quarta-feira, setembro 10, 2008

O ENSINO, AS ESTATÍSTICAS E OS JORNALISTAS E POLÍTICOS

Hoje vieram a lume estatísticas do ensino compiladas pela OCDE. Os nossos jornais, cumprindo a sua missão, desataram a publicar títulos meio escandalizados meio perplexos, porque uma dessas estatísticas revela que em Portugal, o numero total de alunos de todos os níveis de ensino divididos pelo numero total de professores conduz ao valor de 8 alunos por professor, dos mais baixos existentes no espaço da OCDE.
Baralhação total : começaram aí os nossos jornalistas a tecer considerações, espantando-se que esse numero seja tão baixo enquanto que, ao mesmo tempo, o racio do numero de alunos por turma seja tão elevado ! Um deles ( desses jornalistas ) comenta mesmo que tal se poderia entender se os nossos professores trabalhassem pouco, mas um outro indicador divulgado sustenta precisamente o contrário ! Óh espanto ! Óh maravilha das estatística !
Então ? Em que ficamos ? Porque é que então, entre nós, existe um racio tão baixo de alunos por professor ? Há alunos a menos ? Há professores a mais ? Hummm ... que acha, leitor ?
Uma pista ... professores a mais, provavelmente, mas a mais em relação a quê ?
Que tal pensar que, na estrutura do nosso ensino ( e em quase todo o mundo, com excepção dos níveis etários mais baixos no ensino ), a cada disciplina/cadeira corresponde um professor ? E se há professores a mais, muito provavelmente, é porque o numero de disciplinas/cadeiras individualizadas é muito elevado, em média ? Idem para as respectivas cargas horárias semanais ? Que tal fazer as contas por aí ? Numero de disciplinas, carga horária de cada disciplina, numero de horas nos horários dos alunos,etc ... ?
Dito de outra forma mais simples : se o leitor agarrar em duas turmas de alunos, uma nos EUA e outra em Portugal, se a turma americana tiver uma carga horária semanal igual á portuguesa mas com apenas 7 disciplinas, enquanto a portuguesa tem 10 disciplinas, cada uma dessas disciplinas exigindo um professor diferente, em qual dos sistemas é que vão existir mais professores ? Qual dos sistemas dará um racio de menos alunos por professor, hem ? E já reparou, neste exemplo, que a turma americana até poderá ( e tem, por norma ) ter menos alunos que a portuguesa ?

Não seria honesto fazer primeiro essas contas e tentar perceber depois os tais 8 alunos por professor ? É que, se desligarmos esse indicador destes outros valores, ele não vale nada, porque não está relacionado sequer com o numero de alunos que cada professor, em cada momento, tem diante de si ao mesmo tempo para lhes ensinar algo ( a turma ) ...
Nestas coisas como em outras, exige-se seriedade na análise dos valores e não aquilo que se vê neste nosso país que é esgrimir estatísticas para tentar ter razão e atirar poeira aos olhos dos outros. Ou então, ignorância e/ou falta de hábito de raciocinar.

PS : as especulações por mim efectuadas neste comentário NÃO foram precedidas de nenhum estudo sobre a maior ou menor diversidade das matérias existentes nos currículos dos diferentes graus do nosso ensino. É apenas, como dizem os americanos, um “educated guess”, um palpite com o mínimo de ponderação.
Claro que poderíamos igualmente falar na taxa de horas úteis lectivas nos horários dos professores, claro que teríamos também de averiguar quem executa as actividades burocráticas e administrativas nos restantes países da OCDE ( em Portugal, muitas são feitas pelos professores ), claro que ... muitas outras coisas. Mas aposto que aquilo que lhes indico como possível razão é um bom principio de estudo !

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