sexta-feira, abril 30, 2010

OS INSTITUTOS PÚBLICOS E AS EMPRESAS MUNICIPAIS

Li hoje que o governo espanhol anunciou um plano sem precedentes para a eliminação de 29 empresas públicas e o corte de 32 altos cargos de responsáveis de vários ministérios como medida para diminuir o gasto público.
Li e sorri, meio triste, ao lembrar-me do que aconteceu no nosso país nestas últimas dezenas de anos. A verdade é que, tanto nos partidos políticos e governantes nacionais como nos autárquicos, cresceu uma mistura explosiva de vários ingredientes, a saber :

-> A necessidade de dar resposta à pressão das clientelas partidárias em busca de empregos para si ou para familiares ;

-> A chegada de novas ilusões e novos mitos de gestão, como a célebre 3ª via do Tony Blair, os ventos do neo-liberalismo económico e o suave charme da gestão empresarial aplicada à coisa pública ;

Estes dois vectores determinaram um crescimento absolutamente extravagante e imoral da máquina estatal, criando-se centenas de empresas públicas dotadas de autonomia administrativa e financeira, com o objectivo de fazer coisas ... que já eram feitas pelas inúmeras direcções-gerais e serviços dos vários ministérios.
A alegação é de que esses novos organismos seriam muito mais eficazes e flexíveis, permitindo quebrar o anquilosamento clássico dos serviços públicos, mas a verdade era e é outra.
Claro que esses novos organismos, intitulados de Institutos Públicos, seriam dotados de Conselhos de Administração, com presidentes, vice-presidentes e vogais, todos com vencimentos e regalias absolutamente superiores ao normal da função pública. Sem esquecer os carros e as despesas pessoais através de ... cartões de crédito.
Foram centenas os organismos assim criados. A febre da moda empresarial contagiava todos. Pudera, com aqueles vencimentos até apetecia trabalhar para o Estado.
Foi um regabofe. Pessoas sem qualquer tipo de qualificações para os lugares viram-se providos num qualquer conselho de administração, de um dia para o outro !
Para as mesmas funções, passámos assim a ter, em muitos casos, dois conjuntos de pessoas : uns, os antigos, da estrutura normal dos ministérios, desmotivados e mal pagos ; os outros, os dos institutos, em muitos casos completamente incompetentes, mas ... bem pagos e satisfeitos com o partido.
Como se isto não fosse já suficientemente mau, no período Guterres lembraram-se de autorizar as Câmaras Municipais a fazer o mesmo ! E vai daí, em todas as Câmaras, proliferaram as empresas municipais para os lixos, as águas, a cultura, a atribuição de casas económicas, os mercados, que sei eu. Todas com conselhos de administração e vencimentos de acordo. Em muitos casos, o próprio presidente da autarquia acumulava com o vencimento de presidente do conselho de administração de uma empresa destas.
Enfim, um fartar vilanagem. Neste momento, existem nos 308 municípios do país quase 250 empresas municipais, com um total de mais de 2.000 administradores !!!
Sobre estas empresas autárquicas, leiam, se quiserem, um artigo publicado num outro blogue, o Quadratura do Círculo.
Só a Câmara Municipal de Lisboa possui 9 destas empresas públicas, algumas delas entretanto já sujeitas ao escrutínio do Ministério Público, com os consequentes processos em tribunal. Veja aqui quais são essas empresas.
Bem, depois deste texto já longo, lembre-se agora da notícia com que começamos, sobre o Governo espanhol.
Em seguida, lembre-se que aqui em Portugal, a única forma que descobriram para poupar foi travar os salários, aumentar os impostos ( embora afirmem que não ) e deixar de fazer ... meia auto-estrada no centro do país. Continua o TGV para Madrid, continua o novo aeroporto, continuam os Institutos Públicos e as Empresas Municipais, continua toda a gente a sacar dinheiro ...
Estou pessimista, francamente.
Tenha um bom fim de semana, leitor, apesar de tudo.
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quarta-feira, abril 28, 2010

A ZONA EURO DESCONHECIDA

Na altura da adesão à moeda "única" europeia confesso que fui contra, por motivos que não interessam agora. Depois, embora sem me render à ideia, gostei da estabilidade que a nova moeda nos veio trazer, com baixas taxas de inflação e com uma "força" que seria garantia de segurança na turbulência financeira do Mundo.
A verdade é que o Euro se portou bem, como moeda, até ser posta à prova, duramente, com a recente crise financeira.
Agora, transformou-se numa moeda hesitante, sujeita a ataques selectivos aos países de economia mais fraca. Agora, mostra uma fragilidade financeira tremenda. Querem saber porquê ?

