sexta-feira, janeiro 28, 2005

ACABEM COM OS DEBATES : PONHAM-OS A FAZER COISAS, EM VEZ DE PALAVRAS !

Ontem assisti a mais um debate, na RTP1, desta vez sobre o estado da Justiça, em Portugal. Presentes estavam o actual Ministro, um ex/futuro Ministro (?), do PS, juízes, procuradores, advogados, políticos representantes de cada partido político e até público, aqueles que acabam por pagar tudo e não ver nada em troca.
Eram pessoas inteligentes, todas elas preocupadas em mostrar isso mesmo. Choveram as críticas, foram adiantadas algumas hipóteses de solução. A Justiça não funciona em tempo útil, em Portugal : a culpa é dos códigos, da falta de meios, da ineficácia (??) e falta de gestão dos tribunais, do excesso de acções que não deviam ir parar aos tribunais, da formação dos juízes, da Judiciária que não devia ter autonomia na fase de inquérito, do Ministério Público e de mais trezentas e vinte e nove causas diferentes...
Ri-se, leitor ? Encolhe os ombros, não é ?
Mas é assim que as coisas se passam em Portugal : os nossos diagnósticos das situações são sempre confusos, temerosos dos grupos de interesses, atabalhoados, apontando sempre para uma multidão de causas ... Obviamente, quem quiser fazer alguma coisa fica baralhado e acaba, como sempre, por ter de deixar as coisas na mesma.
Quem não é capaz de apontar apenas duas ou três causas dos estrangulamentos, não será nunca capaz de os resolver. Podem crer.
Esta é uma questão genética na nossa cultura : o nosso gozo está em mexer e remexer nos problemas, discuti-los infindavelmente, analisá-los de cabo a rabo, mostrar como somos cultos e inteligentes, mas ... nada de os resolver. Isso é aborrecido, não é interessante, como diria a ainda ministra da educação.
Todas estas discussões se passam a um nível de grande “elevação”, é tudo gente importante e educada, há verdades que não se podem dizer, tá a ver ??
E depois, o leitor já viu profissionais ( os juízes e outros ) mais alheados do estado das coisas, mais afastados da gestão do seu espaço diário de trabalho ? Comparem com médicos na organização da saúde, com os professores na organização do ensino, com os militares na organização da defesa ... Juízes ? Envolver-se na desburocratização do funcionamento dos tribunais e na organização da Justiça ?
Ná ... eles devem ser independentes, pá... Não devem meter-se nessas coisas, são gente superior, com vencimentos e regalias milionários para o nível português, para quê incomodarem-se ?
LIÇÕES RÁPIDAS DE GLOBALIZAÇÃO OU OS CHINESES É QUE SE(NOS) LIXAM !

Na China actual, um operário têxtil trabalha 11 horas por dia, tem apenas um ou dois dias livres por mês e ganha, no mesmo mês, de 20 a 75 euros...
Leu bem, leitor, eu tive cuidado ao escrever os dados.
Note bem, leitor, num mundo em que as barreiras á deslocação de pessoas e bens se esboroam, você, dono de uma fabrica de confecções no vale do Ave, tem duas alternativas : ou inclina-se perante os baixíssimos custos de produção chineses e vai á falência ou ... junta-se a eles e leva a sua empresa para a China, contratando lá estes operários escravizados. Colocando no desemprego os seus actuais operários, cá no vale do Ave.
Já viu bem ? Que raio de beco sem saída é este ?
Como é que a Europa se vai aguentar nesta situação ?
É que, notem bem, já não nos podemos refugiar na ideia que eles não são capazes de produzir com os nossos níveis de qualidade e de incorporação tecnológica ! Não, são as nossas empresas detentoras dessas tecnologias e desses níveis de qualidade que se vão instalar na China, aproveitando também para sugar os desgraçados dos operários chineses.
Este é um problema do caraças, convenhamos. Como é que os nossos países industrializados, em que os direitos sociais fizeram um longo caminho, se calam e não lutam, obrigando os direitos humanos a ser respeitados também na China ?
Seria fácil resolver, não lhe parece ? Proibia-se a entrada de mercadorias oriundas desses países no nosso mundo e pronto, já está ... eles seriam obrigados, na China, a conceder mais alguns direitos aos operários e assim se ia evoluindo.
Porque não é assim ?
Ora, ora, leitor, não se esqueça : as nossas grandes empresas querem poder instalar-se na China, aproveitando aquelas condições de escravidão humana, e, obviamente, também querem depois mandar os seus produtos para cá, para nós comprarmos.
Está a ver ? Se limitássemos a entrada desses produtos estaríamos a prejudicar os interesses dessas grandes empresas ... e quem manda no Mundo, hoje, são elas.

terça-feira, janeiro 25, 2005

ELEIÇÕES SIM, MAS ...

