sexta-feira, fevereiro 27, 2004

AH, ESTAS DIFÍCEIS RELAÇÕES ...

Nós, os humanos, somos bichos sociais. Vivemos em sociedades altamente estruturadas, com inúmeros elementos agregadores, tais como nacionalidade, raça, religião, região, cidade, clube favorito, sexo, eu sei lá que mais. Como todos sabemos, estes elementos de agregação, de formação de um sentimento de comunalidade, podem rapidamente tornar-se elementos de diferenciação ou mesmo de segregação, em determinadas condições concretas.
Tudo isto para afirmar que, sem dúvida, umas das questões menos bem resolvidas pelo ser humano, ainda hoje, é o das relações entre as pessoas. Qualquer tipo de relações, de vizinhança, de simples convivência, de amizade, de amor e por aí fora.
Destas todas, são particularmente complicadas todas aquelas que envolvam conflitos rácicos, compromissos emocionais e, em acumulação, compromissos patrimoniais. Tchiiiii ....
Para tentar enquadrar estas dificuldades, existe uma enorme bateria de códigos jurídicos, normas morais, códigos religiosos e até mesmo simples códigos de conduta informais, de cariz puramente local, cuja força assenta na aceitação por todos desses “hábitos”.
São, no seu conjunto, procedimentos e normas complexos, cuja exequibilidade varia com o decorrer do tempo, a interpenetração de várias culturas, a mudança dos hábitos sociais e até mesmo os ideiais políticos vigentes.
Seja como for, toda esta panóplia apenas afirma uma coisa : é MUITO COMPLICADO VIVER EM COMUNIDADE SEM CONFLITOS.
E depois, dirão vocês ? Já sabemos todos isso por experiência de vida própria, quanto mais não seja...
Bem, é neste momento que eu faço a minha afirmação do mês : apesar de todos os normativos, apesar de andarmos sempre em bicos dos pés a pensar na clonagem humana e na vida extra-terrestre, a verdade é que CADA VEZ É MAIS COMPLICADO VIVER EM CONJUNTO. Seja nas relações um a um, seja nas relações sociais, seja no confronto entre nações. Dentro de algumas nações, por exemplo, a convivência multi-ética rapidamente forçada começa a colocar problemas graves. No conjunto das nações, o papel da ONU está totalmente em causa, muito graças aos nossos "amigos" americanos. Entre as pessoas, na constituição das famílias, o caos está à vista de todos, o falhanço é quase total, ninguém sabe que fazer.
Caminhamos, assim, para novas formas de conduta, novos códigos, novos tipos de relações ou, pura e simplesmente, estamos a caminhar para um qualquer caos inevitável ?
Vamos lá, digam-me as vossas opiniões : há salvação para todos nós ? Qual o papel das Igrejas nesta evolução ? E a política, devia ou não começar a preocupar-se com esta questão, tal como já se começou a preocupar com a poluição ?

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

INTERVALO PARA CURAR PEQUENAS FERIDAS

Desculpem-me, hoje sinto-me incapaz de escrever alguma coisa que vos interesse. Questões pessoais, desilusões, mentiras, coisas que pensávamos sólidas a desmoronarem-se. Nada de muito grave, o que é ainda pior. Quando apanhamos um choque grande, geram-se anticorpos de resistência, aqui nem isso, toda a resistência deve ser feita a sangue-frio.
Sabem que mais ? Ninguém nos prepara para certas coisas na vida, não há manuais onde vamos ler o que fazer, quando acontece isto e aquilo. Ficamos sós, perante os nossos valores e as nossas dúvidas, e temos de agir conforme achamos melhor. O único farol que consigo ver, daqui onde me encontro, é o da minha consciência. Fraca ajuda neste caso, a luz é tão fraca que mal a vejo. Estarei a meter ao rumo certo ? Quem sabe ??
Ah, sim, trata-se apenas de divergências menores com a minha filha.
Pensavam que era com o gato ?

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

O ESTRANHO CASO DOS LOIROS & DA LOIRA

Aqui, à vossa esquerda, estão os personagens mais importantes da minha vida, actualmente. A minha filha, loira adoptiva, com um ar compenetrado, os dois cantadores implacáveis, canários loiríssimos, e, last but not the least, o gato Cenoura, felino loiro especializado em mordidelas rápidas, técnica conseguida em seminário que frequentou no canil municipal. Na circunstância fixada pela camera, a minha filha limpa a casa dos canários enquanto o Cenoura supervisiona a operação, na esperança nunca esmorecida de deitar as unhas ( e provavelmente os dentes ) se algum deles decidir sair da gaiola.
A cena repete-se quase todos os dias. O figurão dos bigodes, esteja onde estiver, capta os sons dos canários e surge de imediato, com um ar sorrateiro, a fingir que não se interessa por nada daquilo.
Um destes dias, um amigo ( ou foi amiga ? ) mais atento, perguntou-me, intrigado : "Ouve lá, pá, mas tu só gostas de pessoas e bichos loiros ?? " Eheheheheh ... Só então notei a constância cromática desta composição.
Não dá ideia também de um quadro de Vermeer, ou coisa assim ? Em vez de uma "Rapariga com brinco de pérola" poderia ter por título "Rapariga com gato e canários loiros"... Ou coisa parecida.
Seja como for, estes são a actriz e os actores do meu quotidiano. Pelo menos durante mais algumas semanas.
Depois, quando se mudarem, tenho que ensinar os canários e o gato a entrarem na internet e a usarem o mail e o mirc, para não os perder de vista. O gato não vai ter problemas, ele já anda frequentemente por cima do teclado... quanto aos canários, se não conseguirem aprender, podem sempre fingir que são pombos correios e ir e vir de um para outro lado com as mensagens, ehehehe ...
Ah, sim, uma última informação : contrariamente ao aforismo tão em voga, nenhum destes quatro é nada burro ...muito pelo contrário !!! E, se duvidarem e tiverem coragem, eu apresento-lhes o Cenoura ... vão logo perceber !


