quarta-feira, maio 30, 2007

QUATRO QUESTÕES

Penso que as coisas se passam assim muitas vezes : um homem ( ou mulher ) sente-se atraido pelo poder e canditata-se a umas quaisquer eleições. Faz promessas, escreve um programa de acção, tenta dar de si uma imagem de credibilidade.
É eleito ... e logo depois de eleito começam a acontecer coisas estranhas.
A primeira de todas é que esse eleito se vê rodeado, por norma, por um grande numero de pessoas que o adulam, sempre dispostas a satisfazer todas as suas necessidades ou caprichos. Gabinetes bem decorados, palácios lindos, bons carros, batedores na estrada quando se desloca, guarda-costas, ajudantes, restaurantes caros, viagens por esse Mundo, eu sei lá. Tudo em nome do prestígio que o cargo deve ter. Tudo em nosso nome e por nós pago ( naturalmente, what else ?, como diz o George Clooney em recente comercial ), tudo para que esse senhor ou senhora tenha boas condições do exercicio da função.

Primeira questão : todas essas mordomias são assim tão importantes para o bom exercício do cargo, ou trata-se claramente de um aproveitamento da situação ?

Segunda questão : com a vida tão “blindada” e “fashion” que esses eleitos levam, como é que de facto conhecem a nossa vida e os nossos problemas ? Apenas por ouvir falar, não é ?

Continuemos.
O nosso eleito, uma vez no poder, esquece-se rapidamente do seu programa e das suas promessas e faz exactamente o oposto, como se fosse a coisa mais natural.
Ao fim de algum tempo, dentro da sua cabeça, surgem conceitos e motivações estranhos. Começa a convencer-se daquilo que os seus acólitos lhe dizem, ele ( ela ) é que tem razão, ele ( ou ela ) são uma dádiva de Deus ao povo. As opiniões contrárias são cansativas e desmotivadoras, por um lado, por outro impedem o êxito das acções que tão inteligentemente iniciou.
É mais ou menos por essa altura que se esboça a tendência ( natural, afinal ... ) de tentar impedir as vozes contrárias. Qualquer discussão é estúpida e infecunda, todos os que se lhe opõem apenas o fazem porque lhe invejam o poder. Quem pode levar o País a bom porto é ele ( ou ela ), como se atrevem a fazê-lo perder tempo ?
Esta auto-ilusão é tanto maior quanto menor for a capacidade intelectual do nosso eleito ( ou eleita ), isto é, os “pequenos cérebros” são muito mais rápidos a acreditarem na sua genialidade que os realmente lideres. Se bem percorrerem a lista dos ditadores vão encontrar, de uma forma muito generalizada, homens com pouca cultura e capacidade intelectual. De facto, se pensarmos bem, só um idiota se julga um deus, não é ?

Terceira questão : recusemos como nossos lideres os homens iluminados, que pensam ter sempre razão. Escolhamos homens e mulheres que saibam ouvir e só depois decidir, não idiotas que se julgam génios e se recusam a ouvir os outros.

Prossigamos.
O nosso candidato a génio começa a sentir-se perseguido. Ninguém o entende, ninguém admira a sua devoção á Pátria. Começa então com o comportamento do acossado : compra pessoas, oferece tachos aos seus inimigos, move influências para calar vozes incómodas, manipula dentro do seu partido.
Numa fase seguinte, e se o ambiente geral é propício, encerra estações de TV ou jornais, ou impõe a censura prévia, ou cria um clima de medo.

Quarta questão : NUNCA se deixem calar, essa é a condição sine qua non de um regime livre. Digam as asneiras que quiserem, berrem ou falem baixinho, mas NUNCA, NUNCA se deixem calar.
Se se calarem, se se deixarem amordaçar, estarão a transformar um qualquer pseudo-iluminado num ditador e irão sofrer-lhe as consequências.


