domingo, maio 16, 2004

AINDA ESTE NOSSO EXCELENTE ENSINO

Diz o povo que não há pior cego que aquele que não quer ver.
Ai, ai ... que lhes havemos de fazer, aos profissionais do ensino ? Andam há tantos anos ofuscados e deslumbrados pelas promessas de um maravilhoso mundo novo que ainda não viram o lindo resultado a que essas miragens conduziram o ensino nos ultimos anos.
Será assim tão dificil compreender que, seja como for, os modelos que têm sido experimentados NÃO FUNCIONAM ?
Ouviram ? NÃO FUNCIONAM !!!!!!!!!!!!!!!!!
Quando algo não funciona, há que procurar as causas e inflectir, não é ? Porque insistem em jogos de palavras ? Porque tornam complicado aquilo que não o é assim tanto ? Que necessidade atávica têm de usar conceitos grandiosos e frases cabalísticas ( de resto de validade bem duvidosas ) para teorizarem .... não sei bem o quê, só se for para explicar o desastre onde nos atolámos todos.
E é sempre assim. Se o Governo mudar ( não é se, é quando ) aparecerão mais uns iluminados e iluminadas a mudar curriculos ( ou devo dizer curricula, para ser mais erudito ? ? ) , programas, sei lá eu mais o quê ?
Percebem ?
Ninguém se interessa pelo ensino, interessam-se é por eles mesmos, pela sua afirmação pessoal, pela tentativa de imprimirem o seu cunho pessoal.
Tristeza ....
Depois, oiço sempre a frase de um milhão de euros, a frase miraculosa que fará calar os opositores, reduzindo-os à categoria de fósseis ainda por cima conservadores e de costela totalitária : a escola de ontem morreu, não voltará a ser a mesma ...
Ehehehe ... como se alguém, aqui este escriba incluido, pretendesse ressuscitar a escola de ontem !
O que eu quero, isso sim, é uma Escola que funcione, onde os alunos aprendam ( têm um pavor desta palavra tremendo, não têm ? ), seja conhecimento, seja atitudes, e donde não saiam permanentemente fraudes totais, em percentagens escandalosas .... com a excepção dos alunos dedicados a Medicina que, de repente, passaram todos a ter médias de 20 !! Ehehehehe ... isto é um gozo pegado, e eles não vêem !
Bom, sejamos mais claros. Eu sou adepto de visitas de estudo ( fiz algumas por iniciativa minha e proporcionei outras, do outro lado, como entidade visitada ), acho que os jovens devem aprender conceitos de cidadania, piano, música, código da estrada e essas coisas todas. Não é aí que está o busilis, pois não ?
O problema está no Português, kd x + pobre ( né ? ), na Matemática, na Filosofia, no domínio das ferramentas básicas da estruturação mental, na posse dos conceitos indispensáveis ao raciocínio, meu Deus ....
Até quando vamos a andar a enganarmo-nos uns aos outros ?
Ou será que ESTA escola, esta nossa escola de miséria e de ignorância é que É, VERDADEIRAMENTE, a Escola de HOJE e de AMANHÃ ?

segunda-feira, maio 10, 2004

O meu ultimo texto mereceu o seguinte comentário de uma amiga minha, de resto professora experimentada e com êxitos averbados na sua carreira.
Cito :
“Hoje em dia, é convicção geral que a aprendizagem depende, antes de mais, da actividade do aluno. E se assim é, isso obriga a redefinir o papel do professor. Assim sendo, não faz qualquer sentido uma perspectiva que continue a encarar o trabalho dos docentes como o de distribuidores exclusivos do saber. Qualquer docente tem de saber assumir-se essencialmente como criador de situações de aprendizagem e como organizador de trabalho escolar. O discurso magistral tem de ceder lugar a um saber construído interactivamente através de uma actividade disciplinada, com regras comumente assumidas e estabelecidas e que justifique, verdadeiramente, a designação de trabalho.”

Leram ? Concordam ?
Também eu.

