domingo, outubro 31, 2004

FIM DE TARDE NA TRAFARIA

O Tejo estava hoje rabujento, quezilento, com má cara. O vento encrespava-o em pequenas ondas irrequietas e toda a gente sabe que ele, Tejo, não gosta mesmo nada desse mexe-que-mexe que o desgasta. O céu também não ajudava nada, indeciso entre o cinzento de chumbo e um branco sujo, ambíguo e pouco duradouro.
Ainda assim, fora do conforto do carro, o ar frio soube-me bem, na cara e nas mãos e o cheiro do Tejo inundou-me de reminiscências de outras épocas e outras felicidades. Eram cerca de cinco horas da tarde e a noite já espreitava, esta hora de Inverno é uma chatice tramada !
Enfim, conhecem a Tasquinha do Aires, na Trafaria ? Se não conhecem, deviam conhecer. Nada como uma saladinha de polvo ou uma morcela assada, acompanhada por um vinhito verde tipo turista mas que, assim mesmo, me soube muito bem.
Juntem ao Tejo e à morcela a companhia e a conversa alegre de pessoa amiga e terão um bom fim de tarde na outra margem do Tejo ...
Sabem lá vocês quão precisado eu ando desta frescura do Tejo e de uma risada simples, inconsciente e cúmplice !
Viva a morcela e o vinho verde a martelo da Tasquinha do Aires, caramba !
QUEM PERMITE - OU IMPEDE - O AUTORITARISMO SOMOS NÓS !

Leitor, alguma vez perguntou a si próprio como é que se faz para instalar um regime ditatorial num país qualquer, seja ele a Alemanha de Hitler, a URSS de Estaline, a Itália de Mussolini, a Espanha de Franco ou o Portugal de Salazar ?
Claro, vai-me responder que a força, a repressão, a violência desempenham um papel essencial nessa transformação. O que é verdade.
Mas há aspectos mais importantes a reter. Há circunstâncias que não podem ser escamoteadas, por mais incómodas que possam ser : a verdade é que qualquer ditador se ergue sobre o silêncio, a cobardia e o egoismo da imensa maioria das pessoas. No início destes processos, o ditador não dispõe, regra geral, de força física ou política para amordaçar uma nação inteira. O que faz, então, é identificar alvos parcelares, bem seleccionados e procura eliminá-los, tão silenciosamente quanto possível. Se a reacção for diminuta ou controlável, o candidato a ditador repetirá o processo em relação a outro alvo, com os mesmos pézinhos de lã ...
Entretanto, muitos cidadãos notam essas iniciativas e pode acontecer que encolham os ombros, convencidos que não é nada com eles. Outros calam-se porque pura e simplesmente têm medo e nunca farão nada que afronte o poder. Poder nenhum. Outros ainda resolvem alinhar com o ditador tirocinante, na mira de umas migalhas que vão caindo...
E o ditador em potência continua a sua marcha, cada vez mais forte e impune. E cada vez mais cidadãos se calarão, por medo, egoismo e conveniência. E cada vez mais será dificil a alguém erguer a voz e denunciar o ditador.
Até que, sem se dar por isso, o candidato já não é candidato, é mesmo ditador. Colocou gente da sua confiança nos locais que controlam a opinião pública, distribuiu benesses criteriosamente a pessoas que lhe irão retribuir os favores, intimidou a maior parte da população e fez calar, com maior ou menor violência, os poucos que tentaram desmascará-lo.
Nesta altura, quem disser mal dele é subversivo e traidor á Pátria, está concluido o processo.
Percebido, leitor ? Se é que tinha duvidas quanto a este mecanismo...
Pois bem, qual é a moral da história ?
É muito mais fácil impedir um tiranete de chegar a ditador do que desalojar um ditador encartado. Para impedir essa progressão, basta NÃO FICAR COM MEDO E CONTINUAR SEMPRE A DENUNCIAR TODAS AS TENTATIVAS PARA NOS CALAR.
Por isso, leitor, em toda a parte, no trabalho, no café, no bar ou até ... na cama, seja com quem for que se encontra, não deixe de afirmar a SUA verdade. Mesmo que lhe chamem chato. Mesmo que a voz lhe doa. Mesmo que a pessoa injustamnete perseguida não seja da sua simpatia ou da sua cor política ou do seu partido.
Seja qual for a sua opinião, por favor, NÃO SE DEIXE NUNCA AMEDRONTAR E CALAR !

quinta-feira, outubro 28, 2004

ENTÃO SOMOS TODOS POLÍTICOS, CARAMBA !