Tudo isto dito, perguntarão de quem estou eu a falar. De Sócrates ?
Não, senhoras e senhores, não é de Sócrates que falo, é de todos os homens ou mulheres que escolhermos para nos representar. A natureza humana é aquilo que é, e já Sócrates, o filósofo, o sabia.
Nunca deixem as rédeas muito soltas, os homens ( e as mulheres ) são apenas seres humanos ...

quarta-feira, maio 23, 2007

APRESENTO-LHES A LILI

Esta é a Lili, a minha nova gatinha residente. Como podem ver é branca, tem o rabo e as orelhas cinzento escuro e o pelo é maior que o habitual para estes bichanos sem raça.
É uma jovem gata de forte personalidade, corajosa e muito faladora. Trouxemo-la ( a minha filha e eu ) para casa com o pretexto de fazer companhia ao Pipoca, o nosso outro gato amarelo de que se lembrarão os leitores mais "velhotes".
Agora, aqui em casa, é o desassossego total : são correrias intermináveis, frequentemente pautadas por agudas guinchadelas da Lili, quando o Pipoca a lambe mais furiosamente ou lhe dá uma mordidela de namorado menos terna numa perna. Vinga-se logo a seguir, não se preocupem ( ou não seja uma ela ... ), atirando-se em vôo picado para lhe morder o rabo. O Pipoca fica com um ar vagamente ofendido, mas depressa lhe passa. Finalmente, extenuados ( ele mais depressa que ela ) estiram-se ao comprido nos pés da minha cama e adormecem ao pé um do outro.
A verdade é que estes bichanos me transmitem ternura e tranquilidade, ao contrário dos dignos senhores que escolhemos para serem governantes.
Mérito dos gatos ? Demérito dos governantes ?

segunda-feira, maio 21, 2007

SÃO PROIBIDAS AS BOCAS SOBRE A LICENCIATURA DO SR. PRIMEIRO-MINISTRO !
Leram o meu post anterior ? Se não leram, sugiro que comecem por aí.
Hoje é imperioso que fale de algo inaudito acontecido num orgão do Ministério da Educação, a Direcção Regional do Norte.
O caso conta-se em três palavras : um professor destacado nesse orgão do Estado ( notem bem, ser um orgão do Estado não significa ser um orgão do Governo ... ), enquanto trabalhava, deu uma “boca” para um colega do lado, sobre a licenciatura do Primeiro-Ministro. A piada ( de que se desconhece o teor ) chegou ao conhecimento da senhora directora regional, que, pasme-se, logo ordenou a abertura de um auto de averiguações a que logo se seguiu, segundo parece, o respectivo processo disciplinar. Enquanto isso, o professor foi preventivamente suspenso e logo mandado regressar á sua Escola de origem, que quem trabalha num Ministério não pode mandar bocas ao Governo !
Claro que o caso foi imediatamente levado a Tribunal Administrativo pelo tal professor. E bem.
Mas que raio de importância viu a senhora directora regional numa piada sobre algo que toda a gente sabe que foi um processo atribulado, pouco ortodoxo e ainda por clarificar totalmente ? Quem lhe encomendou tal atitude persecutória, porque motivo se abespinhou daquela forma por uma boca ?
Este caso terá alguma importância ou tratar-se-á apenas de um fait divers, uma funcionária pública excessivamente zelosa ?
Em meu entender, é paradigmático, e ilustra bem o teor do meu anterior post. É assim que “as coisas” começam, é assim que os “intocáveis” são criados, é desta forma que se pretende colar fita adesiva na boca das pessoas, é a maneira que a gente pequena tem de evitar a oposição.
Não acredito que a zelosa funcionária pública tenha recebido ordens de alguém do Governo para não permitir desaforos relacionados com a licenciatura do Primeiro-Ministro. No que acredito é no excesso de zelo, misturado com temor reverencial, temperado com uma pitadinha de fé na divindade sacrossanta de um Primeiro-Ministro. Ou quem sabe, na esperança de que esse zelo seja recompensado na vida eterna. Ou na actual, bem terrena. De qualquer forma, aqueles a quem chamamos mais papistas que o Papa são frequentemente os primeiros ( ou segundos, não me interessa a ordem ! ) responsáveis pela criação de um clima horroroso de intolerância e de perseguição.
Conheci bem o processo nos tempos de Salazar, com a simpática Pide a policiar tudo e todos, mesmo cafés, bares e cinemas, e nem mesmo nessa época os funcionários públicos dos escalões médio/alto denunciavam ou perseguiam os seus colegas por uma boca contra o Governo.
Este caso é totalmente inaudito, reafirmo.
Preocupante, mesmo.
Vamos seguir este assunto com interesse.

segunda-feira, maio 14, 2007

Autoridades ...