Ponto #1 - Decidiu-se avançar para a moeda única antes de existir a coesão política e doutrinária indispensável. A zona Euro não é uma zona políticamente estável nem com perspectivas políticas comuns. Assim, quando um destes países é atacado, a reacção de alguns dos outros não é a defesa em bloco, mas antes a crítica e a oposição à ajuda, como é o caso da Alemanha, hoje em relação à Grécia.

Ponto #2 - O Banco Central Europeu ( BCE ) criado não inclui responsabilidades de cobertura financeira, em caso de risco ou acidente. Nunca ninguém criou um fundo europeu de segurança para o euro, que pudesse agora fazer empréstimos aos países com dificuldades, a taxas de juro não especulativas. Os empréstimos a conceder à Grécia vão partir dos vários países, não do BCE. Provavelmente, para emprestar 700 e tal milhões de euros à Grécia, Portugal vai ter de pedir emprestado no mercado esse dinheiro a taxas de juro superiores às que a Grécia depois lhe vai pagar !!

Ponto #3 - A Europa nunca se assumiu como uma potência que fala a uma voz e que exige a relevância mundial económica e financeira a que tem direito. Por exemplo, nunca a Europa se decidiu a criar e instalar uma empresa europeia de "rating" que pudesse fazer melhor trabalho que as americanas e que introduzisse os factores locais de correcção e contenção. Sabe o leitor que as tais empresas de "rating", como a Standard & Poor's, que agora está a aproveitar-se de Portugal, são empresas privadas americanas ? Sabe que estas notas que vão lixar a vida de países inteiros são "arbitradas" por um ou dois senhores ? Sabe que esses mesmos senhores já cometeram erros terríveis, no passado recente ?
Mas nada disto parece interessar à Europa.

Ponto #4 - Em conjunto com a administração americana, a Europa não se entende quanto à legislação de regulamentação das empresas financeiras. Do lado de lá, no Congresso, os democratas de Obama andam, agora mesmo, em luta diária com os Republicanos para fazer passar a regulamentação que pretendem. Do lado de cá, na Europa, além de umas "bocas" de Sarkosy, ninguém parece preocupar-se com isso. É que essa regulamentação pode impedir as asneiras das tais firmas de "rating", além de outras. Então porque se não consegue avançar ?

Bom, leitor, espero ter-lhe mostrado que esta nossa Europa não passa ainda de uma menina ingénua e desprotegida, que não pode resistir aos ataques "traiçoeiros" dos "malandros" financeiros em todo o Mundo. Sinceramente, a Europa é uma desilusão ( mais uma ) que carrego comigo. É aqui que concordo com Mário Soares quando declara alto e bom som que a Europa de hoje não tem líderes políticos à altura.
Claro que não tem, a Europa de hoje não passa de uma burocracia cara e desconchavada que não sabe o quer.
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terça-feira, abril 27, 2010

A IDADE DA INOCÊNCIA

Quando era miúdo, acreditava piamente que as pessoas "crescidas" que governavam o país e o mundo sabiam perfeitamente o que faziam e mais, que o faziam sempre para o bem de todos. Que é que querem, uns acreditavam no Benfica, outros em lobisomens, eu acreditava nos homens.
Foi a maior desilusão da minha vida, quando comecei a ver que não era bem como eu pensava. Alguns desses crescidos preocupavam-se mesmo mas era com eles e os seus, em exclusivo. Outros, que até se interessavam pelos seus semelhantes, faziam muitos erros, embora convencidos da sua razão. Foi um grande balde de água fria. Afinal os homens e mulheres não sabiam bem o que havia de ser feito, as coisas andavam um pouco ao Deus-dará neste mundo que eu pensava ser ordenado e bem governado.
Possivelmente o leitor passou pelo mesmo trauma, não sei.
O tempo, o conhecimento e a experiência fizeram-me cínico, mais tarde. Descobri que a maior parte dos que gostam de ocupar os lugares do poder político não deviam lá estar. Ou são pouco sérios ou são incompetentes. Os restantes, fogem desses lugares como o diabo da cruz, vá-se lá saber porquê ...
Vem tudo isto a propósito da forma como o Mundo está organizado. Que pensa disso o leitor ?
Comecemos pelo grande "cimento" que parece aglutinar tudo e todos no Mundo de hoje : o dinheiro. É a mola real de todos os comportamentos e atitudes humanas. Dinheiro, quanto mais melhor.
Tempos houve em que se podia ter fé em outros princípios de solidariedade e de justiça entre os seres humanos. Essa fé foi traída e despedaçada por muitos que em nome desses princípios construiram sociedades opressivas e aberrantes. Agora, já quase ninguém tem essa fé, apenas se vai vivendo com pequeninas esperanças, submergidos por este tremendo mar de materialismo e ganância.
As igrejas, bem tentam, mas pouco podem fazer,também elas atacadas por fundamentalismos e pragas, como a pedofilia na igreja católica.
O dinheiro, o lucro como como valor absoluto, são hoje os conceitos dominantes, sem grande contestação. Mesmo quando é responsável por crises complexas como esta em que vivemos. Ninguém tem uma alternativa para esta lógica diabólica.
O que é pior de tudo é que, orientados por este paradigma, somos incapazes de parar e reorientar o nosso modelo de crescimento económico. Continuamos sempre em frente, desperdiçando e destruindo recursos naturais imprescindíveis à vida, numa corrida cega e estúpida, até ao abismo.
Confesso, já nada resta em mim do miúdo de que lhes falei no início. Esse miúdo não cresceu, foi muito pior : esse miúdo morreu, pelo menos tal como era.
Foi pena, esse miúdo faz-me falta, sinto saudades dele. Não gosto deste sabor a falta de esperança na minha boca.