Cada vez é mais dificil sentir-me bem nesta cidade onde vivo, esta Lisboa desencantada e desventrada, ou mesmo no meu país, desacreditado, medíocre, estagnado.
Tempos houve em que sonhei, ajudei a reconstruir, vibrei com as esperanças que se abriam. Nesses tempos éramos muitos, homens e mulheres sem sono e sem cupidez, generosos e embriagados de liberdade ... Não sabia ainda, nessa época, que a podridão de espírito custa assim tanto a limpar, que as nódoas são teimosas e aparecem de novo, mal se lhes dá uma aberta, que o fedor da mesquinhez e da corrupção nunca desapareceria completamente das ruas e de muita gente do meu país ...
Agora, nesta fase da minha vida, a raiva e a indignação ainda persistem, é certo, mas mais do que tudo sinto um enorme desalento, um cansaço que vem do fundo da alma e que não vai passar, sei-o bem.
Nós, os portugueses, somos mesmo assim tão pequeninos, tão miseráveis por dentro como aparentamos ? Se não somos, porque nos encarniçamos tanto em parecê-lo ?
Por que motivos singulares andamos décadas – séculos, que digo eu ? – a discutir temas como a saúde, a educação, o crescimento económico, a circulação nas estradas ... tudo, enfim, sem conseguir fazer NADA DE JEITO em nenhum destes domínios ?
Nem com laivos socialistas nem com trejeitos liberais. Aparentemente, a única coisa para que temos algum jeito é para a intriga, a baixa política, a defesa dos interessezinhos e dos tachos...
E não me venham com essa de que os maus são os políticos, esses malandros, cambada de egoístas e outros mimos quejandos ...
Ná, ná, ná, ná ... a questão é bem mais complexa. Ou simples, sei lá.
É que, bem vistas as coisas, então ... somos todos políticos ! Com todos os atributos atrás mencionados ...
O quê ? Ah, bem, você, leitor, abro uma excepção para si, caramba ! Também, há-de escapar alguém, não é ?

terça-feira, outubro 26, 2004


REQUIEM PARA UM AMIGO AMARELO
O meu gato partiu.
O Cenoura foi de viagem para os campos verdes com que sempre sonhou, onde abundam os ratos, gafanhotos e passarinhos que ele nunca conseguiu apanhar por aqui, em minha casa.
O gato amarelo da minha filha, que eu ajudei a criar e que sempre amei, já não está connosco. Desistira de viver, debilitado por uma anemia tremenda que lhe retirara toda a alegria e vivacidade.
Era uma sombra daquele gato brincalhão, de olhos claros e vivos, que nos incitava à brincadeira com sussurrados miaus. Já não vinha ter comigo à mesa de trabalho, por volta da meia-noite, com cabeçadinhas significativas para eu lhe dar comida.
Aos dois anos e pouco, a vida traiu-o . O seu sangue diluiu-se, debilitado por um qualquer virus cruel que nada se interessa por gatos e ainda menos pelos laços profundos que ele tinha estabelecido com os donos.
Sinto-a de novo, a revolta e a angústia. Estou tão farto de perder pessoas e agora companheiros amigos à minha volta ...
Sei que um gato não é uma pessoa, mas a verdade é que foi uma das melhores coisas da minha vida nos ultimos dois anos. Ouvia-me sempre, embora nem sempre concordasse: de vez em quando mostrava-me a sua discordância com uma dentada...
Acho que ainda vou ouvir, por muito tempo, os seus raros miados de prazer ao sol da varanda...
Partiu, o Cenoura. Para sempre. Com ele foi também uma parte da minha vida.
Boas caçadas, amigo, até sempre !

terça-feira, outubro 19, 2004

GARÇAS A DEUS !