terça-feira, fevereiro 24, 2004

O MITO DO D.SEBASTIÃO AO CONTRÁRIO

Hoje lembrei-me, de repente, que sou uma espécie de D. Sebastião ... só que totalmente às avessas, de pés para o ar. Duvidam ? Vamos ver : para começar, o sujeito era Rei, filho de gente de teres e haveres. Eu não, nem rei nem descendente de gente rica ... Lá o rei ainda dispensava, nunca gostei de protocolos, mas o resto daria jeito, não é ?
Depois, o D. Sebastião era um jovem, mesmo um puto, sem qualquer experiência de vida ... mais uma vez exactamente ao contrário, por aqui a juventude só se for de espírito ( e mesmo assim nem todos os dias ) e também já poderia dispensar alguma experiência de vida, começa a não ser precisa para grande coisa ....
Ao D. Sebastião se dedicaram poemas, canções, estátuas e filmes, a mim nunca ninguém dedicou mais do que uma carta, proveniente da minha Repartição de Finanças, a dizer-me que tinha sido escolhido ... para ter as minhas declarações de IRS inspeccionadas ! Hã, pois é, queria ver o D. Sebastião a ter de ir às Finanças explicar porque é que tinha gasto aquela pipa de massa com o Álcacer_Quibir ...
E daí, provavelmente alegaria ter sido um investimento em mais uma missão de "peace-keeping", de manutenção da paz, como aquelas que hoje se fazem em Timor ou no Iraque : e aí, mais uma vez, estou em campo oposto, nem sequer sou capaz de manter a paz dentro de mim próprio.
Mas não pensem que as semelhanças invertidas acabam aqui : depois da tragédia suceder ( aí não me parece que o oposto - um grande êxito - se me aplique ) o desventurado e jovem Rei tornou-se uma lenda, com todo o povo a carpir a mágoa do seu desaparecimento e a esperar por ele, numa manhã de nevoeiro ... Pois, mas comigo é uma vez mais o inverso : cada vez mais me dá a ideia que as pessoas me querem ver pelas costas, com ou sem nevoeiro ! Ehehehehehe !
Em síntese : o não-Sebastião, o indesejado !

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

DEVO ESTAR EM DÉFICE

Hoje acordei triste. Deve ser o inconsciente a fazer balanços da minha vida, enquanto durmo. E deve ter concluido que ando em défice.
Se foi isso, não fui informado desse balanço, só sei que acordei mal-disposto e pensei que a minha vida exige mudanças. O problema é que nem sequer consigo perceber que raio de mudanças devia fazer !! Enquanto tento perceber o que hei-de fazer, hoje proponho-vos outro poema, desta vez de Pablo Neruda. Leiam.

Teu riso

Tira-me o pão,se quiseres
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
ás vezes por ver que
a terra não muda,
mas ao entrar o teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no Outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama, mas
quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

domingo, fevereiro 22, 2004

UM MOMENTO SOB A PONTE

Ao caminhar, junto do pilar da ponte, uma mulher jovem ergue o rosto para o sol e sorri. Há momentos destes, mágicos, perturbantes. A felicidade dela, naquele momento, era algo que quase se podia tocar. Um sorriso fácil, leve, bonito, como só uma mulher é capaz de fazer. Fazia muito frio, o vento estava forte e gelado, havia ondas no Tejo, mas ela sorria, jovem, confiante, bela.
A máquina disparou-se quase sózinha, é muito sensível a sorrisos daqueles. Eu, o companheiro da máquina, limitei-me a assistir e a premir o botão, ela já tinha escolhido o modelo, o enquadramento, a focagem, tudo na passagem, rumo ao carro aconchegante.
O Tejo sempre atraiu mulheres jovens que sorriem ao vento, ao sol e às gaivotas. E homens no Outono, atentos à beleza desses sorrisos que lhes recordam Verões passados, outros sorrisos e outros ventos.
A vida tem momentos destes, únicos, enquanto a água corre sob a grande ponte.