domingo, abril 25, 2010

OS RISCOS E OS JUROS

Caro leitor : já reparou que, de repente, nos últimos tempos, apareceu no horizonte um novo "papão", os juros da dívida dos países com défice externo ? Já pensou que esse problema não se punha da mesma forma há 1 ano atrás ??
O que lhe vou dizer, caro leitor, é conhecimento básico deste mundo-cão moderno em que vivemos. Perca as ilusões, isto é mesmo um mundo totalmente mafioso, sem escrúpulos nem ética, onde apenas contam os milhões que se ganham.
Há dois anos atrás, quando do início da tão falada crise financeira, o que é que se averiguou ? Que o Mundo financeiro tinha enlouquecido, que as grandes instituições financeiras inventaram produtos financeiros que nem sequer valor real tinham e os vendiam e revendiam na bolsa a valores sempre estupidamente crescentes. Grande parte destes produtos eram constituidos por derivados dos créditos à habitação americanos, mas também eram largamente transaccionados produtos ligados ao petróleo e derivados. Assim como uns meses antes tinham sido produtos ligados aos cereais.
Tudo serve, na bolsa, para ganhar rios de dinheiro. O valor real das coisas é irrelevante, desde que apareçam sempre compradores, particulares ou institucionais, para comprar esses produtos.
Bom, a crise veio pôr a nú tudo isso. As novas D. Brancas foram descobertas e neutralizadas. A partir daí já não era possível vender na bolsa produtos ligados ao crédito à habitação, já ninguém os queria ...
Então, nos tempos que correm, quais são os produtos transaccionáveis nas grandes bolsas que podem dar milhões ? Pense um pouco ...
Eu digo-lhe : produtos compostos a partir de títulos da dívida pública de certos países ! Sim, a dívida portuguesa ( ou Grega ou Espanhola ), quando Portugal se financia nos mercados internacionais, é partida e repartida em fundos de investimento e outros pacotes envolvidos em roupagens atraentes e é colocado em bolsa, para serem comprados e revendidos pelos investidores. Quanto valem esses produtos ? A resposta é : valem tanto mais quanto maior for a taxa de juro que os países devedores são obrigados a pagar por eles.
Então, leitor, qual é a conclusão óbvia ? É que é do interesse puro e especulativo de quem comprou a nossa dívida que nós sejamos obrigados a pagar juros cada vez mais altos !! Tão simples como isto : quanto mais altos forem os juros, mais milhões eles ganham. Exactamente como há dois anos faziam com o imobiliário, agora o ponto de ataque destas sanguessugas financeiras é a dívida dos países com défice externo !
Como é antipático dizer isto, assim a frio, afirmam então que os juros aumentam porque também aumenta o risco desses países não pagarem a dívida ... quando é exactamente ao contrário, esses países têm problemas para pagar a dívida porque a especulação e a avidez internacional aumenta desmesuradamente os juros !!
Ou seja, o verdadeiro problema é a usura internacional e institucional, que ninguém consegue disciplinar e controlar. Houve muitas promessas, durante a crise, mas NADA foi feito, a especulação continua à solta, como no início.
Está a ver, leitor ? As coisas são sempre simples, quando as percebemos. Os problemas ( que são reais, claro ) da Grécia, de Portugal, Irlanda e de outros países não é tanto o risco de falência, é antes a obrigatoriedade de dar biliões e biliões de euros para as carteiras gordas de toda esta gente gulosa ...
Como se um país que paga 4% pelos seus empréstimos ficasse um devedor mais cumpridor se passar a pagar 5, 6 ou 7% pelos mesmos empréstimos ...
Risco, uma ova ! Do que eles falam é da mais desenfreada especulação à custa dos povos desses países !
Leitor : toda a gente do "meio" sabe isto que acabei de lhe contar. É capaz de me dizer porque é que nunca ninguém consegue dar um fim a esta bandalheira ???

