quarta-feira, abril 28, 2010

A ZONA EURO DESCONHECIDA

Na altura da adesão à moeda "única" europeia confesso que fui contra, por motivos que não interessam agora. Depois, embora sem me render à ideia, gostei da estabilidade que a nova moeda nos veio trazer, com baixas taxas de inflação e com uma "força" que seria garantia de segurança na turbulência financeira do Mundo.
A verdade é que o Euro se portou bem, como moeda, até ser posta à prova, duramente, com a recente crise financeira.
Agora, transformou-se numa moeda hesitante, sujeita a ataques selectivos aos países de economia mais fraca. Agora, mostra uma fragilidade financeira tremenda. Querem saber porquê ?

Ponto #1 - Decidiu-se avançar para a moeda única antes de existir a coesão política e doutrinária indispensável. A zona Euro não é uma zona políticamente estável nem com perspectivas políticas comuns. Assim, quando um destes países é atacado, a reacção de alguns dos outros não é a defesa em bloco, mas antes a crítica e a oposição à ajuda, como é o caso da Alemanha, hoje em relação à Grécia.

Ponto #2 - O Banco Central Europeu ( BCE ) criado não inclui responsabilidades de cobertura financeira, em caso de risco ou acidente. Nunca ninguém criou um fundo europeu de segurança para o euro, que pudesse agora fazer empréstimos aos países com dificuldades, a taxas de juro não especulativas. Os empréstimos a conceder à Grécia vão partir dos vários países, não do BCE. Provavelmente, para emprestar 700 e tal milhões de euros à Grécia, Portugal vai ter de pedir emprestado no mercado esse dinheiro a taxas de juro superiores às que a Grécia depois lhe vai pagar !!

Ponto #3 - A Europa nunca se assumiu como uma potência que fala a uma voz e que exige a relevância mundial económica e financeira a que tem direito. Por exemplo, nunca a Europa se decidiu a criar e instalar uma empresa europeia de "rating" que pudesse fazer melhor trabalho que as americanas e que introduzisse os factores locais de correcção e contenção. Sabe o leitor que as tais empresas de "rating", como a Standard & Poor's, que agora está a aproveitar-se de Portugal, são empresas privadas americanas ? Sabe que estas notas que vão lixar a vida de países inteiros são "arbitradas" por um ou dois senhores ? Sabe que esses mesmos senhores já cometeram erros terríveis, no passado recente ?
Mas nada disto parece interessar à Europa.

Ponto #4 - Em conjunto com a administração americana, a Europa não se entende quanto à legislação de regulamentação das empresas financeiras. Do lado de lá, no Congresso, os democratas de Obama andam, agora mesmo, em luta diária com os Republicanos para fazer passar a regulamentação que pretendem. Do lado de cá, na Europa, além de umas "bocas" de Sarkosy, ninguém parece preocupar-se com isso. É que essa regulamentação pode impedir as asneiras das tais firmas de "rating", além de outras. Então porque se não consegue avançar ?

Bom, leitor, espero ter-lhe mostrado que esta nossa Europa não passa ainda de uma menina ingénua e desprotegida, que não pode resistir aos ataques "traiçoeiros" dos "malandros" financeiros em todo o Mundo. Sinceramente, a Europa é uma desilusão ( mais uma ) que carrego comigo. É aqui que concordo com Mário Soares quando declara alto e bom som que a Europa de hoje não tem líderes políticos à altura.
Claro que não tem, a Europa de hoje não passa de uma burocracia cara e desconchavada que não sabe o quer.
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