domingo, janeiro 23, 2005

DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA ... MAS PARA OS OUTROS !

Um coro tremendo de críticas se levantou ! Desde o venerável António Barreto até ao mais modesto comentador na folha dominical da paróquia de Quitanda de Baixo, todos se ergueram em defesa da liberdade de expressão de pensamento. Nunca antes se tinha visto uma onda tão avassaladora e envergonhada ( da parte de alguma gente de esquerda ) de repulsa e de discordância.
É que, imagine-se, Francisco Louçã disse a Paulo Portas que este não tinha o direito de se pronunciar sobre o aborto porque nunca sequer tinha contribuido para gerar uma vida, ele sim, Louçã, ele tinha uma filha !!
Bom, desiludam-se os que esperam que eu vá descer ao nível destes defensores dos bons costumes da tolerância democrática que tão ofendidos se mostraram.
Danem-se todos os que acham que Louçã disse uma cretinice, que não tem nada que se meter na vida privada de Paulo Portas.
Que se mordam todos os democratazinhos pequeninos e envergonhados de o serem, eu achei um piadão á saída de Louçã. Ser democrata não é sinónimo de intolerante, não senhor, mas também não rima com parvo ou cego.
Eu entendi muito bem aquilo que Louçã quis dizer a Paulo Portas, embora talvez o pudesse ter feito de uma forma mais eficaz e elegante.
Entendi e ri-me interiormente porque se alguém merece um comentário daqueles é de facto Paulo Portas, com aquela sua atitude postiça de defensor intransigente da moral e dos bons costumes.
E sabem porquê ? Porque, sem ninguém lhe ter passado procuração para tal, Paulo Portas arvorou-se em defensor dos grandes princípios da direita. Pátria, Deus e Família. Paulo Portas passou a ostentar um ar de homem de Estado, fatinhos de corte clássico, com risquinhas, e só lhe faltou a brilhantina no cabelo, como se usou em outros tempos.
Ninguém lhe pediu para ser assim, mas ele escolheu.
Ora se escolheu, não se admire depois de ouvir o que não gosta.
Não estão a perceber ? A questão de Louçã tem a ver com o aborto e não tem, é um pouco mais vasta : um defensor tão acrisolado daqueles valores, Deus,Pátria e Família ... poderia alguma vez ele renegar Deus ? Claro que não. Poderia ele alguma vez deixar de acreditar na Pátria ? Nem pensar ....
Então ... e quanto á Família ??? Hem ? Porque é que um tão grande defensor destes valores tradicionais, destes baluartes da sociedade moderna não adere ele próprio á formação de uma família e manda antes os outros fazê-lo ??
E, se não o deseja fazer, não perde ele uma parcela tremenda de credibilidade na sua compungida atitude ?
Como não ver hipocrisia na defesa desses valores, por parte do líder do CDS/PP ? Como se podem defender eficaz e sinceramente valores ... que não se praticam ?
Foi isto que ouvi da boca de Louçã. Como é que Paulo Portas fala tanto de aborto e da defesa da vida quando nem sequer está disponível para colocar uma só vida no Mundo que seja ?
O S.Tomás da direita ?
Portanto, não se trata de conceder a Paulo Portas um direito de opinião. Esse ele não precisa que ninguém lho conceda. Tratou-se apenas de desmontar uma das hipocrisias mais correntes nos defensores de uma certa ideologia de direita. Tratou-se também de evidenciar uma das contradições insanáveis na vida daquele jovem político.
E a quem não entendeu e se mostrou muito ofendido, recomendo uma ida urgente ao oculista. Não conseguem ver a hipocrisia de certas atitudes, pois não ?
Mas vai sendo tempo, meus senhores e senhoras.

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