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

COISAS SEM NEXO NENHUM OU TALVEZ SIM

Esta tarde agarrei na pequena Olympus e desci às margens do Tejo. Tinha conversado ontem com uma pessoa amiga ligada à fotografia e queria fazer umas fotos para lhe mostrar do que era capaz a minha caixa de fósforos digital. Estava muito frio, até as gaivotas me pareceram enregeladas. Ninguém na praia, nem pescadores, esses profissionais da solidão marítima. Algumas pessoas, dentro dos carros, liam ou conversavam. Imaginei-os a ver-me tirar fotos, eu com o ar mais profissional que consegui vestir e a tremer apesar do casacão de cabedal tipo Gestapo. Bem, uma das fotos está aí à vossa esquerda. Sabem onde é ?
Cinco minutos depois fugi para o carro e liguei o motor, para aquecer os pés e as mãos. Decidi ir beber um café ao Vela Latina, perto da Torre de Belém.
Aos solavancos, sobe e desce, por um empedrado com mais ondulação que o rio vizinho, fui remoendo umas coisas. Para vos contar, tenho de recuar. Há quase nove anos que estou viuvo, mas a minha filha tem vivido sempre comigo. Damo-nos muito bem. Graças a ela, a verdade é que eu não sei praticamente o que é viver sózinho. Foi ficando, com aquela falta de incentivos para sair de casa dos jovens de hoje, não sei também até que ponto movida pela ideia de me fazer companhia. Claro que ia tendo os seus namorados, mas nunca tinha surgido a hipótese de casar ou sair de casa. Nunca fiz pressão para que as coisas fossem assim, aconteceram assim, apenas.
Bom, agora temos andado a combinar, vai comprar um apartamento, perto de mim e passar a viver sózinha. Ou com quem escolher. Estou feliz, acreditem, mas não consigo deixar de pensar que vou mesmo ficar sózinho, agora. Vou ficar definitivamente viúvo, nove anos depois de o ser.
Adiante, as aves jovens devem voar a solo .... e eu cá me arranjarei, sempre o fiz.
O café ( com um bolinho ... ) do Vela Latina aqueceu-me e estive a acabar a leitura d' A VISÃO. Ehehehe, o tal artigo a aconselhar o sexo como terapêutica... Ocorreu-me que, sendo assim, as farmácias podem vir a envolver-se, por exemplo, no negócio dos computer-dating ... só com prescrição médica, claro !
Um senhor de idade ( gostam desta, hem ? eu, velhote de cabelos brancos, a falar em senhores de idade ! ) à minha frente também lia um jornal qualquer. Ou melhor, tentava, porque passou o tempo todo a ler de olhos meio-fechados. Devia estar a reflectir. Ao lado dele, uma jovem ruiva, de sardas assopradas pela cara toda, metia combustível : duas sandes de queijo, um arroz doce e um café, ora toma ! Aquela não tinha problemas alimentares, não.... e até era toda jeitosa, observei-a quando se foi embora.
Tinha muita gente, hoje, o Vela Latina. Casais de idade, casais jovens, muito poucas pessoas on their own como eu. Bem, não me posso começar a armar em coitadinho, já tenho estado muitas vezes ali mesmo com amigos e amigas. E já tenho dois ou três jantares marcados com amigos, para as próximas semanas. Pessoas às quais me unem longos anos de trabalho em conjunto, ou quase. Outras com as quais me lembro de passar Natais a tomar banho nas águas do Índico. :)))) Estou longe de me poder considerar sózinho, vazio ou infeliz.
Hoje ao almoço - ia-me esquecendo desta efeméride, pá - para reforçar a minha autonomia, até surpreendi a minha filha, que vinha das aulas almoçar a casa, com um magnifico chop-suey ( é assim que se escreve ? ) de frango, inteiramente preparado cá por este vosso amigo... que tal ?
Portanto, vamos para a frente que a vida vive-se ... vivendo-a, não é ?
Só que, de vez em quando, esqueço-me destas coisas todas e sinto-me mesmo a iniciar a ultima volta da corrida. O que vale é que a pista é longa e esta ultima volta ainda pode ser que dure e que mereça o esforço final !!!
Assim espero.

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

MAIS UMA VEZ DIGO : O MEU GATO É QUE SABE

Tchiiii, grande confusão e excitação que aquele ultimo tema provocou ! Até mesas redondas vieram à baila. Pessoalmente, sempre achei que, para certas actividades inerentes ao tema tratado, as mesas baixinhas e rectangulares eram mais adequadas ... mas claro que há gostos para tudo, pronto.
Prometo voltar ao tema, em breve. Vão reflectindo e preparando argumentos. Ou façam experiências práticas, sei lá. Depois veremos.

A propósito, sabiam que hoje, em artigo publicado na Visão, se afirma que o sexo faz bem á saúde ? Pois é, faz emagrecer ( parece que é equivalente a correr durante 30 minutos ), estimula o ritmo cardíaco, aumenta a boa disposição e mais não sei quantos very nices. Será a isto que os americanos chamam "fringe benefits" ?
A ser verdade ( é, é, é, é ! ), sigam o conselho, cuidem da vossa saúde !

Hoje, vou limitar-me à sorna, não digo mais nada. Depois da barafunda de ontem, é bom descansar e não causar tanto rebuliço. E depois, tenho para aí leitoras que, de tanto me acusarem de lhes suprimir os comentários acabam por colocar quatro ou cinco de cada vez ! Safa !!
Pois bem, olhem para o meu gato, com aquele ar de esfinge pachorrenta. Ao pé dele, alguns dos meus símbolos do dia a dia, um livro qualquer, desses que só servem para descansar os olhos enquanto a mente voa, e um telemóvel, não vá aquela morena boazuda do 3º Esquerdo lembrar-se de me telefonar .... ehehehe ( não acreditem, hem ?, no 3º Esquerdo só mora um professor de geologia que é viuvo, ehehe ) !!
Digam lá, sinceramente : não invejam a sabedoria com que o meu gato se dedica ao dolce fare niente ? Vá lá, aprendam com ele ! Mas imitem-o só depois de seguirem aquele conselho do artigo da Visão, ouviram ? ....