Gosto de chuva, já o disse outras vezes. Gosto de chuva, mas assim não ... já vos conto !
Hoje, quando regressava a pé do Colombo para minha casa, o vento atirava-me a água da chuva para as pernas, insistentemente, teimosamente.
Chuva e vento, mistura complicada. Os chapéus viram-se do avesso, a água penetra insidiosamente, as árvores abanam e despejam-nos água em cima...
Então, e no meio desta desventura pluvial, não é que lá estavam elas ? Tranquilas, brancas, paradas, aguardando uma aberta no tempo.
As garças ! As garças do costume, naquela quinta em frente do Colombo de que já vos falei tanta vez. Hoje eram umas doze ou treze, umas gotas de água nos meus olhos não me deixaram contar bem. À chuva, pousadas no chão por entre as ervas, à procura de minhocas ou outra bicharada. Digo eu, sei lá, não conheço muito bem os gostos alimentares das garças.
Pois olhem que as garças não pareciam particularmente impressionadas com a chuva nem com o vento. Também é verdade que todas elas tinham vestido aqueles impermeáveis de penas brancas, e eu não. Mas a questão não é de gabardine, não, é de modelo de vida. Aquelas garças gostam de chuva, não sabem o que é molhar a roupa toda e sentir os pés encharcados.
De onde virão elas ? Do estuário do Tejo, das bandas de Alcochete, onde sei que vivem muitas ?
Como raio é que descobriram que ali há boas minhocas e escaravelhos ?
A verdade é que, graças a elas, as garças, cheguei a casa feliz, apesar de molhado.
Aquelas garças fazem-me sempre bem ao espírito.

domingo, outubro 17, 2004

OS NECRÓFAGOS OPORTUNISTAS

O meu enjôo de ontem foi-se.
Ficou apenas o nojo, uma tremenda repulsa por este bando de necrófagos, aves de rapina oportunistas a quem mão hesitante e imprevidente conduziu ao banquete.
Atiram-se à pouca carne ainda presa aos ossos deste putrefacto país.
Chamam ao festim os amigos, os outros que nem asas têm, hienas de pernas tortas, mandíbulas a tremer e saliva a escorrer pelos beiços bestiais ...
Aprendi que, em democracia, é preciso respeitar as opiniões dos outros. Mas ninguém me preparou para isto, para este golpe da selva palaciana ...Como raio é que deixámos, nós todos, que esta maralha sugadora e esfomeada se chegasse ao festim ?
Como querem que eu respeite as opiniões desta gente ? Sim, como ?? É que, para começar, nem opiniões oiço, apenas sons obscenos do seu mastigar voraz e sem vergonha.
Olho para eles, para os seus cães de fila, e só vejo seres gordos, sebosos, luzidios, inchados de presidências de conselhos de administração e outras prebendas, tão redondos que até os vários cartões de crédito se notam nos femininos peitos, e mesmo assim ainda clamando contra Guterres, a mãe e pai de todos os males.
E eu, que até nunca morri de amores por esse socialista dividido entre o diálogo e a inacção, dou por mim a pensar : bem, pelo menos esse foi mesmo eleito pelos portugueses e nunca notei que tivesse tendências para a necrofagia. Nem tal vi com Cavaco ou com a teimosa Manuela Ferreira Leite, hoje hostilizada pelos seus seguidores de ontem ...
Podem pensar deles próprios o que quiserem, mas a verdade é que Durão Barroso e Jorge Sampaio, entre outros, abandonaram este nosso cadáver à voracidade dos necrófagos !
Agora, temos que ser nós a correr com essa bicharada mal-cheirosa e oportunista.
Vamos a isso ?

sábado, outubro 16, 2004

ANDO TÃO ENJOADO ! ...