sábado, abril 24, 2010

PALAVRAS PARA QUÊ ? É UM ARTISTA PORTUGUÊS !!

Este, e mais 200 ou 300 mil fulaninhos, igualmente portugueses de gema, impecáveis nos seus fatinhos de marca. Nem todos eles conseguiram "desviar" assim milhões, do lado de dentro de um banco, mas todos eles partilham o mesmo código ético e moral onde os conceitos de honestidade e verdade foram substituídos por uma única palavra : SACAR.
Tudo isto começa a ser perturbante e kafkiano. Não há dia em que não se saiba que a PJ entrou na sede de um clube de futebol, num banco, na PT, no negócio da sucata, num escritório de advogados, num centro comercial ( ai o Freeport ! ), num terminal de contentores, numa Câmara Municipal, sei lá onde mais. E depois é desesperante, parece o Benfica de épocas passadas, muitos lances de golo mas propriamente golos, perdão, condenações, nada ou quase nada.
Bem vistas as coisas, a corrupção e a avidez em sacar dinheiro de qualquer forma é que são a verdadeira epidemia. A gripe A ao pé disto é benigna, quase bem-vinda.
Sei que várias outras pessoas já o disseram, mas eu insisto : o verdadeiro problema da sociedade portuguesa é este, a falta de valores, a falta de sanção social ao roubo, aos esquemas espertos, à vigarice. São cada vez menos aqueles que não concordam com estas atitudes, cresce o "deixa andar", o sentimento de que se é parvo por também não fazer o mesmo, a ideia de que vale a pena "aproveitar as oportunidades" e de que o dinheiro e as coisas boas é que valem, na vida.
Não sei como iremos inverter isto e continuar a chamar vigarista e gatuno a quem o é.
Até o próprio código dos códigos, para os cristãos, parece vulnerável e antiquado, e sofre um ataque cerrado, à boleia das histórias da pedofilia ...
Não admira assim, amigos, que em vez de condenações penais desta gente e arresto dos bens ilicitamente apropriados, o resultado final seja ... o PEC.
É assim, uns comem, os outros pagam. Pergunte-se a si próprio porquê.
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sexta-feira, abril 23, 2010

ESTÁ TUDO DOIDO ?

Não tenho conseguido escrever nada, os meus ( poucos mas bons ) leitores que me desculpem. Pura e simplesmente, de vez em quando fico com o motor gripado. Este nosso país actual não deixa de me espantar, pura e simplesmente.
Sério, fico pasmado a ler e reler certas notícias, com a sensação que aterrei em Marte.
Isto a propósito dos CTT. Pensava eu que se tratava de um serviço público, insubstituível e de grande valor para as populações.
Pelos vistos estou errado. Afinal é uma empresa que se rege pelas leis do mercado e que tem o lucro por objectivo, não o serviço às populações.
Um destes dias, o sr. presidente desta "coisa" que dá pelo nome de CTT, confessava que tem 60 milhões de euros disponíveis para "ir às compras", em Espanha ou na França. Às compras ? Não pense o leitor que ele se referia a novos equipamentos de triagem da correspondência, ou coisa no género. Não, o senhor quer ir às compras de outras empresas, como se fosse o chairman de uma empresa privada em fase de crescimento !!!
Imaginam isto ? Mas quem autorizou estas aberrações ? Quem permitiu que um serviço público como os CTT fosse gerido tendo como orientação o lucro e o crescimento corporativo ? Desculpem-me, mas que merda de visão é esta, que porcaria de governo é este e os últimos, que tempos são estes que vivemos ?
Então não admira, para rematar, que José Sócrates venha propor a privatização dos CTT. Claro, se "aquilo" não é mais que uma empresa como outra qualquer ...
A sério, amigos, vocês entendem este mundo em que vivemos ? Vocês aceitam que tudo seja resumido a euros, a valor na bolsa, a empresas a comprar outras empresas ?
Confesso que fico com uma sensação horrorosa de estar a viver no meio de um grande jogo do "monopólio"...