E, contudo, não vos sei bem explicar porquê, foi sempre assim desde que o 25ABRIL levantou a tampa do caldeirão : no sector da Educação, nunca duas pessoas concordaram com nada, houve sempre a tentação de transportar para o interior do sector as realidades e análises da vida política circundante. Desta forma, todo o ensino que existia foi apelidado de autoritário, fascista, elitista, magister dixit, eu sei lá. E não era ? Era um pouco disso tudo, sim, mas era também outra coisa : um sistema profundamente testado pelo tempo e do conhecimento de todos os agentes de ensino, quase de olhos fechados. O numero de alunos abrangidos era ínfimo ( aí sim, aí é que residia o essencial NEGATIVO do seu carácter elitista, não nos programas nem na relação professor-aluno, mas enfim ... ) o que permitia uma grande eficácia no seu funcionamento.
O 25ABRIL destapou, como já disse, o caldeirão. Tudo foi posto em causa. Programas, métodos, formas de acesso, professores ... a palavra de ordem foi abater, destruir. E foi isso que sucedeu, note-se. A relação professor-aluno foi destruida, “fascista” que era, e em seu lugar apareceu ... nada, apareceu um granel incomensurável, o vazio total de autoridade, como se sabe. E é óbvio que, numa situação caótica, não há programa nem método que resultem ....
Contudo, sabem o que suedeu então ? Vindos das profundezas de uns vagos mestrados em Ciências da Educação tirados não sei bem onde, uma pleiade de arautos ( arautas, tb ! ) dos novos métodos invadiram o Ministério, chateando o juízo a quem os queria ouvir : que nada, que era preciso centrar o ensino no aluno, que a criatividade assim e assado, que era preciso destruir o ar magistral do ensino, que as criancinhas sabiam muito bem como queriam aprender, etc..etc ...
E tumba, saía reforma.
O pior é que mudava o Governo ou os funcionários superiores do Ministério e tumba, os outros eram uns estúpidos e eles é que sabiam, vá de fazer outra reforma.
Entretanto, como traço comum a todas estas reformas, aquilo a que eu chamo a política da cobardia pedagógica : era preciso fazer coisas cada vez mais atraentes, era preciso que os programas pudessem competir com os jogos de computador, o objectivo era o ensino sem dor, a aprendizagem alegre, tudo numa boa sem qualquer tipo de trabalho ou suor ...
E o mito do bom aluno ganhava raízes, como já anos antes ganhara o do bom selvagem. Os homens tendem muito a esquecer, sabem ? A verdade é que o ambiente nas nossas Escolas era e ainda é , em muitos casos, o do encontrão de alunos aos professores nos corredores ... o medo dos professores de verem os seus carros riscados, a subserviência perante alunos cretinóides que ameaçam bater em professores e os apelidam de filhos da puta, em plena aula e nas calmas, sem que nem sequer uma repreensão mereçam em seguida ... E se julgam que minto ou exagero é porque, de facto, nunca viram uma Escola nos dias de hoje. Eu vi e trabalhei numa, pelo menos.
Resultado de tudo isto : os alunos acabaram por fazer aquilo que é o seu interesse imediato, ou seja fugir ao trabalho e dedicarem-se aos shots do Bairro Alto, com a complacência dos papás e dos senhores professores, ambos absolvidos pelos pedagogos da liberdade no ensino.
( exceptuam-se sempre aqueles alunos que são sempre bons alunos seja qual for a tormenta, claro )
E depois ?
Bem, quando me falam em interactividade, fico com os cabelos em pé. Percebem porquê ?
Hoje entende-se que a aprendizagem depende essencialmente da actividade do aluno .... diz-me a minha querida amiga.
E quando é que não era assim ?
Precisamente por se saber que dependia em muito da atitude do aluno é que , sabiamente, se criavam mecanismos para incentivar e controlar essa atitude. Desde trabalhos para casa até aos exames nacionais obrigatórios, passando pelas chamadas, perguntas para o lugar, etc ...
Hoje, toda esta panóplia de armas do professor está posta em causa. São armas fascistas que ameaçam ou a liberdade dos alunos ou o seu tempo livre, tadinhos ...
Então, como vamos criar neles essa atitude ?
Reune-te com os teus colegas e discute o conceito de batata ? Ehehehe, esta é màzinha, não é ?
Ou vamos todos discutir em conjunto e escolher o tema da aula de hoje ?
Ou quem acha que se não devia aprender Matemática ?
Ai meu Deus, que grandes confusões e buracos Abril abriu ...
Já longo este solilóquio, ainda lhe junto mais estas farpas, dirigidas a ninguém em especial, apenas a todos nós que somos sempre tão prontos a aderir a todas as coisas novas :

1º) o discurso magistral conduziu a resultados práticos incomparavelmente superiores aos actuais, em termos de eficácia e até de eficiência. A sua não aplicabilidade, nos dias de hoje, deriva mais da sua não adequação “democrática” que da falta de eficácia técnica.
O autor, e muita gente ainda como ele, foi “vítima” desse tipo de ensino e a verdade é que aprendeu. E nem sequer recorda os seus professores como algo distante e “magistral”.

