segunda-feira, setembro 15, 2008

NÃO HÁ CORRUPÇÃO : HÁ APENAS AMIGOS QUE SE AJUDAM UNS AOS OUTROS, NÉ ?

Vivi intensamente o PREC, de 1974 em diante. Não vou entrar em detalhes,mas vivi-o por dentro. Nessa altura, eramos todos frequentemente confrontados com posições políticas muito radicais, a que chamavamos esquerdistas, denunciando tudo e todos. Para essa gente radical, só existiam em Portugal eles, os puros, e todos os outros eram ou corruptos ou fascistas.
Por formação e carácter, sempre recusei essa abordagem. Também nunca fui grande adepto das teorias conspirativas e dos arautos das desgraças cataclísmicas. Sempre achei que a realidade era, por natureza, moderada e que a percentagem de casos de corrupção e de falta de honestidade eram mínimos.
Pois bem : nestes dias que correm, a pouco e pouco, vou-me sentindo envolto numa atmosfera irreal de manobras sujas, atmosfera quase invisível, dando a ideia de que já ninguém liga muito a estas coisas. Ou que a corrupção e o roubo são coisas comuns que não vale a pena investigar e punir.
Viram aquele caso do burocrata do desporto ( chefe da missão olímpica e tudo !! ) que se amerezendou com uns dois ou três vencimentos, carros e eu sei lá que mais ?
Tchiiiiiiiiiiii, e o desgraçado do sujeito diz que em seu tempo vai esclarecer tudo !
A seu tempo ? E ele é que diz quando é que decide explicar-se ?
Sabem o que eu acho, por vezes ?
Vai sair bronca, já aviso.
Então é assim : á semelhança do que tem vindo a suceder com o consumo de drogas, com a homosexualidade ( e com os casamentos homosexuais) , com a ausência da prisão preventiva, etc ... não me admiro nada, mas mesmo nada, que daqui a alguns anos seja descriminalizada a ... corrupção.
Desde que seja para uso pessoal, bem entendido.
Não acreditam ?

quinta-feira, setembro 11, 2008


OS NOSSOS ORÁCULOS DE DELFOS


Os americanos ( leia-se made in USA ) nem sempre são modelo de comportamento para ninguém. Ou mesmo raramente o são.
Dito isto, note-se como o banco central americano ( o Federal Reserve ) e o Banco Central Europeu ( BCE ) tem tido comportamentos diferentes, com resultados também bem diferentes.
A economia americana apresentava, como a europeia, indicadores de fraco crescimento económico, receios de estagnação ( crescimento nulo ) ou mesmo recessão ( crescimento negativo ), sinais de inflação, sobreendividamento das famílias, forte especulação no imobiliário com o desmonoramento financeiro desse sector. Na Europa, o senhor Trichet, á frente do BCE, fiel como um cão aos estatutos do Banco que mandam privilegiar o controlo da inflação, vá de fazer subir a taxa de juro, uma, duas e mais vezes, estando actualmente nos 4,25%. A ideia é que o alto preço do dinheiro desincentive o consumo ( e o investimento, pergunto eu ? ) e logo, por essa via, faça baixar a inflação. E o senhor persiste nisto há mais de um ano.
Bem, e fez ? A inflação foi contida ?
Não, como se sabe. E a economia ressentiu-se, claro, e sucedem-se as revisões em baixa para o crescimento no espaço europeu.
Alguém se chateou com isto, alguém questionou o sr. Trichet porque é que a sua teimosia está a dar tão maus resultados ?
No outro lado do Atlântico, o Federal Reserve fez exactamente o oposto, baixou corajosa e progressivamente a taxa de juro, embaratecendo o dinheiro. O Governo Federal, numa atitude sem precedentes a esta escala, introduziu no circuito recentemente milhares de milhões de dólares, tomando conta das duas maiores imobiliárias ( financiadoras ) do país.
Resultado : os indicadores económicos nos EUA começaram milagrosamente a recuperar ( enquanto os nossos se afundam ) e a inflação não disparou coisa nenhuma, quedando-se no mesmo patamar.

Então, quem fez melhor o seu papel ?

