terça-feira, dezembro 30, 2003

CASA PIA, PACIÊNCIA MIA !
O processo da Casa Pia vai entrar na fase de instrução, o que significa que, depois do Ministério Público ( MP ) ter investigado e redigido a acusação aos arguidos, estes podem juntar aos autos todos os dados que considerem relevantes para provar a sua inocência. Esta fase é facultativa, os arguidos devem requerê-la, se quiserem.
Depois, com estes dados de defesa do arguido numa mão e com a acusação do MP na outra, um juiz do Tribunal de Instrução Criminal decide se envia ou não o processo para julgamento no Tribunal “normal”.
Por outras palavras : só agora, ao saber preto no branco de que são acusados, os arguidos podem começar a defender-se. Por exemplo, se o Herman José é acusado de ter cometido um crime no dia tantos do tal em tal parte, e se nesse dia estava no Brasil, é agora a primeira oportunidade de juntar a prova dessa circunstância aos autos. Se isso for assim e se mais nenhuma acusação lhe tiver sido feita, o Juiz de Instrução nem sequer o enviará a julgamento...
Agora notem : passaram dez ou onze meses desde o início do processo até que o Ministério Público tivesse deduzido a acusação. Entretanto, alguns dos arguidos estiveram privados de liberdade com uma capacidade de defesa quase nula, dado não saberem bem de que eram acusados. Pensem um pouco e digam-me : isto é admíssivel ??
Porém, ontem, ao ver uma conferência de imprensa com o sr. Procurador-Geral da República ( chefe do MP ), nunca aquele senhor se referiu a estas delongas, explicando as mesmas. Preferiu tecer elogios em casa própria, afirmando ter sido levado a cabo um trabalho de grande qualidade. A avaliar pela história da estadia do Herman José no Brasil, a qualidade do trabalho é excelente, sim ... para os advogados de defesa !

segunda-feira, dezembro 29, 2003

A VELOCIDADE EXCESSIVA COMO MAIOR CAUSA DE ACIDENTES OU A HISTÓRIA DA RÃ SURDA
Não há disparate maior que atribuir à velocidade excessiva a explicação para a maior parte dos acidentes verificados nas nossas estradas. O pior de tudo é que explicando a tragédia com uma causa errada, as medidas de profilaxia serão também forçosamente erradas.
Claro que a velocidade excessiva tem um papel nesta carnificina, ninguém o pode contestar. Se os automóveis estivessem todos parados ou andassem todos a 40 km/hora o numero de acidentes graves diminuiria, não é ? Contudo, o que eu sustento é que o excesso de velocidade não pode ser responsabilizado como é habitual, trata-se de um erro infantil. A velocidade é apenas um potenciador, um catalizador, não é uma causa. As causas terão sempre de ser encontradas em manobras erradas, desrespeito pelas normas básicas ( sinais de stop, lei da prioridade, riscos contínuos, curvas sem visibilidade, etc .. ) e atitudes dos condutores enquanto andam na estrada ( falta de contenção psicológica, agressividade, leviandade, falta de informação, incapacidade de percepção de situações de perigo, etc ... ). Uma fatia grande de responsabilidade, também, para os traçados das vias, que por vezes parecem mais da autoria do Zé da Esquina do que de um engenheiro qualificado. Idem quanto á sinalização vertical e horizontal, simplesmente aberrantes, como se sabe. Sómente DEPOIS de tudo isto se situa a velocidade excessiva, ela própria motivada por alguns destes factores de índole pessoal que atrás referi.
Logo, insisto, afirmar repetidamente que a má da fita é a velocidade excessiva ou é simplificação excessiva, ou é ignorância ou ... pura e simplesmente a vontade de nada fazer quanto às verdadeiras causas. Eu nem diria verdadeiras causas, diria antes quanto às causas, UMA VEZ QUE A VELOCIDADE EXCESSIVA É UMA CONSEQUÊNCIA DOS MESMOS FACTORES QUE EXPLICAM OS ACIDENTES, não é uma causa.
Faço-me entender ? Quando um condutor segue a 150 kms/hora numa estrada, ultrapassando traços contínuos e seguindo fora de mão em curvas sem visibilidade, como se vê em imagens colhidas pela BT, se se verificar um acidente a CAUSA é o excesso de velocidade ? Digam lá ?
É que, ao insistirem nesta tecla e ao tentarem resolver o problema do numero excessivo de acidentes nas nossas estradas apenas pelo controlo da velocidade, as autoridades fazem-me lembrar aquele cientista que, para estudar o comportamento da rã perante ordens verbais, ia mandando a rã saltar, depois de lhe curtar uma, duas, três e as quatro patas. Quando mandou saltar a rã depois de lhe ter cortado as quatro patas, e perante a quietude do bicho, escreveu no seu bloco : “ Quando se cortam as quatro patas a uma rã, ela fica surda “
Pequenas incorrecções de análise, grandes erros nas conclusões.
ESTE ANO DE 2003 FOI HORROROSO
Sejamos claros e frontais : este ano de 2003, prestes a terminar, foi um ano horroroso, no nosso país. Bom, pelo menos foi-o para a minha sensibilidade. Prisioneiro de uma lógica de direita saudosista, incompetente e hipócrita, um governo em que os portugueses não votaram – não estava nas opções de voto o PSD aliar-se à extrema direita, ou estava ? – encetou um furiosíssimo e raivosíssimo ataque a tudo a que neste país cheira a solidário ou mais justo.
Relembremos algumas das iniciativas deste Governo.
Não acabou com o rendimento mínimo garantido porque não conseguiu, ainda assim reduziu o seu âmbito escandalosamente.
Modificou a legislação do trabalho, com o objectivo visível de facilitar a vida ás empresas.
Introduziu o negócio na gestão dos hospitais.
Está a fazer do notariado uma das maiores e mais despudoradas negociatas dos ultimos anos : transfere directamente lucros do Estado avaliados em largas dezenas de milhões de contos para os bolsos de meia dúzia de senhores.
Baixa o IRC às empresas.
Finge ( mal ) que combate a fraude fiscal, embora na verdade a fraude alcance hoje valores inimagináveis há 10 anos atrás.
Em lugar de uma estratégia de minimização da crise mundial, elege como estandarte os 3% para limite máximo do défice público. Nem esse objectivo consegue atingir, de resto, a não ser através de vergonhosas ( para mim ) operações de venda de bens.
Inicia um combate sem tréguas aos funcionários públicos, identificados como os grandes malandros e vigaristas deste país : não os aumenta, dificulta-lhe as reformas e as promoções, ameaça-os com o quadro de adidos e as avaliações.
Afirma que mais funções do Estado deverão ser privatizadas ( leia-se transformadas em negócio ), porque o Estado não tem vocação para elas.
Deixa que a grande corrupção alastre pela sociedade, transformando-se num cancro gigantesco, enquanto a malta se vai distraindo com a Casa Pia e a Moderna.
Tenta criar um clima de contenção e de moralização do aperto do cinto para quem trabalha por conta de outrém, enquanto ao mesmo tempo largos sectores da sociedade , incluindo do sector público, se fazem pagar a níveis superiores aos da Europa, com uma ostentação e diferenciação chocantes, nunca antes vistas neste país.
Permite que o desemprego atinja níveis há muito não vistos entre nós, sem que sequer se vislumbre um esboço de política de emprego.
Em síntese : um Governo tipicamente de direita, mal coordenado, sem objectivos claros e mobilizadores, unido apenas na raiva da destruição e no afã da “negociarização” máxima possível de sectores públicos.
Reconheço que a oposição a estes senhores é hoje fraca e um pouco desnorteada. Não sei nem como nem quando se irá recompor dos golpes que sofreu.
A verdade, porém, é que com este Governo não vamos a lado nenhum. Já não é uma questão de ideologia política, é uma questão de saúde pública.
Tragam-me outros governantes, estes estão estragados, vão acabar por fazer apodrecer o país ...

