domingo, janeiro 16, 2005

BARCOS DE PAPEL

Apetece-me escrever mas não sei sobre o quê.
Ocorre-me que escrever é uma actividade que, só por si, pode proporcionar prazer, embora seja duvidoso que alguém tenha igual prazer na leitura de um escrito deste tipo.
Bem, há sempre milhões de temas, posso pegar num deles e dizer meia duzia de banalidades. Ou posso pura e simplesmente não escrever nada.
Ou posso confessar-vos que ando um pouco perdido, nesta fase da minha vida : uma das maiores vantagens do trabalho é impedir ou dificultar a reflexão sobre nós próprios. Libertos dessa ocupação/preocupação é quase obrigatório pensar ( ou repensar ) as nossas vidas. Fazer uma espécie de balanço, que logo nos apressamos a afirmar que não é definitivo.
Quando penso nestes termos fico deprimido : o que fiz na vida até agora parece-me pouco mais que nada e não sinto que venha a ser diferente no tempo que me resta. A verdade é que nunca tracei objectivos para a minha vida, sempre me deixei um pouco arrastar pela corrente. Fiz, quando muito, pequenas correcções de trajectória, remando um pouco mais para aqui ou para ali, tentando reduzir a velocidade sempre que me pareceu necessário. O dinheiro e o poder nunca me seduziram, sem eu sequer perceber porquê. Não sinto em mim nenhum mérito ( ou demérito ) nisso, já que se tratou apenas de indiferença.
Ainda assim, gosto de muitas coisas na vida. Sou sensível á beleza e ao prazer, á desgraça e á injustiça. Gosto das pessoas individualmente tomadas, não tenho grande simpatia por multidões, povos ou grandes grupos. Odeio seguidismos, fanatismos e todas as manifestações de imbecilidade colectiva de que o mundo de hoje é pródigo.
Não sei se consigo acreditar em Deus, mas sei que a ideia me atrai. Qualquer Deus. De preferência um que seja de facto justo e atento ao homem, o que parece ser dificil.
Tenho medo da morte. Ou melhor, tenho medo da dor e do sofrimento, acho-os coisas inuteis, desnecessárias e cruéis.
Gosto das mulheres, sempre gostei desde pequenito. Achava-as seres maravilhosos, doces, e quentes. Ainda continuo a achar, embora tenha aprendido que também podem ser outras coisas...
E depois ? Isto tudo dito, avaliado e bem ponderado, o que se segue ?
Não sei.
Confesso que a corrente continua a levar-me, embora muito mais lentamente que outrora. Não faço a mínima ideia de qual vai ser a próxima curva do rio.
Espero apenas que haja areia limpa e quente no remanso onde irei encalhar ...

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