sexta-feira, fevereiro 06, 2004

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COMO PODEMOS ACREDITAR NO FUTURO ??

Um destes dias li um artigo numa revista portuguesa em que um senhor se insurgia contra o derrotismo lusitano. Em França, Espanha ou na Suiça também há corrupção, pedofilia, presidentes de câmara de duvidosa honestidade e políticos em quem ninguém acredita, dizia ele. Porém, não há um tom geral de depressão na sociedade, como entre nós ; continua-se a acreditar no país, notava este colunista. Temos que mudar, temos que ultrapassar as nossas depressões e acreditar, incentivava.
OK, por mim estou pronto. Quando é que começo a ganhar o mesmo que ganharia se estivesse em França, Espanha ou na Suiça ? Ou até só 75% do que eles ganham !
Pois não vê esse senhor colunista distraido que a esperança ou qualquer outra atitude perante o destino colectivo não é algo que nasça connosco, que não tem a ver com o fado ? Não percebe que o entusiasmo criador de riqueza numa sociedade não nasce espontâneamente, é antes obra de lideres políticos ( ou gestores económicos ) que o sabem e querem despertar e sustentar ? Não percebe - esse colunista distraidíssimo - que esse entusiasmo crescerá na razão directa da repartição equitativa dos ganhos gerados ? E não saberá - anda mesmo despistado de todo, esse homem - que o nosso país é, dentro de toda a Europa, aquele em que o factor trabalho fica com a parcela mais baixa dessa riqueza anual criada ? Também nunca ninguém lhe teria chamado a atenção - a esse analista iluminado - que, em Portugal, existe uma noção profunda de descrença, sim, mas por razões muito sólidas : afinal, quem paga as crises sucessivas não são sempre os mesmos ? Quem paga impostos não são sempre os mesmos ? Quem enriquece cada vez mais, surdamente, sordidamente, não são os outros, os que não pagam impostos e ganham com as crises ? Então este ilustre comentador pretende que sejamos sugados até ao tutano e ainda por cima andemos alegres, entusiasmados, motivados e crentes no futuro ?
Porra, o homem ou é muito distraído ... ou muito cínico. Escolha o leitor.
Não, não digo quem é. Não interessa. É um dos muitos rapazes de partido que pululam por aí.
Uma ultima palavra : eu bem gostaria, malta, eu até vos pagaria um jantar e uns copos se pudesse acreditar no futuro ! Mas com estes senhores a tentar destruir tudo o que cheira a "social", só me resta andar mal encarado e a lutar para que se vão embora o mais depressa possível.

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