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

UMA ÉTICA DO DESEJO, PRECISA-SE - PARTE II

De uma leitora interessada, recebi o seguinte comentário ao meu texto anterior, colocando o problema de uma forma um tanto rude mas verdadeira :

“De modo algum quis «complicar a solução destes problemas» porque, na minha modesta opinião, eles são insolúveis...Há muito tempo que o sexo comanda a vida... o resto, ou seja, aqueles que mantêm o casamento, fazem-no por razões económicas, sociais, etc... não por amor. Assim, mantêm o casamento e... têm, simultaneamente umas namoradas...
Como quer solucionar tal situação? Eu não faço a menor ideia... “


Estas afirmações simples e directas, contêm a questão básica a resolver. O sexo. O casamento, ou outra qualquer forma de vida a dois ( ou a 5, como na cultura muçulmana ) não esgota o desejo sexual dos participantes. Nem do homem, talvez mais predisposto à partida para jogos extra-relação, nem da mulher, cada vez ousando mais reconhecer o seu próprio desejo sexual.
Gostaria, ainda assim, de opinar que os motivos dados pela leitora para a continuidade de muitas ligações são manifestamente redutores. Há, de facto, pessoas entre as quais os laços são extremamente fortes, sejam de amor, amizade ou algo do género, e que forma alguma se confundem com as motivações económicas e sociais avançadas pela mesma leitora. Ela própria ( que eu não conheço ) reconhecerá decerto a existência de casos assim.
Contudo, para grande parte das ligações, a busca da satisfação do desejo sexual fora da relação é um dado facilmente observável. Então ? Como fazer ? Fingir que é questão sem importância ? Mentir permanentemente quer ao parceiro de ligação quer ao novo parceiro da “aventura” ? Declarar a verdade a todos, arriscando a dissolução da ligação ?
Será que há alguma dignidade em ignorar a dôr que estas digressões extra-relação provocam ? Tanto num parceiro, o antigo, o “oficial”, como no novo, o “provisório” ?
À semelhança de muitas outras coisas na vida quotidiana, será melhor não pensar nisto e deixar o tempo ir resolvendo estas questões ?

Bem, não me conformo, nunca me conformei. Procurei respostas aos 20 anos, continuo a procurá-las quase aos 60. Sou assim. Fica talvez agora mais nítido o meu apelo do texto anterior : UMA ÉTICA DO DESEJO, PRECISA-SE. Porque se trata de encarar esta realidade que todos conhecemos e pensar uma ética de comportamentos, sem hipocrisia, que garanta várias coisas : desde logo, a verdade como elemento do jogo, para que não haja actores envolvidos sem o saberem nem desejarem. Para que não exista o engano e a decepção/humilhação correspondente. Para que isto não seja um jogo de caçador-presa, mas antes uma actividade entre seres humanos dignos, livres e responsáveis.
Hoje, tal como quando lia Wilhem Reich, aos vinte e tal anos, sinto o apelo da “selva”, mas recuso a qualidade de “besta”.

Pergunta-me a leitora se eu sei como resolver. Claro que não. Mas sei isto : seja qual fôr a solução, ela terá de passar pela verdade e pela aceitação das partes. Sem isso, será sempre uma prática hipócrita e tendencialmente provocadora de conflitos e de dôr.

Entre todas as pessoas que conheci na vida, tenho uma amiga que sempre entendeu estas questões da forma como as coloco. É uma mulher como nunca conheci outra. Não faço ideia como nasceu dentro dela esta sabedoria, mas a verdade é que a possui. A minha homenagem a ela, agora que discutimos este tema.

PS – Por triste ironia da vida, e já depois do meu primeiro texto sobre este tema, alguém que eu conheço pessoalmente foi “vítima” deste comportamento hipócrita e enganoso, por parte de um digno namorado que se “esqueceu” de a informar que vivia já com outra mulher ... Humilhação e frustração.
O pior de tudo, porém, é que as “vítimas”, por uma estranha patologia comportamental, tendem por vezes a “desculpabilizar” o autor do engano, acreditando que ele irá resolver a seu favor o eterno triângulo amoroso ... Inverdades, incoêrencias, angústias, infelicidades.
Nestes jogos, assim, ou não há vencedores ou não há dignidade.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004


UMA ÉTICA DO DESEJO, PRECISA-SE

Sou homem de muitos anos e de paixões e encantamentos diversos. Casei-me novo, aos 25 anos, mal saí daqueles portões largos ao cimo da Alameda da Fonte Luminosa. O casamento viria a durar quase 30 anos, eu sou daquela geração que encarava o divórcio quase como uma derrota pessoal. Houve coisas de que me arrependo, algumas “infidelidades” que não resisti a confessar à minha companheira de uma vida. Essa geração era também feita destas ideias românticas e idealistas, desta tentativa de compatibilizar o impossível. Já então eu pensava que o desejo devia ter uma ética por suporte ( baseada na verdade, queria eu acreditar ) embora não aceitasse que essa ética fosse a de matar à nascença o próprio direito ao desejo.
Deixem-me agora dar um salto de muitos anos, para os dias de hoje. Sou viúvo há vários anos, tenho tentado muitas soluções para um relacionamento homem-mulher. Tenho visto e experimentado muitas coisas, tenho observado e anotado. Não sou nada do género puritano ou conventual ou tímido ou tontinho ou distraido.
E contudo, estou totalmente confuso, confesso.
Todas as minhas ideias de ética do desejo foram completamente destruídas e ultrapassadas. Mais nos homens, é verdade, mas também em muitas mulheres, noto uma total ausência de ética quanto ao sexo. A única ideia presente é a do desejo puro e duro. Por vezes, ao ponto de nem sequer interessar para nada a personalidade do parceiro de cama. Vivemos uma era do prazer como forma de vida e sua justificação final, para muita gente.
Claro que, sendo assim, como podem subsistir condições para uma vida a dois com um mínimo de durabilidade e de verdade ? Como pode subsistir, nos tempos modernos, o paradigma da monogamia ( ou da monoandria ) ? Com que finalidade ? A criação dos filhos surge, assim, como a única motivação para um agregado a dois, funcionando como célula de defesa e educação dos filhos. Mas como defender os méritos desta solução, se ela não é verdadeira, na maior parte dos casos ? Se o núcleo familiar não funciona mesmo, dada a incompatibilidade de tempo ( e paciência ) dos pais ?
Então, se nem essa justificação é totalmente pacífica, para que se hão-de formar famílias ?
Por que não havemos, todos nós, de passar a vida com relações que duram desde um ou dois dias até dois meses, quando muito ?
Bem, espero que não vão pensar que estou a defender que deva ser assim. A verdade é que não faço a mínima ideia de como deva ser ou de como virá a ser. Nem eu ...nem ninguém.
E como tudo começa no desejo e no sexo, hoje, mais do que nunca, volto a reclamar uma ética do desejo. Só isso nos libertará para outras tarefas inadiáveis da vida em sociedade. Nem sequer sei exactamente o que isso seja, mas sonho com um grupo de procedimentos e de ideiais que nos ajudem a encontrar o balanço perdido. Algo como a versão moderna dos 10 mandamentos mas que venha de dentro de nós. Que não seja apenas o sopro do prazer a falar. Sem jamais o esquecer, claro, ao prazer. Mas que nos restitua, a todos, a dignidade e a pureza perdida algures dentro de cada um de nós. Que nos permita abandonar o cinismo e o desprendimento. Que nos faça sorrir uns para os outros. Que não nos deixe rancor nem culpa sempre que nos juntarmos dois a dois : mulher/homem ou seja o que for :)) .
Quero, hoje como há 30 anos, uma ética para o meu desejo. E para o vosso também.
Quero aprender a ser feliz sem ninguém ficar infeliz em troca.
E gostaria que não me chamassem lírico por querer isso.