2º) por oposição ao discurso magistral criou-se hoje um discurso quase que maliciosamente inverso, em que, em nome da “interactividade”, aqueles que sabem se diluem na sala de aula, em detrimento daqueles que não percebem patavina da matéria. Lindo. Casos conheço em que a sala de aulas parece uma miniatura da Assembleia da Republica, que, como se sabe, é o paradigma do saber e da eficácia.

3º) toda a gente ligada ao Ensino parece ( curiosamente ) mais interessada na discussão e na experimentação de pedagogias, didácticas, filosofias, etc... que em resultados concretos no sector onde trabalham.

4º) a questão do magistral versus interactividade, bem como da memória versus a sua recusa ( pelos mesmos motivos ideológicos, a negação da autoridade ) conduziram a situações caricatas, como a de alunos de engenharia, entrevistados á porta do IST, evidenciando o seu desconhecimento quanto ao resultado de 8 vezes 9 ...

5º) abandonar um qualquer método estabilizado sem que um outro o substitua, funcionando igualmente de uma forma suave e oleada, resulta em desastre certo.
Toda esta gente ( gente competente e dedicada, na sua maioria ) parece ter esquecido a velha mas sempre infalível verdade : é preferível um mau método que funcione bem, e ao qual toda a gente esteja adaptada, que um método excelente que não funcione minimamente, por ser pouco familiar aos agentes de ensino ou por não existirem condições exteriores que o viabilizem.

6º) Se persistirem objecções ideológicas ou outras a um método que prefira a eficácia à “interactividade”, então que se declare o estado de sítio no ensino. A calamidade bem o merece, e , nesse caso, como se sabe, os direitos e liberdades sofrem algumas restricções em nome do bem comum. Assim se faça, é preciso que a nossa malta comece a saber alguma coisa de jeito, caraças. Mesmo que seja através de métodos magistrais, ditatoriais ou outros que tais.

Que me desculpe a minha amiga este desabafo. As ideias que defende estarão correctas, são generosas, mas talvez não sejam aplicáveis a um “tempo de guerra” como o que se vive no ensino... e a verdade é que os ultimos vinte ou trinta anos no ensino em Portugal foram catastróficos. E ela é uma das que bem o sabem e contra isso lutam no dia a dia.
Apesar de tudo, como sempre assim foi, que cada um faça como quiser ... mas, repetindo a minha divisa criada há dias : ENSINEM, PORRA !!
Quanto aos senhores alunos, interactivos ou estáticos, ESTUDEM, CARAGO !!
Por ultimo, quanto aos papás ... ah, estes nossos seráficos papás : SEJAM PAIS, CARAMBA !

Não sei dizer mais nada, esgotei-me.
Também não admira, sou fruto de um ensino magistral e com laivos fascistas, a imaginação não é o meu forte.

sábado, maio 08, 2004

A APOSTA NA EDUCAÇÃO É UM IMPERATIVO DE TODOS ! URGENTE !

“As escolas não podem viver na permanente expectativa de uma nova lei, de uma nova reforma, de um novo currículo, de um novo modelo de gestão»
Jorge Sampaio, Presidente da República, declarações feitas hoje na Fundação de Serralves

Pois é. É isso mesmo e muito mais. De repente, descobrimos que os novos 10 países que vieram juntar-se a nós na Europa têm, todos eles, índices de literacia melhores que os nossos. Todos.
E mais : descobrimos, de repente também, que por este andar nos tornámos um país de ignorantes chapados que não sabem nada, não produzem nada e apenas gostam de comer, ver futebol, apanhar sol e fazer sexo. Actividades atraentes e altamente motivadoras, diga-se. O mal está em que, no mundo moderno, para se poder fazer essas coisas é preciso um pouco mais que ler mal e atabalhoadamente e dizer que 3 vezes 9 são 29...

Et voilá. E agora ? Como é que vamos inverter esta trapalhice completa ? Não vai ser nada fácil, não ...