Não sei o que vocês pensam, mas este país está demasiado autoritário para o meu gosto. Autoritário, ouviram bem.
Vivi no tempo de Salazar e Caetano ( e não gostei ), vivi o 25 de Abril ( e tive esperança ) , atravessei o turbulento PREC ( e senti-me mal, francamente ), mas nunca vivi uma época como a que atravessamos : enquanto formalmente tudo leva a crer que se trata de uma democracia, vive-se de facto uma época pré-autoritária.
O registo auto-suficiente e convencido do Primeiro-Ministro, a sua impaciência para com as discordâncias e críticas, a sua pose de iluminado, a sua reacção no caso da licenciatura, tentando silenciar os orgãos de comunicação, todos estes tiques indiciam um modo autoritário de entender e exercer o poder.
Os autoritarismos começam sempre por atitudes deste género, potenciadas e ampliadas depois pela indiferença, complacência ou adesão entusiástica de parte significativa dos governados.
Ademais, sabemos bem como os autoritarismos nascem e se alimentam de certas circunstâncias : uma situação económica dificil ( um déficit a combater, por exemplo ) e um inimigo comum a grande parte da população, sejam eles os monárquicos, os seguidores do imperador, os comunistas, os ricos, os judeus ou ... os funcionários públicos.
Estou a acusar o Primeiro-Ministro de tentar instalar um regime autoritário ? Não, não é isso que afirmo. O que sustento é que o seu estilo, as suas opções políticas e os homens de que se rodeou fazem-nos andar á deriva em águas turbulentas, muito perigosas, sem verdadeiramente sabermos para onde vamos e, o que é pior, sem termos consciência do perigo.
Olhem á volta : o fisco e a segurança social penhoram tudo aos devedores, contas bancárias, salários, automóveis, certificados de aforro, imóveis ; a ASAE invade feiras, restaurantes, mercados, armazéns, põe tudo a ferro e fogo, multa, prende, encerra, apreende ; o Governo muda todas as regras do jogo, baixa pensões, sobe idades para a reforma, destrói vínculos de trabalho e subsistemas de saúde no funcionalismo público, fecha hospitais, maternidades e circulos judiciais, a Ministra da Educação trata os professores como meliantes, corta-lhes direitos e sorri, convencida da sua razão.
Tudo é feito apressadamente, atabalhoadamente, sem estudos nem explicações, como se nos quisessem apanhar a todos distraidos, estilo aeroporto da Ota. As coisas são feitas acintosamente, com uma espécie de raiva surda que não se sabe de onde vem mas que se lê claramente no semblante das diversas autoridades no exercício das suas funções. De resto, elas, essas mesmas autoridades, proliferam como cogumelos, cada uma delas mais autoridade que as outras, umas por expressa recomendação superior, outras por impregnação osmótica do estilo autoritário do chefe, as restantes para não ficarem atrás das primeiras, todas elas empenhadas na sua nobre missão de serem autoridade.
Ainda por cima, muitas dessas autoridades invocam a defesa dos nossos direitos, defesa que não me lembro de lhes ter delegado ; sim, eu até gosto de comer uma fartura nessas feiras populares que agora a ASAE tão diligente e afanosamente persegue por atentado á saude publica !!
As polícias crescem por toda a parte, neste frenesim autoritário, neste verdadeiro bacanal da tutela das nossas vontades : agora já há polícias municipais, polícias da higiene alimentar, polícias da empresa de estacionamento de Lisboa, inspectores da TV Cabo, que sei eu ...
Mas há mais, há mecanismos de segurança : se alguma destas autoridades, por excesso de zelo e manifesta incompreensão dos governados, acabar por cair no furioso desagrado publico, chama-se a RTP e faz-se um daqueles programas de absolvição e desculpabilização que todos conhecem, com convidados escolhidos a dedo.
Acham que não, que eu exagero ? Viram atentamente o “Prós e Contras” da RTP1 sobre a política de educação ou sobre a ASAE ? São capazes de me dizer para que serviram aqueles programas ?
Tudo isto sem esquecer a actuação da inefável Entidade Reguladora para a Comunicação Social ( essa, não sei se por vergonha ou falta de atrevimento, não se chama autoridade ... ) a impor quotas á RTP, para tratar o Governo e a oposição, metade para o Governo e PS e a outra metade para o resto do mundo. A isto se chama equitatividade e independência, não é ?
Vejam ainda os sinais preocupantes da constituição de uma designada Comissão da Carteira ( profissional dos jornalistas ), destinada não se sabe a que tipo de controlo sobre os mesmos, que provavelmente tenderá, no futuro, a chamar-se Autoridade para o Controlo da Ética Jornalística, ou coisa do género.