domingo, fevereiro 15, 2004

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OS TONTINHOS DOS CACHECÓIS SÃO OS MELHORES DO FUTEBOL
Parece que é de futebol que vou falar mas não é : é de pouca-vergonha !

Hoje é dia de cachecóis encarnados e azuis, pelas minhas bandas. O Futebol Clube do Porto vem jogar à Luz. Nestes dias, não há restaurante ou café pelas redondezas do estádio onde não se vejam magotes de “furiosos”, facilmente identificados pelos artefactos próprios da liturgia do futebol. Gorros, cachecóis, eu sei lá.
Nunca consegui perceber bem o que vai por dentro desta gente. Gostam de futebol ou gostam de combater por intermédio do seu clube ? Procuram diversão ou vão ao estádio em tratamento psiquiátrico ? São pessoas normais ou tipos com “pancada” e frustrações de vária ordem ? Onde vão buscar os recursos para pagar todas estas viagens, os bilhetes e os comes e bebes ?
Um pouco disto tudo, talvez, que acham ?
E já que estou com a mão na “massa”, alguém me sabe explicar o motivo pelo qual os dirigentes dos clubes de futebol, das federações, das ligas, da arbitragem, os empresários dos jogadores, todos estes tipos têm um ar absolutamente mafioso e bafiento ? É obrigatório, ou algo do género ? Há alguma lei que obrigue os gajos do futebol a uma aparência troglodita, e a comportamentos completamente falhos de dimensão humana, ética ou moral ?
Vá, digam-me, eu confesso a minha ignorância ! Porque é que o futebol está nas mãos destes tipos sinistros, sem educação nem princípios, com vocabulários grotescos e modos directamente importados do Cais do Sodré às 3 da manhã ?
Ná, tem que haver uma explicação... deve existir para aí meio escondida uma Comissão qualquer encarregada de fazer a triagem das pessoas que querem ir para o futebol. Só pode ser isso : ai daquele que tiver mais uns estudozitos, uma educaçãozita, um ar sensato e delicado ... então se cheirar a pessoa séria e honesta está logo frito !
Deve ser isso, não acham ?
Agora só fica por explicar porque razão os políticos andam sempre com esta malta nas palminhas. De que raio andam à procura, que não faltam a nenhuma inauguração de estádio ou a nova sementeira de relva ? É atrás de votos que andam ? Ou andam a cobrar favores ?
Também é um mistério para mim.
Ainda chego à conclusão, pensando melhor, que de todo este pântano em que o futebol português se transformou, os unicos que se aproveitam são mesmo estes tontinhos de gorros e cachecóis azuis e vermelhos que andam por aqui a beberricar umas imperiais ...

quinta-feira, fevereiro 12, 2004


O FILME DESTE FIM DE SEMANA

Para este fim de semana recomendo BIG FISH, um filme cheio de fantasia e sonho, de tal forma entrelaçados na realidade que já não se distinguem muito bem. A par disso, para aqueles que gostam, uma história de amor que durou mais de quarenta anos ... ( eu não disse que a fantasia e a realidade se confundem ? ah ah ah ... )

Quem quiser ver o "trailer" do filme, faça favor ... clique AQUI e tenha alguma paciência até começar o video.

Se for mais exigente e quiser saber tudo sobre o filme, veja AQUI
Vá ao cinema e, durante duas horas, entregue-se à fantasia. Divirta-se !

terça-feira, fevereiro 10, 2004


QUE HÁ NO MUNDO MELHOR QUE A MULHER ?