Eis a minha sugestão :

1. Os partidos do Governo e da oposição devem atingir uma plataforma de entendimento mínimo quanto a este objectivo e assumir o compromisso solene de não utilizar a educação no combate político nem mudar as regras do jogo do sistema educacional num período de 10 (? ) anos, salvo consenso em contrário.

2. Toda a gente – MAS MESMO TODA, HEM ? – deve reconhecer que este é um assunto VITAL e INADIÁVEL. A questão começa por se jogar em casa, com pais que saibam ser pais e filhos a trabalhar e não apenas “numa boa”, em jogos de computador, internet e saídas até às quinhentas com 15 anos de idade !!!
O maior problema do insucesso na educação COMEÇA EM CASA, gaita ! É assim tão dificil perceber isto ? Deixamos os meninos fazer o que querem, nunca os disciplinamos, obrigamos, estimulamos, o que quiserem ... e depois queremos que os professores façam maravilhas de uma matéria-prima completamente estragada ??

3. Utilizam-se os currículos actuais. Ninguém altera mais nada.

4. Os senhores professores e professoras vão convencer-se, de uma vez por todas, que o seu papel é o de ensinar e não o de andar por aí a inventar uns vagos e poéticos “projectos” que outro objectivo não tem que fugir ao trabalho pesado e ingrato de ensinar. Deixem-se de “áreas escolas” e de outras patetices quejandas. Ensinem Português, Matemática, Física, Literatura, Línguas, Informática, o que quiserem, mas ensinem, por Deus. Até mesmo coisas como Ética, Civismo, etc ...
Não façam tanta reunião sem propósito nem eficácia, não divinizem tanto os paizinhos patetas que vão refilar às Escolas, não fujam tanto aos seus deveres nem os remetam para os pobres contratados, não discutam tanto as pseudo-justificações sócio-psicológicas para o insucesso escolar, não inventem tantos estratagemas para não dar aulas .... ENSINEM, porra ! E percebam que, para poder ENSINAR, é preciso paz e tranquilidade nas Escolas e evitar a demagogia de que os alunos é que são o centro do ensino ...

5. Os senhores Ministros, Secretários de Estado, Directores-Gerais e Regionais da área da Educação devem ser escolhidos SEMPRE por consenso na Assembleia da República e ser personalidades à “antiga portuguesa” : sabedores, empenhados, HONESTOS, dotados de grande ÉTICA PROFISSIONAL e POLÌTICA.
A eles recomendaríamos que deixem as Escolas funcionar, preocupem-se mais em dar-lhes meios e condições, promovam uma grande campanha motivadora de introdução de paz e tranquilidade nas Escolas, restituam aos professores a sua dignidade perdida e sejam com eles exigentes, em seguida.


Pensam que seria dificil ? Ahahahaha .... sabem que eu acredito que até seria fácil ? O que falta é a nossa VONTADE COLECTIVA !
Como sempre. Como Povo, somos medíocres, não sabemos funcionar em conjunto para grandes objectivos. Os exemplos da Expo e do Euro 2004 não servem, nem deviam ser para aqui chamados : estou a referir-me a grandes objectvos colectivos de um povo, não a ideias de meia dúzia de entusiastas sabiamente aproveitadas por empreiteiros civis e sociedades de promoção imobilária.
É preciso não confundir.
VAMOS À EDUCAÇÃO ?

quinta-feira, maio 06, 2004

INCAPACIDADE É ADMISSÍVEL ; FALTA DE VERGONHA, NÃO !