sábado, abril 17, 2010

ESTÃO À ESPERA DE QUÊ ?
A enorme "núvem" de cinza e outros elementos vulcânicos, vinda da Islândia, estende-se rapidamente a toda a Europa do Norte e Central. À hora a que escrevo, já apanha mesmo uma pequena franja do espaço aéreo português, no norte do país.
Milhares de vôos foram já inviabilizados, dezenas de aeroportos estão fechados, muitos milhares de pessoas retidas por essa Europa fora, incluindo em Lisboa, Porto e Faro.
Um pouco por toda a Europa, as pessoas viram-se para as viagens alternativas, por terra, através do caminho de ferro e da via rodoviária.
Porém, é aqui que se nota que a tal Europa dos burocratas de Bruxelas, com as suas multiplas organizações, comités, reuniões e discussões ... não funciona, pura e simplesmente. Está paralizada e calada. Também os governos dos vários países parecem estar todos a dormir, à espera que um qualquer milagre varra a tal núvem e deixe as coisas voltar ao normal.
Pergunta simples e óbvia : não deviam estar já os Governos a dar directivas para que se reforcem até ao limite a utilização da via férrea e da via rodoviária ? Estão à espera de quê ? Vá lá, mexam-se, suas lesmas, tentem perceber as emergências em tempo útil ! Isto não vai desaparecer, provavelmente, em um ou dois dias !

quinta-feira, abril 15, 2010

A REALIDADE NÃO NOS DÁ DESCANSO

Preparem-se, aqui vai um cocktail do que se passa por aí, no Mundo :

Os escândalos de pedofilia na igreja católica. Só agora é que descobriram ??

O Figo prestou-se, aparentemente, a uma palhaçada de consequências ainda imprevisíveis. Curiosamente, não vai ser arguido, acho que o rapaz não sabia que o Taguspark tem capitais estatais.

O avião do presidente polaco despenhou-se na aterragem, com má visibilidade, à 4ª tentativa. Qualquer pessoa familiarizada com estas coisas sabe que o piloto, sem a coacção do presidente, nunca teria feito aquele disparate. Outro piloto polaco que costuma voar com o presidente veio dizer que, no passado, o presidente já tinha feito o mesmo. Teimosia de um político que, arrogante, eu é que mando, arrasta para a morte mais de 100 pessoas. Há outros que arrastam para a miséria um país inteiro.

Um vulcão velho, de nome impronunciável, na Islândia, resolveu vomitar chamas, lava, pedras e cinza. A cinza resolveu passear pelo norte da Europa, vai daí só hoje foram cancelados cerca de 5.000 vôos. Uma vez mais, a Natureza mostra que quem manda é ela.

Lá longe, na China, um sismo mata centenas de pessoas e destrói várias vilas inteiras. Não têm direito a grande emoção aqui em Portugal, afinal são chineses e moram longe.

Aqui ao lado, em Espanha, o juíz Baltazar Garzon, figura controversa, frequentemente armado em superstar, vai ser levado ao banco dos réus, atacado por franquistas reciclados.

A marcha dos preços do petróleo continua imparável, ninguém fez absolutamente nada para evitar de novo esta catástrofe. Os desvairados e corruptos do petróleo, em todo o mundo, esfregam as mãos e fazem brindes. O Governo português também, os impostos enchem-lhes os cofres.

A Comissão Europeia deixou passar o PEC português, com algumas recomendações subliminares para que o cinto seja mais apertado, aqui. O mesmo de sempre, uns dizem mata e os outros berram esfola !

A Organização Mundial de Saúde veio admitir que a história da gripe A foi um grande “flop” ; claro que não admite que a sua acção, nesta história toda, foi muito benéfica para a saúde ... da indústria farmacêutica. Só em Portugal, ficámos com 2/3 das vacinas nas mãos, sem nenhuma utilidade. Largos milhões de euros. Nestas matérias, ninguém ousa abrir comissões de inquérito, pois não ?

Passos Coelho, recém eleito presidente do PSD, vem inundar-nos com a sua sabedoria luminosa : do que estamos a precisar mesmo é de uma revisão da Constituição. Vá lá, podia ter-se lembrado de pior, estilo privatizar a água da chuva.

Por último, um antigo economista do FMI veio lançar luz definitivamente sobre Portugal : estamos nas vésperas da bancarrota ! O que o senhor não sabe, nem tem obrigação de saber, é que nós, portugueses, tirando o período da pimenta da Índia e o do ouro do Brasil, sempre vivemos em véspera de bancarrota ... isso para nós é canja, é o nosso dia a dia !