domingo, dezembro 28, 2003

PAÍS DOENTE
Este Domingo o noticiário da RTP1, á hora de jantar, apresentou duas pequenas reportagens que me impressionaram. Numa delas, uma mulher da Marinha Grande, despedida de uma fábrica onde trabalhou dos 14 aos 45 anos, dizia que o despedimento era como se lhe tivesse morrido alguém da família. Isto no campo afectivo, porque em termos práticos, agora até para comprar pão tem de pedir dinheiro à filha ...
Na segunda reportagem, dava-se conta das dificuldades que sentem muitos imigrantes, no dia a dia, por causa da não regulamentação da lei da imigração. Gente que nem sequer pode ir com um filho a um hospital. Gente que é roubada nos seus direitos ( poucos, ainda ) e explorada no pagamento do seu trabalho. Casos muito pouco edificantes sobre os valores morais de muitos portugueses, como o daquela mulher da Bielorússia que trabalhou durante meses num restaurante, propriedade da mulher de um sub-chefe da PSP. Quando pediu o pagamento do subsídio de férias e do Natal foi posta a andar .... e, mais tarde, como fez queixa ao sindicato, foi alvo de chantagem do sub-chefe. Ou se calava e retirava a queixa ou a multavam, porque tinha o carro sem a inspecção feita.
Que grande sub-chefe da PSP !! Em termos disciplinares, não sei que lhe aconteceu dentro da PSP, mas sei muito bem o que ele merecia. O restaurante, pelo menos, foi obrigado a pagar mil e não sei quantos euros de indemnização á mulher. Valeu o sindicato e o Tribunal.
Um caso e outro demonstram até que ponto a nossa sociedade é muito mais rude e impiedosa do que aquilo em que gostamos de acreditar. Os nossos valores morais parecem andar também em crise. O alheamento do Governo em relação a estas questões incomoda, por outro lado. Acho que dentro dos BMW e Mercedes, bem insonorizados, estas coisas não se ouvem.
E assim vamos nós, felizes, uns a pensar que temos um país de brandos e suaves costumes. Outros, cinicamente, a tentarem mostrar-nos que se preocupam muito com estas coisas e as vão resolver.
Este Portugal está estragado, dêem-me outro.

sexta-feira, dezembro 26, 2003

BYE,BYE CHRISTMAS !
O Natal já passou.
Os pobrezinhos já podem estar esfomeados outra vez sem que ninguém os vá chatear com ceias de Natal e entrevistas para a TVI.
Os presos já tiveram a sua oportunidade de indulto presidencial.
Os travestis de Pais-Natal já arrumaram as fatiotas e os barretes vermelhos debruados a branco.
As senhoras do jet set, muito condoídas com os sem-abrigo, já podem voltar ao normal.
A guerra pode continuar, terminadas as tréguas.
Os automobilistas podem acelerar de novo, as patrulhas da BT já não estão todas no asfalto.
As pessoas das aldeias, de Trás-os-Montes ao Algarve, já podem respirar de alívio, os forasteiros natalícios já rumaram de novo a Lisboa, nos seus carros.
Os cafés já reabriram, quase todos.
Os tipos que não gramam o Natal ( como eu ) podem finalmente suspirar de alívio.

quinta-feira, dezembro 25, 2003


O MENINO JESUS E O CAFÉ
O dia de Natal ( tal como o 1º de Maio ) é uma espécie de sentença de prisão no domicílio, em conjunto com a família. E quem não tiver família, fica na “solitária”. É que não vale a pena tentar andar por aí à procura de um café ou pastelaria aberto, para uma simples bica. Nada, tudo fechado. Desesperante, dá a sensação de uma cidade de mortos-vivos. Nas ruas vêem-se pessoas, poucas, todas com um ar translúcido, irreal, movendo-se como fantasmas.
Mas estas pessoas não me preocupam, a falta de café sim. Que coisa mais estranha, um país fechado. Para descanso do pessoal, têm direito ao Natal com a família, não é ?
Acho que sim. Sugiro até que esta razão seja aplicada às transportadoras aéreas, ao pessoal dos combóios e das portagens nas autoestradas, à PSP, GNR, Forças Armadas, bombeiros, pessoal da saúde em todos os hospitais, etc ... Já agora, decretava-se a paragem total do país. Os portugueses pelam-se por legislar, aproveitem e façam lá a leizinha já não do Natal branco mas do Natal negro, às escuras, fechado !! Andem lá, perdido por cem, perdido por mil.
Já sabem que fico um tanto impaciente e agressivo se não beber um café de manhã bem cedo. E tem que ser fora de casa, ao balcão, com aqueles cheiros todos de uma pastelaria nas primeiras horas da manhã. Pois bem, hoje fiquei tão chateado que até culpei o Menino Jesus, tadinho dele, ainda tão pequenino.
Se Ele veio ao Mundo para nos salvar, não devia ter-se esquecido do nosso café pela manhã, não acham ?
Bom, pensando bem, temos que O desculpar, Ele ainda não tinha idade para beber café, nem sabia o que isso era, os Reis Magos só Lhe ofereceram incenso, mirra e essas parvoíces.
Deviam era ter-Lhe levado uma máquina de café Expresso e um pacote do mesmo, pronto.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

