sexta-feira, fevereiro 20, 2004

COISAS SEM NEXO NENHUM OU TALVEZ SIM

Esta tarde agarrei na pequena Olympus e desci às margens do Tejo. Tinha conversado ontem com uma pessoa amiga ligada à fotografia e queria fazer umas fotos para lhe mostrar do que era capaz a minha caixa de fósforos digital. Estava muito frio, até as gaivotas me pareceram enregeladas. Ninguém na praia, nem pescadores, esses profissionais da solidão marítima. Algumas pessoas, dentro dos carros, liam ou conversavam. Imaginei-os a ver-me tirar fotos, eu com o ar mais profissional que consegui vestir e a tremer apesar do casacão de cabedal tipo Gestapo. Bem, uma das fotos está aí à vossa esquerda. Sabem onde é ?
Cinco minutos depois fugi para o carro e liguei o motor, para aquecer os pés e as mãos. Decidi ir beber um café ao Vela Latina, perto da Torre de Belém.
Aos solavancos, sobe e desce, por um empedrado com mais ondulação que o rio vizinho, fui remoendo umas coisas. Para vos contar, tenho de recuar. Há quase nove anos que estou viuvo, mas a minha filha tem vivido sempre comigo. Damo-nos muito bem. Graças a ela, a verdade é que eu não sei praticamente o que é viver sózinho. Foi ficando, com aquela falta de incentivos para sair de casa dos jovens de hoje, não sei também até que ponto movida pela ideia de me fazer companhia. Claro que ia tendo os seus namorados, mas nunca tinha surgido a hipótese de casar ou sair de casa. Nunca fiz pressão para que as coisas fossem assim, aconteceram assim, apenas.
Bom, agora temos andado a combinar, vai comprar um apartamento, perto de mim e passar a viver sózinha. Ou com quem escolher. Estou feliz, acreditem, mas não consigo deixar de pensar que vou mesmo ficar sózinho, agora. Vou ficar definitivamente viúvo, nove anos depois de o ser.
Adiante, as aves jovens devem voar a solo .... e eu cá me arranjarei, sempre o fiz.
O café ( com um bolinho ... ) do Vela Latina aqueceu-me e estive a acabar a leitura d' A VISÃO. Ehehehe, o tal artigo a aconselhar o sexo como terapêutica... Ocorreu-me que, sendo assim, as farmácias podem vir a envolver-se, por exemplo, no negócio dos computer-dating ... só com prescrição médica, claro !
Um senhor de idade ( gostam desta, hem ? eu, velhote de cabelos brancos, a falar em senhores de idade ! ) à minha frente também lia um jornal qualquer. Ou melhor, tentava, porque passou o tempo todo a ler de olhos meio-fechados. Devia estar a reflectir. Ao lado dele, uma jovem ruiva, de sardas assopradas pela cara toda, metia combustível : duas sandes de queijo, um arroz doce e um café, ora toma ! Aquela não tinha problemas alimentares, não.... e até era toda jeitosa, observei-a quando se foi embora.
Tinha muita gente, hoje, o Vela Latina. Casais de idade, casais jovens, muito poucas pessoas on their own como eu. Bem, não me posso começar a armar em coitadinho, já tenho estado muitas vezes ali mesmo com amigos e amigas. E já tenho dois ou três jantares marcados com amigos, para as próximas semanas. Pessoas às quais me unem longos anos de trabalho em conjunto, ou quase. Outras com as quais me lembro de passar Natais a tomar banho nas águas do Índico. :)))) Estou longe de me poder considerar sózinho, vazio ou infeliz.
Hoje ao almoço - ia-me esquecendo desta efeméride, pá - para reforçar a minha autonomia, até surpreendi a minha filha, que vinha das aulas almoçar a casa, com um magnifico chop-suey ( é assim que se escreve ? ) de frango, inteiramente preparado cá por este vosso amigo... que tal ?
Portanto, vamos para a frente que a vida vive-se ... vivendo-a, não é ?
Só que, de vez em quando, esqueço-me destas coisas todas e sinto-me mesmo a iniciar a ultima volta da corrida. O que vale é que a pista é longa e esta ultima volta ainda pode ser que dure e que mereça o esforço final !!!
Assim espero.

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