terça-feira, janeiro 31, 2012

A ERA DAS AGENDAS ESCONDIDAS

Nunca fui adepto das teorias da conspiração. Nunca admiti que o Mundo fosse efectivamente regulado ou planeado por organizações secretas tipo Opus Dei, Maçonaria ou Bilderberg Club. Não sou nenhum ingénuo, sou antes muito pragmático e cartesiano.
Porém, nos últimos tempos, começo a pensar que há muitos factos que só podem ser explicados se as pessoas envolvidas tiverem objectivos diferentes dos declarados.
Não concordam ? Querem que aclare a ideia ? Então vamos lá.

Facto nº 1 - a crise na Europa tem vindo a piorar sempre, nos dois ultimos anos. Para qualquer observador atento, a discrepância é total entre as medidas que a srª Merkel "inventa" para a Europa e aquelas que seriam indispensáveis ao combate eficaz à crise. Toda a gente diz que assim não vamos lá ...

Interpretação nº 1 - não sendo a srª Merkel estúpida, nem a restante classe política da Alemanha, não sendo a história alemã propriamente uma história da Branca de Neve em relação ao resto da Europa, teremos então de admitir que os objectivos da Alemanha não são apenas os da defesa do euro e da ajuda à recuperação da Europa. Claro que não, a Alemanha tem, quase de certeza, uma agenda escondida para esta situação da Europa. E essa agenda não é, seguramente, o reforço da autonomia e independência económica dos velhos países soberanos da Europa. Apostaria que é exactamente o oposto.

Facto nº 2 - em Portugal, as medidas exageradas de austeridade impostas pelo Governo estão a destruir rapidamente os frágeis equilíbrios económicos do nosso país. Sem expectativas, sem esperança, corroídos por um sentido enorme de injustiça e desigualdade de tratamento, os portugueses estão a perder a coesão nacional e a não acreditar no futuro do país.

Interpretação nº 2 - os membros do Governo, apesar da inexperiência e leviandade, não são pessoas estúpidas, estão a ver o que acima descrevi. Então porque insistem ? A resposta só pode ser porque a sua preocupação primeira não é o combate à crise, nem sair dela o mais depressa possível. Neste caso, a agenda escondida é a destruição do estado social e a criação de uma sociedade toda virada para o investimento privado, em todas as áreas sociais e económicas. No meu entender, é esse o verdadeiro e não confessado objectivo do actual Governo.

Escuso-me de apresentar mais exemplos. Vivemos de fato uma era de mistificação, de intenções camufladas, de objectivos escondidos.
Ou então, todas estas pessoas no poder, tanto na Europa como em Portugal, não passam de aprendizes de feiticeiro, muito, muito incompetentes...
Eu não apostaria nessa explicação.
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domingo, janeiro 29, 2012

É ESTE O SNS QUE PASSOS COELHO DESEJA ?

Leitor, tenha paciência, peço-lhe, e leia a carta que segue abaixo, sobre a odisseia de uma senhora em defesa da saúde de sua mãe, no enquadramento actual do SNS.
É algo ... aviltante, indigno, indecente, que só me dá vontade de bater em alguém.
Leia, leitor. E sobretudo, não vá em cantigas : isto pouco tem a ver com a falta de dinheiro. Isto tem a ver, sobretudo, e na minha opinião, com o projecto encapotado e subreptício de destruir os alicerces do SNS, da Escola Pública e de muitas mais coisas.
Não o canso mais, leitor : leia a carta da senhora ao Ministro da Saúde.