DIA 24 DE DEZEMBRO, OITO DA NOITE
Hoje é a véspera do dia de Natal. É o dia da vinda do Pai Natal, lá pela meia-noite ... pelo menos era assim, quando eu tinha 6 anos. Lembro-me de pensar como é que ele conseguia estar na casa de todos os meninos ao mesmo tempo ! Quer dizer, acreditava no Pai Natal, mas parecia-me que havia ali qualquer coisa ...
A minha grande mania nesta época, nessas idades, era arranjar o presépio. As árvores de Natal ainda não se tinham popularizado, ninguém passava sem um presépio, por mais simples que fosse. O meu era um presépio todo “biológico”, como se diria hoje. Passava horas à procura de musgo, nos recantos das oliveiras e dos valados. O presépio tinha que ter lagos, com água “a sério”, com uma cascata. A cascata era indispensável. Um ano, fiz as figuras todas do presépio, em barro, incluindo ovelhas que dariam para vários rebanhos. Os Reis Magos colocaram-me um problema sério, não encontrei tinta para pintar de preto um deles. Acho que as figuras não agradariam nada à Rosa Ramalho ou ao sr. Franco daquele presépio animado que há entre a Malveira e a Ericeira .... mas eu fiquei com uma felicidade tremenda, de artista criador.
Que teria acontecido a essas figuras ?
Ah, e luzes, muitas luzes. As luzes eram feitas de pequeninas torcidas a flutuarem em azeite, dentro de caricas. À noite, o presépio com estas luzinhas indecisas ficava com um ar romântico, quase religioso. Depois de tudo pronto, eu ficava horas, sentado, a olhar para todos os pormenores, a alegrar-me com a minha obra.
Hoje, aqui em Lisboa, nem sequer sei onde poderia ir procurar musgo ...
Vejam bem : são quase 20:00 horas do dia 24 de Dezembro de 2003 e eu estou aqui a escrever estas linhas, com recordações dos meus 6 e 7 anos ...acho que vou acabar isto e comer um sonho. Dos outros.
Tenham um bom Natal, amigos.

segunda-feira, dezembro 22, 2003

AH, ESTE ESTRANHO MUNDO DOS AMERICANOS !

Num desses misteriosos e esquisitos periódicos regionais que são distribuidos à borla ( este chama-se a Dica da Semana ) li uma notícia giríssima. A notícia é sobre o Smoke Free Air Act, lei em vigor em Nova-Iorque que proibe pura e simplesmente o acto de fumar, em toda a parte. Mesmo a posse de cinzeiros, em estabelecimentos abertos ao público, é punível com pesadas coimas. Por enquanto ainda não mandam ninguém para a cadeira eléctrica, mas ...
Notem bem : é proibida a posse de cinzeiros ! Eh Eh Eh .... estes americanos são totalmente paranóicos ! E depois dizem que os árabes é que são fundamentalistas !

domingo, dezembro 21, 2003

FICO NEURA COM O NATAL !!!
Vou deixar-me de mentirinhas socialmente bem aceites. Vou dizer-vos a verdade, nua e crua : não gosto do Natal ! Esta mitologia toda da família reunida, com a lareira acesa enquanto a neve cai, lá fora, é uma treta, para mim.
Não tenho lareira, os aquecimentos a óleo não ficam bem neste quadro pitoresco, lá fora não há neve nenhuma e, o pior de tudo, a minha família quase não existe. Sou viuvo e tenho uma filha, é tudo. E, como eu, há milhões de pessoas em todo o Mundo. Logo, nesta altura, fico sempre deprimido, o paradigma da família pesa-me e entristece-me. É como se, ainda por cima, tivesse alguma culpa de não ter uma família. Os amigos perguntam-me : então onde passas o Natal ? E olham-me com um ar embaraçado e uma nota de tristeza compungida, quando lhes digo. Pior ... alguns sugerem : porque não vens passar connosco ?
Grrrrr ...
Bem, não quero insistir numa de desgraçadinho ou infeliz. Até porque não sou nem uma coisa nem outra, apesar das perdas irreparáveis. Mas acreditem, o Natal é uma seca para mim e faz-me sempre ficar neura. Não fora o facto de se celebrar, no Natal, o nascimento de um Homem que amou os seus semelhantes e tentou mostrar-lhes caminhos de solidariedade e de esperança, e eu diria, mal humorado e ressentido : vão-se lixar mais o Natal ! Vejam lá se arranjam uma celebração onde eu me possa sentir feliz em vez de entristecer !

sexta-feira, dezembro 19, 2003


VAMOS FAZER OUTRO PAÍS QUE ESTE ESTÁ ESTRAGADO !
A Europa não se entendeu.
A Europa quer fazer uma espécie de constituição, onde se fixa quem e como vai governar a Europa, qual é o poder de voto de cada país, como é que se compatibilizam as diferentes sensibilidades dos 25 países.
Tentando chegar a um acordo, sob a presidência da Itália, um magnata da comunicação social, em confronto directo com a justiça do seu país, homem de perfil ético e moral algo controverso. Estranha ironia : um homem destes é que ia ajudar a encontrar uma solução, ele que é a fonte permanente de problemas, no seu país e no resto da Europa ?
A Europa não se entendeu. Então, todos os políticos foram unânimes em dizer que assim não vale a pena fazer referendo para a Constituição da Europa.
Ou seja : só se faz referendo para que a malta diga que sim àquilo que os senhores decidirem para a Europa... como ainda não decidiram nada, então não vale a pena.