E pronto, é assim.
A vida moderna parece um jornal feito por e para doentes psiquiátricos.
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segunda-feira, abril 12, 2010

UMA QUINTA NO MEIO DO VERDE

É uma zona de colinas e vales, árvores tranquilas cá em baixo, a guardar as vinhas, gigantes de pás ao vento, lá em cima, rodando lentamente em busca de energia eléctrica.
É ainda Ribatejo, mas já a esticar-se para Oeste, à espera do vento que vem do mar.

Sempre que aqui venho, a esta quinta de amigos meus, sinto-me em paz com o Mundo e comigo mesmo.
Há qualquer coisa de mágico nestes verdes infinitamente variados, nestes muros de pedra cimentados com amor e suor, nos socalcos sabiamente construídos, nas cerejeiras e ginjeiras em flor.

Esta não é uma propriedade que alguma vez o dinheiro possa comprar, é algo onde se sentem os anos de sonhos e de canseiras, as soluções longamente reflectidas e construídas, o trabalho incansável, a dedicação e o amor por tudo isto.

Mais do que seus donos, estes meus amigos são os autores deste pedaço de paraíso, encaixado no triângulo Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço e Alenquer.
São pessoas simples e hospitaleiras, que têm sempre muito orgulho em partilhar com os amigos este seu trabalho de muitos anos, desde que adquiriram um pedaço de terra inóspita com uma casa meio arruinada no meio.
Tem faro para estas coisas, este meu amigo, e encontrou na sua mulher um sólido esteio para este trabalho de anos.
Parabéns a ambos, amigos, por esta obra das vossas vidas. Fiquem com este meu testemunho, alguém que vem de fora, vê a obra realizada e lhes diz : bravo, amigos, este foi e continua a ser um trabalho magnifico !

Bem hajam por me deixarem, de vez em quando, partilhar da tranquilidade e beleza deste local. E também da vossa companhia e amizade, que sabem muito bem quanto prezo.
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sábado, abril 10, 2010

ESTOU CANSADO
O cansaço invade-me os ossos. Tenho reumático político. E náuseas, as palavras vindas da TV dão-me vómitos e tudo rodopia à minha volta. Estou doente, todo o país está doente. Agonizamos, enquanto esperamos pela esperança. À nossa volta, vão surgindo candidatos a curandeiros, equipados a rigor nos seus fatinhos de lã macia, sorridentes e a cheirar ainda aos bancos da escola. Os que andaram na escola. O problema é que já ninguém acredita neles, nestes falsos curandeiros. Prometem muito mas deixam tudo na mesma ou ainda pior do que estava. Só de ouvir falar em Justiça, Educação ou Pequenas e Médias Empresas o meu estômago revolta-se e contrai-se como um louco. Ando há quase 40 anos a ouvir falar nisto e tudo fica sempre pior do que antes. Que raio de maldição é esta ? Será assim tão difícil mudar ? Ou, bem vistas as coisas, somos nós que não queremos mesmo mudar as coisas ? Ou, ainda mais simples, todos nós nos encolhemos, não nos queremos sacrificar e acabamos por escolher os meninos mais ambiciosos que põem o dedo no ar ?
Acho que não resisto : Durão Barroso fugiu assim que viu a porta aberta, Santana Lopes fez da governação uma "rave" na praia, Sócrates ofendeu-nos e maltratou-nos com a sua incompetência arrogante e agora ... isto é o que podemos esperar como alternativa ??

quinta-feira, abril 08, 2010

ÓH ZEINAL BAVA, VOCÊ SABE, TENHO UM FILHO QUE ...

Senti curiosidade, hoje, em saber mais sobre Zeinal Bava, o homem de nome esquisito que é o responsável executivo da PT. Com uma pesquisa no Google deparei com um artigo da VISÃO de 27 de Março de 2008, da autoria da jornalista Clara Teixeira. O artigo esclareceu-me as origens do senhor, tal como eu queria, mas não é disso que vos queria falar hoje. Não é da PT nem de Zeinal Bava nem da compra da TVI que vos vou falar.
É outra coisa. Leiam, por favor, a seguinte passagem que retirei do referido artigo :

