segunda-feira, maio 14, 2007

Autoridades ...

Não sei o que vocês pensam, mas este país está demasiado autoritário para o meu gosto. Autoritário, ouviram bem.
Vivi no tempo de Salazar e Caetano ( e não gostei ), vivi o 25 de Abril ( e tive esperança ) , atravessei o turbulento PREC ( e senti-me mal, francamente ), mas nunca vivi uma época como a que atravessamos : enquanto formalmente tudo leva a crer que se trata de uma democracia, vive-se de facto uma época pré-autoritária.
O registo auto-suficiente e convencido do Primeiro-Ministro, a sua impaciência para com as discordâncias e críticas, a sua pose de iluminado, a sua reacção no caso da licenciatura, tentando silenciar os orgãos de comunicação, todos estes tiques indiciam um modo autoritário de entender e exercer o poder.
Os autoritarismos começam sempre por atitudes deste género, potenciadas e ampliadas depois pela indiferença, complacência ou adesão entusiástica de parte significativa dos governados.
Ademais, sabemos bem como os autoritarismos nascem e se alimentam de certas circunstâncias : uma situação económica dificil ( um déficit a combater, por exemplo ) e um inimigo comum a grande parte da população, sejam eles os monárquicos, os seguidores do imperador, os comunistas, os ricos, os judeus ou ... os funcionários públicos.
Estou a acusar o Primeiro-Ministro de tentar instalar um regime autoritário ? Não, não é isso que afirmo. O que sustento é que o seu estilo, as suas opções políticas e os homens de que se rodeou fazem-nos andar á deriva em águas turbulentas, muito perigosas, sem verdadeiramente sabermos para onde vamos e, o que é pior, sem termos consciência do perigo.
Olhem á volta : o fisco e a segurança social penhoram tudo aos devedores, contas bancárias, salários, automóveis, certificados de aforro, imóveis ; a ASAE invade feiras, restaurantes, mercados, armazéns, põe tudo a ferro e fogo, multa, prende, encerra, apreende ; o Governo muda todas as regras do jogo, baixa pensões, sobe idades para a reforma, destrói vínculos de trabalho e subsistemas de saúde no funcionalismo público, fecha hospitais, maternidades e circulos judiciais, a Ministra da Educação trata os professores como meliantes, corta-lhes direitos e sorri, convencida da sua razão.
Tudo é feito apressadamente, atabalhoadamente, sem estudos nem explicações, como se nos quisessem apanhar a todos distraidos, estilo aeroporto da Ota. As coisas são feitas acintosamente, com uma espécie de raiva surda que não se sabe de onde vem mas que se lê claramente no semblante das diversas autoridades no exercício das suas funções. De resto, elas, essas mesmas autoridades, proliferam como cogumelos, cada uma delas mais autoridade que as outras, umas por expressa recomendação superior, outras por impregnação osmótica do estilo autoritário do chefe, as restantes para não ficarem atrás das primeiras, todas elas empenhadas na sua nobre missão de serem autoridade.
Ainda por cima, muitas dessas autoridades invocam a defesa dos nossos direitos, defesa que não me lembro de lhes ter delegado ; sim, eu até gosto de comer uma fartura nessas feiras populares que agora a ASAE tão diligente e afanosamente persegue por atentado á saude publica !!
As polícias crescem por toda a parte, neste frenesim autoritário, neste verdadeiro bacanal da tutela das nossas vontades : agora já há polícias municipais, polícias da higiene alimentar, polícias da empresa de estacionamento de Lisboa, inspectores da TV Cabo, que sei eu ...
Mas há mais, há mecanismos de segurança : se alguma destas autoridades, por excesso de zelo e manifesta incompreensão dos governados, acabar por cair no furioso desagrado publico, chama-se a RTP e faz-se um daqueles programas de absolvição e desculpabilização que todos conhecem, com convidados escolhidos a dedo.
Acham que não, que eu exagero ? Viram atentamente o “Prós e Contras” da RTP1 sobre a política de educação ou sobre a ASAE ? São capazes de me dizer para que serviram aqueles programas ?
Tudo isto sem esquecer a actuação da inefável Entidade Reguladora para a Comunicação Social ( essa, não sei se por vergonha ou falta de atrevimento, não se chama autoridade ... ) a impor quotas á RTP, para tratar o Governo e a oposição, metade para o Governo e PS e a outra metade para o resto do mundo. A isto se chama equitatividade e independência, não é ?
Vejam ainda os sinais preocupantes da constituição de uma designada Comissão da Carteira ( profissional dos jornalistas ), destinada não se sabe a que tipo de controlo sobre os mesmos, que provavelmente tenderá, no futuro, a chamar-se Autoridade para o Controlo da Ética Jornalística, ou coisa do género.

Vá lá, não se distraiam, por favor : olhem atentamente á nossa volta. Olhem, vejam, sintam, reajam.
Que nunca ninguém venha a dizer , mais tarde, que nunca pensou que ... ou que foi apanhado desprevenido.
É que sim, senhor, é preciso autoridade ... mas, com mil demónios, tanta autoridade assim já irrita, ninguém lhes passou procuração para criar um Estado tutelar, paternalista e autoritário, onde já nem fumar se pode.

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