segunda-feira, março 08, 2010

OS PARTIDOS POLÍTICOS E O PENSAMENTO LIVRE

É comum afirmar-se que sem partidos políticos não há democracia. Mário Soares, por exemplo, já afirmou e reafirmou esta ideia milhares de vezes. Aceito essa ideia, não seria nada fácil viver numa sociedade onde existissem 3.914 correntes de opinião. Nenhuma delas teria peso suficiente e rapidamente surgiria um qualquer messias para arrumar a casa. Logo, venham os partidos políticos, sim senhor.
Observo, contudo, ainda que de uma forma talvez não muito fundamentada, que nas sociedades modernas as pessoas mais “livres” e com opiniões mais sinceras e lúcidas pertencem, por norma, a sectores da população não comprometidos com partidos políticos. E, salvo melhor opinião, há aqui uma enorme contradição : se os partidos políticos são indispensáveis á democracia, por um lado, pelo outro parecem ser uma má influência na liberdade, lucidez e isenção com que reflectimos sobre a sociedade.
Uma vez mais sem grandes pesquisas, inclino-me a pensar que isto sucede assim pela necessidade de formar uma frente coesa contra os adversários e também ( o que é bem mais grave ) pela forma como os militantes ascendem dentro das estruturas do partido e são escolhidos para os altos cargos, quando o partido está no poder.
Em todos os nossos partidos, a “carreira” do militante depende em grande parte da sua proximidade ao lider e do apoio incondicional que lhe prestar. É raro o militante que consegue atingir um status de relevo em qualquer partido se manifestar, várias vezes, a sua discordância pela linha política do líder.
Ou seja, os partidos políticos em Portugal ( e não só ) fomentam exageradamente a coesão e o monolitismo de opinião, de tal forma que ninguém ousa discordar do chefe do partido.
Esta realidade explica bem, na minha perspectiva, porque é que os pensadores mais originais e lúcidos da sociedade estão fora dos partidos. Em resumo, os partidos políticos viabilizam a democracia mas também a limitam.
Urge fazer qualquer coisa quanto a isto, alterando, por exemplo, o regime eleitoral, de tal forma que os candidatos de cada partido dependam mais dos eleitores locais, em cada partido, e menos do chefe do partido.
Esta ideia anda no ar há séculos, mas nenhum partido a “agarra” com convicção.
Percebem porquê, não percebem ?

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