O artigo não afirma que os filhos daqueles senhores entraram por "cunha", claro. Não afirma o artigo, mas ninguém tem dúvidas sobre isso, pois não ?
Não sou um tipo extremista, muito menos fundamentalista. Também não sou invejoso, mas estas "coisas" revolvem-me o estômago e todas as restantes vísceras, sabem ? São pequenas atitudes que, não sendo crime nem podendo ser chamadas de corrupção, deixam uma nódoa indelével, para mim, no carácter das pessoas. Dir-me-ão : então mas não é uma atitude natural, procurar ajudar os filhos ? Respondo : estas coisas são muito mais que ajudas aos filhos. São um aproveitamento ilegítimo de posições públicas, de relações, de apelidos. Pode, à primeira vista, parecer que são coisas simples, leves, sem mácula de maior. Não acredito. Para mim, quem usa a sua posição para favorecer os seus filhos é uma pessoa em quem não confio, ponto final. Se faz isso, fará outras coisas. Não admito, em democracia, estas atitudes.
Mesmo quando a generalidade das pessoas os desculpa, eu acho que são atitudes vergonhosas. Estive em posição de fazer isso, e nunca o fiz, nunca mais me poderia ver ao espelho.
Mas a vida é assim, e tenho a certeza que continuam todos a ser pessoas muito estimáveis e prontas a todos os sacrifícios por este País e pelos seus concidadãos. Claro que os filhos estão primeiro que os outros cidadãos, mas isso é normal, não ??

quarta-feira, abril 07, 2010

SOBRE A NATUREZA HUMANA

A primeira página do PÚBLICO de hoje suscitou-me algumas ideias que pensei em partilhar convosco.
Numa das notícias em destaque, dá-se conta das cheias provocadas no Rio de Janeiro por chuvadas intensas e prolongadas. A situação é muito má, arrasta-se há dias e é a história de sempre : a contagem já vai em mais de 100 mortos, casas em ruínas, carros destruídos, etc ... Claro que os directamente envolvidos são os mesmos de sempre, os mais desprotegidos, os que tiveram de construir as suas casas em locais totalmente inseguros, que mais ninguém quereria. No Rio de Janeiro, tal como na Madeira, quando chove em demasia o prejuízo não é igual para todos, há sempre aqueles que se lixam mais e são sempre os mesmos.
Outro pensamento não muito agradável que me ocorreu imediatamente, é que as mesmas situações ora são classificadas como tragédias, com direito a directos na TV, peditórios, arredondamentos e reconciliações políticas, se acontecerem no nosso quintal, perto de nós, como foi na Madeira, ou então são apenas fait-divers se acontecerem longe de nós, no quintal do vizinho.
Mas então as tragédias só o são se nos envolverem a nós ? Este egoísmo básico e primário sempre me irritou um pouco. Um enorme sismo no Chile ( hipótese ), mais de uma centena de milhar de mortos, mas, felizmente, não há portugueses entre eles ! Porreiro, pá !
Siga a marinha.
A outra notícia fala da completa "carnificina" que está a acontecer com as saídas da função pública. O fenómeno está explicado e ERA PREVISÍVEL. O Governo, no OE para este ano ( em processo de promulgação pelo Presidente ), passa a "multa" por cada ano abaixo do limite para a aposentação por inteiro para 6% em vez dos actuais 4.5%. Além disso, a própria base para cálculo da pensão muda, passa a ser o vencimento de 1995, corrigido com a inflação, em vez de ser o do último ano.
Claro, milhares de funcionários fizeram as contas e notaram que perderiam dinheiro se ficassem a trabalhar. Conclusão : está-se mesmo a ver que iria acontecer o que aconteceu, não é ?
E agora, leitor, pensa que os senhores do nosso Governo ficam atrapalhados e muito tristes ? Apesar de em alguns sectores terem que ir contratar pessoas ao estrangeiro ou aos já aposentados, como no caso dos médicos ?
Não, ficam todos felizes, apesar de gastarem mais dinheiro com a "jogada". Temos que pagar aos recém-aposentados, ainda que um pouco menos, mas temos que pagar a outros, contratados à pressa, para fazer o trabalho que estava a ser feito pelos primeiros. Significa que, em muitos casos, vamos pagar cerca do dobro que estávamos a pagar, não é ?
Ahhh, mas o Governo acha que está tudo como o ouro sobre azul, uma maravilha. No OE, o peso dos salários dos funcionários públicos no activo vai diminuir !! Maravilha, os outros, os que se aposentarem, ficam metidos no bolo das contas da Caixa Geral de Aposentações, já não chateiam tanto !!
Uma ultima pergunta : então e a mudança súbita das regras quase no fim do jogo, não é uma deslealdade, uma falta absoluta de respeito para quem trabalhou quase toda uma vida com outras regras ? Então isto não é uma quebra violentíssima da ÉTICA neste jogo da política ? Nunca Salazar ousou ir tão longe, na época, estas medidas eram sempre apenas aplicáveis às pessoas que entrassem no "sistema" numa dada altura posterior ... agora, não, mudam-se hoje as regras e é para já.
Um destes dias, os senhores acordam maldispostos e decretam que já ninguém tem direito a pensões de aposentação e ... pronto.