Um dia destes, sem qualquer entusiasmo ou esperança, vamos escolher quem nos irá governar nos próximos quatro anos. Para a maior parte de nós, trata-se apenas de dar umas vassouradas naqueles paraquedistas do Santana Lopes & Cia, mas sem grandes ilusões... Não será decerto Sócrates e aquela sua gente ressuscitada e requentada a produzir o milagre. Basta ver o programa de governo do PS : mais de 160 páginas !!! Quem escreve mais de 160 páginas de programa de governo não tem, de facto, uma ideia precisa para o futuro do país ... tem milhares, pelos vistos, mas todas ideias pequeninas !!

É intrigante, nos dirigentes políticos, a sua incapacidade de apresentar uma visão simples para o futuro do país, algo que se possa dizer numa página de papel. Vamos apostar em quê ? No turismo ? No capital estrangeiro ? No desenvolvimento de software ? Na tecnologia de lançamento de fogos florestais ??
O mais que se lhe aproxima é o “choque de gestão” do PSD e o “choque tecnológico” do PS. Porém, nem um nem outro são visões de desenvolvimento, apenas condições indispensáveis a um qualquer modelo de desenvolvimento. Mas qual ?

Continuamos, uma vez mais, a não discutir o que fazer no futuro.
Acho que não se discute porque ninguém sabe verdadeiramente o que se há-de fazer a este país medíocre. E, se alguém sabe o que fazer, não vai dizer para não perder votos. Assim, as grandes questões são substituidas por ideias parcelares, tais como aumentar ou diminuir impostos ou como diminuir os efectivos da função pública.
Com gente assim, com a incapacidade ou falta de vontade que revelam, como havemos algum dia de encontrar um caminho para o progresso ? Como se vai dar a rotura ? Um qualquer Salazar dos tempos modernos ? Uma outra revolução, desta vez dos lírios ou dos malmequeres ??

E agora, para que não digam que só critico sem dar nenhuma solução, aqui vai a minha sugestão de hoje.
Enquanto se decidem ou não sobre as grandes questões, sempre poderiam tentar responder a três temas quentíssimos e inadiáveis : a reforma do sistema eleitoral, no sentido de responsabilizar o deputado perante os eleitores e não perante o chefe do seu partido, e as reformas do sistema judicial e do sistema educativo, em qualquer sentido ... desde que passem a funcionar !!!

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domingo, janeiro 23, 2005

DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA ... MAS PARA OS OUTROS !

