quarta-feira, março 17, 2010

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Estamos a caminhar para uma situação generalizada de ebulição de sentimentos e emoções, em Portugal. O jogo social praticado ultimamente pelo partido do poder e o Governo dele emanado ( e também por outros actores sociais ), assenta sobre uma espécie de cortina de fumo onde nada é o que parece e onde as coisas têm valores esquisitos e absurdos para a nossa compreensão. Vivemos uma reposição, só nossa, da “Alice no País das Maravilhas” : as dificuldades não são, afinal, o que pareciam há alguns meses, antes das eleições, cresceram desmesuradamente ; os vencimentos e prémios dos senhores de fraque das grandes empresas nacionais têm valores absurdos e incríveis, para o nosso nível ; os políticos eleitos por nós podem dizer e fazer o que quiserem, gozam de impunidade e óbvia cobertura de uma vasta rede de interesses ; agora até um apresentador de uma sessão qualquer de propaganda política-económica se atreve a apresentar o Primeiro-Ministro pelo seu nome num conhecido programa de humor.
Esta situação de irrealidade e absurdo, irá provocar rupturas de contornos difíceis de prever. Nesta espécie de jogo de faz-de-conta em que a Alice se vê envolvida tudo é autorizado, deixou de parecer mal socialmente mentir, aldrabar, dizer hoje uma coisa, amanhã outra. Tudo é show-off, tudo é imagem e propaganda, mas em simultâneo estão a pedir-se ( terríveis ) sacrifícios às pessoas, numa variante do filme que não estava prevista.
Neste cenário, todos se vão sentir impunes, a autoridade moral esboroa-se, as normas sociais vão afrouxar ainda mais, as tentativas de fuga às obrigações sociais vão crescer, a raiva e a má vontade também, a aceitação das medidas vai ser reduzidíssima.
Tenha Sócrates responsabilidades criminais ou políticas ou não nos casos que lhe imputam , a questão já não é essa. A questão é que, em termos de psico-sociologia, Sócrates já deixou de ter a credibilidade de um lider forte e amado. Já pouca gente vai acreditar genuinamente nele e aceitar de bom grado as reduções da sua qualidade de vida trazidas pelo PEC.
Se o PEC é indispensável, este ou outro, por favor, restituam a credibilidade às instituições e ao poder político. O país não vai aguentar estes 3 ou 4 anos sem uma nova legitimação do poder, toda esta situação foi escamoteada nas últimas eleições.
Façam eleições o mais depressa possível, ainda que Sócrates venha a ganhar de novo, já nada me admira neste País das Maravilhas.
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