O folhetim do caso Casa Pia continua. Tribunal manda em liberdade, o juiz Rui Teixeira apressa-se a meter dentro outra vez. É uma espécie de jogo, onde cada um parece fazer o que quer. Menos os arguidos, claro.
Ouvi hoje a opinião que o grande problema não está a nível da legislação prever isto ou aquilo, mas antes ao espírito de quem tem o poder de aplicar a lei. E esse espírito, no entender do comentador, está em muitos casos completamente ao arrepio dos valores constitucionais. Prende-se para depois investigar, mastigam-se as investigações enquanto os arguidos aguentam a prisão, ouvem-se os arguidos sem lhes dizer exactamente os factos sobre os quais estão a ser investigados, enfim ...
Este tema é aborrecido, eu sei. Mas ponham-se no lugar de um arguido acusado não sabe de quê nem por quem, e mesmo assim metido na choça e logo vão perceber a insensatez de tudo isto, a leviandade com que são tratadas as pessoas, a impunidade e sobranceria com que alguns juizes actuam, como se não tivessem que prestar contas a ninguém ... No fundo, a extrema insensibilidade desses senhores que se julgam provavelmente legitimidos por via divina ...

Cada vez mais acho que Portugal já deixou de ser um País adiado. Passou a ser um país estragado, inviabilizado, ridiculo, de gente pequenina, invejosa, convencida, frustrada, corrupta e incompetente. Não vamos a lado nenhum. Aos novos com algum valor – que são poucos, muito poucos – diria eu : nem esperem pelo Natal, desapareçam daqui, vão para qualquer outro sítio, mesmo que seja o Iraque !
Este País está mesmo definitivamente estragado.

quinta-feira, dezembro 18, 2003


VEM AÍ O NATAL !
Passei parte da tarde de hoje a escrever mails para os meus amigos e amigas. Já há alguns anos que deixei de escrever cartões em papel, com envelopes, selos, etc ... agora vai tudo por via electrónica que é um despacho ...
Ter-se-á perdido algo, na mudança ? Perde-se sempre, aqui acho que o acto se massificou e despersonalizou. Envia-se um mail com vinte e quatro destinatários e diz-se o mesmo a todos, não é ? Fácil, rápido, barato. Também fiz isso, mas há algo que não me soa bem neste processo... :)
Fiquem os meus amigos a saber que ao enviar estes mails com vários destinatários, pensei sempre em cada um deles, separada e individualmente. Recordei aqueles que não vejo há mais tempo, as suas caras, coisas que nos aconteceram, a sua forma de rir, as suas manias ... Lembrei-me também daqueles que vejo mais frequentemente, com uma nitidez total. Por causa desses pensamentos, até acabei por pensar em amigos já idos para outras paragens, onde o correio electrónico ainda não chega ...
A todos, mas mesmo a todos, um desejo único : façam o favor de ser felizes, como dizia um texto do Raul Solnado. E não esperem pelo Natal ou por 2004 para isso : comecem já !
Um abraço para todos.

terça-feira, dezembro 16, 2003

AINDA SADDAM
Sejamos claros : nunca morri de amores por Saddam, ao contrário dos americanos que, em épocas passadas, viam nele um defensor da liberdade contra o fundamentalismo islâmico. Em particular, nunca lhe perdoaria o assassinato de milhares de curdos nem a forma desumana como tratou todo e qualquer iraquiano que ousava discordar de si.
Porém, fiquei envergonhado com aquelas imagens colhidas pelos americanos, mostrando um médico ( imagina-se ... ) a vasculhar a boca do estuporado Saddam com uma pilha. Talvez ainda à procura de armas ? Seja como for, são imagens degradantes, aviltantes para quem as colheu e difundiu. São indignas. São sintomáticas de uma forma de pensar arrogante, de quem despreza a natureza humana. É que não é Saddam que está em causa, naquele momento ; é a dignidade de qualquer ser humano. E não se argumente – como já vi fazer – com as imagens dos prisioneiros feitos pelos iraquianos, no início desta guerra e na guerra do Golfo, onde os prisioneiros ostentavam nítidos sinais de agressões físicas. É que aquilo que Saddam fazia não legitima que nós façamos igual, pois não ? Ou, de facto, a única superioridade moral das nossas democracias é não obrigarmos as mulheres a usar véu ?
Vi as imagens e, acreditem ou não, senti vir ao de cima uma onda de inquietação, relativamente a esta gente que faz este uso da sua força militar e económica. Pensei, também : quando será que a Europa, com os seus valores de solidariedade e tolerância, ganha força suficiente para ser um contra-poder a estes cowboys, tão frequentemente arrogantes, desmiolados e prepotentes ?

segunda-feira, dezembro 15, 2003

ROSAS E LARANJAS
Hoje estive na província ... Basta sairmos 120 Kms de Lisboa e o ar é mais leve, sente-se o cheiro da terra e a vida acontece mais lentamente.
Fui apanhar laranjas e podar roseiras. É verdade : já alguma vez se empoleiraram numa escada e apanharam laranjas, atirando-as para alguém cá em baixo ? Tem algo de redentor, é como se libertássemos a árvore de umas boas dezenas de quilos que a apoquentam e impedem os ramos de dançar com o vento.
Podar roseiras, por outro lado, é chato ! Para além das inevitáveis picadelas e arranhadelas, nunca se sabe quando estamos a cortar demais as pobres plantas, impedindo-as de largar rebentos e depois os botões coloridos.
Almoço na Golegã, vila onde ainda se respira um ribatejo simples, rude e honesto. Breve mirada no belo portal manuelino da Igreja e lá voltámos para Lisboa, o porta-bagagens cheio de laranjas e limões.
Se amanhã virem um tipo aí numa esquina, com uma banquinha cheia de laranjas à frente, já sabem : sou eu a fazer pela vida. Quem não sabe negociar na Bolsa, vende laranjas.

domingo, dezembro 14, 2003

SADDAM, AS BARBAS E AS ARMAS DE DESTRUIÇÃO EM MASSA
Saddam foi apanhado.
Afinal, não tinha saído do Iraque, estava numa casa em Tikrit, cidade onde nasceu. Barba crescida, olhar vazio, um homem derrotado. Assim acabam os ditadores, reduzidos à condição original de homens insignificantes.
Do ponto de vista psicológico, é um acontecimento importante. Restitui esperança e moral aos militares no terreno, enquanto a retira, em paralelo, aos saudosistas do regime e aos focos de guerrilha a ele ligados.
Do ponto de vista político é um trunfo inequívoco para Bush. Afinal, os EUA foram capazes de localizar Saddam, não aconteceu outro caso Bin Laden.
Agora, lá vão julgar o velho ditador. Não se sabe quem vai julgar, nem onde, nem com base em que código criminal, mas isso são pormenores, acabará por ser julgado e condenado. Vão longe os tempos em que os EUA apoiavam Saddam, como baluarte contra a luta anti-fundamentalista naquela região.
Subsiste, porém, aquele pequeno detalhe que tanta celeuma provocou na altura : Saddam não tinha as armas de destruição em massa escondidas na mesa de cabeceira ! Onde estão, afinal, essas mortíferas armas que justificaram a invasão ?
Será que também deixaram crescer as barbas e ninguém as reconhece ?