Um coro tremendo de críticas se levantou ! Desde o venerável António Barreto até ao mais modesto comentador na folha dominical da paróquia de Quitanda de Baixo, todos se ergueram em defesa da liberdade de expressão de pensamento. Nunca antes se tinha visto uma onda tão avassaladora e envergonhada ( da parte de alguma gente de esquerda ) de repulsa e de discordância.
É que, imagine-se, Francisco Louçã disse a Paulo Portas que este não tinha o direito de se pronunciar sobre o aborto porque nunca sequer tinha contribuido para gerar uma vida, ele sim, Louçã, ele tinha uma filha !!
Bom, desiludam-se os que esperam que eu vá descer ao nível destes defensores dos bons costumes da tolerância democrática que tão ofendidos se mostraram.
Danem-se todos os que acham que Louçã disse uma cretinice, que não tem nada que se meter na vida privada de Paulo Portas.
Que se mordam todos os democratazinhos pequeninos e envergonhados de o serem, eu achei um piadão á saída de Louçã. Ser democrata não é sinónimo de intolerante, não senhor, mas também não rima com parvo ou cego.
Eu entendi muito bem aquilo que Louçã quis dizer a Paulo Portas, embora talvez o pudesse ter feito de uma forma mais eficaz e elegante.
Entendi e ri-me interiormente porque se alguém merece um comentário daqueles é de facto Paulo Portas, com aquela sua atitude postiça de defensor intransigente da moral e dos bons costumes.
E sabem porquê ? Porque, sem ninguém lhe ter passado procuração para tal, Paulo Portas arvorou-se em defensor dos grandes princípios da direita. Pátria, Deus e Família. Paulo Portas passou a ostentar um ar de homem de Estado, fatinhos de corte clássico, com risquinhas, e só lhe faltou a brilhantina no cabelo, como se usou em outros tempos.
Ninguém lhe pediu para ser assim, mas ele escolheu.
Ora se escolheu, não se admire depois de ouvir o que não gosta.
Não estão a perceber ? A questão de Louçã tem a ver com o aborto e não tem, é um pouco mais vasta : um defensor tão acrisolado daqueles valores, Deus,Pátria e Família ... poderia alguma vez ele renegar Deus ? Claro que não. Poderia ele alguma vez deixar de acreditar na Pátria ? Nem pensar ....
Então ... e quanto á Família ??? Hem ? Porque é que um tão grande defensor destes valores tradicionais, destes baluartes da sociedade moderna não adere ele próprio á formação de uma família e manda antes os outros fazê-lo ??
E, se não o deseja fazer, não perde ele uma parcela tremenda de credibilidade na sua compungida atitude ?
Como não ver hipocrisia na defesa desses valores, por parte do líder do CDS/PP ? Como se podem defender eficaz e sinceramente valores ... que não se praticam ?
Foi isto que ouvi da boca de Louçã. Como é que Paulo Portas fala tanto de aborto e da defesa da vida quando nem sequer está disponível para colocar uma só vida no Mundo que seja ?
O S.Tomás da direita ?
Portanto, não se trata de conceder a Paulo Portas um direito de opinião. Esse ele não precisa que ninguém lho conceda. Tratou-se apenas de desmontar uma das hipocrisias mais correntes nos defensores de uma certa ideologia de direita. Tratou-se também de evidenciar uma das contradições insanáveis na vida daquele jovem político.
E a quem não entendeu e se mostrou muito ofendido, recomendo uma ida urgente ao oculista. Não conseguem ver a hipocrisia de certas atitudes, pois não ?
Mas vai sendo tempo, meus senhores e senhoras.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

A VIDA A TODO O CUSTO, SEMPRE ?

Se me perguntassem qual foi a maior alteração de atitude/comportamento dos portugueses nos ultimos 30 ou 40 anos eu responderia sem hesitar : ganharam todos um medo horrível da morte, ao mesmo tempo que se criou o mito do direito á vida a todo o custo.
Uma tossezinha mais forte, uma temperatura de 38º C , uma dor nas costas ? Urgências do Hospital ( é á borla, ainda por cima ! ), quando há uns anos atrás nem sequer se lembrariam dessa opção, nos locais onde ela era possível.
Dizem que o fumo faz mal ás pessoas que estão nos mesmos recintos que os fumadores ? Vá de proibir fumar nesses locais todos !
O queijo e os enchidos aumentam o colesterol ? Não há nada como um bifezinho de soja ou mesmo uma dieta vegetariana ...
É ainda necessário haver Forças Armadas ? Os marretas voluntários que vão, os meninos de família nunca mais lá põem os pés, podem fazer um dói-dói ...
Colocar uma fábrica de cimento a queimar resíduos perigosos, ainda que com precauções e filtros especiais ? Quem quiser que fique com isso ao pé, eu não, muito obrigado, tenho que cuidar da minha saúdinha !
Uma lixeira ? Vão fazê-la lá pr’a rua deles, aquilo faz mal aos pulmões !
Drogados ? Gajos com sida ? Acho muito bem que cuidem deles, sim senhor ... mas por favor façam isso lá longe, onde as nossas crianças não andem ( nem nós, nem nós ) ...
Vacas loucas ? Bolas, nunca mais comi carne de vaca, aquilo é só porcarias que lhes dão a comer e depois vê-se !
Já alguma vez estiveram num centro de saúde ou numa urgência de um hospital ? Há lá sempre dezenas de pessoas dos 70 anos para cima ... vários com 80 e 90 anos, como se estivessem em Fátima e não numa unidade de saúde.
Eu sei lá que mais. Podíamos estar aqui um dia inteiro a listar todos estes comportamentos, relativamente novos no nosso povo : egoísmo e endeusamento da vida.
Claro que não proponho que devamos morrer mais cedo, só para demonstrar que não temos medo da morte. Também não proponho que o leitor se esteja nas tintas para a sua saúde, mas que há um padrão inquietante no ar, isso há, não tenho duvidas !
Meu Deus, esta gente acha que vai viver para sempre ?
Ou preferem morrer com a saude em bom estado ?
Acho que nos falta uma cultura de aceitação da morte e da sua inevitabilidade. Como de resto tanto o cristianismo como o islamismo tentam fazer, ao afirmar que a vida não acaba com a morte.
Se for preciso usar a religião, então vamos a isso ; o que não faz grande sentido é este encarniçamento exagerado na luta contra a morte, mesmo quando a vida é apenas um amargo simulacro, como se pudessemos viver para sempre.
Temos que aprender a encontrar uma paz interior de aceitação da nossa partida, quando o momento estiver por perto e não desperdiçar energias a tentar impedir o inevitável.
Devíamos aprender também que há, em certos momentos, valores sociais colectivos que vale a pena defender, sem que sejamos tolhidos pelo medo de perder a nossa vida.
No fundo, atribuir um valor exagerado á nossa própria vida, praticando o culto da sua defesa a todo o custo, pode subverter totalmente a dignidade do ser humano, transformando-nos num bando da carneiros ou, o que é porventura pior, num bando de saudáveis e cobardes egoistas.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

