domingo, janeiro 15, 2012

À PROCURA DA VERGONHA PERDIDA

Nesta tarde lisboeta cinzenta e chuvosa, entretenho-me com conjecturas íntimas e um tanto desanimadoras. Ajudem-me no raciocínio, vá lá.
Os conceitos éticos dominantes numa determinada sociedade e época são fortemente condicionados por factores perversos, como a aceitação social de certos actos ou, pelo contrário, a sua condenação mais ou menos generalizada pela maioria das pessoas "circundantes". Ou seja, pelas pessoas que se movem nos mesmos círculos sociais ou de interesses.
Acresce a influência de um sentimento difuso de impunidade de certas acções outrora condenáveis e condenadas. Estas considerações são do conhecimento generalizado, nelas não havendo matéria especialmente controversa.
Não sei se o mesmo acontecerá com a minha afirmação seguinte : a consciência social da incorrecção de certos actos ( roubar, aproveitar-se das situações em proveito próprio, etc ... ), com a consequente recriminação social, tende a esbater-se em ambientes demasiado pantanosos. Como se a recusa social de certos comportamentos fosse afrouxando, à medida que esses comportamentos se tornam quase "normais", tal a sua frequência. Como se as pessoas se cansassem de censurar e achar mal.
Como se o "mal" e o eticamente errado se fossem banalizando...
Pois bem, daqui lanço um repto a quem mais disto perceba que eu : qual é a "dose" diária máxima de aldrabice, vigarice e bandalheira que um cidadão normal aguenta até deixar de se importar com a verdade e os valores éticos ? Até se alienar ? Até deixar de se ralar com essas miúdezas ?
Para mim, em Portugal, já se atingiu esse limiar. Mais do que idealizar revoluções, angustia-me pensar como conseguiremos um dia regenerar a forma genuina de pensar e sentir dos portugueses, completamente abandalhada nestes ultimos anos. Não vai ser nada fácil ...

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