domingo, dezembro 28, 2003

PAÍS DOENTE
Este Domingo o noticiário da RTP1, á hora de jantar, apresentou duas pequenas reportagens que me impressionaram. Numa delas, uma mulher da Marinha Grande, despedida de uma fábrica onde trabalhou dos 14 aos 45 anos, dizia que o despedimento era como se lhe tivesse morrido alguém da família. Isto no campo afectivo, porque em termos práticos, agora até para comprar pão tem de pedir dinheiro à filha ...
Na segunda reportagem, dava-se conta das dificuldades que sentem muitos imigrantes, no dia a dia, por causa da não regulamentação da lei da imigração. Gente que nem sequer pode ir com um filho a um hospital. Gente que é roubada nos seus direitos ( poucos, ainda ) e explorada no pagamento do seu trabalho. Casos muito pouco edificantes sobre os valores morais de muitos portugueses, como o daquela mulher da Bielorússia que trabalhou durante meses num restaurante, propriedade da mulher de um sub-chefe da PSP. Quando pediu o pagamento do subsídio de férias e do Natal foi posta a andar .... e, mais tarde, como fez queixa ao sindicato, foi alvo de chantagem do sub-chefe. Ou se calava e retirava a queixa ou a multavam, porque tinha o carro sem a inspecção feita.
Que grande sub-chefe da PSP !! Em termos disciplinares, não sei que lhe aconteceu dentro da PSP, mas sei muito bem o que ele merecia. O restaurante, pelo menos, foi obrigado a pagar mil e não sei quantos euros de indemnização á mulher. Valeu o sindicato e o Tribunal.
Um caso e outro demonstram até que ponto a nossa sociedade é muito mais rude e impiedosa do que aquilo em que gostamos de acreditar. Os nossos valores morais parecem andar também em crise. O alheamento do Governo em relação a estas questões incomoda, por outro lado. Acho que dentro dos BMW e Mercedes, bem insonorizados, estas coisas não se ouvem.
E assim vamos nós, felizes, uns a pensar que temos um país de brandos e suaves costumes. Outros, cinicamente, a tentarem mostrar-nos que se preocupam muito com estas coisas e as vão resolver.
Este Portugal está estragado, dêem-me outro.

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