O DIREITO A ERRAR

É uma das atitudes mais dificeis, na minha opinião, ao longo da relação pais-filhos : perceber que eles têm o direito de tentar a sua vida, e consequentemente, o direito a errar. Confesso que não fui muito bom neste capítulo, sempre quis prevenir a minha filha quanto a certas ciladas da vida. Sem grande sucesso, diga-se.
Esta questão, contudo, é bem mais universal : bem vistas as coisas, todos os que amam deviam tê-la presente e aprender que amar é também ( devia ser ) conceder ao outro o direito a errar.

Surgiu há pouco tempo no panorama internacional uma jovem inglesa ( 17 anos ) que se está a popularizar rapidamente, interpretando música "soul". Tal como em tempos passados vos apresentei aqui Norah Jones, hoje trago-vos Joss Stone, com uma voz inacreditavelmente madura para tão pouca idade. A musica atraiu-me, o tema é um desafio, a voz é curiosa.
Ouçam este tema AQUI

Para quem tiver paciência e quiser ler as palavras da canção, aí estão elas :

JOSS STONE : RIGHT TO BE WRONG

I've got a right to be wrong
My mistakes will make me strong
I'm stepping out into the great unknown
I'm feeling wings though I've never flown
I've got a mind of my own
I'm flesh and blood to the bone
I'm not made of stone
Got a right to be wrong
So just leave me alone

I've got a right to be wrong
I've been held down too long
I've got to break free
So I can finally breathe
I've got a right to be wrong
Got to sing my own song
I might be singing out of key
But it sure feels good to me
Got a right to be wrong
So just leave me alone

You're entitled to your opinion
But it's really my decision
I can't turn back I'm on a mission
If you care don't you dare blur my vision
Let me be all that I can be
Don't smother me with negativity
Whatever's out there waiting for me
I'm going to faced it willingly

I've got a right to be wrong
My mistakes will make me strong
I'm stepping out into the great unknown
I'm feeling wings though I've never flown
I've got a mind of my own
Flesh and blood to the bone
See, I'm not made of stone
I've got a right to be wrong
So just leave me alone

I've got a right to be wrong
I've been held down to long
I've got to break free
So I can finally breathe
I've got a right to be wrong
Got to sing my own song
I might be singing out of key
But it sure feels good to me
I've got a right to be wrong
So just leave me alone