Passo muitas vezes por aquilo a que chamo de curas de silêncio. Enjôo-me de falar e de escrever. É como se ficasse doente com a incapacidade de mudar a realidade. Ainda por cima, vivo ( vivemos ) num país de gente que fala e escreve muito ... mas pouco faz. Os pôdres dos portugueses estão cada vez mais a descoberto e, em simultâneo, fala-se e escreve-se cada vez mais...
Vejam o próprio presidente da república : quando foi chamado a agir, nada fez. Porém, agora fala pelos cotovelos, com aquelas frases compridas e inteligentes ( pensa ele, eu penso que se tornam quase inintelegíveis ... ), como se pudesse redimir, pela palavra, a ausência de acção anterior .
Bolas.
Esta semana fiquei calado, portanto. Não da mesma forma que o professor, que o fez ( diz ele ) por razões de educação e de laços de família. Eu fiquei calado apenas por estar enojado com tudo aquilo que se faz hoje em Portugal.
Não é só este governo surrealista e tipo coelho-na-cartola que me provoca este fastio e estes vómitos. São também muitos outros portugueses, vendendo-se e aviltando-se por meia dúzia de eurozitos ...
Não, decididamente os tempos vão maus para quem a corrupção, a vigarice e o interesseirismo fazem mal ao estômago.
Estou agoniado.

domingo, outubro 10, 2004

UM DOMINGO DIFERENTE

Hoje não foi um daqueles domingos de pijama, jornal e televisão. Bem pelo contrário, foi um domingo de surpresas e de sol a brincar por entre as núvens.
Soube-me bem, este domingo de Outono.

Claro que a companhia ajudou. E muito. Gente do norte. Raios de sol, gentis e gráceis.Gotas singulares de amizade nestes aguaceiros precoces e tristonhos. Pessoas simples e povoadas de sonhos, mãos estendidas aos outros.

Manhã ainda cedo, pelos meus parâmetros, e já deambulávamos pelo Museu de Arte Antiga, vasculhando entre pintores portugueses, flamengos, italianos, ourivesaria barroca, cerâmica vaidosa e turistas desengonçados de roteiros nas mãos. Para minha surpresa, o principio sacrossanto do utilizador-pagador não se aplicava hoje, as entradas foram grátis. O dr. Santana Lopes deve andar distraido ou está a preparar o discurso para amanhã, quem sabe ?
O que se calhar também o leitor não sabe é que o Museu das Janelas Verdes tem um pequeno serviço de restaurante no piso inferior, portas abertas para um jardim sobranceiro ao Tejo. Nem o serviço nem o estado de conservação do jardim ganhariam prémio algum, mas o local é simpático e tranquilo, convidando a uma conversa amena e descontraida.
Depois, o Tejo atraiu-nos, convidando-nos para um café, na esplanada do Café In.
Um pouco de vento. Os veleiros aproveitaram e levaram os donos para a água, eram dezenas, enganando o vento, inclinados, mostrando o preto abaixo da linha de água.
A tarde ia a meio quando decidimos uma incursão pelos terrenos de Belém.
Não que o Presidente nos tenha convocado, o chamamento foi mais dos pastéis. Aqueles polvilhados de canela, a besuntar os lábios, mornos e saborosos. Disseram-me que aquela casa vende cerca de 10.000 pastéis daqueles por dia. Imaginam ? Pois bem, hoje venderam 10.008, fiquem a saber !
E assim o domingo se fez sexta ou sábado, dia feliz, contra a rotina. Graças a esses meus novos amigos.
Viva a amizade, abaixo a minha preguiça e a solidão.
Obrigado.

quinta-feira, outubro 07, 2004

SILÊNCIAR A CRÍTICA, ESSA IRRESISTÍVEL TENTAÇÃO !