sexta-feira, dezembro 12, 2003


VAMOS FAZER COMO O GATO ?
Para não ser sempre o tipo que passa a vida a chatear-se ( e, o que é pior, a chatear o leitor ) com as desditas da política, ofereço-vos hoje uma cena do quotidiano em minha casa. O Cenoura, que já vos apresentei ao longo destas páginas, é um gato de um ano e meio, amarelo e com um temperamento temível de caçador. Quando não há mais nada caça-me a mim ou à minha filha, em emboscadas matreiras e silenciosas ....
Ah, mas de vez em quando acontece um milagre : os canários ! Os pobres dos canários foram pendurados na marquise anexa à cozinha, para apanharem um pouco de sol. Aí, o Cenoura descobriu que, se subisse para cima do micro-ondas e se se apoiasse na porta da marquise podia chegar aos bichos ... e lá está ele, sorrateiro, convencido que não vai ser topado pelos canários , ehehehehe ...
O que é curioso é que o gato já sabe que quase de certeza não consegue chegar aos pássaros, porque eles estão protegidos pela gaiola. Mas não desiste, mesmo assim, e tem um gozo tremendo a tentar, sempre a tentar, sem desistir nunca !
Confesso que não sei se me hei-de rir da tontice do gato ou admirar a sua persistência na luta por aquilo em que acredita.
Não haverá aqui, nesta atitude do Cenoura, algo que deveríamos aprender e cultivar, para fazer deste país algo de jeito ? Humm ? Ousar, tentar, não desistir ? Talvez um dia, finalmente, apanhemos a gaiola aberta e possamos chegar onde queremos !
E vocês a pensar que hoje eu não ia falar de política ...

quinta-feira, dezembro 11, 2003

VAMOS ACABAR COM O ESTADO - OS NEGÓCIOS AO PODER !
A furia liberalizadora deste Governo é espantosa, até mesmo para quem já deles esperava uma atitude deste tipo. Não se trata apenas de empurrar o Estado para fora de todos os sectores da economia que podem vir a constituir área de negócios privados. Esta verdadeira “negociarização” da economia é feita com uma pressa mal disfarçada e uma raiva genuina. Nota-se a frustação acumulada de todas as transformações que o país sofreu nos ultimos anos, o desejo incontido de as inverter o mais depressa possível, o afã de reconfigurar as antigas relações de poder.
A questão é velha, mas não deixa de ser um espectáculo quase degradante, assistir a esta actuação despudorada, apressada, cínica e violenta.
Claro que quem ouvir os argumentos ( e esquecer as verdeiras motivações ) destes senhores, fica comovido com o interesse que demonstram pelo bem-estar dos portugueses e pelo respeito dos seus direitos. Tudo é feito no superior interesse das populações, é esta a forma de tornar o país mais eficiente, mais moderno, mais justo, mesmo.
Claro que sim. É que os interesses privados que espreitam a retirada do Estado para iniciar os seus negócios tem vocação de samaritanos, não sabiam ? A sua vocação é servir as populações, não lhes interessa o lucro para nada, pois não ? Eles vão gerir os hospitais, as escolas, as universidades, qualquer dia as polícias e as forças armadas por simples altruismo e vontade de servir o país. E ainda vamos fazer poupanças, caramba ! Vai ficar tudo muito mais barato, vão ver !
A célebre ministra das vendas de património ao desbarato descobriu agora um facto incrível : afirma ela que de todos os funcionários públicos apenas cerca de metade trabalha directamente para servir o público. E, assim sendo, ainda há muitas funções no Estado que podem ser entregues ao sector privado. Fantástico, fiquei impressionadíssimo com o rigor destes números. Impressionadíssimo, sim, com a leviandade e ligeireza com que estas afirmações são feitas. E mais : com o populismo que lhe está subjacente.
É óbvio, não ? Se metade apenas dos funcionários é que serve o público, vamos ver-nos livres dos outros e poupamos milhões ! Bora !
Pois é ... será que a função da srª Ministra, como funcionária pública que tb é, foi contabilizada também como servindo directamente o público ? Não me parece que a ministra das finanças exerça a sua função atrás de um guichet ... ou é ?
Hummm ... e daí .... olhem, por sinal, neste caso concreto, até me atrevo a afirmar que nada se perderia em privatizar a função e atribuir o lugar da ministra a um qualquer gestor financeiro. Não seria dificil a qualquer um fazer melhor que ela ... e até talvez ficasse mais barato !
Mas é bom que comecemos a pensar que é urgente corrermos – democraticamente é claro – com esta gente dos centros de poder do nosso país.
Ou não acham ?