domingo, janeiro 16, 2005

BARCOS DE PAPEL

Apetece-me escrever mas não sei sobre o quê.
Ocorre-me que escrever é uma actividade que, só por si, pode proporcionar prazer, embora seja duvidoso que alguém tenha igual prazer na leitura de um escrito deste tipo.
Bem, há sempre milhões de temas, posso pegar num deles e dizer meia duzia de banalidades. Ou posso pura e simplesmente não escrever nada.
Ou posso confessar-vos que ando um pouco perdido, nesta fase da minha vida : uma das maiores vantagens do trabalho é impedir ou dificultar a reflexão sobre nós próprios. Libertos dessa ocupação/preocupação é quase obrigatório pensar ( ou repensar ) as nossas vidas. Fazer uma espécie de balanço, que logo nos apressamos a afirmar que não é definitivo.
Quando penso nestes termos fico deprimido : o que fiz na vida até agora parece-me pouco mais que nada e não sinto que venha a ser diferente no tempo que me resta. A verdade é que nunca tracei objectivos para a minha vida, sempre me deixei um pouco arrastar pela corrente. Fiz, quando muito, pequenas correcções de trajectória, remando um pouco mais para aqui ou para ali, tentando reduzir a velocidade sempre que me pareceu necessário. O dinheiro e o poder nunca me seduziram, sem eu sequer perceber porquê. Não sinto em mim nenhum mérito ( ou demérito ) nisso, já que se tratou apenas de indiferença.
Ainda assim, gosto de muitas coisas na vida. Sou sensível á beleza e ao prazer, á desgraça e á injustiça. Gosto das pessoas individualmente tomadas, não tenho grande simpatia por multidões, povos ou grandes grupos. Odeio seguidismos, fanatismos e todas as manifestações de imbecilidade colectiva de que o mundo de hoje é pródigo.
Não sei se consigo acreditar em Deus, mas sei que a ideia me atrai. Qualquer Deus. De preferência um que seja de facto justo e atento ao homem, o que parece ser dificil.
Tenho medo da morte. Ou melhor, tenho medo da dor e do sofrimento, acho-os coisas inuteis, desnecessárias e cruéis.
Gosto das mulheres, sempre gostei desde pequenito. Achava-as seres maravilhosos, doces, e quentes. Ainda continuo a achar, embora tenha aprendido que também podem ser outras coisas...
E depois ? Isto tudo dito, avaliado e bem ponderado, o que se segue ?
Não sei.
Confesso que a corrente continua a levar-me, embora muito mais lentamente que outrora. Não faço a mínima ideia de qual vai ser a próxima curva do rio.
Espero apenas que haja areia limpa e quente no remanso onde irei encalhar ...

quinta-feira, janeiro 13, 2005

NOVAS TECNOLOGIAS SIM ... MAS POUCO !

Em Portugal, há novos procedimentos na administração pública , envolvendo as tecnologias de informação , hurraaaa ! Não sei se todos vocês sabem, mas é hoje possível tirar uma caderneta predial na internet, ou pedir uma certidão de registo predial pela mesma via ... Já usei estas modalidades, e acho que representam um esforço muito válido de desburocratização.
Porém, convêm não esquecer que estamos em Portugal, hem ? Já vão ver : pedi recentemente via internet uma certidão de registo predial para o apartamento da minha filha. Indica-se o nº de registo, etc ... e pode pagar-se via cartão de crédito, multibanco ou à cobrança. Foi o que fiz, usei o multibanco, também através do acesso pela internet ao meu banco, 20 e tal euros e já está, agora era só esperar ....
Era, era ... mas não foi ! Passados dias, recebo uma carta da Conservatória de Registo Predial à qual tinha endereçado o pedido : tinha que pagar mais 7,50 euros para me passarem a certidão, tinha mais uma ou duas páginas ou não sei quê. E nem sequer me diziam como podia pagar...
Pacientemente, descobri um telefone de ajuda ao processo via internet. Do outro lado, uma senhora ( amável e até cúmplice ... ) disse-me então que já não podia pagar pelo multibanco ou cartão de crédito, agora só via cheque, vale postal ou indo lá pessoalmente ! E aconselhou-me, para a próxima, a usar o pagamento à cobrança, como aquele que menos confusão dá !
Vejam lá, isto é Portugal no seu melhor : qualquer esforço de simplificação da vida de todos nós esbarra com coisas tão tontas como a incapacidade de uma Conservatória dizer quanto custa, exactamente, uma certidão ! Dizem que depende do numero de páginas !! E, por causa disso, em vez de fixarem um preço médio razoável, vá de meter areias na engrenagem, mais cartas, cheques, vales e sei lá que mais !!! Não é de doidos ?
Claro : fui lá pagar o raio das páginas a mais da certidão e trouxe-a logo ...
No caminho, estacionei na Av. Rovisco Pais, ali mesmo junto ao IST, numa zona de parquímetros ... andei avenida acima e abaixo, os parquímetros ou estavam avariados ou eram vigaristas, porque meti 1 euro num deles e a máquina riu-se de mim e não me deu papel nenhum !! Furioso, fui à Conservatória. No regresso, andavam uns funcionários da empresa que explora estas maquinetas diabólicas a tentar reparar uma delas ... Pensei cá para mim : se depois disto tudo se atreveram a multar-me, ainda arranco o parquímetro e lhes dou com ele na cabeça !! Porra, pá, isto só nesta merda de país ... ( esta ultima frase só a disse para mim, por isso não me acusem de dizer asneiras na via pública, hem ? ).
Mas não. Afinal está tudo previsto : a malta que usa a zona arruina os parquímetros todos e depois já ninguém paga !!!
De facto, este País merece bem os Santana Lopes que lhe cabem em sorte ...

