terça-feira, junho 05, 2007

AS DESVENTURAS DE UM ENCALORADO

Tudo me acontece.
Até mesmo um sistema novinho de ar condicionado que não condiciona coisa nenhuma, a não ser o meu humor. Quanto ao ar, quente comme d´habitude, muito obrigado.
Eu conto.
Um destes dias, após várias e sábias considerações sobre o aquecimento global ( e em particular o aquecimento da minha casa nestes ultimos verões ), decidi derreter uma data de massa num sistema de ar condicionado, em vez de ser eu a derreter com o calor. Um toque de burguesice que a minha idade já me permite ter, com a desculpa de que sofro muito com o calor e bla bla bla ... Adiante.
Bem, adjudiquei a coisa, veio primeiro o dono da firma,muito simpático, “ eu se fosse ao senhor fazia assim e assado, etc ... “, acordámos os termos da obra e tudo bem. Daí a uns curtos dias, aparecem-me em casa quatro manfios ( quatro, gaita !!! ), cheios de caixotes de papelão, rolos de tubinho de cobre e uma enorme colecção de caixas de ferramentas. Isto logo de manhã na ultima sexta-feira.
O granel lá se foi desenrolando, o chão cheio de ferramentas sorteadas, parafusos, rolos de fita isoladora e, sobretudo, bocadões enormes do estuque, os energumenos eram especializados em abrir buracos gigantescos nas paredes !
Os meus dois gatos, alarmados com o barulho dos berbequins e as botifarras dos instaladores, retiraram prudentemente para o quarto da minha filha.
Eu, desgraçado, nem almoçar fui, seguindo atentamente as obras e tentando evitar que toda a casa se transformasse num enorme buraco.
Lá para as 5 da tarde, famélico, pernas trémulas, cheio de pó e caliça, observei os especialistas a terminar o seu trabalho. Os aparelhos pareciam estar a funcionar bem e, portanto, tudo tinha terminado em bem. Aleluia !
Horas depois, tudo aspirado e rearrumado, duche, estômago confortado, vou experimentar as delícias de um fresquinho quase nocturno .... e nicles. Aquilo parecia soprar apenas o ar da noite, morno e humido.
Nada ? Seria eu que não sabia manejar as novas tecnologias ? Hummm, de sobrecenho carregado, dediquei uma longa hora ao esudo dos vários manuais do utilizador e de instalação, pode ser que ...
Nada, nenhuma informação util. Deito-me, desanimado e quente.
Passa o fim de semana e logo na segunda, faço um tímido telefonema para o dono da firma, não haverá nenhuma fuga de gás, sr. Correia, que acha ?
O sr. Correia, desconfiado e depois de muitas perguntas destinadas a averiguar da minha sanidade mental e capacidade de distinguir ar frio de ar quente, lá me retorquiu que me ia enviar uma equipa para ver o problema .
Ufa, pensei, agora vamos lá a ver se a tal equipa chega, aperta dois botões do telecomando e aquela porcaria começa a deitar frio ... Vai ser bonito, as caras dos manfios a rirem-se de mim, já viram ?
Bom, na mouche, os matulões ( dois mulatos de Angola ) chegaram e logo declararam que aquela coisa não botava népias de frio, de facto. Vitória, proclamei eu, tinha razão !!
De pouco me valeu a razão, todo o dia foi dedicado 1º) a ver se havia uma fuga no gás 2º) a tentar descobrir onde era a fuga ... 3º ) reparada uma fuga, a colocar todos os circuitos com gás á pressão, para ver se havia mais fugas ... 4º) a encher a instalação de novo com gás 5º) veja lá então agora se já deita ar frio ....
Deitava. Estava frio. Que maravilha !! Finalmente !
Bem, mas eu não disse que tudo me acontece ? O resto da tarde passei-a a reparar um pé da mesa da sala que eu parti , com o tira e põe no sítio.
Finalmente, com a sala arrefecida, posso agora descansar um pouco.
Não com muita confiança, sabem, de todo o lado me parecem surgir ruidos de gás em fuga, arruinando-me de novo este conforto tão arduamente conquistado.
Amanhã conto-vos se o gás ainda cá está ou não ...

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