domingo, novembro 02, 2003

NÃO HÁ VARINHAS MÁGICAS ou OS MITOS DO LIBERALISMO
O céu anda escuro, nestes ultimos dias. Que é feito daqueles dias límpidos de Outono, com um sol delicado e trémulo, e uma temperatura amena ? Até o tempo está contra nós ?
Talvez seja por isso, contaminado por este pessimismo de Inverno, que António Barreto ( A.B.), na sua habitual rubrica de hoje no Público, advoga pura e simplesmente a extinção da Casa Pia. Por estar "esgotada" a solução, diz ele, e aproveitando a situação de quase caos e "culpa" daquela organização. Como solução alternativa, propõe ... a adopção dos miúdos que ninguém quer. Mais, faz cálculos ao dinheiro que o orçamento do Estado dedica à Casa Pia ( será familiar de Manuela Ferreira Leite ?? ) para concluir que é muito, demasiado.
Quanto à ideia-base de A.B., e embora lhe reconheça aqui e ali alguns laivos de razão, quase me apetece dizer que as pessoas mudam, perdem a sensibilidade para os problemas dos outros e das sociedades, passam a ver tudo à lógica fria dos cifrões e da eficiência ....
Acho que A.B. foi atacado pelo vírus do liberalismo descentralizante, numa variante de febre alta que o impede de ver a realidade. Senão, vejamos :
Há problemas no ensino secundário ? Entregue-se às autarquias ! Há problemas na Casa Pia ? Acabe-se com ela e dêem-se os putos para adopção ! Os hospitais não trabalham bem ? Entreguem-se à iniciativa privada ! As Universidades andam em crise ? Dê-se-lhes a autonomia total !
É curioso que para A.B., como para muitos pensadores modernos, todos os problemas têm a mesma génese : o Estado. Retirem-se-lhe competências e todos os problemas ficarão resolvidos. Que limpidez de pensamento, caramba.
A mim, que não percebo muito destas coisas, apetecia-me apenas perguntar onde é que estas pessoas foram colher a experiência prática para terem estas convicções tão fortes. Ou mesmo os conhecimentos teóricos.
E daí ... A.B. é capaz de ter razão numa coisa : quando não sabemos resolver uma questão, o melhor é endossá-la a outra entidade, não é ? Então, cá por mim, que já não sei como ler e entender A.B., entregá-lo-ia também para adopção, se acreditassse que ele assim deixaria de dizer tontices destas. Mas qual quê, nem mesmo assim ele se calaria, pois não ?
E ainda bem, no fundo. Os problemas não acabam só por os entregarmos a outrém. Temos mesmo que os resolver, não há varinhas mágicas.

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