Sempre pensei – e afirmei – que Jorge Sampaio se iria arrepender da sua decisão de entregar o poder executivo, de mão beijada, a um senhor do género de Santana Lopes.
A realidade recente mostra bem até que ponto aquela decisão foi errada.
Não me lembro, incluindo os velhos tempos de Salazar e Caetano, de ver um primeiro-ministro tão pateticamente à deriva e tão flagrantemente desajustado ás necessidades do nosso País.
Claro que, contrariamente a Salazar e mesmo Caetano, Santana Lopes tem contra si um facto simples mas terrivelmente letal : a liberdade de informação, na imprensa, rádio e televisão. E nos blogues, já agora.
É isto que o faz surgir aos olhos do público tão manifestamente incompetente.
Logo, este é um assunto vital para ele : o controlo, ou pelo menos o apaziguamento, da informação. A emissão de imagens favoráveis.
A estratégia tem vindo a ser levada á prática, de uma forma sorrateira mas visível. Primeiro, a formação daquela “central” de “propaganda”, ao nível da estrutura do governo, com a dignidade de uma direcção-geral. Depois, pela colocação á cabeça do grupo PT Multimédia, de um nome como Luís Delgado, um homem em tempos jornalista que a certa altura se decidiu por outros vôos bem mais lucrativos. Em seguida, algumas medidas avulsas mas concertadas com as anteriores : o silenciar de vozes influentes e com grande audição como Marcelo Rebelo de Sousa ou Pacheco Pereira. .
Começou pelo primeiro. Há uns dias, a JSD do Porto desencadeou as hostilidades. Podia parecer algo desgarrado e espontâneo, mas não era : seguiu-se um discurso bafiento e ressumando a ódio de um senhor ministro deste governo, cujo nome eu não conhecia nem quero conhecer.
O sujeito deu um show de ignorância, raiva, despeito e autoritarismo que eu julgava ser impossível nestes tempos. Ouvia-o e ouvia ao mesmo tempo Moreira Baptista, ministro da propaganda de Salazar, a vociferar contra os comunistas e outros traidores a Portugal. Nos olhos do homenzinho cintilavam chispas de ódio que nem sequer se deu ao trabalho de disfarçar. A bílis corria-lhe dos beiços...
Foi tudo ? Não ...
Vem depois aquele senhor de inefável elegância, o administrador da TVI, o sr. Paes ( com “e” ) de Amaral ( ou “do” ?? ), aconselhar Marcelo a ... enfim.... conter-se um pouco mais. Não seria preciso muito, só para não dar azo ao Governo a inviabilizar uns negócios em que a TVI anda metida. Claro, compreende, Marcelo ?
Marcelo não quis compreender, que coisa ....
O ministro que vomitou a bilis ( a pedido, claro ) vem a público afirmar que nunca quiseram calar Marcelo ( é verdade, queriam era vê-lo a dizer bem deles ... ), o primeiro-ministro reclama-se de um pluralismo a toda a prova – embora ache que o contraditório é que é bom , ehehehehe – o presidente da república chama Marcelo a Belém ... enfim, é vê-los numa azáfama tremenda para remediar o que está mal.
Quando teria sido tão simples.
Quando ainda pode ser tão simples.
Como ? Apenas isto : reconhecer que homens que são apenas invenções mediáticas, sombras da noite lisboeta, seres pusilânimes e voluntaristas que de manhã decidem um túnel e à tarde acabar com uma refinaria, homens cuja preocupação é arranjar um forte á beira mar para passar uns tempos com a família ou contratar assessores de imagem para “dourar” a embalagem e levar os portugueses a comer-lhe nas mãos ... reconhecer que homens desses nunca deveriam chegar a primeiro-ministro de Portugal.
Como quase todos hoje estão a ver.
Espero que o sr. Presidente da República esteja dentro desse grupo, dos que estão a ver, e aja em conformidade.
Por mim, até podem colocar o sr. Santana Lopes ao lado da ex-ministra Cardona. Afinal, o serviço público deve ser recompensado, não é ?