Sabem, nunca entendi bem a homosexualidade masculina. Não é uma questão de machismo, marialvismo ou outro qualquer ismo que, de resto, nunca explica nada e apenas esconde a realidade dos sentimentos e emoções. Não tenho qualquer problema em reconhecer o fenómeno ( a homosexualidade ), em concordar que devem ter direitos e ser olhados com naturalidade pela sociedade. Tudo o que quiserem. Só não percebo, nunca hei-de perceber, porque é que preferem gostar de outros homens quando existem seres destes - as mulheres - à sua frente ! É que, para mim, a preferência duma coisa a outra ( ainda por cima se for por opção pessoal, como eles pretendem ) é completamente absurda, tonta, incompreensível... Há lá qualquer dúvida que uma mulher - todas as mulheres - são seres de uma beleza maravilhosa, misteriosa, suave, irresistível ? Há alguma coisa no Mundo que se compare à generosidade, abnegação e carinho de uma mulher pelo homem a quem ama ? Há qualquer emoção que iguale a que um homem sente quando a mulher amada lhe passa as mãos pela cara e o abraça ? Há alguma escultura mais bela e proporcionada que um corpo feminino, nas suas curvas e concordâncias complexas e indescritivelmente bem desenhadas ?
Estão a ver ? Para mim, a homosexualidade masculina, sobretudo se por opção pessoal, não passa do mesmo fenómeno que se verifica quando alguém afirma não gostar de Chopin ou Beethovan : é apenas uma simples questão de mau gosto, caraças !
Tenho dito. Gosto das mulheres, que querem ? Das, disse eu. De todas. Vivam as mulheres !

segunda-feira, fevereiro 09, 2004


O 2º ALBUM DE NORAH JONES ...

Lembram-se da menina de Nova Iorque com uma voz surpreendentemente melodiosa e doce, com canções suaves, baladas com influência de Blues ? Pois bem, aí está o novo Album desta jovem, na mesma linha melódica. Sai amanhã, mas isto da Internet permite-lhes já ouvir umas faixas, se quiserem.
O novo Album chama-se "It feels like home".

Experimentem clicar AQUI

Se não gostarem, digam-me, para lhes chamar surdos.

domingo, fevereiro 08, 2004

DOMINGO, CHEIO DE SORNA ...

Como hoje estou preguiçoso, não vou alongar-me em paleio ... ( sorte a vossa, hem ?? ).
Mas também não quero deixar-vos sem um mimo, pelo menos. Há que cuidar do leitor, não é verdade ? E das leitoras, também, claro. Mais ainda.
Bem : vão ver o endereço que indico abaixo e tenham um pouco de paciência. Surgirá uma animação cheia de espírito, sobre os hábitos hábitos vigentes em Itália por oposição aos da Comunidade Europeia, eheheheh .... Basta verem os primeiros bonecos para perceberem que o “gozo” é inteiramente aplicável a Portugal.

Ora experimentem lá. Cliquem AQUI

Tenham uma boa semana e sejam felizes.

sábado, fevereiro 07, 2004

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SABEM, SE CALHAR HÁ MESMO BRUXAS ...

Não acredito muito em astrologia, nem nessa miríade de conhecimentos mais ou menos orientais que clamam um conhecimento perfeito do ser humano, alma incluida. Mas a verdade é que também não acredito em bruxas e toda a gente sabe que, como dizem os espanhóis, que las hay, las hay ... Isto a propósito da minha vida na semana passada. Os deuses estavam chateados comigo, de certeza. Os horóscopos, reikis, bio-ritmos e tudo o resto deviam condizer todos : eu não devia falar com ninguém e, se possível, devia ficar deitado na cama a ver aqueles concursos todos da TV terrivelmente excitantes e educativos.
Como não segui essas indicações, foi uma miséria : zanguei-me com 2 ou 3 pessoas minhas amigas, houve jantares recusados e outros cancelados em cima da hora. Para finalizar, uma outra pessoa, por quem eu tenho amizade e consideração, diz-me na cara, na hora da sobremesa do jantar ( que eu pensara ir salvar a semana ! ), que eu sou um chato do caraças por motivos que não são para aqui chamados e eu já julgava enterrados há anos.
Bolas ! Até o meu gato anda às avessas comigo, já não me dá aquelas mordidelas simpáticas e só se ri para mim quando eu o suborno com uma latinha de petiscos tipo peixe com legumes ...
Espero bem que esta maré passe e o sol volte a brilhar. Agora à noite vou jantar e ao cinema, com a minha filha, aproveitando ela estar numa de pausa semanal com o namorado. Como nos damos muito bem, acho que não nos vamos aborrecer. Mesmo assim, pelo sim pelo não, vejam aí por mim o meu horóscopo para este sábado à noite, façam-me lá esse jeito ...

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

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COMO PODEMOS ACREDITAR NO FUTURO ??

Um destes dias li um artigo numa revista portuguesa em que um senhor se insurgia contra o derrotismo lusitano. Em França, Espanha ou na Suiça também há corrupção, pedofilia, presidentes de câmara de duvidosa honestidade e políticos em quem ninguém acredita, dizia ele. Porém, não há um tom geral de depressão na sociedade, como entre nós ; continua-se a acreditar no país, notava este colunista. Temos que mudar, temos que ultrapassar as nossas depressões e acreditar, incentivava.
OK, por mim estou pronto. Quando é que começo a ganhar o mesmo que ganharia se estivesse em França, Espanha ou na Suiça ? Ou até só 75% do que eles ganham !
Pois não vê esse senhor colunista distraido que a esperança ou qualquer outra atitude perante o destino colectivo não é algo que nasça connosco, que não tem a ver com o fado ? Não percebe que o entusiasmo criador de riqueza numa sociedade não nasce espontâneamente, é antes obra de lideres políticos ( ou gestores económicos ) que o sabem e querem despertar e sustentar ? Não percebe - esse colunista distraidíssimo - que esse entusiasmo crescerá na razão directa da repartição equitativa dos ganhos gerados ? E não saberá - anda mesmo despistado de todo, esse homem - que o nosso país é, dentro de toda a Europa, aquele em que o factor trabalho fica com a parcela mais baixa dessa riqueza anual criada ? Também nunca ninguém lhe teria chamado a atenção - a esse analista iluminado - que, em Portugal, existe uma noção profunda de descrença, sim, mas por razões muito sólidas : afinal, quem paga as crises sucessivas não são sempre os mesmos ? Quem paga impostos não são sempre os mesmos ? Quem enriquece cada vez mais, surdamente, sordidamente, não são os outros, os que não pagam impostos e ganham com as crises ? Então este ilustre comentador pretende que sejamos sugados até ao tutano e ainda por cima andemos alegres, entusiasmados, motivados e crentes no futuro ?
Porra, o homem ou é muito distraído ... ou muito cínico. Escolha o leitor.
Não, não digo quem é. Não interessa. É um dos muitos rapazes de partido que pululam por aí.
Uma ultima palavra : eu bem gostaria, malta, eu até vos pagaria um jantar e uns copos se pudesse acreditar no futuro ! Mas com estes senhores a tentar destruir tudo o que cheira a "social", só me resta andar mal encarado e a lutar para que se vão embora o mais depressa possível.

