segunda-feira, dezembro 29, 2003

ESTE ANO DE 2003 FOI HORROROSO
Sejamos claros e frontais : este ano de 2003, prestes a terminar, foi um ano horroroso, no nosso país. Bom, pelo menos foi-o para a minha sensibilidade. Prisioneiro de uma lógica de direita saudosista, incompetente e hipócrita, um governo em que os portugueses não votaram – não estava nas opções de voto o PSD aliar-se à extrema direita, ou estava ? – encetou um furiosíssimo e raivosíssimo ataque a tudo a que neste país cheira a solidário ou mais justo.
Relembremos algumas das iniciativas deste Governo.
Não acabou com o rendimento mínimo garantido porque não conseguiu, ainda assim reduziu o seu âmbito escandalosamente.
Modificou a legislação do trabalho, com o objectivo visível de facilitar a vida ás empresas.
Introduziu o negócio na gestão dos hospitais.
Está a fazer do notariado uma das maiores e mais despudoradas negociatas dos ultimos anos : transfere directamente lucros do Estado avaliados em largas dezenas de milhões de contos para os bolsos de meia dúzia de senhores.
Baixa o IRC às empresas.
Finge ( mal ) que combate a fraude fiscal, embora na verdade a fraude alcance hoje valores inimagináveis há 10 anos atrás.
Em lugar de uma estratégia de minimização da crise mundial, elege como estandarte os 3% para limite máximo do défice público. Nem esse objectivo consegue atingir, de resto, a não ser através de vergonhosas ( para mim ) operações de venda de bens.
Inicia um combate sem tréguas aos funcionários públicos, identificados como os grandes malandros e vigaristas deste país : não os aumenta, dificulta-lhe as reformas e as promoções, ameaça-os com o quadro de adidos e as avaliações.
Afirma que mais funções do Estado deverão ser privatizadas ( leia-se transformadas em negócio ), porque o Estado não tem vocação para elas.
Deixa que a grande corrupção alastre pela sociedade, transformando-se num cancro gigantesco, enquanto a malta se vai distraindo com a Casa Pia e a Moderna.
Tenta criar um clima de contenção e de moralização do aperto do cinto para quem trabalha por conta de outrém, enquanto ao mesmo tempo largos sectores da sociedade , incluindo do sector público, se fazem pagar a níveis superiores aos da Europa, com uma ostentação e diferenciação chocantes, nunca antes vistas neste país.
Permite que o desemprego atinja níveis há muito não vistos entre nós, sem que sequer se vislumbre um esboço de política de emprego.
Em síntese : um Governo tipicamente de direita, mal coordenado, sem objectivos claros e mobilizadores, unido apenas na raiva da destruição e no afã da “negociarização” máxima possível de sectores públicos.
Reconheço que a oposição a estes senhores é hoje fraca e um pouco desnorteada. Não sei nem como nem quando se irá recompor dos golpes que sofreu.
A verdade, porém, é que com este Governo não vamos a lado nenhum. Já não é uma questão de ideologia política, é uma questão de saúde pública.
Tragam-me outros governantes, estes estão estragados, vão acabar por fazer apodrecer o país ...

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