quinta-feira, dezembro 04, 2003

PROBLEMAS DE CIDADANIA PRÁTICA
Há ainda hoje coisas bem dificeis de solucionar no dia a dia da vida em sociedade. Questões teoricamente simples, nada de muito rebuscado.
Querem ver uma ? Em Bragança, os esforços oficiais para obrigar certas crianças à frequência da escolaridade mínima obrigatória ( andam a trabalhar, os pais não querem, etc ... ) , acabaram na formação de uma turma de jovens “fugitivos ao ensino”, com idades entre os 15 e os 18 anos. Os miudos têm um nível de escolaridade muito reduzido para a idade, ficando a par de crianças com 11 ou 12 anos. Acresce que são, na sua maioria, de etnia cigana. Claro. E digo claro porque são os hábitos culturais dos ciganos ( em grande numero em Trás-os-Montes ) a provocar aquela situação de fuga à escola. Neste caso.
A Direcção Regional de Educação do Norte, tentado cumprir a sua missão, decidiu juntar a turma de “fugitivos” na mesma Escola onde andam os tais miudos de 11 e 12 anos ... Tchiiiiiiiiiiii, o que foram fazer ! Reunem-se os pais dos miudos pequenitos e decidem rejeitar a entrada dos mais velhos para a Escola, com o argumento de que irão estragar irremediavelmente o ambiente e trazer sabe-se lá que outros perigos para os mais jovens.
Bom, claro que qualquer sociólogo de bancada gritará logo : ”RACISMO ! É POR SEREM CIGANOS ! ”
E até é capaz de ser mesmo racismo. Na base cultural do racismo ( não estou a falar dos interesses económicos ) sempre existiram elementos de medo à diferença e de ignorância.
Por outro lado, aquelas populações conhecem muito bem os hábitos e comportamentos dos ciganos. E esses comportamentos não estão isentos de ameaças e perigos para putos de 11 anos, pois não ?
Então ? Vamos por um raciocínio simplista, tipo : é racismo, o racismo é mau, logo aqueles pais não têm razão nenhuma ? Ou tentamos ir mais longe e perceber os receios daquelas pessoas, embora sem desistir de dar uma formação mínima aqueles putos mais velhos, a quem nunca ninguém deu muitas chances ?
Como é ? Que tipo de solução ? Sabem , o que é curioso é que estes problemas são MESMO complicados. Por vezes, quando pensamos neles, equacionamos dentro de nós, instintivamente, soluções tipo apharteid, tipo guetos ... para depressa as rejeitarmos, bem depressa, porque todos nós sabemos onde isso nos conduz. Por mais dificil que seja a integração. Mas que dizem vocês ?
Creio que será possível uma integração destes miudos mais desvaforecidos pela sorte em certas Escolas, em conjunto com os outros. Mas também creio que estas iniciativas devem ser conduzidas por gente com muita competência e ainda assim usando de muito cuidado e atenção permanente. Conheço, embora superficialmente, uma iniciativa dessas, com bastante êxito, em Leiria, onde está implicada uma amiga minha. Penso ser matéria onde não existe grande margem para errar. Tudo deverá ser bem preparado, a começar pelo contacto com os pais das crianças mais novas.
Se nenhum destes cuidados existir, se se tentar a integração numa Escola qualquer, com professores sem formação prévia nestas questões e num ambiente que já de si não seja completamente saudável em termos disciplinares ...então, receio bem que seja o fracasso total.
No caso em apreciação, e se bem conheço os portugueses, a Direcção Regional de Educação do Norte ( DREN ) prepara-se ( preparava-se ? ) para “atirar” a turma problemática para a Escola em causa, sem qualquer cuidado nem preocupação...
Então, se assim for, quem deverá ser merecedor de nota negativa ? Os papás, por “racismo” ? A DREN, por falta de cuidado na preparação ? Ambos ?
Aceitam-se palpites, vá !! Digam lá como é que se resolvem problemas destes.

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