terça-feira, janeiro 11, 2005

CULINÁRIA É CULTURA

Há um ou dois dias, falei aqui sobre uma receita da cozinha indiana, o frango tandoori, e pedi ajuda porque não sabia que coisa era essa do tandoori. Bem, uma leitora esclareceu-me que se trata de um forno cilindrico e alto, feito de tijolos e barro, onde o calor de uma fogueira de carvão ou lenha é concentrado.
Mais do que isso : essa mesma leitora, simpática, forneceu-me uma receita para esse frango tandoori, fácil de concretizar aqui no nosso país.
Para a malta interessada, aí está a receita :

Frango Tandoori

Ingredientes

- ½ kg de sobrecoxas de frango
- ½ xícara de iogurte
- 1 cebola pequena picada
- 1 dente de alho amassado
- 1 pimenta dedo de moça sem semente bem picada
- 1 colher (sopa) de gengibre picado
- 2 colheres (sopa) de suco de limão
- 1 colher (chá) de cominho
- 1 colher (chá) de cúrcuma (espécie de açafrão)
- sal a gosto
Modo de Preparo
Bata a cebola, o alho, o gengibre e a pimenta no liquidificador. Misture-os com o iogurte, o suco de limão, o cominho, a cúrcuma e o sal. Coloque o frango numa travessa, cubra-o com o tempero e deixe-o marinar pelo menos duas horas. Quanto mais tempo marinar mais sabor ele terá. Coloque-o num tabuleiro e asse-o no forno em lume médio-alto por uma hora ou até que fique no ponto.
NOTA: Também poderá fazer o frango na churrasqueira, desse modo ele ficará mais parecido com o original


Um beijo para a nossa leitora ! E viva a boa cozinha !!
A QUALIDADE NÃO NASCE DA MEDIOCRIDADE

Hoje apetece-me falar pouco e de uma forma clara.

Por isso, aí vai : penso que as nossas elites, os políticos, sindicalistas, empresários e outros quadros dirigentes são medíocres, na sua imensa maioria. Medíocres. Incompetentes. Pouco imaginativos. Completamente incapazes de concretizar seja o que for. Invejosos. Pouco honestos intelectualmente ( pelo menos ). Preguiçosos. Pouco cultos. Ávidos de estatuto, de dinheiro e de poder. Palavrosos.

O que é ainda pior, a omnipotência esterilizante dos nossos partidos políticos mostra-se incapaz de mudar esta situação, de criar uma mística de mudança e de renovação, de dar uma pitada de esperança às pessoas de boa-fé ( olhem para as listas de candidatos às próximas eleições legislativas ... ).

Então, com estes mesmos tipos, as mesmas manias e comportamentos baixinhos, a mesma mediocridade, como é que vamos alguma vez deixar de ser um País medíocre ?

Como, digam-me lá ???

domingo, janeiro 09, 2005

QUEM SABE O QUE É O FRANGO "TANDOORI" ?

Reencontrei uma amiga que já não via há mais de dois anos. Conversámos, demos conta do tempo que vai passando, sentimos saudades de nós próprios.

Vi um filme, o ultimo do Woody Allen. A mesma história-base, tratada em duas versões opostas : como comédia e como um drama. Melinda e Melinda. Pelo meio, cenas idênticas, desfechos semelhantes. A vida , a mesma vida, pode ser sempre olhada sob estes dois ângulos. Por mim, acho que fui sempre um dramático do caraças, dou-me agora conta...