Excelentíssimo Senhor Ministro da Saúde

Maria Leonor de Moura Ventura Furtado, filha de Maria da Ascensão Moura , na sequência do falecimento de sua Mãe, ocorrida no dia 7 do mês corrente, após dias de sofrimento atroz e de cerca de 3 meses de diligências inacreditáveis e que julga de todo inaceitáveis, reveladoras da descoordenação, desinteresse, falta de apoio e insensibilidade, em especial por parte de clínicos do IPO, vem expôr para conhecimento e apreciação de V. Excelência o seguinte:
A minha Mãe, Maria da Ascensão Moura, com processo clínico nº 486 089 do IPO, era doente daquele Instituto há mais de 30 anos, tendo ali sido operada a um pequeno tumor num seio em 1993. Na sequência da operação continuou a ser ali assistida regularmente até 17/04/2009, data em que o médico assistente lhe deu alta, passando a ser acompanhada pelo médico de família. Caso viesse a haver agravamento da situação anterior, deveria voltar ao IPO onde também continuou, até mais recentemente, a fazer tratamentos de fisioterapia ao braço que inchava na sequência da operação de 1993.
Entretanto em 25 de Outubro de 2011, na sequência dos resultados de uma ecografia e de uma mamografia, com pedido urgente de uma biópsia, foi contactado telefonicamente o IPO para solicitar a marcação da biópsia requerida. Conforme solicitação do IPO foi enviada a necessária credencial por fax, ficando a aguardar-se a respectiva marcação.
Cerca de um mês depois, o IPO informou telefonicamente que ali não eram feitas biópsias a doentes externos; aqui começou uma luta contra o tempo, procurando encontrar onde fazer a biópsia, tendo-se conseguido marcação para 16 de Janeiro de 2012 no Centro de Senologia em Lisboa (350 euros).
Entretanto, em Dezembro, o estado de saúde de minha Mãe conhecia forte agravamento com dores sobretudo na região lombar; como tinha caído na semana anterior considerou-se melhor ser vista por um médico, pelo que em 20 de Dezembro foi transportada à urgência do hospital de S. José. Após observação e RX o médico deu-lhe alta, aconselhando uma consulta no IPO, depois de conhecer a sua história clínica, já que as dores teriam outra origem.
Foi de imediato solicitado ao Centro de Saúde uma credencial para consulta com o seu médico assistente no IPO (Dr.Vítor Farricho que, soube depois, já não prestava serviço naquele bloco), na esperança de ela ali poder ficar internada e fazer a biópsia mais cedo. Entretanto continuando o estado de saúde a agravar-se fui com a doente às urgências do IPO a 26 de Dezembro, tendo ali sido recusada a sua observação com a alegação (incorrecta) de que apenas ali fizera uma mamografia em 22 de setembro de 2006 e nunca mais lá fizera nenhuma. Conforme referido anteriormente a minha Mãe continuou a ser ali acompanhada até Abril de 2009 e, mesmo depois, ali fizera tratamentos.
No IPO, após longa questão sobre o ser vista ou não por um médico da urgência, foi-me concedida autorização para entrar no gabinete do cirurgião de serviço, Dr. Peixinhos Dias; após observação dos resultados da mamografia e da ecografia, o Dr. disse nada poder fazer; entretanto, considerando melhor, e dada a minha insistência em que fosse prescrito um medicamento para aliviar o sofrimento da doente, o Dr. Peixinhos decidiu fazer no dia seguinte, ele próprio, a biópsia à doente.

Por isso, no dia 27, a doente foi de novo transportada ao IPO, agora já só se movimentando em cadeira de rodas; foi feita a biópsia e marcada consulta para o dia 12 de Janeiro;

Entretanto comunicaram-me do IPO, via telefone, que a consulta do dia 12 fora antecipada para o dia 3; estranhando a antecipação, dado que nesta data ainda não haveria o resultado da biópsia, comuniquei o facto ao Dr. Peixinhos, aproveitando para lhe transmitir que a doente piorava de dia para dia e que era necessário que lhe fosse ministrada medicação, podendo assim terminar os seus dias com os cuidados familiares; em tom enérgico, disse-me que isso seria uma grande irresponsabilidade, pois a minha Mãe tinha de ser operada, o tumor podia rebentar, abrir ferida e cheirar mal... Referiu-me ainda o Dr. que não tinha conhecimento da alteração da consulta, mas que ia pedir urgência no resultado da biópsia e que levasse lá a doente no dia 5, às 11h, pois aproveitaria o facto de lá estar a equipa médica para se decidir o que fazer com a doente.

No dia 5 de Janeiro, às 10h, passei pelo guichet anunciando que a doente estava a caminho, para fazerem o favor de avisar o Dr. Peixinhos de que ela iria chegar em ambulância;
- às 11h os bombeiros conduziram a maca, segundo as indicações, para um gabinete ao lado do do médico onde a doente seria observada; o médico foi vê-la e saíu;
- cerca das 12h, perguntei à enfermeira se ainda demorava muito pois a doente gritava com dores; respondeu-me que o médico estava a tratar do assunto; passado um tempo, o médico voltou a entrar e a sair;
- às 13.45h, como a espera era angustiante, voltei a perguntar o que se passava, já que a equipa médica nunca mais descia; foi-me transmitido, num tom que não deixava dúvidas, que a equipa médica, liderada pelo Dr. Santos Costa, já se tinha ido embora...
- bati à porta do gabinete do Dr. Peixinhos e entrei, inquirindo do que se estava a passar; então a equipa fora-se embora com a doente ali à espera desde as 11h? não a internava? o que é eu ia fazer com ela naquele estado? o Dr. Peixinhos, verdadeiramente embaraçado, respondeu que não podia fazer mais nada, que não tinha condições para a internar e que a levasse ao hospital da área da residência, tendo continuado as suas consultas;
- o pessoal de enfermagem e auxiliares, bombeiros e doentes que aguardavam a sua vez, tudo ficou atónito perante tal situação...