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

A MEDICINA E O MEDO DA MORTE

A minha atitude pessoal em relação à Medicina sempre foi de cepticismo moderado e selectivo. É claro que reconheço os avanços dos ultimos anos, o enorme impacto de alguns medicamentos ( os antibióticos, por exº ) e de algumas técnicas ( nos meios auxiliares de diagnóstico, as tomografias, as ecografias, as ressonâncias magnéticas, etc ...). Mas não me iludo com estas pequenas vitórias, conheço as enormes limitações da Medicina em muitas e variadas desordens no organismo humano como o cancro, a SIDA, a hepatite, alguns tipos de gripes, que sei eu ... Casos há, mesmo, em que os avanços nos meios de diagnóstico estão completamente desfasados dos meios de tratamento, originando situações em que o médico tem de informar o paciente que este sofre de uma certa doença ... em relação à qual não pode fazer nada ! ...Convenhamos, é uma situação esquisita e dificil de aceitar.
Vejam até que ponto a nossa ignorância vai, nestes domínios : um jogador morre repentinamente em pleno campo de futebol e a ciência declara-se incapaz de conhecer exactamente a causa da morte. Nem sequer conseguimos saber porquê ! Não é lá muito tranquilizante, pois não ?
Mas, se este meu quadro tem algo de correcto, porque motivo a Medicina moderna conquistou o estatuto de “super-estrela” nas nossas vidas quotidianas ? Porque se tornou numa das maiores preocupações sociais dos governos e também numa das maiores fontes de despesas nos orçamentos desses países ? Porque se investem fortunas na defesa das nossas vidas, a pagar especialistas e meios de diagnóstico e tratamento ? Porque se enriquece fácilmente nesta área de trabalho ?
Numa palavra : medo.
Temos medo de morrer. A morte assusta-nos de uma forma indescritível.
E sempre assim foi, em todos as culturas, etnias e organizações sociais. Os feiticeiros das tribos também não tinham mãos a medir, apesar de apenas usarem umas pedrinhas, patas de coelho e algumas folhas de vagos efeitos terapeuticos.
A morte assusta-nos a todos. Mesmo àquele idoso de 95 anos que vai sempre à consulta, queixando-se de uma leve dor nas costas ...
Por mim, tento fugir a essa espécie de ditadura da morte. Ainda não estamos mortos e já ela nos condiciona e obriga a andar medrosos ? Não, não deve ser assim.
O culto exagerado da vida está na génese de alguns comportamentos chocantes do ser humano – como o egoismo e a cobardia – da mesma forma que o culto oposto, o desprezo pela vida, esteve na origem de outros porventura ainda mais chocantes.
À medida que fui ganhando maturidade, comecei a aceitar a fragilidade e transitoriedade da vida humana. Percebi que a vida é apenas um empréstimo a prazo variável. A minha, também, que muitas vezes pensamos assim mas apenas para os outros !
Não exijo milagres, pois, da Medicina moderna. Recorro a ela, como todos nós, mas não tenho ilusões nem olho os profissionais deste sector como semi-deuses. Recomendaria mesmo mais modéstia e menor culto do seu valor. E, se possível, uma menor exploração comercial do medo da morte, ganhando milhões por actos de puro feitiçaria cabalística, muitas vezes apenas paliativos ou completamente ineficazes.
Não tenho pressa de testar estas minhas teorias, é certo, mas espero ser capaz de pensar assim até ao fim. Afinal, o dia da nossa morte é apenas mais um dia das nossas vidas, como dizia João Amaral.
E tu, leitor de blogues, como te relacionas com a morte ? Sim, com a tua ...

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

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FUTEBOL E POLÍTICA DO GOVERNO, O MESMO IMENSO ZERO

Não me tem apetecido escrever. Não sei bem porquê, as peripécias dos ultimos tempos neste meu país desanimaram-me, fizeram-me calar. O mundo do futebol profissional em Portugal continua a dar-me todos os motivos para fugir dele a sete pés. Um mundo rasteiro, ignorante, inculto, sem ética nem vergonha, feito de dinheiro fácil e relacões ambíguas com o poder político. Um mundo de simulação, violência, fuga às responsabilidades, vigarice como norma dos estádios. Mas porque é que todo o país atura isto ? Porque é que tivemos todos de dar dinheiro dos nossos impostos para dez estádios de futebol ? Dez ! Depois, quando este sub-mundo se revela na sua plenitude e as cadeiras dos estádios voam em direcção às cabeças de espectadores, árbitros e jogadores, aí os assim chamados responsáveis agitam-se e vá de fazer leis. Como já vos falei em escrito anterior, fazer leis é a forma original portuguesa de fingir que se resolvem problemas. Por azar, apareceu um gajo a gritar : "Alto, não é preciso nova lei, a actual já contempla estes casos ! ". Como ninguém cumpre as leis, corremos sempre este risco : esquecemo-nos que já fizemos esta ou aquela lei sobre esta ou aquela situação ! Alguém devia fazer uma espécie de listagem por tópicos das nossas leis, co'os diabos !
Ah, mas pensar que faltam 4 meses para aturar esse chavascal tremendo que vai ser o Europeu de Futebol ! O único gozo vai ser vê-los a explicar porque é que a geração de oiro (*) dos nossos futebolistas não conseguiram passar sequer aos quartos de final !