quarta-feira, dezembro 10, 2003

COMPRAR BENS ... E DEPOIS ?
Hoje vou propor-vos um tema conotado com o Natal, mas numa perspectiva diferente. Vão ver que é algo que nos afecta a todos. Trata-se da importância relativa que a aquisição de bens e a sua manutenção assumem, nas sociedades modernas.
A noção de partida é que é conferida muito maior importância ao acto da aquisição do que ao da posterior manutenção do bem adquirido.
A aquisição de bens e produtos, nos ultimos anos, tem vindo a tornar-se cada vez mais fácil, cómoda e atraente. Gastam-se milhões em publicidade, em todos os orgãos de comunicação e no porta a porta, constroem-se edifícios especializados na oferta de variadíssimos tipos de bens, os bancos desenvolveram curiosas engenharias de crédito ao consumo, inventam-se dias disto e daquilo, adulteram-se outros, como o Natal, é um vale-tudo desenfreado. Os próprios objectos adquiridos perderam significado intrínseco, compram-se coisas pelo que podem representar, muitas vezes, não pelo seu valor próprio ou utilidade.
Mas não me interessa agora fazer juízos sobre os valores que esta sociedade está a trazer à superfície. Se é que valores ainda são.
Interessa-me antes realçar que esta lógica, a da compra, utiliza, deita fora, compra de novo, é a unica lógica possível nas sociedades que construímos, nem mais nem menos. Só estão sãs, estas sociedades, quando crescem continuamente. Já viram esta ideia aterradora ? Porque motivo as nossas sociedades estão condenadas a crescer, sempre ? Ou, quando o não fazem – e isso acontece inevitavelmente – surge a crise ?
Bem, não nos percamos. Estávamos a ver que tudo foi facilitado ao máximo para que adquiramos novos bens. Novos, ainda que sejam apenas substitutos de outros que tínhamos. Se examinarmos o esforço que nestas sociedades é dedicado à manutenção destes bens que adquirimos, vamos ficar surpreendidos. Enquanto nos Centros Comerciais compramos facilmente de vestuário a electrodomésticos, não se vêem neles, por norma, lojas dedicadas à manutenção. A manutenção dos bens que adquirimos não é nunca tarefa fácil. Podemos comprar quase tudo ao pé de casa ou no mesmo centro comercial, mas para mandarmos reparar um simples electrodoméstico somos obrigados a ir à periferia da cidade, a uma antiga Quinta qualquer na Estrada não sei de quê que ninguém sabe onde fica.
Enquanto a função venda prolifera, está distribuida por milhões de locais, ainda resiste no pequeno comércio ao pé da porta, a função manutenção quase desapareceu a nível das pequenas lojas de bairro, estando agora nas mãos dos ultimos “jeitosos” que ainda trabalham em regime “liberal”, sem recibo, claro, ou então em algumas empresas “especializadas” na manutenção de tudo ( segundo a sua própria publicidade ), trabalhando 24 horas por dia, e que lhe levam 200 Euros ( sim, 40 contos ! ) por arranjar a campaínha da porta ou a máquina de lavar roupa.
Se pensar bem, é como se o “sistema” lhe recomendasse, quase sempre : não vale a pena reparar nada, torna a comprar novo !
Não acredito que nunca tenha passado por esta experiência.
É claro que vender é sempre muito mais simples que reparar ou fazer manutenção preventiva. Não exige investimentos elevados, nem mão de obra qualificada nem grandes áreas para as instalações. Todos sabemos isso.
Mas não será tempo de, quando compramos, nos começarmos a preocupar com este fenómeno, escolhendo ( pelo menos ! ) as marcas em função da estrutura de pós-venda que oferecerem ? Não será mesmo caso para a Comunidade Europeia começar a tentar disciplinar esta questão, em vez de apenas obrigar á garantia de 2 anos ?
Ou será que, lutando por melhores sistemas de assistência técnica dos produtos que adquirimos, estamos a cavar a ruína da nossa própria sociedade ?

terça-feira, dezembro 09, 2003

ISTO NEM DÁ VONTADE DE ESCREVER ...
Tenho andado um tanto cansado deste blogue. É verdade. Confesso que gostava que mais pessoas o lessem e discutissem os assuntos que tenho abordado. Vaidade, presunção ? Sim, é evidente que não ando longe dessas coisas. Só tenho uma desculpa : vivemos uma época em que todo o bicho careta escreve e publica livros, não é ?
Mas confesso que é algo frustrante escrever para uma meia dúzia de pessoas. Ainda que sejam leitores de qualidade. É pouco.
E não vejo maneira de quebrar as barreiras e alcançar novos leitores, sem recorrer à publicidade. Já percebi que a maior parte dos leitores de blogues saltam de uns para os outros, pelo que é essencial ter o título do blogue referenciado em alguns outros blogues com audiência. Ora acontece que esse circuito é fechado sobre si mesmo, não admitindo outsiders. Acontece também que grande parte dos autores de blogues muito lidos são populares por motivos anteriores e estranhos ao respectivo blogue : ou são conhecidos da TV, ou da rádio, ou do humor ... Ou então têm quantidades astronómicas de amigos ! Não estou a afirmar, claro, que a qualidade desses blogues não justifica a sua popularidade ; só afirmo que esta nasceu por outras vias que não a sua qualidade intrinseca.
Para culminar, as poucas tentativas que eu conheço de sistematização e identificação dos blogues nacionais falharam e estão encerradas, desistindo os seus autores de acrescentar novos títulos.
Ou seja : esta tão propalada nova forma de comunicação, rápida, fácil, democrática, barata ... é afinal como todas as outras. Não basta ter-se algo para dizer, é preciso conquistar um palco antes de mais. O que não é fácil. Eu, pelo menos, não sei como se faz. É claro que, depois deste desabafo, eu também sei que sou um chato a escrever, muitas vezes. Logo, não me vou queixar muito.
Queixo-me só este bocadinho.
Acho que vou continuar a escrever umas linhas, mais como terapia do que outra coisa.
Apesar do vazio que se sente, aqui onde escrevo.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

AS MISÉRIAS DO MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA
Diariamente sou surpreendido com factos anormais na vida publica deste nosso país. A tal ponto que começo a perceber aquelas pessoas que se recusam a ler ou ouvir notícias. De facto, só por masoquismo continuo a procurar saber o que se vai passando.
Hoje, destaco duas, ambas do Ministério da Administração Interna.