Experimentei a cozinha indiana, pela primeira vez. Frango “tandoori” e arroz “basmati” com legumes e um toque de caril. Gostei do sabor e do cheiro. A minha filha ficou de averiguar que coisa é essa do “tandoori”... O mais provável é que se esqueça de o fazer, como é hábito, portanto, quem souber que mo diga !

Fui colocar nos “vidrões” uma catrefada de (1) garrafas, garrafões e similares (2) papéis, cartões e coisas do género (3) embalagens de plástico ... Como vêem, sou muito modernaço, em minha casa já tenho um mini-ecoponto e levo a sério as recomendações dos senhores da TV ...
Mentira : quem fez isso tudo foi a minha filha, contra o meu cepticismo e cinismo. Eu acho que é tudo uma treta do caneco, descobriram foi uma forma de ganhar dinheiro a reciclar esses materiais e eu vou dar-lhes de mão beijada a matéria-prima para eles recircularem e ganharem a massa. Em troca, longe de me entregarem a minha parte nos lucros, ainda tenho de pagar as taxas autárquicas para o tratamento de lixo e esgotos ( veja a factura da água, em Lisboa ... ). Chama-se a isto a ecologia no tratamento dos resíduos sólidos, mas a mim parece-me que a ecologia tem umas costas muito grandes...E , se acham que estou a exagerar, reparem na quantidade de empresas municipais para tratamento de lixos que apareceram em todas as autarquias e os dinheiros que movimentam. E, já agora, vejam também quem são os respectivos administradores e quanto ganham ...

Ainda uma ultima, quanto a estas coisas dos residuos : porque será que em Portugal ainda não existe tratamento para os resíduos sólidos tóxicos e perigosos ( lembram-se da co-incineração ? ) e para estes, do vidro, papel e plásticos até campanhas porta-a-porta já fizeram ? Porque será ??

Acabou mais um fim de semana. Ou melhor, mais uma semana, da qual o fim de semana é a ponta. Virá outro a seguir. E depois ainda outro, para aqueles que ainda cá estiverem.
De novo Woody Allen, agora numa entrevista que deu recentemente, aqui em Portugal : “o dramático é que já nos apercebemos que estamos no mundo por acaso, sem qualquer finalidade ou objectivo. Todo o nosso esforço para ser feliz consiste em tentar esquecer esse vazio”.

Tentem ser felizes, acreditando ou não que estamos aqui com um objectivo e uma finalidade. Nem que seja vermos o Sporting a ganhar a Liga este ano.

sábado, janeiro 08, 2005

SANTANA WHO ???

Hoje pensei no estado do país e nas próximas eleições.
Hummm, Santana ? Já vimos esse filme, uma epopeia burlesca de guião duvidoso. O homem não tem emenda, há-de morrer trapalhão e ambicioso, a abrir buracos por onde passar ...
Sócrates ? Não sei porquê mas não acredito, o homem fala demais sem dizer nada e não me dá confiança nenhuma. Nunca lhe ouvi uma só ideia original e sólida, e a teimosia com que tornou agora a agarrar-se à co-incineração abona pouco quanto à sua capacidade em entender o que é um lider político.
Paulo Portas ? Beeemm, esse pelo menos pretende ser um lider político, embora eu não tenha já paciência para ouvir aquele verdadeiro giroscópio de opiniões.Ninguém me tira da cabeça que ele foi um dos penetra na maternidade, à procura da tal incubadora ...
E mais ? O simpático e insinuante sedutor demodé, lider do PC e voluntarioso dançarino-marxista-leninista ? Claro que tem os seus fãs, mas já nem sequer enche meia praça, a malta já não grama cassettes, agora é tudo DVDs, por isso emigram que se farta para o PS e o BE ...
Resta-nos o outro Portas, o Miguel, e companheiros, gente simpática, com uma visão aberta e descomprometida, mas ... demasiado correctos naquilo que dizem, com opiniões sempre muito definitivas e certinhas, nunca tiveram nem vão ter tão depressa a responsabilidade de passar essas coisas à prática ...

