe contra os pilotos da TAP ? É que as excelências decidiram agora fazer seis dias de greve. Seis !!! Não vão perder dinheiro com a greve, o Sindicato paga, até podiam ser dez dias. Pouco importa se a empresa, deficitária e exangue, vai ainda perder mais umas dezenas de milhões de euros com a greve. Que lhes importa isso, o raciocínio deles é que, se for preciso, alguém há-de colocar dinheiro na TAP.
Sempre fui de esquerda, leitor. Sempre procurei defender quem trabalha. Respeito a sua opinião, se contrária a esta. Mas do que se trata aqui não é de trabalhadores, é de um sindicato de homens que se julgam lordes, alheados a tudo o que se passa á sua volta, convencidos de que podem sempre esticar a corda porque ela nunca se parte. E que se lixem os outros.
Shame on them.
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