Sózinha, sem qualquer apoio do IPO, pedi aos bombeiros que conduzissem a doente para a urgência de S. José, aonde chegou cerca das 15h; aqui o caos era geral, com macas ocupando por completo o espaço das urgências; era visível o estrangulamento provocado pelo encerramento das urgências do Curry Cabral;
- cerca das 16h o médico aguardava ainda o resultado das análises, mas foi confirmando que a doente estava efectivamente muito mal e que certamente iria ficar internada; às 19h sugeriram que eu regressasse a casa.

No dia 6 às 10h, telefonei para o Hospital de S. José onde me comunicaram que a doente tinha sido transferida de madrugada para o Hospital Curry Cabral; ali fui às visitas das 14h e das 19h, tendo pedido ao médico (Dr Pedro) que a medicasse fortemente para alívio das dores.

No dia 7 de Janeiro pelas 10h, telefonaram-me do Hospital Curry Cabral para me dizer que passasse por lá quando me fosse possível..., pois não podiam dar informações pelo telefone...


Assim, com uns últimos dias completamente angustiantes e cheios de dores terminou a minha Mãe a sua passagem pela vida neste Portugal onde, a par de algumas palavras de esperança, se assiste à degradação das condições de assistência aos doentes que mais necessitam.
Neste caso, em condições de grande sofrimento que não me permitem calar a revolta, a minha Mãe foi abandonada à sua sorte e ao meu cuidado pelos clínicos do IPO, com uma doença do foro específico daquele Instituto, para a qual não tiveram uma acção ou palavra que pudesse minimizar o seu grande sofrimento e ajudar a família a encontrar a solução mais satisfatória.

À consideração de Vossa Excelência.


Lisboa, 21 de Janeiro de 2012


Maria Leonor de Moura Ventura Furtado
[NOTA: esta carta seguiu para o Sr. Ministro, para a Entidade Reguladora da Saúde e para o IPO, devidamente identificada].

terça-feira, janeiro 17, 2012

A ETERNA ARTE DO TEATRO DE FANTOCHES

Por vezes tenho a sensação de que Portugal não é um país verdadeiro, é antes uma espécie de teatro de fantoches que se desenrola perante os nossos olhos incrédulos e cansados. Os fantoches, perdão, os intervenientes falam com grande entusiasmo de feitos extraordinários e de acontecimentos importantes e eu não consigo sequer saber de que raio falam eles. No teatro de fantoches da minha infância, pelo menos, eu percebia os "bonecos" e aplaudia quando o herói dava umas valentes pauladas no malandro da fita. Agora suspeito que sou eu e os outros desgraçados como eu que levam as pauladas, mas eles, no palco, falam de coisas malucas que eu não entendo.
Gritam eles que conseguiram um grande acordo para o aumento da produtividade e da competitividade ( das empresas, decerto ) porque ... vão fazer as pessoas trabalhar mais alguns dias por ano e vão poder despedir quem bem entendam. É aqui que deixo de os perceber : mas como é que raio isto vai aumentar a competitividade e a produtividade ? Mas em tempo de trabalho os portugueses não são já dos que mais tempo trabalham ?? Então ... como é que ?
Não, só pode ser um teatro de fantoches, ainda por cima com um guião mal escrito.
Mas a competitividade não é uma função de múltiplas variáveis, tal como aprendi na minha Economia, que começa nas técnicas de gestão, nos equipamentos, na formação profissional dos trabalhadores, para já não falar do produto, da natureza e qualidade daquilo que se produz, das mais valias que são acrescentadas no processo da produção ??
Então a produtividade e a competitividade afinal dependem apenas de se trabalhar mais ou menos dois dias por ano ? Ou de se poder despedir uma gaja porque demonstrou a sua evidente inadaptação ao posto de trabalho quando recusou dormir com o patrão ?
Afinal, esta gente anda toda a gozar connosco quando falam destas coisas e mandam estas bocas tolas e incompetentes ?
A única coisa que se safa, no meio desta pobreza intelectual e desonestidade profissional, é o estilo "art nouveau" do sr ministro da economia, que esse pelo menos faz-me rir, com as suas histórias de pastéis de nata e coisas assim.
Óh meu Deus, para a próxima não fico aqui parado a ver esta barraca de teatro de fantoches, não prestam mesmo para nada !