A demissão do Comdte da Brigada de Trânsito da GNR
O Major-General Assunção foi convidado a comandar a BT da GNR pelo seu perfil de homem sério e disciplinador, com a missão específica de “endireitar” a BT. Isto no seguimento do conhecimento publico das centenas de acusações de corrupção a agentes daquela Brigada, lembram-se ?
Pois, ao que parece, o novo Comandante entendeu retirar da BT centena e meia de agentes, recolocando-os em outros locais da GNR. Certamente, com o apoio do Comandante-Geral da GNR e o conhecimento do sr. Ministro.
Este é um procedimento normal numa organização militar. Não implica suspeição de nada, apenas resulta de um eventual juizo de valor sobre uma permanência excessiva na BT, por exemplo. É uma prerrogativa administrativa de qualquer Comando.
Alguns dos guardas recolocados não gostaram e interpuseram recurso no Tribunal Central Administrativo, o que é um direito seu.
O prosseguimento normal de um caso destes seria a GNR ( ou o Ministério ) ser ouvido em Tribunal, em defesa das recolocações. Tal não foi o entendimento do sr. Ministro, não se sabe porquê. Mesmo antes do caso ser decidido, no Tribunal, o Ministro manda informar o Tribunal que desiste das recolocações, desautorizando totalmente o Comandante da Brigada de Trânsito e o próprio Comandante-Geral da GNR. Muito pior : se a decisão tivesse sido do Tribunal, ainda vá que não vá, o Comando da BT podia aceitar, tratando-se de uma decisão judicial. Mas não foi isso : tratou-se de uma decisão do Ministro da tutela, BORRIFANDO-SE COMPLETAMENTE para a decisão anterior do Maj-Gen Assunção.
Ainda pior, se possível : o Ministro vem a publico declarar que se tinha limitado a cumprir uma decisão judicial.
Em síntese : o sr. Ministro não diz a verdade, o sr. Ministro aparentemente não sabe trabalhar com homens de coluna vertebral vertical, o sr. Ministro aparentemente está-se nas tintas para quem com ele trabalha.
É dificil fazer pior que isto.
Claro : o Maj-Gen Assunção demite-se da função, o segundo comandante pede para sair do serviço activo ... mas que importância política tem isso para um político como o sr. Ministro ?

Informatização da PSP
Ontem o mesmo sr Ministro declarou que, dentro de 2 anos, as esquadras da PSP estarão dotadas de equipamento informático, permitindo substituir uma quantidade enorme de papelada e ficando, finalmente, ao nível do séc XXI.
Notem : DENTRO DE 2 ANOS !!!!!
Isto é totalmente inacreditável. Seja a responsabilidade deste Ministro apenas ou de vários outros que o antecederam. Este trabalho devia estar feito há mais de 5 ou 10 anos !!!
Não se trata de nenhuma fortuna, apenas exigiria gente dedicada e competente a tratar deste assunto, em vez de uma série de putos recém-saidos das faculdades e que normalmente são desta ou daquela Juventude partidária ou filhos deste ou daquele homem do partido.
Volto a dizer : é INACREDITÁVEL este anúncio. É que, se eu fosse o sr. Ministro, trataria de FAZER o que é preciso ser feito sem alardes, sem qualquer comunicação publica. Por vergonha pura de revelar o tremendo atraso.
Em segunda síntese : este sr. Ministro, para além do que atrás se disse, também não tem qualquer pejo profissional em revelar atrasos e incompetências deste calibre !!!

quinta-feira, dezembro 04, 2003

PROBLEMAS DE CIDADANIA PRÁTICA
Há ainda hoje coisas bem dificeis de solucionar no dia a dia da vida em sociedade. Questões teoricamente simples, nada de muito rebuscado.
Querem ver uma ? Em Bragança, os esforços oficiais para obrigar certas crianças à frequência da escolaridade mínima obrigatória ( andam a trabalhar, os pais não querem, etc ... ) , acabaram na formação de uma turma de jovens “fugitivos ao ensino”, com idades entre os 15 e os 18 anos. Os miudos têm um nível de escolaridade muito reduzido para a idade, ficando a par de crianças com 11 ou 12 anos. Acresce que são, na sua maioria, de etnia cigana. Claro. E digo claro porque são os hábitos culturais dos ciganos ( em grande numero em Trás-os-Montes ) a provocar aquela situação de fuga à escola. Neste caso.
A Direcção Regional de Educação do Norte, tentado cumprir a sua missão, decidiu juntar a turma de “fugitivos” na mesma Escola onde andam os tais miudos de 11 e 12 anos ... Tchiiiiiiiiiiii, o que foram fazer ! Reunem-se os pais dos miudos pequenitos e decidem rejeitar a entrada dos mais velhos para a Escola, com o argumento de que irão estragar irremediavelmente o ambiente e trazer sabe-se lá que outros perigos para os mais jovens.
Bom, claro que qualquer sociólogo de bancada gritará logo : ”RACISMO ! É POR SEREM CIGANOS ! ”
E até é capaz de ser mesmo racismo. Na base cultural do racismo ( não estou a falar dos interesses económicos ) sempre existiram elementos de medo à diferença e de ignorância.
Por outro lado, aquelas populações conhecem muito bem os hábitos e comportamentos dos ciganos. E esses comportamentos não estão isentos de ameaças e perigos para putos de 11 anos, pois não ?
Então ? Vamos por um raciocínio simplista, tipo : é racismo, o racismo é mau, logo aqueles pais não têm razão nenhuma ? Ou tentamos ir mais longe e perceber os receios daquelas pessoas, embora sem desistir de dar uma formação mínima aqueles putos mais velhos, a quem nunca ninguém deu muitas chances ?
Como é ? Que tipo de solução ? Sabem , o que é curioso é que estes problemas são MESMO complicados. Por vezes, quando pensamos neles, equacionamos dentro de nós, instintivamente, soluções tipo apharteid, tipo guetos ... para depressa as rejeitarmos, bem depressa, porque todos nós sabemos onde isso nos conduz. Por mais dificil que seja a integração. Mas que dizem vocês ?
Creio que será possível uma integração destes miudos mais desvaforecidos pela sorte em certas Escolas, em conjunto com os outros. Mas também creio que estas iniciativas devem ser conduzidas por gente com muita competência e ainda assim usando de muito cuidado e atenção permanente. Conheço, embora superficialmente, uma iniciativa dessas, com bastante êxito, em Leiria, onde está implicada uma amiga minha. Penso ser matéria onde não existe grande margem para errar. Tudo deverá ser bem preparado, a começar pelo contacto com os pais das crianças mais novas.
Se nenhum destes cuidados existir, se se tentar a integração numa Escola qualquer, com professores sem formação prévia nestas questões e num ambiente que já de si não seja completamente saudável em termos disciplinares ...então, receio bem que seja o fracasso total.
No caso em apreciação, e se bem conheço os portugueses, a Direcção Regional de Educação do Norte ( DREN ) prepara-se ( preparava-se ? ) para “atirar” a turma problemática para a Escola em causa, sem qualquer cuidado nem preocupação...
Então, se assim for, quem deverá ser merecedor de nota negativa ? Os papás, por “racismo” ? A DREN, por falta de cuidado na preparação ? Ambos ?
Aceitam-se palpites, vá !! Digam lá como é que se resolvem problemas destes.