Então ?
Então ?? Então, digo-vos : estamos lixados, todos nós. Vamos ter mais do mesmo, paleio, paleio, muita discussão, muita luta, mas ... pouca obra, como sempre.
Não sei para onde se há-de virar o meu coração, ou a minha cabeça, sabem ?
Só sei contra quem está virada, desde o início.
Mas isso já os leitores o sabem, também, não é verdade ?

segunda-feira, janeiro 03, 2005

A TRAGÉDIA NA ÁSIA E A LIÇÃO DE GEOGRAFIA

Não se consegue ficar indiferente à tragédia provocada por aquelas vagas enormes em vários países asiáticos. Eu vi mortes, na guerra de África e ajudei a desenterrar dezenas de pessoas afogadas nas grandes cheias de 67 ou 68 ( ? ), perto de Vila Franca de Xira, aldeia de Quintas. Mesmo assim, não consigo abarcar todo o sofrimento humano de que vi marcas nas imagens da TV. Vi traços de incredulidade e incompreensão nas caras dos sobreviventes. Vi essa gente erguer ao céu olhos e mãos em busca de um porquê que ninguém lhes vai dar, deus ou homem.
Imaginem a banalização do horror ( a expressão não é minha, vem de um autor referindo-se ao genocídio praticado pelos alemães sobre os judeus ) que vai ficar agarrada á alma daquelas pessoas, dias e dias a enterrar ou a queimar corpos humanos, numa corrida contra as epidemias. Aqueles mortos, muitos deles, nem sequer vão ser identificados ou chorados. As ondas repentinas não os afogaram só : roubaram-lhes também a dignidade humana na hora da morte.
Apesar de tudo, dois acontecimentos diferentes trouxeram-me esperança.
Um deles, a rápida mobilização mundial para ajuda às vitimas, primeiro das organizações não governamentais, depois dos Estados e logo após de cada um de nós, como pessoas. Esta vontade de ajudar mostra que ainda somos todos humanos, coisa que os neo-liberalismos modernos bem têm tentado fazer esquecer.
O outro caso foi um hino ao conhecimento, à necessidade de investir a sério na educação, na formação, na prevenção : uma miuda de 10 anos acabou por salvar centenas de pessoas que estavam numa das praias atingidas, só porque soube identificar a causa provável da súbita maré vazia, do esquisito e pronunciado recuo da água do mar. Numa das ultimas aulas antes de férias, uma aula de Geografia, tinham sido explicadas as causas dos maremotos e os sinais característicos dos mesmos, como o tal abaixamento repentino da linha de água.
A nossa jovem olhou, viu o que todos estavam a ver, mas havia algo de diferente nela : ela sabia o que aquilo podia significar ! Explicou à mãe, a mãe acreditou e gritou para os outros, toda a gente fugiu ... e não houve mortes ali.
Já viram ? Centenas de pessoas salvaram-se só porque uma miuda de 10 anos tinha estado atenta na sala de aula ...
Isto é ou não um hino ao saber ??
E se acharem que sim, que o conhecimento é importante e pode salvar vidas nestas emergências, perguntem a vocês próprios que raio de incompetência, incúria ou ignorância impede os governos ( os de lá e os de cá ) de tomar medidas para que esse conhecimento chegue até nós ...

sábado, janeiro 01, 2005

2005, UMA NOVA OPORTUNIDADE !

Aí está ele, novo, reluzente, ainda imaculado. Tem um nome bonito, chama-se 2005, já se livrou do estigma do Orwell, tem á sua frente 365 dias completamente novos e virgens, para cada um gravar como quiser.
Ao contrario daquilo em que muita gente acredita, não é a ele, 2005, que cabe ser bom ou mau, feliz ou infeliz : ele é apenas o invólucro, o papel do diário onde agora nos cabe a nós escrever a vida. Vamos ver o que escrevemos, portanto, vamos desejar que nos tornemos pessoas decentes, boas e capazes de olhar para o Mundo e para os outros. Bem precisados estamos todos desse milagre. Porque de milagre se fala, quando se acredita e se deseja a bondade como regra geral, a sensatez e a genuinidade como formas habituais de viver o dia-a-dia.
Que não seja isso que nos trave, porém : ousemos todos construir o milagre, pensemos todos que o impossível é apenas um futuro que temos de construir e que um dia vai estar ao nosso alcance !
Se tivermos a grandeza suficiente para ter esse sonho e se formos suficientemente persistentes para o concretizar.
Vamos a isso ?