Estão a par da inacreditável trapalhada em que se transformou a fase inicial do concurso de professores para 2004-2005 ?
Sabem o que é estranho, mesmo estranhíssimo neste caso, em meu entender ? A atitude do Ministério, a insistência no erro ( já nas colocações do ano lectivo em curso os erros tinham sido tremendos ) , a leviandade com que se desdramatiza e desculpa uma incompetência aflitiva, a incapacidade política de resolver a situação, como se de uma catástrofe natural e inevitável se tratasse.
Já o inefável Ministro da Administração Interna veio, um dia destes, com a mesma doutrina : avisou o País que, se ocorrerem neste Verão as mesmas condições negativas do ano passado, tudo voltará a ser o mesmo ...
Ou seja, em palavras simples para todos perceberem : eles, esses Ministros, declaram-se incapazes de resolver ou de, pelo menos, minorar, estes problemas nos seus Ministérios.
Muito bem, até admito que isso é humano, ninguém os obriga a saber orientar as soluções.
Nesse caso, porém, como é que têm a lata suprema de continuar a receber todos os meses aquilo que lhes pagamos ( nós, os portugueses ) para servir a coisa pública ?
Que falta de vergonha inexplicável tomou conta dos seus actos ? Foram apresentar a demissão ao sr. Primeiro-Ministro e ele não consentiu na sua saída ? Ou nem sequer levantaram o problema e o Dr. Durão Barroso assobia para o ar, fingindo que não vê e não sabe de nada ?
Seja como fôr, há falta de ética pessoal ou excesso de tácticas partidárias para minizar danos no Governo. Eu, e o resto dos “condóminos” deste nosso país é que não queremos saber dessas questões, e devíamos ser tratados com mais consideração.
Há, de certeza, neste nosso cantinho quem seja capaz de fazer melhor que aqueles dois senhores, tanto na preparação do concurso dos professores como no combate aos incêndios. E, afinal, temos o direito de esperar que os problemas sejam resolvidos.
Estou-me nas tintas para os partidos políticos, se estes apenas se preocuparem consigo mesmos em vez de se preocuparem connosco.
Francamente, acho que um pouco mais de vergonha e de ética da responsabilidade a nível político seria MUITO desejável ...

terça-feira, maio 04, 2004

OS PORTUGUESES E O AMOR AO PORMENOR

Nós, os portugueses, somos assim.
Somos repentistas, improvisadores, desleixados, preguiçosos.
Temos um ódio visceral ao detalhe, ao estudo, à preparação do pormenor.
Falta-nos a paciência, o espírito de rigor.
Odiamos a matemática, adoramos o paleio gratuito.
Para nós, as coisas vão sempre correr bem, porque haveria de não ser assim ?
Para quê identificar as prováveis causas de erro e tomar medidas de antemão ? Se algo de menos bom acontecer, logo se resolve em cima do acontecimento.
Essas coisas de estudar os detalhes são para os povos do Norte, não habituados ao desenrascanço como nós. Nós não precisamos disso.

Segurança no Euro 2004 ? Concursos de Professores bem conduzidos ? Processos judiciais bem preparados e conduzidos ? Obras de construção civil bem projectadas, orçamentadas e sem derrapagens monstras nos custos ? Expo 98 sem esqueletos escondidos ? Futebol sem escândalos e corrupção ?

Quem pensar que pode responder sim a uma única das perguntas anteriores, não é português. Ou é mas nunca viveu em Portugal. Ou anda muito distraído.

A estas características do português comum, já de si nada recomendáveis, juntaram-se ultimamente algumas outras ainda piores.
Se for possível arranjar “algum” por fora, no exercicio da minha profissão ou através do poder que possuo, porque não ? Sou algum parvo ou quê ? Todos os meus conhecidos o fazem ... e se precisar de mentir e vigarizar para isso, qual é o problema ?

Beeeemmmm... nem sei que dizer. Odeio a maneira de ser lusitana, essa é a verdade. Nunca morri de amores pelos alemães ou pelos suecos, mas invejo o seu espírito, a sua determinação, a sua vontade de fazer tudo sem erros, tão perfeito quanto possível.

Será que amor ao pormenor e ao rigor naquilo que se faz é indissociável do frio e da falta de imaginação e alegria ? O nosso desleixo, apatia e desinteresse pela qualidade é o preço a pagar pela nossa exuberância, alegria, humor, gosto pela mesa e pelas coisas boas da vida ?
Recuso-me a acreditar nisso.
Penso que somos assim, mauzinhos naquilo que fazemos e desleixadinhos, porque nunca ninguém foi capaz de nos envergonhar suficientemente, porque nunca nenhum político soube ou quis promover os valores do rigor e da qualidade, porque nunca nenhum português acreditou que seriamos capazes de ser diferentes.
No fundo, no fundo, não serão estas características que explicam a miséria da nossa vida económica ?
Quem é que, na Europa ou no Mundo, compraria um automóvel construido pelos portugueses, oriundo de uma fábrica gerida por portugueses com normas de qualidade portuguesas ? ( Auto-Europas não valem ... ) Ou uma casa ? Ou seja o que for ?
É isso, é.
A miséria da nossa vida deriva directamente da nossa incapacidade de rigor e de amor ao pormenor e à qualidade do que fazemos.