domingo, janeiro 15, 2012

À PROCURA DA VERGONHA PERDIDA

Nesta tarde lisboeta cinzenta e chuvosa, entretenho-me com conjecturas íntimas e um tanto desanimadoras. Ajudem-me no raciocínio, vá lá.
Os conceitos éticos dominantes numa determinada sociedade e época são fortemente condicionados por factores perversos, como a aceitação social de certos actos ou, pelo contrário, a sua condenação mais ou menos generalizada pela maioria das pessoas "circundantes". Ou seja, pelas pessoas que se movem nos mesmos círculos sociais ou de interesses.
Acresce a influência de um sentimento difuso de impunidade de certas acções outrora condenáveis e condenadas. Estas considerações são do conhecimento generalizado, nelas não havendo matéria especialmente controversa.
Não sei se o mesmo acontecerá com a minha afirmação seguinte : a consciência social da incorrecção de certos actos ( roubar, aproveitar-se das situações em proveito próprio, etc ... ), com a consequente recriminação social, tende a esbater-se em ambientes demasiado pantanosos. Como se a recusa social de certos comportamentos fosse afrouxando, à medida que esses comportamentos se tornam quase "normais", tal a sua frequência. Como se as pessoas se cansassem de censurar e achar mal.
Como se o "mal" e o eticamente errado se fossem banalizando...
Pois bem, daqui lanço um repto a quem mais disto perceba que eu : qual é a "dose" diária máxima de aldrabice, vigarice e bandalheira que um cidadão normal aguenta até deixar de se importar com a verdade e os valores éticos ? Até se alienar ? Até deixar de se ralar com essas miúdezas ?
Para mim, em Portugal, já se atingiu esse limiar. Mais do que idealizar revoluções, angustia-me pensar como conseguiremos um dia regenerar a forma genuina de pensar e sentir dos portugueses, completamente abandalhada nestes ultimos anos. Não vai ser nada fácil ...

domingo, janeiro 08, 2012

CANSA VIVER EM PORTUGAL

Cansa viver em Portugal. Para qualquer pessoa que ainda conserve alguns dos velhos valores de decência e honestidade, viver em Portugal tornou-se extremamente desgastante e psiquicamente cansativo.
Todos os dias somos inundados com casos de pagamento de luvas, tráfego de influências, abuso do poder político para obtenção de vantagens económicas, vigarice, fraude, sei lá que mais. A lista é extensíssima : Freeport, licenciaturas a granel em Universidaddes manhosas, fraudes na gestão das mesmas universidades, submarinos, sobreiros, a trafulhice e os lóbis do gás natural, a fuga das SGPS para a Holanda, o fundo de pensões dos bancários ( alguém me explica porque raio é que temos deir pagar 500 a 600 milhões de euros aos bancários, em 2012, a partir do orçamento de estado ? ), uma austeridade quase totalmente à custa dos mais pobres, o caso do sucateiro e a última, a golpada da TDT, cuja responsabilidade de concretização foi atribuida à PT, empresa com interesses opostos aos da TDT ...
Convenhamos : já não falo na ética e no bom nome das instituições, a profusão de tantos esquemas sujos e ilícitos é simplesmente cansativa e deprimente. Ainda por cima porque nunca se vê nenhum dos poderosos ser punido em julgamento. Ainda se lembram do folhetim do sr. Isaltino Morais ? Alguém sabe porque raio é que o senhor ainda não está numa prisão a cumprir a pena a que foi condenado ? Não, ninguém sabe explicar e ninguém se preocupa, pelos vistos.
Eu não consigo deixar de me preocupar. Fui educado com outros princípios, éticos e políticos. Estas situações destroem-me, deixam-me aniquilado, corroem-me por dentro.
Os portugueses não se importam com as vigarices, com a corrupção ? Vivo num país onde essas coisas são toleradas, ou, pelo contrário, são os poderes ( o judicial, o político que toleram estas coisas todas porque lhes dá jeito fingir que nada se passa ?
Mas será que conseguem tolerar o cheiro nauseabundo que emana dos centros de poder estabelecidos ? Será que vamos todos continuar a tolerar esta merda completa em que estamos mergulhados ???
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PS - percebem porque estive cerca de um mês sem escrever nada ? Apetece-me emigrar e fugir de toda esta imundice, é o que me apetece.