quinta-feira, outubro 07, 2004

SILÊNCIAR A CRÍTICA, ESSA IRRESISTÍVEL TENTAÇÃO !

Sempre pensei – e afirmei – que Jorge Sampaio se iria arrepender da sua decisão de entregar o poder executivo, de mão beijada, a um senhor do género de Santana Lopes.
A realidade recente mostra bem até que ponto aquela decisão foi errada.
Não me lembro, incluindo os velhos tempos de Salazar e Caetano, de ver um primeiro-ministro tão pateticamente à deriva e tão flagrantemente desajustado ás necessidades do nosso País.
Claro que, contrariamente a Salazar e mesmo Caetano, Santana Lopes tem contra si um facto simples mas terrivelmente letal : a liberdade de informação, na imprensa, rádio e televisão. E nos blogues, já agora.
É isto que o faz surgir aos olhos do público tão manifestamente incompetente.
Logo, este é um assunto vital para ele : o controlo, ou pelo menos o apaziguamento, da informação. A emissão de imagens favoráveis.
A estratégia tem vindo a ser levada á prática, de uma forma sorrateira mas visível. Primeiro, a formação daquela “central” de “propaganda”, ao nível da estrutura do governo, com a dignidade de uma direcção-geral. Depois, pela colocação á cabeça do grupo PT Multimédia, de um nome como Luís Delgado, um homem em tempos jornalista que a certa altura se decidiu por outros vôos bem mais lucrativos. Em seguida, algumas medidas avulsas mas concertadas com as anteriores : o silenciar de vozes influentes e com grande audição como Marcelo Rebelo de Sousa ou Pacheco Pereira. .
Começou pelo primeiro. Há uns dias, a JSD do Porto desencadeou as hostilidades. Podia parecer algo desgarrado e espontâneo, mas não era : seguiu-se um discurso bafiento e ressumando a ódio de um senhor ministro deste governo, cujo nome eu não conhecia nem quero conhecer.
O sujeito deu um show de ignorância, raiva, despeito e autoritarismo que eu julgava ser impossível nestes tempos. Ouvia-o e ouvia ao mesmo tempo Moreira Baptista, ministro da propaganda de Salazar, a vociferar contra os comunistas e outros traidores a Portugal. Nos olhos do homenzinho cintilavam chispas de ódio que nem sequer se deu ao trabalho de disfarçar. A bílis corria-lhe dos beiços...
Foi tudo ? Não ...
Vem depois aquele senhor de inefável elegância, o administrador da TVI, o sr. Paes ( com “e” ) de Amaral ( ou “do” ?? ), aconselhar Marcelo a ... enfim.... conter-se um pouco mais. Não seria preciso muito, só para não dar azo ao Governo a inviabilizar uns negócios em que a TVI anda metida. Claro, compreende, Marcelo ?
Marcelo não quis compreender, que coisa ....
O ministro que vomitou a bilis ( a pedido, claro ) vem a público afirmar que nunca quiseram calar Marcelo ( é verdade, queriam era vê-lo a dizer bem deles ... ), o primeiro-ministro reclama-se de um pluralismo a toda a prova – embora ache que o contraditório é que é bom , ehehehehe – o presidente da república chama Marcelo a Belém ... enfim, é vê-los numa azáfama tremenda para remediar o que está mal.
Quando teria sido tão simples.
Quando ainda pode ser tão simples.
Como ? Apenas isto : reconhecer que homens que são apenas invenções mediáticas, sombras da noite lisboeta, seres pusilânimes e voluntaristas que de manhã decidem um túnel e à tarde acabar com uma refinaria, homens cuja preocupação é arranjar um forte á beira mar para passar uns tempos com a família ou contratar assessores de imagem para “dourar” a embalagem e levar os portugueses a comer-lhe nas mãos ... reconhecer que homens desses nunca deveriam chegar a primeiro-ministro de Portugal.
Como quase todos hoje estão a ver.
Espero que o sr. Presidente da República esteja dentro desse grupo, dos que estão a ver, e aja em conformidade.
Por mim, até podem colocar o sr. Santana Lopes ao lado da ex-ministra Cardona. Afinal, o serviço público deve ser recompensado, não é ?

Sem comentários:

Enviar um comentário