sexta-feira, março 06, 2009


SOLIDÃO. ESCOLHA OU INCAPACIDADE ?

A solidão fascina-me e entristece-me, no mesmo minuto. Toda a minha vida me senti sózinho, por vezes com pessoas à volta, outras mesmo sem ninguém.
Faço questão em afirmar que vivo perfeitamente sózinho, mas não é verdade, nunca foi. O que eu gostaria e nunca tive, era alguém que tivesse verdadeiramente prazer em estar comigo, em conversar ou em estar simplesmente calado. Nunca tive ninguém assim, ninguém. Talvez a minha mulher, nos primeiros tempos. Mas até essa grande amiga já partiu. Nunca mais tive nenhum amigo, nenhuma mulher que fosse capaz de me dedicar a sua intimidade, tal como eu gostaria. Com o tempo, eu próprio me tornei egoista e incapaz de conviver em liberdade e sentir felicidade com alguém.
Amigos, amigos mesmo, tenho tido mas do tipo longínquo, de nos vermos de mês a mês. Depois de ficar viúvo, tive muitas experiências, conheci algumas mulheres interessantes ( se calhar melhores do que eu … ) mas continuei a não sentir aquela cumplicidade e amizade que tudo ultrapassa.
Erro meu ? Azar ? Não sei, mas a verdade é que me sinto um solitário total, nestes tempos.
Tenho uma espécie de namorada-amiga com quem mantenho uma relação mais de fidelização do que outra coisa ( é como ser cliente da TV Cabo … ), mas dessa relação não aproveito nada, em termos de amizade, compreensão ou cumplicidade. Sou eu que dou tudo, não sei porquê. Acho que mantenho essa relação mais por um sentimento ( errado ? ) de companheirismo para com ela ( tem algumas dificuldades na vida e eu tento ajudá-la ) do que outra coisa.
Hoje, por exemplo, essa minha amiga-namorada decidiu ( faz isso muito ) que ia jantar com umas amigas, todas elas divorciadas ou mal-casadas, desejosas de arrastar as amigas para esse partido das mulheres sózinhas e unidas. Coisa tenebrosa de facciosismo e egoismo. Nem lhe passou pela cabeça que eu preciso dela, de alguém com quem conversar para me sentir vivo. Desconhece a empatia, desconhece-me totalmente.
Acho que eu é que estou errado, não se deve depender para nada de alguém sem empatia, não é ? Como diz o Rui Veloso numa canção, não se deve amar ninguém que não gosta da mesma canção que nós …
Seja como for, vi-me só numa noite de sexta. Resolvi jantar num pequeno e modesto restaurante em Benfica, perto da Igreja, “O Chafariz”. Não é a primeira vez.
Três pessoas na sala, comigo. Mais tarde, entram outras três pessoas, com um ar um pouco deslocado, talvez de Angola ou Moçambique. Raça negra. Marido e mulher mais filha, esta grávida. O marido tem um olho todo tapado com um penso. Sentam-se perto de mim.
Daí a um bocado, ou o tinto fez efeito ou foi o olho tapado, o homem derrubou o copo e entornou o vinho todo pelo fato. Um fatinho de bom aspecto diga-se.
Não resisti, e com aquela intimidade de pouca gente na sala mais o meu hábito de África, comentei : “foi o olho tapado, olha que pena “ e ri-me … O homem, como tantas vezes vi em África,com um sentido de humor excelente, largou-se a rir, virado para mim, dizendo “ que pena, o vinho ...” !
Esta cumplicidade, étnica, ainda por cima, fez-me sorrir na noite, quando saí do restaurante e caminhei para casa ( moro perto ).
Ia eu embrenhado nestes profundíssimos pensamentos ( a solidão e a cumplicidade inter-raças ) quando dei de caras com uma ex-namorada, de mão dada com o seu actual companheiro. Homem da minha idade, aspecto algo ingénuo. Muito mais nabo que eu, pensei instintiva e imediatamente, porque somos nós assim ?
A minha ex- parou, fez um sorriso do tipo “olha um velho amigo meu “ e apresentou-me ao amigo. Afirmei que tinha muito prazer ( mentira ! ), perguntei pela mãe dessa minha amiga ( uma velhota simpática e rabujenta de mais de 90 anos, agora ) e despedi-me.
Prossegui sózinho, pensando na coincidência daquele encontro, como se Alguém me estivesse a dizer : “Estás sózinho porque queres, porque és egoista e tens sido incapaz de amar ...”.
Curiosamente, pouco me ralei, continuou o egoismo, apenas me lembrei de como aquela minha ex-namorada era quente e audaciosa na intimidade. Sim, apenas senti saudades do sexo, não da pessoa. Que quer isto dizer, não presto mesmo como ser humano ? Que apenas fico bem na minha solidão ? Que tenho o que mereço ?
O grande problema é que eu não fico bem, assim solitário, assim como não me sinto bem, apertado e espartilhado numa relação íntima comprometida. E se isto é assim, aos 65, como raio virá a melhorar ?
Passem bem. Por mim, vim para casa e escrevi este texto.



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