terça-feira, dezembro 02, 2003

PERIPÉCIAS NO COLOMBO
Não há, na actualidade nacional ou internacional, nada que me apeteça comentar. Não é que as coisas não vão “mexendo” ... eu é que não tenho coragem de falar sobre isso. O Iraque é cada vez mais a confusão total ; Israel constrói muros para deter os kamikazes palestinianos; a Europa põe-se em bicos dos pés, com a história de uma força de defesa autónoma, distinta da NATO, que contudo não quer pagar; o presidente Bush dá uma de motivar os seus rapazes, indo de noite, à sucapa, ao Iraque ... enfim, nada disto tem graça nenhuma, é triste, não tem ponta por onde se lhe pegue.
Pelo reino do absurdo ( Portugal, claro ) as coisas estão na mesma. A drª M.F.Leite insiste que a única coisa a fazer é respeitar os limites do déficit, enquanto ao mesmo tempo vota a não penalização da França e Alemanha que fizeram o oposto ; o ministro Paulo Portas concorda com uma força autónoma de defesa para a Europa, desde que não seja uma duplicação de meios ( ?? ) da NATO ; o Parlamento entretêm-se a re-averiguar o caso da cunha para a filha do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros ... isto é, ou não é, o reino do absurdo ?
Nestes ultimos dias acho que desliguei os circuitos políticos todos. Limito-me a andar por aí e a viver.
Hoje, por exemplo, fui ao Colombo, a uma estação de Correios que há lá, simplesmente para enviar uma carta registada com aviso de recepção. Pois bem, estive perto de 40 minutos para fazer isso mesmo. Um espanto. Com senha de vez no atendimento e tudo. Chegado ao balcão, a menina deu-me 2 impressos e diz-me “Preencha aí enquanto eu atendo outra pessoa”. Ainda esbocei um “Isto tudo ??” mas ela olhou-me com ar severo e diz que sim, é preciso aquilo tudo. No séc XXI, nos Correios em Portugal, é preciso preencher à mão dois impressos para enviar uma carta registada com aviso de recepção.... sabiam ? Depois descobri : é que o aviso de recepção que eu hei-de receber, quando a carta for entregue, é preenchido logo por mim !!!!
Entretanto, enquanto esperava, vi esta cena intrigante : uma mamã muito jovem, com o seu filhote num carrinho. O puto devia ter menos de 1 ano, não sei bem calcular, mas ainda não falava nada que se percebesse. Acontece que o miudo, talvez chateado com a eficiência dos nossos Correios, chorava desalmadamente. Chorar é mais fácil que falar, não é ?
A mãe, para o calar, deu-lhe o telemóvel. Nessa altura, comecei a olhar para o miudo com atenção, eu estava muito perto. Agora imaginem o que aconteceu : o miudo, põe-se a calcar nas teclas com os deditos, faz um gesto para levar o telemóvel á orelha ( de facto encostou-o à testa mas o que conta é a intenção, não ? ) e desata aos berros : “Tá ?? pá ? rebababa ...brrrrr ....gnhhhh ..... timmmm ...” imitando perfeitamente uma pessoa a telefonar, embora com os “grunhidos” próprios da idade.
Fantástico, esta nunca tinha visto : os putos desta geração mexem nos telemóveis e falam neles mesmo ANTES de aprenderem a falar !!!
Co’os diabos, já viram uma cena destas ?
Mas hoje não era mesmo o meu dia. Entrei a seguir na FNAC, e fui direito á cafetaria para beber um café. À minha frente, na caixa, um casal, ambos muito bem aperaltados e com ar de intelectuais á portuguesa. Eu depois explico esta. Enquanto eles decidiam o que queriam, e eu esperava, foram chegando pessoas conhecidas deles, amigos, familiares, etc , sem eu perceber porquê, sequer. A verdade é que, todos se lhes juntavam junto da caixa e ele perguntava: “O que vão beber ? “ e ia pedindo .... E foi assim que, em vez de duas pessoas à minha frente, me vi ultrapassado por algumas 10 ou 15 pessoas todas com um ar muito bem, ninguém se preocupando aqui com o rapaz ... ehehehe ...
Se já me conhecem um pouquinho, sabem que isto não ficava assim, não é ?
Pois foi, chateie-me e bati no ombro do tal tipo que tinha tantos amigos e disse-lhe : “Olhe, já agora eu também bebo um café ...OK ? “ Ehehehehehehe ....
O digno senhor ficou assarapantado de todo, depois percebeu, riu-se e até me queria pagar o dito café ...
Bolas, estava a ver que não saia de lá hoje !
Afinal, vi depois, o tal tipo é autor de um livro qualquer cuja apresentação decorria hoje naquele espaço da FNAC. Aquelas pessoas eram todas fãs ou amigos que o vinham apoiar ... Não sei de que livro se trata, as probabilidades são de que seja uma parvoíce qualquer sem valor de maior. Muito me admiraria se assim não fosse.
É que hoje em dia até o Fernando Tordo é romancista, ele que eu julgava ser músico e cantor !!!
Ainda hei-de ver o Lobo Antunes a cantar ...

segunda-feira, dezembro 01, 2003

A SAGA DOS PINGOS NA COZINHA - III
Chove de novo e o homem da impermeabilização nem deu notícia. Claro, era de prever.
Entretanto, mais alguns pingos fizeram o seu caminho cá para baixo, para a minha cozinha, teimosamente. Acho que vi um sorriso sarcástico em cada pingo e um sonzito baixinho “ihihihi “ ....
Ai, ai ...
Telefonei ao administrador do condomínio. -- Ah, pois é, o pedreiro telefonou-me, é capaz de ir aí esta tarde, depois de almoço ... bem vê, estava a chover !
Como se eu não tivesse reparado que estava a chover. E notem bem : é capaz de ...
Estas expressões tão portuguesas encantam-me. A arte do não-compromisso. Nunca se afirma nada taxativamente. Há sempre umas fórmulas mágicas, sou capaz de passar aí, se calhar eu vou, vamos a ver se consigo ....
Convenhamos : ser português é uma arte complicada. O esforço e imaginação que dedicamos a parecer ser gente responsável e dedicada. A parecer ....
Mas que raio : não seria mais fácil ser mesmo gente responsável e dedicada ??