quarta-feira, outubro 06, 2004

VIDAS A PRAZO

A vida é, de facto, um contrato a prazo incerto. A minha e a do meu gato.
Há dois dias, quando fui ao veterinário pela 2ª vez numa semana por causa do “Cenoura”, as novidades não foram nada boas. Mesmo nada.
A minha filha e eu passámos lá um bom par de horas, o veterinário muito simpático a fazer análises sobre análises, e finalmente um diagnóstico : o bicho parece que é positivo na análise à FeLV ( que eu desconhecia ) e que é nem mais nem menos que ... leucemia felina.
Raio, até o nome assusta. Ficámos devastados.
O bichano ficou a soro, levou um antibiótico e mais um anti-inflamatório, ia pondo em pânico toda a gente na clínica com o seu génio de pequena fera e finalmente lá o trouxemos de volta para casa, esbaforido, assustado e um tanto ou quanto sujo. Quem é que na clínica conseguia lavar um leopardo daqueles ?
Bem, a FeLV é um vírus assustador para qualquer dono de gato. Não há cura, apenas há uma vacina contra isso, que ele até tinha : cremos que já tinha o vírus quando foi vacinado, proveniente da mãe.
Que fazer, agora ? A esperança de vida do bichano reduziu-se significativamente : pode durar meses, um ano ou três, mas não muito mais que isso... Como é que se lida com uma amizade a prazo ?
Primeiro, fiquei muito triste e em baixo, agora interiorizei e tenho certezas : tudo será igual para o futuro. Vou continuar a dedicar a mesma amizade que sempre tive ao Cenoura, até mesmo mais, sem pensar que um destes dias ela será interrompida. Vou olhar para ele como sempre. Que se dane o vírus e mais a análise fatal. Não sucedeu nada, o mais certo é o Cenoura ainda cá andar quando eu já tiver partido há muito ...
Afinal, não é esse mesmo mecanismo que usamos para com um ser humano ? Afinal, não são as nossas vidas, todas elas, um contrato a prazo incerto ?
Felizmente, fosse porque fosse, pouco depois de chegar a casa o bicho começou a mostrar o regresso do seu apetite normal ( que é muito, tipo Garfield ) e iniciou uma metódica "destruição" de comida, como quem precisa de recuperar o tempo perdido ! É completamente pateta, eu sei, mas eu e a minha filha entreolhámo-nos, quando vimos o bicho assim, e havia lágrimas nos olhos de ambos.
Lá se vai a minha imagem de duro ...
Bem, e é assim, agora : temos o Cenoura de volta, a sua alegria habitual quase recuperada, a par do seu apetite ...
Ele não sabe que é FeLV positivo, ignora que as suas defesas contra infecções oportunistas são muito reduzidas ... mas não vou ser eu a dizer-lhe, prometo-vos.
Há-de ser nosso amigo e ter a nossa amizade até ao fim. Até ao fim dele ... ou ao meu. Exactamente o mesmo que eu desejo que os meus amigos e amigas façam comigo.
Imitando Manuel Alegre, quanto ao seu cão, apetece-me dizer : Cenoura, um gato como nós !

domingo, outubro 03, 2004

COITADO DO MEU GATO !
É domingo, passa do meio dia e acordei com a neura habitual dos domingos. Ando preocupado com o meu gato amarelo, vejam lá, não come nada há cinco dias penso que por causa daquela história de engolir os pêlos quando se lava. Foi, pelo menos, a sugestão do veterinário. Portanto, logo que me levantei, fui dar-lhe daquela espécie de pasta dos dentes com cheiro horroroso ( e sabor a avaliar pelas contorsões do bicho ! ) que é suposta facilitar-lhe a expulsão dos pêlos. Veremos, mas o bicho anda com um ar infeliz que se farta, olhos doridos, movimentos lentos e inseguros e eu sinto-me mal e impotente.
Enfim, como dirão logo algumas pessoas, certamente muito piedosas, seria muito pior se fosse um ser humano. Como se a nossa afectividade tivesse de ser orientada e graduada de acordo com classificações e taxonomias ... Pois eu proclamo alto e bom som : gosto muito mais do meu gato que de certos seres humanos aberrantes, cretinos, vigaristas e desonestos que por aí andam, disfarçados de seres pensantes. E, para além disso, o meu gato é bem mais bonito que essa gente. Não é, digam lá ?
Bem, não sei bem que fazer, agora. Tomar um banho e ir almoçar fora ? Ficar por aqui a preguiçar, comendo uma sandes de carne assada ? Pondero os prós e os contras : que ganho eu em sair ? Vejo pessoas, uma réstea de sol, um pouco do Mundo, é verdade. Mas isso gastaria as poucas energias que tenho hoje. Hoje acordei velho, está tudo dito, vou ficar em casa. Só mais logo sairei da toca, para uma bica no meu café.
Passem bem.