Vá lá, não se distraiam, por favor : olhem atentamente á nossa volta. Olhem, vejam, sintam, reajam.
Que nunca ninguém venha a dizer , mais tarde, que nunca pensou que ... ou que foi apanhado desprevenido.
É que sim, senhor, é preciso autoridade ... mas, com mil demónios, tanta autoridade assim já irrita, ninguém lhes passou procuração para criar um Estado tutelar, paternalista e autoritário, onde já nem fumar se pode.

quarta-feira, maio 09, 2007

Portugal tornou-se uma imensa lixeira.
Por toda a parte se sente o cheiro nauseabundo de um país em decomposição.
Deambulamos por este País, tontos e sufocados de tanta podridão, sem uma réstea de esperança, sem um pouco de ar limpo.
Os partidos políticos tornaram-se em clubes de emprego e em promotores de negócios, as juventudes partidárias em escolas de oportunismo, os clubes de futebol em lobbies de interesses, agências de negócios e viveiros de deliquentes, as câmaras municipais em escolas práticas de corrupção, as televisões e jornais em simulacros de contrapoder, as escolas e universidades em fábricas de canudos e de ignorantes, as forças de segurança e os militares em gente desmotivada e amordaçada, a generalidade do povo num bando de subnutridos e mal pagos.
No meio desta lixeira, eles, os que gostam destes ambientes, singram com vento pela popa, velas enfunadas, a toda a velocidade. Combinam-se negócios chorudos, compram-se terrenos por um e vendem-se por dez, aceitam-se milhões por aquele empurrãozito, deliberam-se em assembleia salários principescos mesmo em empresas arruinadas, inventam-se empresas e institutos públicos, arranjam-se empregos chorudos para os filhos, netos, primos e primas, até para o filho da mulher a dias, compram-se os ultimos modelos dos carros topo de gama, os andares de luxo, as vivendas na quinta da marinha ...
De onde vem o dinheiro para tudo isto ?
É fácil. Muito simples, mesmo : enquanto a conta bancária deles cresce todos os meses 20 ou 25.000 euros, vai-se impondo a moderação salarial, que não se pode pagar mais a quem trabalha, a produtividade é muito baixa, baixam-se os salários reais todos os anos, retiram-se regalias, corta-se nas despesas de saúde dos outros ... enfim, de corte em corte, são muitos os milhões que ficam disponíveis para eles, percebem não percebem ?
Entretanto, vão eles preparando também o futurozinho ... neste estado de coisas, não há melhor segurança na velhice que fazer uns favorzitos aos grupos económicos, abrir-lhes caminho para investimentos em áreas de grande lucro, como a saúde e as reformas, por exemplo, eles hão-de lembrar-se de nós mais tarde ...

E o povo ? E o País ?
Ora, o povo sempre resistiu a tudo, o País há-de sobreviver ... e, se não sobreviver, os espanhóis compram o que sobrar...
Portanto, who cares ?