Depois, continua o folhetim deste Governo, sem direcção nem estratégia que não seja o ataque encarniçado a tudo o que pertence ao sector público. Qualquer dia, até a eles próprios se vão privatizar. Acho que se não o fizeram já é por falta de interessados em ficar com eles ! É pena, por mim ficava com aquela inefável ministra da Justiça, de sorriso tão lindo e conhecimentos tão profundos ... já viram como ficaria bem no Museu das figuras de cera da Madame Tussaud ? E os outros dois, com os seus ares compungidos e de grande fé religiosa ? ehehehehe ... o que me faz pensar para que raio precisará Jesus de pessoas deste jaez ! A não ser que seja para efeitos de figuração na grande peça divina, no papel de vendilhões do templo !
Enfim, vamos ver amanhã. Hoje estou farto destas macacadas todas. Sejam felizes.

(*) Geração de oiro = geração de jogadores que ganharam fortunas a jogar em clubes europeus fora de Portugal, para os quais jogar na selecção nacional funciona apenas como marketing no mercado das transferências.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004


UM BREVE REGRESSO ÀS ORIGENS ...

Hoje fui ao Ribatejo, com a minha filha. Temos uma casa por essas terras da lezíria, era a casa da família da minha mulher. Uma moradia com quatro ou cinco quartos, um quintal com umas quantas laranjeiras e arbustos vários. Até bambus, uma bananeira e um cágado residente. Uma arrecadação no quintal, cujo telhado já reparei uma ou duas vezes ; uma delas com a ajuda de uma amiga, imaginem !
A casa não está ocupada, é uma pena ninguém lá ir pelo menos passar uns fins de semana. Bom, a família não é assim tão grande como isso, não é ? De qualquer forma, vamos lá de vez em quando. Não imaginam como as coisas partidas e desarranjadas se sucedem numa casa daquelas. Sempre que lá vou dou comigo a arranjar estores, telhas partidas na arrecadação exterior, fechaduras, eu sei lá ... Nunca tenho muita vontade de lá ir, por esse motivo.
Cumprindo uma velha tradição minha e de minha filha, o almoço foi no Café Central da Golegã, em pleno coração desta vila, um largo junto à Igreja Matriz, a tal do portal manuelino do século XVI ( ver foto ao lado ). Terra de lavradores, trabalhadores agrícolas e toureiros. Lembram-se do Manuel dos Santos ? Agora baptizaram-a de capital do cavalo ... enfim, a mim o que me interessa é o bife do Central, ou o sável frito com açorda ou um magnífico arroz de polvo que lá aparece também. Mistérios, prova da habilidade do polvo em caminhar por terra, é possível dar-se de caras com ele em sítios como Trás-os-Montes, Alentejo ... ou mesmo na capital do cavalo !
Resolvidos os assuntos que lá me levaram - e outros que só lá descobri, como uma fechadura encravada - metemos de novo á A23 ( a que vai para Castelo Branco, mas em sentido inverso ), apanhamos a A1 e aí estamos nós a andar calmamente para Lisboa, de novo. Eram 4 e tal da tarde, o céu tinha boas abertas, poucos carros na auto-estrada e não havia pressa. A minha filha, embalada com o calor dentro do carro e uma música pouco entusiasmante, acabou por cabecear, sonolenta. Eu deixei os cavalos ( não vinha da capital dos mesmos ? ) conduzirem-me, dóceis e ligeiros, até à 2ª Circular ...
Home, sweet home.

domingo, fevereiro 01, 2004


PNEU VELHO ( SÓZINHO ) EM PRAIA DESERTA

Domingo chato, este ! Eu tenho sempre dito que não gosto dos Domingos, mas mesmo assim há uns mais chatos que outros. As pessoas vão almoçar a casa umas das outras, vão passear não sei para onde, têm que ir ter com um amigo ou amiga ou precisam de arrumar umas coisas antes do início da semana, que sei eu ... Em termos práticos, no que me diz respeito, as pessoas desaparecem aos domingos !
Pelo menos, ainda fico com o café e os jornais. Sem estes, não sei como ficaria a minha sanidade mental.
Dirão vocês : mas hoje um homem só vive sózinho se quiser. É verdade. A minha solidão é totalmente voluntária. Ou melhor, não estou disposto a abdicar da minha autonomia. Não sei se seria capaz de encontrar um equilibrio, se o fizesse. Mas sejamos claros : esta independência custa-me muito caro. Custa-me este ódio aos domingos, para começar.
Vá lá, nem tudo acabou por ser tão mau, hoje. Quase no fim do dia encontrei uma alma amiga que me fez um pouco de companhia, por entre o nevoeiro e a chuva fininha...
Ah, sim, e vi um velho pneu, a ser lambido pelas marés.
Mas foi interlúdio de pouca dura, aqui estou eu de novo agarrado ao blogue ... ehehehe !
Abaixo os domingos, portanto ! E vivam os pneus que resistem às marés e ao tempo !