Muito mais haveria a dizer sobre estas duas notícias, eu sei. Mas sabem que mais ? Digam vocês, leitores, eu já fiz a minha parte ...

segunda-feira, abril 05, 2010

VIDAS EMPRESTADAS A PRAZO

A vida é um empréstimo a médio prazo. Ou a curto prazo, em alguns casos. Com juros altos e um final pouco feliz, porque não tem valor de resgate, é-se mesmo obrigado a devolver a vida emprestada, no final do contrato. É uma grande chatice, mas é mesmo assim. Não sei o que é que os gajos fazem depois às vidas devolvidas, se as congelam definitivamente ou se lhes fazem uma revisãozinha e as entregam outra vez a novos clientes. Se esta ultima versão for verdadeira, dará razão aos que acreditam na reincarnação, mas acho que não é bem assim. Por mim, acho que não gostaria nada de saber que esta minha vida já andou emprestada a um caçador de focas no Alaska ou a um gajo das SS hitlerianas. Por muito desinfectada que fosse, conta-quilómetros a zero e essas coisas todas, acho que ainda ficariam pequenos resquícios, alguns odores subtis, tendências esquisitas, sei lá.
Não, pelo sim pelo não, acho melhor que cada vida seja congelada depois de ser usada e devolvida. Congelada num casulo especial, com um fecho éclair hermético, para não apanhar nem sequer o pó das estrelas. E com um botão amarelo que, uma vez tocado por alguém, homem ou anjo, narrará resumidamente os episódios mais importantes da viagem terrena do seu hospedeiro, louvando-o entusiasticamente, ouvindo-se em simultâneo música celestial apropriada. Este mecanismo terá excepções, claro está. Por exemplo, não poderá ser aplicado a políticos em geral e a Sócrates em particular. A narrativa seria demasiado penosa, mesmo confrangedora.
Contrariamente ao que o leitor possa imaginar e com grande desgosto de Saramago, não será permitido usar estas vidas encapsuladas e congeladas, etéreas e imponderáveis, para encher passarolas ou balões ou quaisquer outros artefactos voadores.
Tenho dito. Fiquem-se com esta hoje e roam-se todos a imaginar que raio me deu para escrever esta crónica.
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quinta-feira, abril 01, 2010

PÁSCOA

Na Páscoa, a Igreja Católica celebra porventura os dois mais importantes momentos fundadores desta religião, numa duplicidade de enorme tristeza e dor, quando da morte de Jesus Cristo, pregado numa cruz de madeira, e mais tarde, num segundo momento, de espanto e alegria pela ressurreição de Cristo. Seja-se crente ou não, são momentos de um grande dramatismo e beleza simbólica, já que enaltecem a maior dádiva que alguém pode fazer a uma ideia, a uma causa, ao seu semelhante, a oferta da própria vida. Nesse sentido, a liturgia fundadora da Igreja Católica tem uma grandeza e dignidade humana que não encontra paralelo, na minha opinião, em nenhuma outra religião do Mundo.
A imagem que podem ver, à esquerda, é de um quadro do pintor espanhol Diego Velázquez, célebre retratista nascido em 1599 e falecido em 1660. Este quadro, Jesus Cristo na Cruz, é datado algures entre 1631 e 1639, e apresenta uma beleza tranquila e triste na forma como representa Jesus Cristo. Sempre me impressionou muito esta pintura. Curiosamente, Velázquez tinha raízes portuguesas, o seu pai era um advogado da cidade do Porto que entretanto se fixou em Espanha.
Já que vamos viver esta época da Páscoa, uma vez mais, recuemos até às origens, ponderemos nesta generosidade e desprendimento da dádiva da própria vida, ( do homem ou do filho de Deus, como quiserem ) sobretudo nesta altura em que o que parece importar é não a dádiva mas antes a apropriação, a posse, o roubo.
No meio de coisas doces e agradáveis, como as amêndoas e os coelhinhos de chocolate, olhemos a fantástica pintura de Velazquez e meditemos.
Hoje, em Portugal, mais do que nunca, é imperioso voltar aos valores e aos grandes princípios.