Moral da história : a economia, como ciência, é uma treta. Nunca vi uma ciência apresentar panaceias diferentes para a mesma situação. E não me venham com a conversa mole dos diferentes objectivos e estatutos dos dois bancos centrais, porque estatutos há muitos e mudam-se quando é preciso. A economia usa e abusa de modelos que me parecem obsoletos para fenómenos como a inflação, o crescimento, a bondade ou não do consumo interno no crescimento, etc ... A realidade, ano após ano, ridiculariza muitos desses modelos, mas os senhores do establishment fingem que não percebem, assobiam para o ar ou para o lado e continuam a dizer e a fazer as mesmas coisas, vezes sem conta.
Quem se lixa, sempre ? Eles não, são muito bons e muito bem bem pagos !

A hipocrisia e o faz de conta são a pior praga dos países desenvolvidos nos nossos dias, não acham ?

quarta-feira, setembro 10, 2008

O ENSINO, AS ESTATÍSTICAS E OS JORNALISTAS E POLÍTICOS

Hoje vieram a lume estatísticas do ensino compiladas pela OCDE. Os nossos jornais, cumprindo a sua missão, desataram a publicar títulos meio escandalizados meio perplexos, porque uma dessas estatísticas revela que em Portugal, o numero total de alunos de todos os níveis de ensino divididos pelo numero total de professores conduz ao valor de 8 alunos por professor, dos mais baixos existentes no espaço da OCDE.
Baralhação total : começaram aí os nossos jornalistas a tecer considerações, espantando-se que esse numero seja tão baixo enquanto que, ao mesmo tempo, o racio do numero de alunos por turma seja tão elevado ! Um deles ( desses jornalistas ) comenta mesmo que tal se poderia entender se os nossos professores trabalhassem pouco, mas um outro indicador divulgado sustenta precisamente o contrário ! Óh espanto ! Óh maravilha das estatística !
Então ? Em que ficamos ? Porque é que então, entre nós, existe um racio tão baixo de alunos por professor ? Há alunos a menos ? Há professores a mais ? Hummm ... que acha, leitor ?
Uma pista ... professores a mais, provavelmente, mas a mais em relação a quê ?
Que tal pensar que, na estrutura do nosso ensino ( e em quase todo o mundo, com excepção dos níveis etários mais baixos no ensino ), a cada disciplina/cadeira corresponde um professor ? E se há professores a mais, muito provavelmente, é porque o numero de disciplinas/cadeiras individualizadas é muito elevado, em média ? Idem para as respectivas cargas horárias semanais ? Que tal fazer as contas por aí ? Numero de disciplinas, carga horária de cada disciplina, numero de horas nos horários dos alunos,etc ... ?
Dito de outra forma mais simples : se o leitor agarrar em duas turmas de alunos, uma nos EUA e outra em Portugal, se a turma americana tiver uma carga horária semanal igual á portuguesa mas com apenas 7 disciplinas, enquanto a portuguesa tem 10 disciplinas, cada uma dessas disciplinas exigindo um professor diferente, em qual dos sistemas é que vão existir mais professores ? Qual dos sistemas dará um racio de menos alunos por professor, hem ? E já reparou, neste exemplo, que a turma americana até poderá ( e tem, por norma ) ter menos alunos que a portuguesa ?

Não seria honesto fazer primeiro essas contas e tentar perceber depois os tais 8 alunos por professor ? É que, se desligarmos esse indicador destes outros valores, ele não vale nada, porque não está relacionado sequer com o numero de alunos que cada professor, em cada momento, tem diante de si ao mesmo tempo para lhes ensinar algo ( a turma ) ...
Nestas coisas como em outras, exige-se seriedade na análise dos valores e não aquilo que se vê neste nosso país que é esgrimir estatísticas para tentar ter razão e atirar poeira aos olhos dos outros. Ou então, ignorância e/ou falta de hábito de raciocinar.

PS : as especulações por mim efectuadas neste comentário NÃO foram precedidas de nenhum estudo sobre a maior ou menor diversidade das matérias existentes nos currículos dos diferentes graus do nosso ensino. É apenas, como dizem os americanos, um “educated guess”, um palpite com o mínimo de ponderação.
Claro que poderíamos igualmente falar na taxa de horas úteis lectivas nos horários dos professores, claro que teríamos também de averiguar quem executa as actividades burocráticas e administrativas nos restantes países da OCDE ( em Portugal, muitas são feitas pelos professores ), claro que ... muitas outras coisas. Mas aposto que aquilo que lhes indico como possível razão é um bom principio de estudo !